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sábado, 28 de dezembro de 2013

Olinda Beja – Da poesia à ficção – Cantou e encantou com “Um Grão de Café” até às lágrimas – Livro dedicado “ às crianças do mundo, mas, muito em especial, às de São Tomé e Príncipe” – Metáfora à linguagem da verdade e do trabalho persistente e honesto - Centro Intercultura Cidade, em noites da roça, em Lisboa, acolheu a revelação de um conto à ilha mais bela do mundo, que, muito antes dos portugueses a acharem, se chamava Sanam - Deliciosa história para todas as idades ao passado longínquo de um povo de audaciosos navegadores de canoas

O conto que fala do Príncipe, a ilha que tinha um rei e se chamava Sanam, antes dos portugueses ali terem aportado




No anterior post deste site, anunciávamos o lançamento de “Um Grão de Café (a mais recente obra literária de Olinda Beja), dizendo que a poeta e a escritora, nascida em São Tomé, continua a surpreender-nos com a sua produção literária – Mais de que uma bela surpresa, foram momentos de muita alegria e emoção.  Partilhados, creio, por todas as pessoas que responderam ao convite da Associação Centro Intercultura Cidade, em Noites da roça”, ali ao fundo da Calçada do Combro,   na Travessa do Convento de Jesus – Foi uma noite com sons e poesia e muitas palavras santomenses. Pois, a anteceder a apresentação do referido livro  pela pela sua amiga Maria Helena Albuquerque Veiga, leram-se lindos poemas da autora. E também ditos  pela própria Olinda Beja, que cantou e encantou, com a musica dedilhada pela viola de Filipe Santos.










“UM GRÃO DE CAFÉ” - Uma metáfora à linguagem da verdade e do trabalho persistente e honesto


“A melhor maneira de tornar as crianças boas é torná-las felizes “ Expressão de Oscar Wilde, citada por Olinda Beja, um livro com ilustrações de Teresa Bondoso, que  a autora começa por dedicar  “para as crianças do mundo, mas, muito em especial, para as de S. Tomé e Príncipe”

E qual a melhor maneira de construir a felicidade? Olinda Beja responde lembrando  um provérbio popular das ilhas “Tlabá só ká dá tê” (Só o trabalho é que dá o ter). –“ Não é herança, não é mais nada – frisou no momento em que folheava, uma por uma, as sugestivas páginas, com  excelentes desenhos e pinturas de ambientes e rostos de muita africanidade: de crianças e de um velho muito velho, de seu nome  Caxipembe, que vivia na Ilha do Príncipe e contava sempre a mesma história – A história do grão de café – “Havia outros, dizia ele, que também a contavam, mas nenhum se comparava a ele, ninguém lhe dava a beleza e o tempo que a história precisava. Sim, porque as histórias precisam de tempo para serem contadas, ouvidas e imaginadas”

E, naturalmente, de sensibilidade, de arte e de imaginação de quem as passa da oralidade à escrita – Sim, é um lindo conto,  um trabalho de ficção de Olinda Beja, mas, pelos vistos, também com o seu fundo de realidade e de verdade e de preocupação pelos bons exemplos didáticos e de incursão ou de viagem ao maravilhoso fundo da história das ilhas.


“Conta, Caxipembe. Conta história – pediam-lhe as crianças.
Ele ria muito , depois sentava-se num velho tronco de “mapyan”, ficava pensativo  por instantes e arrematava:



 Caxipembe só sabe história do grão de café, sabe mais não….

E assim, como que por magia, as palavras iam desfilando  suaves   e cansadas com os seus olhos negros, sempre famintos de longos horizontes. Com um ar entre o sério e o cómico, estendia, no chão húmido e perfumado dos muitos aromas que a terra tem o longo pau que se amparava e iniciava a sua história.




Olinda Beja pegou no antigo nome do Príncipe, Sanam, que se diz constar num antigo mapa, antes dos navegadores portugueses, terem aportado às ilhas verdes (a cujo assunto me referi neste blogue e procurou e associar  várias lições - https://canoasdomar.blogspot.com/2011/12/sao-tome-e-principe-ilhas-asben-e-sanam.html

https://canoasdomar.blogspot.com/2011/07/2-sao-tome-e-principe-as-antigas-ilhas.html

 Até porque, conquanto a maioria dos historiadores, que se debruçaram sobre as descobertas portuguesas, afirmem que as ilhas se encontravam desabitadas, outros, porém, pelo menos já admitiam  "que é questionável entre os sábios o facto da descoberta das Ilhas de S. Tomé e Príncipe, Ano Bom e Fernando Pó,  por antigos navegantes Egípcios, Fenícios, Gregos e Cartaginses”  - O que faltou dizer é que, muito antes de ali terem chegado, os árabes ou europeus,  já as ilhas haviam sido abordadas e povoadas por audaciosos marinheiros das pirogas, provindos  do continente africano. Ou será que, situadas tão próximas das costas do Golfo da Guiné,  estavam ali  mesmo à espera que, tal dádiva, privilegiasse somente os descendentes "brancos de Adão e Eva"? - Claro, mais tarde, a juntar aos povos autótenes das ilhas, vieram as levadas dos escravos - E com contratos "vantajosos" vejam só o desplante: "Toda  a mão-de-obra aqui é fornecida  por Moçambique, Angola e, também, não raro, por cabo Verde. Não se trata de imigração feita à toa! É evidente que os Angolanos, os Moçambicanos e os próprios Cabo-Verdianos vêm para a Província de S. Tomé e Príncipe com um contrato vantajoso que pode ser renovado se os interessados o quiserem" 

BREVES EXCERTOS DE UM CONTO MARAVILHOSO COM FANTÁSTICOS EXEMPLOS E EXTRAORDINÁRIAS INTERPRETAÇÕES 



A  reprodução das breves passagens, que tomámos a liberdade de transcrever, não dispensa, porém, a  leitura integral das 42 magnificas páginas da obra, uma vez tratar-se de uma forma encantadora de chegar aos leitores de todas as idades- Há livros que só são compreensíveis   pelos adultos e as crianças não lhe pegam mas "Um Grão de café" pode mesmo ser uma excelente xícara para os mais amplos paladares - E até para os que mentem - Que é, no fundo,  aqueles que não olham a meios para atingir os seus fins. Veja, pois, a lição que se pode extrair de uma  antiga lenda,  sim, imagine  do que um antigo rei da  Ilha do Príncipe, se haveria de lembrar para testar a criança a quem devia deixar o seu trono. Pois, naquele tempo, ainda não imperava o absurdo da consanguinidade ou do "sangue azul": o rei era escolhido entre  os mais corajosos, honestos, fortes e capazes.


Ciente, o monarca, de que  lhe competia fazer essa escolha, antes de morrer, vai de distribuir bagos de café torrados, com a promessa de que, um ano depois, a criança que lhe levasse  o melhor pé de café, a essa lhe deixaria o trono - Claro, que,  à excepção de uma delas, no que pensaram foi na lei do menor esforço: ou seja, de não se darem a nenhum trabalho, e, na data prevista, irem buscar ao mato a melhor planta, esquecendo-se de que o teste não era esse. Sem dúvida, maravilhosa lição!  E da qual    lhe deixo aqui alguns excertos para reflexão  e lhe aguçarem ainda mais o apetite


"Há muitos, muitos anos, tantos que nem se podem contar,  muito antes dos portugueses acharem a ilha mais bela do mundo, vivia aqui um rei, uma rainha, um povo trabalhador e todos se entendiam às mil maravilhas.

 Dizem que, nesse tempo, a ilha se chamava Sanam, que pertencia a um rei bonito e bondoso e que estava coberta de flores que, em mais nenhuma outra parte do mundo, existiam.

E tinha árvores, muitas árvores de porte elegante que sombreavam casas e caminhos.
As árvores eram muito úteis, pois, além da sombra, dava lenha para o fogo, canoas, cordas, frutos… E tinha também animais que conviviam pacificamente com homens, mulheres e crianças.

A floresta era de uma rara beleza, pois os tons de verde que nela eram variados e os barulhinhos que nela se ouviam  encantavam qualquer um que os escutasse. Macacos e cobras, “lagaias” e falcões, tartarugas e papagaios entediam-se tão bem que, quando havia nascimentos, cada um à sua maneira festejava a chegada do novo habitante."




Por  instantes, cachipembe parava, olhava as crianças, talvez para ver se estavam com ar de cansaço ou de enfado, mas nada! De olhitos bem abertos, esperavam do velho contador tudo sobre a tão badalada história do grão de café. Então, feliz, continuava.

Ali lha era tão pequenina e desconhecida do resto do mundo que, quando algum navio de piratas passava ao longe, lá onde o mar é mais azul, não conseguia perceber que aquele tufo de verdura era um pedaço de paraíso com algumas almas lá dentro e, assim, prosseguia viagem, pois imaginava  que aquilo não passava de um rochedo que, em épocas remotas, o mar expelira e ali deixara à mercê de ventos e marés"



(...) Havia homens que se dedicavam à pesca, pois no mar abundavam o "gandu" o atum, o agulha sombra, o voador e, no rio, camarão e charroco ofereciam-se a olhos vistos. Outros homens, designados pelo rei, tratavam apenas dos muitos pés de café que ele tinha no quintal, que era o maior da ilha. De tudo quanto ali havia, só os arbustos do café encantavam o rei

(...) Dizia ele ao seu povo que fora o avô do seu avô, grande navegador, o plantador de tal riqueza e, por isso, lha tinha deixado por herança. Donde tinham vindo aquelas plantas, nem o rei sabia. Seus antepassados contaram-lhe apenas que tinham navegado por outras terras, mais a norte da sua ilha, e que uns homens de nomes estranhos lhe tinham oferecido aqueles arbustos em recompensa de favores prestados.

(...) Em dias de festa grande na ilha de Sanam, o rei mandava distribuir uma caneca de café a todos os seus habitantes. 
E, assim, o povo ia vivendo com o coração cheio de alegria.
Mas nem tudo era felicidade na ilha"

(....) Um a um, o rei foi chamando pelos sus nomes, meninos e meninas, Lukala, Tiarina, Quipinge, Kakiuma, Paguê, Bino, Nakubuta, Fiô, Andulo, Nhunga, Miala... e pediu-lhes que tirassem, de dentro do saco, um grão de café. Apenas um. Boquiabertas, as crianças obedeceram.

(...)  - Aquele que daqui a um ano me trouxer o melhor pé de café, o mais forte, o mais robusto, o mais vigoroso, com flor e com grão, esse será o meu príncipe, esse será o meu herdeiro, pois só demonstrará que soube tratar com amor e carinho o melhor fruto do mundo"





(...)De entre todas as crianças, Paguê era o menino certinho, atento e cumpridor e foi, talvez, o primeiro a começar os preparativos, na esperança de que o seu grão de café germinasse e de desenvolvesse rapidamente. Procurou boa terra e, com ela, encheu um grande pote de barro, para que o arbusto se pudesse desenvolver à vontade. E, é claro, todos os meninos e meninas fizeram o mesmo. Todos queriam que, dali a um ano, o rei lhes desse o título mais cobiçado da ilha, o título de príncipe.


Durante um ano, foi um delírio. Um barulho ensurdecedor de crianças gritando, barafustando, falando, discutindo, quase guerreando… E, assim, se chegou à data marcada, em que o rei iria decidir quem seria o herdeiro."

(...) Um a um mostravam com certo orgulho as flores, os grãos, a robustez das folhas, o vigor do caule... algum haveria de ser o escolhido, algum haveria de ser o príncipe da ilha de Sanam


(...) "Eu fiz tudo para que o meu grão de café germinasse, tudo. Mal o levei, cheguei a casa, pedia à minha mãe um pote de barro, fui à floresta em busca da terra boa  e nela plantei o meu grão de café" (...) Mas nada. Tal como na primeira vez, o grão não germinara" (...)Todos os outros meninos trouxeram lindos pés de café, mas eu nada tenho para vos mostrar. Só vim, porque a minha mãe me disse que devia contar-vos a verdade"

(...) Eles esperavam ansiosos que o rei se pronunciasse a favor de um deles, mas não foi isso que ouviram 



"Finalmente, encontrei o meu herdeiro!Paguê será, para sempre, o príncipe desta ilha.
(...) 
"Paguê, será, sim, o meu herdeiro. Ele foi o único que se esforçou, que trabalhou, que se sacrificou para tentar que o grão germinasse. Mas... como podia o grão germinar, se eu próprio torrei todos os grãos que estavam na bolsa?!"

O rei parou um pouco. Viu os rostos das crianças crispados, as lágrimas a correr, os soluços a fazerem-se  ouvir. Por isso, deixou um conselho:

Pela vossa vida fora, nunca mintam, assumam sempre as consequências dos vossos atos. Digam sempre a verdade. Tal como fez Paguê. Foi honesto, contou a verdade e, além disso, trabalhou muito, para que o grão germinasse. Por tudo isso, eu lhe entrego a ilha"



(...) Caximpembe levatou-se seguido das crianças. Em silêncio, primeiro. Ainda a pensarem, talvez, no grão de café. Depois começaram numa algazarra tremenda, própria de quem está feliz com o final da história. É que, agora, já sabem por que o rio mais belo da sua ilha se chama Paguê. E também a montanha mais alta. Homenagem ao rei é sempre homenagem!

Se forem à Ilha do Príncipe, talvez encontrem , ainda, o velho Cachipembe que, melhor do que eu, vos voltará a contara a maravilhosa história do grão de café.

Jorge Trabulo Marques
jornalista

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Olinda Beja –Poema de Natal “Apenas um sorriso… Será Natal todos os dias” – Proposta poética da autora de Aromas de Cajamanga, que, dia 27, em Lisboa, no Centro Intercultura Cidade, apresenta “Um Grão de Café”, primeiro livro infantil na história da literatura das ilhas de S. Tomé e Príncipe

Apenas um sorriso
Aberto à flor do rosto
Abelha mãe em favos de doçura
E será Natal no mês de agosto
Ou em julho
Ou em maio
Ou em janeiro
Desde que sonhes com ternura
Desde que ames
Que vivas
Que sorrias
Desde que te entregues aos outros
Por inteiro
Será Natal TODOS OS DIAS!

 Olinda Beja  -Dezembro de 2013

OLINDA BEJA  E  "UM GRÃO DE CAFÉ" PARA DELÍCIA DA PEQUENADA

Olinda Beja, escritora e poeta, continua a surpreender-nos com a sua produção literária –Deixou a sua Ilha, ainda criança, mas nem por isso perdeu o elo e a  matriz à ilha onde nasceu, mantendo um vínculo, muito forte, com aquelas maravilhosas lhas equatoriais, onde se desloca, sempre que pode – Pois é ali que está a ancestralidade das suas raízes, a inspiração que a tem marcado grade parte da sua obra poética  e ficcionista – Enviou-nos um lindo poema de Natal e deu-nos a boa-nova de que, depois de amanhã, Sexta-feira, dia 27, vai apresentar “Um Grão de café” no Centro Intercultura Cidade, em Noites da roça  

Pela primeira vez na história da literatura das ilhas de S. Tomé e Príncipe surge um livro para crianças.

“Um Grão de Café” nasceu de um sonho de Olinda Beja que o apresenta no Centro InterculturaCidade.


Tal como diz Oscar Wilde “A melhor maneira de tornar as crianças boas é torna las felizes” assim Olinda Beja servindo-se destas palavras que abrem o livro espera que ele possa levar muita alegria e felicidade a todas as crianças do mundo mas muito em especial às de S. Tomé






Em Um Grão de Café, Olinda Beja conta a história de Paguê, menino que deu origem ao nome da ilha do Príncipe. Pretendendo encontrar um herdeiro para o trono, o rei chama as crianças e confia-lhes um grão de café, para cada uma, no prazo de um ano, cuidar e fazer germinar. Na data marcada, os meninos e as meninas voltam à presença do rei, mas Paguê vem triste, pois é o único que traz um vaso vazio. O seu grão de café não germinou, apesar de se ter esforçado.

 Olinda Beja nasceu em Guadalupe – S. Tomé e Príncipe.

Criança ainda deixou as ilhas e passou a viver do outro lado do mar, em terras frias da Beira Alta.

Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas – Estudos de Português-Francês, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e possui o Diploma Superior de Hautes Études da Alliance Française.

Para além de escritora, Olinda Beja é professora do ensino secundário, bolseira do Centro Nacional de Cultura, Comendadora dos Países Irmãos Brasil-S.Tomé e Príncipe; contadora de estórias, dinamizadora cultural. Atualmente é professora de Língua e Cultura Portuguesa em Lausanne (Suiça) onde reside.

As suas obras têm sido objeto de estudo em várias universidades nomeadamente no Brasil e nas escolas portuguesas do Luxemburgo onde foram adotadas as seguintes obras: “15 Dias de Regresso” e “Pé-de-Perfume”.

Durante o ano escolar Olinda Beja desloca-se a estabelecimentos de ensino do universo lusófono onde dá a conhecer as ilhas do cacau e faz a aproximação dos dois povos através da riqueza cultural em comum – a Língua Portugue  Chiado Editora - BejaOlinda




O NATAL DOS SEM ABRIGO E DESERDADOS DA SORTE

A noite de Natal foi cinzenta, fria e chuvosa - Em Lisboa, e possivelmente em todo o país. Digamos que a noite esteve  mais ou menos de acordo com o significado da sua hipocrisia -  De que, pelo menos, há um dia no ano em que desejam felicidades a toda a gente. Pessoalmente,pecador me confesso, também não resisti a esta tentação, até para não ficar mal visto. De véspera, em qualquer loja ou supermercado, o cliente é prendado com a palavra Boas Festas ou Feliz Natal.


De facto, é agradável ouvir pronunciar esta mensagem - As igrejas católicas e cristãs, fazem a mesma coisa, acrescidas  dos seus tradicionais presépios e   rituais religiosos, lembrando aos seus fiéis que é a festa da Natalidade do Menino-prodígio, que se fez homem e a voz de Deus. 

Mas, em boa verdade, embora seja sempre de saudar este dia festivo - sim, pelo menos há um dia em que até os amigos e familiares se lembram uns dos outros e enviam calorosas mensagens natalícias  - tudo isto não passa de uma falsidade - Antes, a  igreja, fazia da nobreza e do clero, o seu principal aliado, fazendo  do povo, um rebanho de carneiros - E hoje, o que vemos? .... Lado a lado com o liberalismo mais selvagem - Por isso, valha-nos ao menos a voz corajosa do Papa Francisco (qualquer dia ainda o matam!) e a voz lúcida dos bons poetas - É o caso de Olinda Beja



E, a propósito de Natal e de presépios, que lindas não eram aquelas pequenas construções, que apareciam à frente dos modestos casebres de madeira e à berma dos caminhos e das estradas, quando ali vivi os meus 12 anos - Muito diferentes do presépio católico da Igreja da Sé e bem longe  da tradição do nórdico pinheiro europeu - Esta imagem estereotipada nunca ali  a vi.  Eram artísticas catedrais de um entrançado da rama de palmeira e alguns fios de folhas de bananeiras - Será que ainda conserva esta tradição?!.. – Esta a pergunta que colocamos antes de uma pesquisa pela Net – E, curiosamente, constatamos  ser desejo da União dos Escritores e Artistas de Sãotomenses, manter, manter vivo esse passado artístico-religioso. Pois refere o telanon., que, “Face a ameaça de desaparecimento dos Paços que com tochas de óleo de palma iluminavam as noites de natal no interior da ilha de São Tomé, a União dos Escritores e Artistas de São-tomenses, pelas mãos da falecida poetisa Alda do Espírito Santo, tomou a iniciativa de promover o concurso Paço Fiá Gleza. Este ano o Paço construído por um menino do distrito de Mé-Zochi foi o vencedor do concurso. Téla Nón >> UNEAS premiou o melhor Paço Fiá Gleza

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Um avião fretado pela TAP que partiu hoje de São Tomé e Príncipe com mais de 100 passageiros, entre os quais o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, teve de regressar ao aeroporto são-tomense,... vião em que seguia Luís Filipe Vieira obrigado a regressar a São Tomé

sábado, 21 de dezembro de 2013

São Tomé – 543 anos após João de Santarém e Pero Escobar terem desembarcado na Ilha a que deram o nome do apostolo santo - Exposição "Viagem ao Centro da Terra" na Casa Internacional de São Tomé e Príncipe ,em Lisboa, assinala a efeméride.



Enquadrada nos descobrimentos das ilhas Verdes do  Equador, a Casa Internacional de São Tomé e Príncipe (Rua da Assunção, n.º 40), em Lisboa, Portugal, inaugurou, pelas 19 horas de hoje,  a exposição fotográfica "Viagem ao Centro da Terra", com a leitura de poemas e a apresentação de um documentário sobre estas maravilhosas ilhas. A mostra foi organizada pela ONG espanhola Bierzosur, e  vai estar  patente até 17 de Janeiro -  Data que é admitida como tendo sido "descoberta" a Ilha do Príncipe, pelos navegadores portugueses, João de Santarém e Pero Escobar, justamente há 543 anos. Depois, de um ano antes, em 21 de Dezembro de 1470, terem desembarcado na Praia de Anambó, em São Tomé

Duas das imagens editadas hoje pelo Facebook da Casa Internacional de S.Tomé e Príncipe - Lisbon, Portugal .

Danilo Salvaterra, Presidente da CISTP, teve a amabilidade de me enviar um convite, porém, com muita pena minha, não me foi possível estar presente, dado me encontrar na minha aldeia, em Chãs, concelho de Vila Nova de Foz Côa,  onde habitualmente têm sido levado a cabo várias celebrações, junto aos Templos do Sol, relacionados com os Solstícios e Equinócios, eventos esses de que tenho sido o principal dinamizador.  https://templosdosol-chas-fozcoa.blogspot.com/2016/06/solsticio-do-verao-celebrado-nos.html

 Todavia, não quero deixar de destacar, neste meu site,  a interessante iniciativa de ONG Cooperación Bierzon Sur, que louvavelmente  foi acolhida pela Casa Internacional de São Tomé e Príncipe, que espero visitar, logo que me for possível

EXPOSIÇÃO QUE SURGE DEPOIS DE UM COLÓQUIO DESTINADO A MOSTRAR A ACTIVIDADE MÉDICA DA ONG BIEZO SUR
O arquipélago de São Tomé e Príncipe, tem contado com o apoio da Ong Cooperación Bierzo Sur, atividade essa que se tem cifrado por importantes contributos a nível de assistência medica, tal como foi referido, há um ano, num colóquio apresentado  por Carlos Telles de Freitas, Administrador do IMVF,  Carmén Alvarez Villas, Presidente da ONG Bierzo Sur e a participação de diversos voluntários da área da saúde, educação e da Cruz Vermelha espanhola, que deram o seu testemunho sobre o trabalho realizado, bem como as condições encontradas no terreno. Tendo então sido sublinhado, que a referida missão médica executou 884 consultas médicas e 63 intervenções cirúrgicas de ortopedia e de cirurgia plástica (queimados) integrando o Saúde para Todos - Programa Integrado, para além de sessões de formação para os técnicos de saúde locais Cooperacion Bierzo Sur faz balanço da sua missão em São Tomé 

EM DEMANDA DAS ROTAS DOS ANTIGOS NAVEGADORES DAS PIROGAS NAS SUAS MIGRAÇÕES DA MÃE-ÁFRICA PARA AS ILHAS DO PARAÍSO -   
NÃO ME CRUZEI COM AS SUAS VELAS MAS IMAGINEI-AS, MUITAS VEZES, NAQUELES MESMOS MARES, TAL COMO TAMBÉM, OS NAVEGADORES QUE ALI PASSARAM, MAIS TARDE, NAS SUAS CARAVELAS

Há que realçar a coragem dos marinheiros lusitanos, que se fizeram ao mar apenas munidos de um mero astrolábio - Não dispunham de sextante, nem de cronómetro ou sequer de almanaque náutico que lhes possibilitasse algum rigor da navegação - Não iam completamente às cegas, porém,  embora dispondo de alguma informação, iam à aventura! - Indubitavelmente, foram grandes navegadores aventureiros

Sou português  e não descuro os feitos marítimos dos meus antepassados. Mas também não quero fazer  como a avestruz e meter a cabeça debaixo da areia. Nem fazer dos compêndios coloniais a bíblia sagrada.  

21 de Dezembro 1970 - autor deste site  -Imagem seguinte em abril de 2013.por Jorge Costa Reis No Padrão do Descobrimento - As minhas viagens - São Tomé



Sem deixar de admirar a coragem dos antigos navegadores,  busco outras interpretações. Eu próprio me desloquei de canoa, em Dezembro de 1970, desde a Baía Ana de Chaves ao recanto de  Anambó Local onde é suposto terem aportado pela primeira vez, João de Santarém e Pero Escobar  
  
Curiosamente, (confrontando as imagens Padrão dos Descobrimentos - Anambó,***e   :Anambó ) vejo que o sítio está agora mais bem conservado do que estava naquela altura (mas também bem mais diferente de quando ali aportaram aqueles arrojados navegadores) onde passei uma noite horrível, com as costas sobre lascas e gogos de todos os tamanhos e feitios (pois ali não existe praia de areia), mesmo quase sobre a margem onde as ondas vinham bater, embrulhado pelas palmas dos coqueiros mas constantemente a ser espicaçado e mordido por enormes caranguejos do mar e da terra, que não me deram um minuto de descanso 

Não me deitei no mato, receando as cobras negras. E, ao alvorecer, perante aquele vetusto e simbólico padrão,  rodeado de palmas, tão belas, sonoras e verdejantes, não me importei de  homenagear os marinheiros de quinhentos, com a bandeira portuguesa.  .

HÁ QUE DISTINGUIR A EPOPEIA MARÍTIMA DA COLONIZAÇÃO , QUE SUBJUGOU E TIRANIZOU OS POVOS.

Uma coisa é a verdade histórica (e foi essa que eu procurei através de várias travessias em pirogas e que ainda hoje questiono), outra, as omissões ou  a que convinha ao Reino..
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Todavia, quer os portugueses, nas frágeis caravelas, quer os primeiros povoadores, nas suas toscas pirogas, foram lobos do mar e heróis desbravadores à sua maneira.

Também as canoas africanas, à semelhança das grandes migrações no Pacífico, se fizeram ao mar alto: Fizeram extensas travessias no Golfo da Guiné, tal como os primitivos navegadores da Polinésia, considerados os "navegadores supremos da história":  que, velejando  em linha, cada uma à distancia da visão da canoa  que lhe seguia atrás, até qualquer delas divisar uma ilha habitável, atravessaram vastas extensões daquele imenso oceano, colonizaram as mais remotas ilhas, algumas a milhares de milhas, umas das outras, não dispondo sequer de uma bússola ou de qualquer outro instrumento náutico

Quase assim procedi: munido de uma simples bússola, sem bóias, meios de comunicação com exterior, encaixado num frágil esquife, quase desprovido de tudo.Recuando, tanto quanto possível, às condições precárias em que foram sulcados os mares pelos antigos povos que ligaram a costa africana às ilhas do Golfo da Guiné




.


Quantas vezes, oh Deus!... De vigília à longa e eterna noite, às sombras da mais profunda e sinistra escuridão, enquanto, lá no alto, algumas estrelas que ora despontavam ora se sumiam por entre as clareiras que rasgavam o negro céu, pareciam mover-se de oriente para ocidente  mais depressa que as invisíveis correntes  que arrastavam a minha canoa, não sabia para que desconhecido ponto do misterioso horizonte...

Vangelis - Em Homenagem à grande aventura da Diáspora da Mãe África  e ao seu Povo - e,  em particular, àquelas maravilhosas ilhas equatoriais do Golfo da Guiné,   que tão sacrificadas foram pelo longo domínio colonial - espanhol e português


 





Do alto das velhas muralhas do Fortim de São Jerónimoonde tantas vezes olhava a espuma que ali ia rebentar nas rochas negras e contemplava o mar ao largo, sim, muitas vezes ali me envolvi em prolongadas cogitações. E só via o mar... Só pensava, obsessivamente, nas distâncias e nas entranhas do mar.!.. Olhava-o com pasmo e respeito, mas queria sentir-me também parte dele! Ser mais um elemento do mítico e misterioso oceano! Ir por ali a fora numa das ágeis pirogas.! Desvendar segredos esquecidos no tempo!..

Oh, e quantas vezes ali mesmo, não experimentei as estreitíssimas cascas de noz, navegando em frente ou embicando na areia da pequena praia ao lado, naqueles meus habituais treinos, ao Domingo, vindo da Praia Lagarto (ao fundo da descida a caminho do aeroporto), passando em frente da Baía Ana Chaves, Fortaleza de São Sebastião, costa da marginal, Praia Pequena e ponta do Forte de São Jerónimo -e, por vezes, ainda um pouco mais a sul, à Praia do Pantufo.

São Jerónimo era geralmente a baliza de chegada e de retorno ... E, também, muitas vezes ao fim da tarde e pela noite adentro, era o meu local preferido (até por ficar um pouco isolado e retirado da cidade) para me familiarizar profundamente com o mar.


Lembrava-me das façanhas dos pescadores são-tomenses, 
dos seus antepassados que demandaram as ilhas, dos barcos negreiros que ali aportaram e também dos nossos marinheiros (antes desse vil mercado) que por aquelas águas navegaram; imaginava quantos naufrágios e sofrimentos aqueles mares, já não teriam causado.

Sabia dos muitos perigos que me podiam esperar - não os desdenhava! mas entregava-me ao oceano de coração aberto, possuído de uma enorme paixão, em demanda dos grandes espaços e de uma infinita liberdade, tal qual as aves migradoras! Olhava-o como se fosse já meu familiar e meu amigo. Embora sabendo que a sua face, quando acometida de irascível crueldade, havia sido palco de muitas tragédias, havia engolido muitos barcos e tragado muitas vidas. Contudo, eu não ia ali apenas movido pelo prazer da aventura: só por isso, não sei se compensaria... Mas orientado por razões mais fortes

Havia algo, no fundo de mim, 
 impelido omo que por um pendor sobrenatural inexplicável que me fazia acreditar que, mesmo que apanhasse alguns sustos, tal como já havia acontecido em anteriores viagens, lá haveria de sobreviver e de me safar!...
  
 
 O mar também é generoso quando quer ... A sorte protege os audases e acreditava que o mar haveria de compreender os objectivos pelos quais que norteava o meu espírito e a minha temeridade..
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Imagem ao lado - Diálogos com os pescadores são-tomenses


Quando Luís de Camões escreveu na estância XII do V Canto de "Os Lusíadas"

"Sempre, enfim, para o Austro a aguda proa,
No grandíssimo golfão nos metemos,
Deixando a Serra aspérrima Leoa,
Co Cabo a quem das Palmas nome demos.
O grande rio, onde batendo soa
O mar nas praias notas, que ali temos,
Ficou, coa Ilha ilustre, que tomou
O nome dum que o lado a Deus tocou."


"O contributo dos Portugueses para uma nova visão do Mundo e da Natureza  é essencialmente informativo e empírico (baseado nos sentidos). Como escreveu Pedro Nunes: “os descobrimentos de costas, ilhas e terras firmes não se fizeram indo a acertar…” Pois os nossos marinheiros: “…levavam cartas muito particularmente rumadas e não já as que os antigos levavam"