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quinta-feira, 31 de julho de 2014

Música de São Tomé – Conjunto África Negra em digressão para divulgar sua língua materna – Em Portugal e na Alemanha - Grande êxito em Sines, no Festival Música do Mundo; hoje no B.Leza, Cais do Sodré, Lisboa – Esta a boa notícia - A má noticia: “seis Pescadores das Neves, desaparecidos”, ao norte de São Tomé, desde sábado passado.





Discoteca B.Leza foi pequena demais para tanto entusiasmo e tanta gente  assistir ao caloroso espetáculo do histórico Conjunto África Negra e de alguns dos seus ídolos mais antigos. como seja o lendário General João Seria  –

Espantosa exibição que entusiasmou e levou ao rubro, quer os santomenses da diáspora e outros africanos dos PALOP, quer os Portugueses e de outras nacionalidades, que não quiseram perder tão rara como extraordinária oportunidade! - E, antes mesmo de ser espetáculo, já o era na espetativa que se gerava à porta da conhecida casa de diversão lisboeta - Foi o caso do dijei Marlon, nascido em Portugal mas com ascendência naquelas maravilhosas Ilhas - cujas palavras de satisfação registamos em vídeo.










 


São Tomé e Príncipe, é um País pequeno, onde as notícias circulam céleres -  Pois, a democracia, tem destas vantagens - A liberdade de expressão. 




  Todavia, neste momento, além das boas  noticias, de que neste site temos o prazer de lhe comunicar, que é o êxito alcançado pela digressão do conjunto África Negra, em Portugal – após o que rumará ainda para Alemanha- , para nossa tristeza, acabámos também de conhecer   más noticias que nos dão conta de que os seis pescadores, que desapareceram a Norte de S. Tomé, oriundos da cidade das Neves, no passado sábado, ainda continuam por localizar – Uma vez que “o Estado são-tomense tem limitações para lançar uma operação de busca e salvamento, dado terem partido para o mar sem equipamento de navegação, nomeadamente o refletor de radar-Mais pormenores em Pescadores desaparecidos deixaram equipamentos d

Filipe Lima – Satisfeito com o êxito do conjunto África Negra   - A primeira vez que veio a Portugal, porém, nos anos 80, já o África Negra, aqui viera apresentar a sua música - Lamenta, contudo,  o fraco investimento do Estado Santomense na recuperação de antigas bandas de música típica, que foram muito acarinhadas e aplaudidas pelo Povo e que exerceram grande influência nas raízes de África Negra.



- "Uma coisa de outro mundo" é assim como, Filipe Lima, classifica a sua atuação em Sines

O Diretor artístico do  África Negra faz um balanço positivo da digressão em Portugal- Entrevistado, por Odisseias nos Mares, momentos antes de entrar com os restantes elementos do grupo para um ensaio, num estúdio situado na Calçada Poço dos Mouros em Lisboa,  mostrou-se muito satisfeito pelo êxito alcançado, em Sines, ao tocar para uma plateia de mais de oitenta mil pessoas, no âmbito do Festival Músicas do Mundo – Esta noite, pelas 22 horas, o conjunto África Negra, vai apresentar-se na discoteca, no B.Leza, Cais do Sodré, Lisboa, após o que viajará para Alemanha  - Espetáculo que será o corolário da sua digressão europeia, no termo do qual regressará a São Tomé


ÀFRICA NEGRA – NA MEMÓRIA DAS ANTIGAS E NOVAS GERAÇÕES DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE -  E TAMBÉM DE TODOS QUANTOS AMARAM ESTAS MARAVILHOSAS ILHAS – Por ali passaram ou viveram

Já há muito que não assistía a uma experiência musical, tão calorosa e comovente, como aquela que pude viver no B.Leleza, pelo conjunto África Negra – A fazer lembrar-me os velhos tempos dos “fundões”, espaços musicais, populares, cercados por folhas de palmeiras.   

 A bem dizer desde que deixara aquelas lindas ilhas, quando me aventurei a atravessar o Atlântico numa frágil canoa, a qual,  pelas razões já expostas neste site, acabaria por me levar a viver  uma longa experiência de náufrago – Mas, finalmente, conquanto já tivesse tido oportunidade de assistir à exibição de músicos da diáspora santomense, em Portugal, sem dúvida, que a atuação dos África Negra, é incomparável na sua matriz - Ressoa a sons e a sabores genuínos das maravilhosas Ilhas Verdes do Equador.

Desde o balcão no hall da entrada, até  ao espaço frente ao palco, tudo à pinha. 

Fácil era descobrir os santomenses – Sobretudo para quem viveu nas suas ilhas – tal é o meu caso – e foram 12 anos: uns mais formais, alguns até de casaco, outros em mangas de camisa, mais desportivos. O mesmo se passando com as mulheres, nunca descorando o vestir a conjugar com a sua natural beleza – A noite era de Verão e com sabor equatorial. Mas todos, todos, vivendo, a seu modo, o caloroso e brilhante espetáculo dos África Negra: desde os que a comoção fazia interiorizar mais de que expandir, fazendo os seus registos fotográficos, desde o simples telemóvel à tabletes, até aos que não resistiam a gingar o corpo, a uns passos de dança, mesmo perante tantos apertos, a esbracejar de alegria, a aplaudir a cada som ou letra mais vibrante. Nomeadamente naqueles mais vibrantes momentos do inigualável  João Seria.

Um autêntico general da música santomense. Vê-se que o homem tem cabelo brancos mas a genica e energia que manifesta no palco, o seu timbre de voz   - num genial talento de vocalista e de comunicador com o público - não dá a menor pista para se lhe decifrar a idade. 

É um dos tais generais que parece não conhecer período de reforma ou tempo de pausa para depor as sua artilharia musical. - tanto mais que até trouxe alguns CDs para, a dada altura, os puxar pelos bolsos das  calças e os distribuir ao acaso pelos muitos braços que se erguiam à frente do palco. Penso que, a sua atuação, foi expontânea, que não fazia parte do reportório do programa.  Foi pelo menos a ilação que pude extrair quando, o repórter de televisão de S. Tomé, Alcibiades Pequeno, subiu ao palco para anunciar a grande surpresa da noite.

 - Uma saudação muito especial de parabéns à empresa produtora de Afonso Pereira Simões, que tomou a si a iniciativa e a responsabilidade de trazer a Portugal, o popular conjunto África Negra, e de proporcionar o melhor apoio.

  A MÍTICA LENDA QUE SE MANTÉM VIVA E BEM ACEZA 

Tomo a liberdade de aqui transcrever, o excerto de um excelente texto, que, uns dias antes, foi publicado, no site Lisboa Africana, acerca dos  África Negra, depois da sua passagem por Sines, anunciando a sua exibição em B. Leza.

(…)O início da lenda do ‘Conjunto África Negra’ remonta a 1974, quando a formação original da banda mais amada e conhecida além-fronteiras de São Tomé e Príncipe começa a tocar ao vivo no circuito dos ‘fundões’ da capital São Tomé, bailes ao ar livre que juntavam as diferentes comunidades locais: os mestiços, descendentes de colonialistas portugueses e escravos africanos, os Angolares, descendentes de escravos angolanos naufragados que se fixaram em comunidades piscatórias na zonal sul, e os descendentes de trabalhadores contratados Cabo-verdianos e Moçambicanos que tinham vindo trabalhar para as plantações de café e cacau da ilha.

Ao longo da década de 70, o núcleo criativo da banda constituído por Emídio Vaz, guitarra solo, Leonildo Barros, guitarra ritmo, e João Seria, vocalista, motivaram-se a maturar o seu inimitável estilo de São Tomé Rumba, música de uma languidez paradisíaca devedora do vizinho Soukous, com suaves traços redentores de Highlife, acabando por se tornar num contributo fundamental para a construção cultural da identidade da então jovem nação independente.

A década de 80 revelou-se a época de expansão do Conjunto África Negra. O grupo tocava regularmente por todo o país natal, fazia visitas regulares a Portugal, Angola e Cabo Verde. Estes anos dourados dos África Negra chegaram a um fim quando a banda terminou uma digressão das ilhas de Cabo Verde em 1990. A tour teve tamanho êxito que desmembrou a banda. Quando foi altura de regressar a São Tomé, o vocalista João Seria e o baixista Pacheco decidiram ficar em Praia, tal era a adoração de que gozavam.

Com uma relativa intermitência na sua actividade ao longo dos últimos 20 anos, os África Negra editaram por meios próprios em 2008 um CD com novas canções originais chamado ‘Cua na Sun Pô Na Buà Fa’ – algo como ‘Mesmo que aches que não vale a pena’ – e mantêm uma regularidade tranquila de actuações em São Tomé, usando o mesmo material antigo que, por qualquer força divina, ainda funciona, como os amplificadores e os processadores de efeitos de guitarra usados originalmente nas gravações dos anos oitenta e que constituem parte do segredo da magia do som e das músicas da banda. Muitas das suas antigas gravações continuam a ser clássicos habitualmente rodados na rádio São Tomense e na Internet.

Actualmente os África Negra são seis pessoas (voz, duas guitarras, bateria, baixo e percussão), sendo que dois dos membros fazem parte da formação original, o vocalista João Seria (o “General”) e o guitarrista Leonildo Barros, e será este grupo que se apresentará em Portugal, pela primeira vez desde a última visita perdida algures na memória dos anos 80. Oportunidade para o país se reencontrar com este mito vivo da música e cultura de S. Tomé e Príncipe”.África Negra ao vivo no B.Leza - Lisboa Africana

GRANDES EMBAIXADORES DA MÚSICA SANTOMENSE - Ao centro, Afonso Pereira Simões, o responsável pela sua vinda a Portugal e Alemanha, exibindo o mascote do grupo.

Conjunto África Negra é referido como "o grande embaixador da música de São Tomé depois da independência. Nasceu em 1974, a tocar nos “fundões”, bailes ao ar livre onde se juntavam as diferentes comunidades de pescadores e trabalhadores das plantações de café e cacau da ilha. Ao longo dos anos, com apogeu na década de 80, maturou um estilo de rumba específico são-tomense, influenciado pelo soukous e pelo highlife. Regressam agora a Portugal, depois de mais de duas décadas de ausência e atividade intermitente. Do sexteto que veremos em Sines, dois membros integraram a formação original, o vocalista João Seria e o guitarrista Leonildo Barros. - Extraido de  África Negra (S. Tomé e Príncipe) — FMM Sines - Festival

CLASSIFICADO TAMBÉM COMO “UMA LENDA CULTURAL DE TODOS OS TEMPOS”

(…) “Os sons das guitarras são melancólicos e capazes de acalentar a alma dos mais desesperados. Aliás, conseguir bilhetes ou tirar um pé de dança nos fundões (terraços) onde atuavam os “África Negra” eram tarefas difíceis devido a moldura humana que perseguiam a banda.
(…) A emigração, nos finais da década de 80, servira como mote do declínio desta banda que representa hoje, património músico e cultural de São Tomé e Príncipe.

Atualmente, os únicos vestígios da banda são os seus músicos que a emigração deixou em lugares diferentes. O grande solista Imidio Vaz que, para muitos, foi um dos melhores de África dos anos 80, encontra-se em São Tomé e faz de moto-táxi como o seu modo de sobrevivência, o baixista Pacheco reside nas terras de morabeza, Cabo Verde, e os outros elementos encontram-se espalhados pelo mundo em busca de melhores dias - Extraído de . África Negra” a lenda cultural de todos os tempos



PÚBLICO - "Durante seis anos, os África Negra foram das maiores estrelas da música nascida nos países de expressão portuguesa. Em 1987 desmembraram-se e desde então actuam irregularmente. Mas quarta-feira em Sines e dia 31 no B. Leza, a super-banda regressa.O regresso dos astros de São Tomé

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Ilhas das Pedras Tinhosas ao 15º dia – No mais importante berço de aves marinhas do Golfo da Guiné – Podia ter sido o primeiro Robinson Crusoe a aportar numa dessas pedras fantasmas mas era quase noite, ouvia-se uma enorme gritaria, receei ir de encontro às rochas e que pudesse ser atacado - E até devorado pelos piolhos

"Ilhas Tinhosas  - Classificadas como "o mais importante berço das aves marinhas no Golfo da Guiné"  - SANTUÁRIOS DE AVES E DE PEIXES - Estive lá tão perto, e, todavia, tão inacessecível àquele maravilhoso mundo! - Leia os pormenores neste post - mais à frente

(imagem Net)
Ilhéus das Tinhosas, eram assim designadas no tempo colonial – E, na verdade, não são ilhas mas pequenos ilhéus. Era para ali que geralmente se dirigia a traineira do Macôco. Único colono que trouxe as artes piscatórias da sua terra e que convivia com os pescadores das Ilhas, taco a taco.
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Pois, além de aves, também por lá havia bancos de ricos cardumes de peixes em redor das suas águas - O maior problema eram os tornados - De volta e meia, lá ia o pescado e  vidas!... E hoje?!... 

- Hoje, além dos tornados, há outras ameaças -  Já nem traineiras nem as canoas se safam “Na ilha do Príncipe os pescadores, estão preocupados com a falta de segurança no mar da Região. Tudo por causa da constante presença de navios de origem desconhecida ao largo da ilha «Sempre aparecem barcos que lançam redes e levam todo peixe. Pescadores da ilha do Príncipe vivem amedrontados ..A pirataria no Golfo da Guiné ameaça a soberania de São Tomé e Príncipe



(fotos da  nossa autoria - em S. Tomé)
Quem voasse de S. Tomé ao Príncipe, as "Tinhosas" eram as primeiras sentinelas que denunciavam a aproximação à princesa do Golfo da Guiné. 

E, se a rota aérea ou marítima, ainda for a mesma, certamente que é a surpreendente imagem com que se depara: a de dois enormes e solitários penedos!  - A Tinhosa Grande, a maior ilhota, com  55m. E a Tinhosa Pequena, mais a Norte, com um 64m de altitude, localizadas há 22 quilómetros da ilha do Príncipe

Dizia-se, naquele tempo, que, devido aos muitos bandos de aves que ali nidificavam, estavam cobertas de manchas brancas de guano., tendo chegado mesmo a falar-se da sua exploração para a composição de adubos – Mas ainda bem que não se cometeu esse atentado e permaneceram selvagens. 

Pedras Tinhosas  "o mais importante berço das aves marinhas no Golfo da Guiné"
(imagem da Net)
Apraz-me  saber que os Ilhéus das Pedras Tinhosas, da Ilha do Príncipe, têm sido objeto de estudo por vários biólogos internacionais, que  agora as classificam  como o principal berço das aves marinhas do Golfo da Guiné.– 


"As ilhas Tinhosas, são consideradas como o mais importante berço de nidificação de aves marinhas no Golfo da Guiné. «Estes dois ilhéus albergam as maiores colónias de várias espécies de aves marinhas do Golfo da Guiné», confirma o estudo que alimentou a candidatura do Príncipe como património mundial da Biosfera pela UNESCO.

(..) A ilha maior que compõe as tinhosas tem 20 hectares e a pequena tem 3 hectares. Espaço, privilegiado pelas aves marinhas do Golfo da Guiné, para se procriarem, mas não só. As Tinhosas, são também visitadas por outras espécies de aves marinhas como o rabo-de-palha-de-bico-vermelho Phaethon aethereus, atobá-grande Sula dactylatra, atobá-de-patas-vermelhas Sula sula e a fragata-de-Ascenção Fregata Aquila, assegura o trabalho de investigação da bióloga Esterline Matilde - Excerto Ilhas Tinhosas são o mais importante berço das aves

Não duvido minimamente da importância da sua biodiversidade - Pessoalmente pude testemunhar esse prodígio solitário, num dos 38 dias em que andei à deriva numa canoa, por aqueles mares – Pena ter sido ao escurecer – Pois, tão inesperada visão, acompanhada pelo  grito das aves, assustou-me mais de que me deslumbrou.

 FANTASMAGÓRICA E RUIDOSA VISÃO  SOLITÁRIA DE UM OUTRO MUNDO!

Foi  pouco depois do  pôr do sol do 15º dia, que descobria um enorme penedo, terrivelmente solitário, recortando-se, a curta distância de mim, mas já o avistando um pouco a sul,  sobre a vastidão do mar,  quase aos resvés do horizonte. Passei  num dos lados e não me dei conta - Visto esvoaçarem aves por cima da minha cabeça e todos os lados.

Depois que uma violenta tempestade me fizera perder a maior parte dos mantimentos e apetrechos, tornava-se-me tremendamente difícil navegar com o auxilio de um remo improvisado. Mesmo assim, poderia ter-me aproximado mas hesitei.   - Não ocorreu porque  tive mais medo do penedo que do mar.  Receando que a canoa se despedaçasse de encontro às rochas  e que as aves me pudessem atacar.





Estranha visão! - Mal o sol começou  afundar-se a  oeste. 



Se ao menos lá descobrisse uma árvore ou uma sombra. Mas, no horizonte e a curta distância, só descobria um penedo rapado, terrivelmente solitário  e o ruído de muitos bandos de aves, que ainda continuavam a pousar, mesmo já com alguma penumbra, pelo que desisti de me aproximar.

Eu tinha conhecimento que era um santuário de aves e de piolhos. Que não havia outra fauna senão essa. A par de grossas manchas brancas de dejetos, algum mato rasteiro, ninhos por todos os lados, gritarias de aves nas falésias e por todo o maciço, a partir quase da linha da rebentação. 

 MAIS ASSUSTADO DE QUE DESLUMBRADO

Ainda me esforcei por me aproximar, com o remo improvisado, remando com imensa dificuldade e contra a corrente, que me  puxava para Norte -  Mas as  sombras já começavam  a cobrir o mar  e aquele vulto passava a assumir contornos ainda mais ruidosos e fantasmagóricos.

De facto, tal como refiro no registos gravados do meu diário, eu apercebera-me dos bandos de aves a sobrevoarem-me, o que me levou a pensar que não estivesse muito longe de terra.  

Porém, o fim de  tarde era de uma imensa calma e os meus olhos estavam imersos na paz e na serenidade, no  deslumbramento dos raios solares que se estendiam de oeste até mim. 

– Por isso, quando me dei conta do recorte daquele morro, quase ao revés do mar, muito a custo ainda dei algumas remadas na sua direcção, porém, às tantas,  fixando mais atentamente  os recortes petrificados  daquele fantasma, que cada vez mais enegreciam,  desisti,  deixando-me de novo  ir ao sabor da corrente,  que me arrastava para lugar incerto, envolvido pelas mesmas trevas e escuridão.

EXCERTOS DO DÁRIO DE BORDO - Dias 15 e 16 - Nos dias em que a canoa derivou na zona marítima da Ilha do Principe, que cheguei a supor que fosse Fernando Pó

Diário de Bordo 1- Hoje, 15º dia. Grande decepção!... Um barco cargueiro passa aqui ao meu lado ...Faço-lhe sinais vários de aproximação... mas não correspondeu!...     Não há dúvida nenhuma que tenho que contar apenas com os meus modestos recursos. Mais nada! 
 
Diário de Bordo 2- Devem ser neste momento, cerca das nove horas da manhã. Agora tenho a nítida sensação que  devo estar a aproximar-me da Ilha de Fernando Pó. (Bioko) - Ontem tive a impressão, depois de ter enfrentado um violento temporal, que estava próximo da Ilha do Príncipe. Mas não, foi ilusão...Agora há muito calor. Uma calmaria podre... Não há vento nenhum.

Há pouco tive a sorte de pescar outro tubarão!....Pelos vistos, peixes aqui há muitos e até se podem pescar à mão e a machim, se for preciso..


Diário de Bordo 3 - De noite, a dada altura, fui surpreendido por ruídos estranhos dos golfinhos, que andavam aqui a voltear a canoa (às cambalhotas por cima dela) e de um lado para o outro. É curioso, porque deixavam um rasto luminoso e exprimiam uns grunhidos!... Por um lado, aquilo pareceu-me simpático, mas, por outro, atemorizou-me. Depois dei umas apitadelas e consegui afastá-los.

  Diário de Bordo 8 - Há uma serenidade!... Só se vê mar!... Absolutamente mar!... Mar e mais nada!... A minha canoa a vaguear, a vaguear!...

Eu não si onde estou!... Não sei!... Mas não estou desesperado!... Não perdi a confiança!... estou emocionado, com certeza!...Mas continuo confiante!...Realmente, o homem!... Eu acho que o homem é nestas circunstâncias que ele se superioriza a si próprio!... O seu espírito se enaltece!...

Há qualquer coisa de místico!....Ontem! no meio daquelas ondas!... Alterosas!!...De vez em quando, uma ou outra entrava  com alguma água, dentro da minha canoa!... Eu sentia-me ao mesmo tempo pequeno e gigante!... Pequeno!...   No meio de tanta grandeza!.... E gigante!... por vencer tamanha força!...

Diário de Bordo 9 - Os peixes, aqui ao lado; de vez em quando a saltar!... Pois, são decorridos 15 dias e tal, que me encontro nestas circunstâncias, vivendo numa autêntica banheira, a que eu, pomposamente, dei o nome de hotel.

Eu posso!... Eu sinto-me capaz  de fazer  uma viagem muito grande!... Evidentemente que tenho de ir bem preparado, com alimentos e água!... A canoa tem de oferecer outra segurança. Porque, esta canoa, de facto, não está bem construída!... Não está muito mal mas já está com rombos; está um bocadinho torta...Ela não ficou equilibrada... Enfim, estou convencido de que, com uma boa canoa, com boa alimentação e água, sou capaz de ir muito longe. Sinto-me encorajado!... E com velas boas. Velas quadrangulares!...Porque, estas velas rectangulares, não se adaptam à canoa.

Diário de Bordo  10 - Pois... não sei!... Não sei!... Estou longe de tudo!... Longe das vistas de toda a gente!... Perdido nesta imensidão!... É de facto uma imensidão!... Eu, se caísse aqui, não me salvaria!....


Ninguém! Absolutamente ninguém!... Ainda não perdi a confiança... Eu, acima de tudo, acredito em algo... Algo superior a mim... Há uma força qualquer que nos protege, de certeza absoluta!.... Porque, se assim não fosse, estou convencido que não estaria aqui!... Porque eu tenho vencido muitas dificuldades!... Imensas!... Eu, ontem parecia não seu o quê no meio daquela fúria!... Fúria autêntica!... Indescritível!... O vento!...As vagas alterosas!... O mar parecia engolir-me a cada momento!... Eu não teria salvação nenhuma se a canoa se virasse!... Eu continuei!...
Diário de Bordo 12 - Apenas a presença de aves, aqui perto e de peixes, aqui debaixo da canoa.... Peixes de todas as espécies são a minha companhia... Nesta serenidade!...Nesta calmaria!...Não sei se isto é prologo para mais uns momentos como os de ontem....O mar é assim!... Umas vezes sereno, outras furioso!

Diário de Bordo 13 -  Fim de tarde do 15º dia. Estou a ouvir o Duro Ouro Negro (Muxima) através da Rádio Nacional de São Tomé e Príncipe. Uma tarde serena!... Mas, no horizonte, ao longe, nuvens carregadas, nuvens escuras!....Ameaçam chuva!...

 !
Diário de Bordo  14 - Neste momento, eu sinto-me tranquilo. Sinto-me sossegado... Vamos lá a ver como será a noite...Vamos lá a ver se tenho uma surpresa, como a que tive a noite passada!... Às tantas, um grupo de toninhas, começaram a voltear a canoa!... Pareciam  autênticos foguetes, deixando um rasto luminoso por baixo, por cima e em todas as direcções!... Exprimindo uns grunhidos muito estranhos!... Achei aquilo interessante, mas, por outro lado, também senti algum receio que caíssem na canoa e a partissem.

Diário de Bordo  15 - Pois tenho tudo arreado... A canoa, enfim, aos solavancos, tomboleando ao sabor da corrente. Uma corrente que se faz sentir, evidentemente, ouvindo Muxima-ai-oé!... É realmente, uma canção africana que eu gosto muito de ouvir.
Diário de Bordo  16 - Não há dúvida nenhuma... O mar é cheio de beleza!..... Umas vezes ameaçador!...Outras vezes belo! Maravilhoso!... De plenitude!...De alegria e de paz!...
Há uma serenidade em tudo o que vejo aqui... E há vida!... Há a luta dos peixes pela sobrevivência!... Luta mais feroz, talvez que a dos homens!...

Diário de Bordo 17 - Pois é já ao anoitecer... A  canoa com uma coberta, faz-me lembrar, não sei o quê... Uma espécie de junco chinês!...

Diário de Bordo  17 - Parece-me que tenho ali a costa de África !...O céu está agora carregado para lá...Deve estar a chover, com certeza, porque as nuvens  estão para lá a descarregar chuva!.... Mas ainda estou muito longe.... Vejo, lá longe!... A umas 20 milhas, contornos de Fernando Pó... (era, afinal, ainda a ilha do Príncipe)

 (...)
Diário de Bordo 19 - São cerca das 10 horas da noite. O ruído que se ouve são as vagas a baterem  constantemente e arrastarem-me!...Neste momento, não tenho qualquer vela içada...Estou aqui deitado numa espécie de caixão!...
- Excertos
16º DIA

 Já são dezasseis dias passados que me encontro numa canoa, em pleno Golfo da Guiné. Devem ser três horas da tarde. Sinceramente, encontro-me muito desiludido! Muito desanimado!..Cheio de sede!... Não tenho praticamente água!..

.
Ontem, de facto, estive próximo da Ilha do Príncipe. Mais propriamente, do Ilhéu das Tinhosas. Afastei-me... agora ando para aqui!... Não há vento. Há uma calmaria!...Longe de terra, com falta de água!...
Encontro-me  muito desanimado!... Não perdi ainda a esperança de que hei-de chegar a terra... Hei-de me salvar!...Mas, sinceramente, sinto-me muito saturado, muito saturado!... 

A situação é extremamente difícil!... Ponho a vela e canoa não obedece... Não há vento!...Por outro lado, a falta do leme (que lhe adaptei e a perda do remo) é que provocou isto tudo!... É uma situação delicada! Bastante, mesmo!...Perdi até o apetite de comer!... Aliás, eu tenho muita sede! Imensa sede!.. Oxalá que chova!


Fim de tarde do 16º dia. Um dia bastante aborrecido!... Há bocadinho, houve um tubarão que investiu contra a minha canoa! Andou aqui em volta dela, dando-lhe rabanadas violentas e só consegui afugentá-lo com o auxílio do machim!... Estava a ver que me queria virar a canoa... Realmente foi uma situação bastante desesperada.

Mais tarde, voltaria a ser atacado por um outro tubarão enorme e da mesma espécie. Mas só daria duas voltas; à segunda, esperei-o.num dos bordos e deferi-lhe um golpe com o machim, tendo-o afastado - Desesperado, propriamente, nunca estive. Nem com ataques de tubarões, nem com tempestades. Mas também não vejo outras palavras para descrever, certas situações dramáticas.

Excertos do dário de Bordo

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