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segunda-feira, 26 de junho de 2017

Ex-Presidente Manuel Pinto da Costa, de S. Tomé e Príncipe, um dos raros líderes africanos apertar a mão ao histórico timoneiro Mao Tsé-Tung – em 7 de Agosto de 1975 e pouco antes da sua morte - Quando ainda a China era a grande bandeira vermelha da libertação da colonização ocidental -



Em 1900, cerca de 56,6% da Ásia e 90,4% da África estavam sob controle do colonialismo europeu, que, em África, havia criado fronteiras artificiais que não respeitavam as diferenças étnicas africanas, juntando num único país etnias diferentes e muitas vezes rivais .Depois da segunda guerra mundial, em 1945, os povos africanos intensificaram o processo de consciencialização de sua própria identidade étnica e cultural. E, tanto a Ex-URSS; como a China liderada por  Mao Tsé-Tung , Timoneiro da chamada grande revolução socialista, constituíram-se como os mais fortes aliados no processo de libertação dos povos oprimidos pelo domínio colonial ocidental -   E, mais tarde, também os EUA,  para não perderem o comboio dos novos ventos que sopravam para novo rumos, no continente africano,  ajustou os seus apoios armentistas aos movimentos que lhe pareceram mais fieis à sua linha capitalista. 

Esta uma das razões pelas quais algumas dessas lutas com independistas, movidas por interesses externos  e antagónicos, acabaram em verdadeiros banhos de sangue em vez de  no corolário de uma conjugação de esforços por uma causa comum - Angola, um entre outros trágicos exemplos 

Tal não sucedeu, porém, com o Movimento de Libertação de S. Tomé e Príncipe, inicialmente sediado na Guiné Equatorial, e, posteriormente, no Gabão, que logrou alcançar a independência, sem recurso à via armada, promovendo a consciencialização  política  da população pela defesa da sua liberdade e identidade - Naturalmente que graças à Revolução do 25 de Abril, em Portugal, que, depois de derrubar a ditadura Salazarista-Marcelista, abriu o caminho à descolonização e ao reconhecimento dos movimentos nacionalistas.

 No entanto, o MLSTP, não surgiu como movimento oportunista - A sua origem teve origem muitos anos antes da revolução portuguesa dos cravos - E, na charneira da sua liderança, esteve Manuel Pinto da Costa, líder do Partido fundador da nação de S. Tomé e Príncipe, sem dúvida, o pai da nacionalidade santomense - Um dos raros exemplo, africanos,  que  deu .tudo o que podia dar da sua vida sem esperar daí vir a coletar fortuna ou riqueza e aproveitamento material. 




O “REENCONTRO COM VELHOS AMIGOS” – EM LISBOA, HÁ MAIS DE 30 ANOS –  BREVE ENTREVISTA AO ENTÃO PRIMEIRO PRESIDENTE DA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE S. TOMÉ E PRINCIPE, FUNDADOR DA NACIONALIDADE SANTOMENSE, ATRAVÉS DO MSLTP E   ALGUNS SONS DO CONJUNTO MUSICAL OS LEONENSES, QUE ELE SEMPRE MUITO APRECIOU  - ESTE O  MEU SINGELO TRIBUTO AO ESTADISTA E À MÚSICA TÍPICA DAS MARAVILHOSAS ILHAS VERDES DO EQUADOR


Doutor em economia pela Faculdade de Berlim, antiga República Democrática Alemã, Manuel Pinto da Costa, membro fundador do Comité de Libertação de São Tomé e Príncipe, primeira organização independentista são-tomense, acabou por ser figura de consenso no seio dos nacionalistas radicados no estrangeiro, para dirigir a nova organização política o MLSTP e consequentemente o novo país independente.

Acrobatas Chineses em S. Tomé - anos 80
"A sua influência na luta pela libertação de São Tomé e Príncipe começou a ser exercida ainda como estudante. Na década de 60 foi eleito secretário para informação e propaganda da União Geral dos Estudantes da África Negra, sediada em Rabat Marrocos.

Durante 15 anos presidiu os destinos de São Tomé e Príncipe, de 12 de Julho 1975 à 3 de Abril de 1991. Foi um dos primeiros líderes africanos a implementar reformas com vista a mudança do regime mono partidário para a democracia pluralista. Em 1989 sob Presidência de Pinto da Costa o povo foi chamado para referendar a nova constituição política"

Depois de se tornar Presidente da República aos 37 anos de idade em 12 de Julho de 1975, pois completou 38 anos em 5 de Agosto de 1975; depois de liderar 14 governos(em 15 anos, quase um governo por ano) até 1991, num contexto talvez diferente, altura que decidiu abrir o país para a democracia; depois de passar quase outros 21 anos na reserva(como um general) onde também desfilaram 14 governos constitucionais e dois de gestão, o partido que liderava teve a capacidade e a visão de antecipar a evolução da conjuntura internacional e regional. Impulsionou e levou a cabo uma transição para o sistema democrático multipartidário, depois de um profundo e histórico debate na sua Conferência Nacional, realizada entre 5 e 8 de Dezembro de 1989” (Terra Firme 

Foto - Gentileza do Coronel Conde Falcão
Manuel Pinto da Costa,  a mais conhecida e carismática figura histórica do MLSTP, sim,  um dos mais distintos heróis da  fundação da pátria santomense,  um dos raros estadistas, ainda vivos, que conheceu o histórico líder da revolução chinesa, Mao Zedong - E também dos poucos dirigentes políticos que o cumprimentaram a escassos meses antes da sua morte.

"O encontro ocorreu em Pequim, a 23 dezembro de 1975, cinco meses e meio depois da independência de São Tomé e Príncipe. Pinto da Costa, o primeiro presidente do país, tinha 38 anos – menos 44 que o seu anfitrião.

(..) Mao “cumprimentou calorosamente cada um dos membros” da comitiva de Pinto da Costa e manteve “uma cordial e amigável conversa”, relatou o semanário Peking Review, sem mencionar o estado de saúde do líder chinês.

A República Popular da China foi dos primeiros países a abrir uma embaixada em São Tomé e a enviar cooperantes para o novo país, nomeadamente médicos

Pinto da Costa viajou para Pequim com três ministros e além de Mao, encontrou-se com um vice-primeiro-ministro, Li Xiannian.

(…) Mao Zedong morreu nove meses mais tarde e embora a China tenha evoluído numa direção que ele consideraria “contra-revolucionária”, o seu retrato continua afixado na Porta da Paz Celestial (Tiananmen), no centro de Pequim.
São Tomé e Príncipe também mudou muito e no início da década de 1990, aboliu o regime de partido único. Pinto da Costa abandonou a atividade política, mas em 2011 candidatou-se à presidência e ganhou.

 (…) Apesar de São Tomé e Príncipe não ter relações diplomáticas com a RPC, em junho de 2014, o seu presidente esteve em Pequim e em Xangai, numa “visita de caráter privado”.

É uma engenharia protocolar e diplomática invulgar, mas a carreira de Manuel Pinto da Costa também não é muito comum e, no fundo, ele ainda será visto em Pequim como “um velho amigo da China”. Presidente Pinto da Costa encontrou-se com Mao Zedong em 1975  
COMO MAO TSÉ-TUNG SE TORNOU NO GRANDE LÍDER HISTÓRICO DA CHINA - O povo chinês, que havia sido saqueado, dividido e humilhado pelas chamadas potências imperialistas durante o século XIX e XX, lutou contra a sangrenta invasão japonesa, que chegou a ocupar mais da metade do território chinês nos anos 30 e 40 do século XX. Por isso, os comunistas liderados por Mao Tsé-tung acabaram por receber grande apoio da população, que via o esforço dos militantes comunistas como uma luta antiimperialista que devolveria à China o seu lugar de grandiosidade, ocupado no passado. No imaginário da população chinesa, era como se uma nova dinastia imperial, jovem e forte, chegasse ao  poder.  -Após contribuírem com a expulsão dos japoneses, os “comunistas” ainda tiveram que lutar contra os “nacionalistas” chineses, liderados por Chiang Kai-shek, que comandava o Kuomintang — Partido Nacionalista da China. Com a derrota, os nacionalistas acabaram por fugir para a Ilha de Formosa, onde, em 8 de dezembro de 1949, fundaram a cidade de Taiwan. 1949: A revolução socialista de Mao Tsé-tung - Educacional

A TRIBO TROVOADA AVESSO  À COOPERAÇÃO DE S. TOMÉ COM A CHINA -  DEPOIS DO CHUTO A CAMBALHOTA 

Manuel Pinto da Costa e Miguel Trovoada - 1975

Os Trovoadas, não viram com bons olhos que, Manuel Pinto da Costa, pudesse trazer a China de volta, de tal modo que, o atual PM,  até chegou a torpedear um projeto do Governo, afeto ao MLSTP-PSD.  

Veja-se um dos exemplos: " 01/10/2014 A empresa chinesa Guangxi Hidroeclectric Contruction Bureau, ganhou o concurso público aberto pelo Governo são-tomense para a construção da Nova Cidade de São Tomé. (…) Na mesma cerimónia foi lançada a primeira pedra, pelo Ministro da Defesa e Ordem Interna Óscar Sousa em substituição do Primeiro Ministro Gabriel Costa Empresa chinesa Guangxi constrói a nova cidade de São Tomé | Téla ...

Mas depois o Governo de Trovoada, não deu andamento: 14/10/2015  O projecto de prolongamento da cidade de São Tomé, cuja primeira pedra foi lançada em Outubro último recebeu o sinal de STOP do Primeiro-ministro Patrice Trovoada

«Nossa cidade precisa de muito cuidado e muita atenção. Daí penso que uma nova cidade não é prioridade», declarou o Primeiro-ministro, numa conversa com 3 jornalistas integrantes de um novo Programa da TVS. Patrice Trovoada chumba projecto da nova cidade de São Tomé e ...


De recordar, que, na visita que, Manuel Pinto da Costa, efetuou à China, em Junho de 2014, chegaram-se a colocar dúvidas se Taipé iria ou não ser afastado em favor de Pequim – Pessoalmente testemunhei essa preocupação pelo representante deste país, em Lisboa, porém, tal erro não foi cometido; bem pelo contrário, STP alcançou um brilharete diplomático: uma vez que, já no ano anterior, uma delegação governamental santomnse se havia deslocado àquele  país, conseguindo que a China estabelecesse  uma missão comercial em STP, tornando-se o primeiro dos quatro aliados diplomáticos de Taiwan em África a ter uma missão comercial chinesa. Pouco tempo depois, a Gâmbia rompeu abruptamente os laços com Taiwan. Sao Tome head to visit China: MOFA - Taipei Times

QUEM HAVERIA  DE DIZER QUE,PATRICE TROVOADA,  HÁ MUITO ANDAVA A CAMINHAR PARA  A FINTAR OS SEUS AMIGOS DE TAIWAN OU A CORRER APENAS DOS NEGÓCIOS ORIENTAIS? 

Na visita, Patrice Trovoada, efetuou  à China, em Abril do corrente ano, que o recebe com pompa e   circunstância e rasgados elogios mútuos de muita sinceridade -" As relações não-chineses são sinceras, relação de igualdade genuína" - Até onde vai o descarado fingimento e a desfaçatez da hipocrisia do mais refinado mercenarismo vendilhão

Por seu turno, Trovoada disse que tinha visitado a China muitas vezes, mas que esta é a primeira vez que visitou a China com funcionários do governo. "A China é um país grande, mas também um país bonito, Estive em muitas províncias, como a cultura chinesa, culinária e arquitetura."

Trovoada também disse que gostaria de receber empresas chinesas a investir em São Tomé, São Tomé e Príncipe está empenhado em proteger o seu investimento através de mecanismos legais.

Para onde quer que se desloque, Patrice Trovoada, repete invariavelmente o mesmo discurso: tem sempre mercadoria para vender. - Inesgotável a mina para tantas viagens ao estrangeiro  - No dia 21 de Dezembro, o Governo chinês considerou “natural” a decisão de São Tomé e Príncipe de cortar relações diplomáticas com Taiwan e reconhecer a República Popular da China, realçando que o país africano fez a “escolha certa”.

O que faltou  lembrar é que, aquando do estabelecimento das  relações diplomáticas, com Taipé,  quer Manuel Pinto da Costa,  como outros destacados dirigentes do MLSTP – PSD,  não viram com bons olhos,  a decisão de STP largar as relações com a República Popular da China; claro, isto  ainda num tempo em que a China, defendia a chamada revolução socialista e não o revisionismo  neoliberal  dos milionários de agora, que, sob o capa de servirem o Estado, vêm consolidando incalculáveis  fortunas à medida que  expandem os  tentáculos dos seus negócios privados por todo o mundo,

O reconhecimento de Taiwan gerou uma crise política em São Tomé e Príncipe: a decisão do então Presidente da República Miguel Trovoada não foi apoiada pelo então primeiro-ministro Raúl Bragança e pela maioria da Assembleia Nacional. Só em 1999 São Tomé enviou um embaixador para Taiwan mas, apesar do começo atribulado, as relações santomense-formosinas mantiveram-se estáveis ao longo dos anos seguintes, como testemunham as várias visitas estatais de santomenses a Taiwan e os vários projectos taiwaneses de ajuda técnica nos âmbitos da agricultura, pecuária e tecnologias da informação, medicina, construção, energia e de atribuição de bolsas para formação técnica e académica" - 2013 - 
Sucessos e incertezas: o papel da ajuda médica nas

Tal como também  se ignorou outro facto  histórico relevante,  tanto  pelo Governante santomene, como nos discursos protocolares das entidades que  receberam "Teluowada", 


JANTAR DIPLOMÁTICO – COM UM UM CIDADÃO CHINÊS E OUTRO DE TAIWAN 

Junho 2014 - Afinal, mesmo que os políticos, não se entendam  e criem  fronteiras, onde elas até nem deviam existir,  como é o caso da China e Taiwan,  povos irmanados pelos mesmos laços ancestrais, mas que, interesses externos, haviam separado da forma mais violenta e belicista,   há, no entanto, uma outra realidade, a dos afetos e a da identidade cultural, que leva o seu tempo, tanto a criar como apagar, e, pelos vistos, a China e Taiwan, têm mais pontos em comum de que as separá-los.

E foi justamente o que ficou demonstrado, no dia 10 de Junho, Dia de Portugal, na festa que decorreu, em Lisboa, na  Casa Internacional de S. Tomé e Príncipe, onde muitas pessoas da comunidade santomense, alguns portugueses, e, curiosamente, a que se juntaram duas importantes personalidades de Taiwan e da China: o Vice-presidente, desta instituição santomense, que é chinês e o Representante dos Negócios de Taiwan, em Portugal –


segunda-feira, 12 de junho de 2017

Mário Cesariny – Diálogo surrealista, 1991 - com a criada cabo-verdiana, da poetiza Natália Correia, em noite das marchas de Santo António, sobre ratos e ratazanas que comem mãozinha de criancinhas e outras surpreendes revelações - Em memórias de um repórter - Ao lado do poeta e pintor, e na mira do apontamento espontâneo de reportagens para Rádio Comercial, quando questionava algumas das pessoas que assistiam ao desfile, eis que surge o diálogo mais inesperado e insólito, que ali poderia esperar


RECORDANDO O POETA E PINTOR - MÁRIO CESARINY - E TAMBÉM UM BOM AMIGO - Jorge Trabulo Marques

Jorge Trabulo Marques - Mário Cesariny

Tive oportunidade de ser amigo de Mário Cesariny de Vasconcelos, de ter partilhado com ele variadíssimos e inesquecíveis momentos de agradável convívio

"Passados dez anos, sobre a sua morte - "é uma voz que ainda ecoa" e o seu surrealismo uma revolta que ainda não perdeu o sentido”  - Entre os amigos mais chegados, a sua presença continua tão forte quanto antes. Como naqueles tempos passados em redor de uma mesa de café a falar de literatura, de política, de arte, de tudo. Sempre certeiro, Cesariny chegava e com uma palavra era capaz de mudar a temperatura de uma sala, sobretudo de pensar fora da caixa porque ele nunca soube o que era estar dentro dela.

Isso — essa ânsia de liberdade noutro Portugal — trouxe-lhe muitos problemas, mas também fez com que se tornasse autor de uma das obras mais importantes do modernismo português. E não só literário, mas também pictórico. Porque a poesia e a pintura andaram sempre de mãos dadas com Cesariny — faziam parte dele. E assim diz quem o conheceu” - .Diz num interessante artigo, Rita Cipriano, publicado no Observador – Do qual extraímos este breve exerto.

CESARINY ADMIRAVA O ESPÍRITO AVENTUREIRO DAS MINHAS ARRISCADAS TRAVESSIAS EM FRÁGEIS PIROGAS E EU ADMIRAVA-O POR SER UM POETA DE CORPO E ESPÍRITO INTEIRO - http://www.odisseiasnosmares.com/2012/10/28-dia-grandes-vagas-alterosas-entravam.html

E também apreciava os meus apontamentos insólitos de reportagens e entrevistas na extinta Rádio Comercial RDP - Um dia haveria de ser ele a substituir o repórter com a empregada de Natália Correia, deslindando segredos, de almoços e jantares, no lendário Botequim e em sua casa e outras revelações  - Quem haveria de imaginar tão inesperado acaso!



Mário Cesariny – Diálogo surrealista, 1991  - com a criada cabo-verdiana, da poetiza Natália Correia, em noite das marchas de Santo António, sobre ratos e ratazanas que comem mãozinha de criancinhas e outras surpreendes revelações  - Em memórias de um repórter -  Ao lado do poeta e pintor, e na mira do apontamento espontâneo de reportagens para Rádio Comercial, quando questionava algumas das pessoas que assistiam ao desfile, eis que surge o diálogo mais inesperado e insólito, que ali poderia esperar.

Tenho no meu vasto arquivo de repórter da rádio, muitos registos da sua voz: quer de algumas tertúlias poéticas onde participou, quer   de quando nos cruzávamos nalgumas das ruas ou espaços que ele mais frequentava: - pois, além das entrevistas às mais diferentes personalidades, uma parte dos meus trabalhos  eram baseados em registos de rua e casuais, de coisas do arco da velha, em direto ou gravados, de todo o tipo; desde assassinos, a prostituíras, rufias, drogados, marginais, gente conhecida ou anónima, dava-me gosto ir ao encontro do palpitar do coração da cidade, fosse de dia ou de noite. Hoje,  a rádio,  dispersa-se em mil frequentes, já não dispõe dos grandes auditórios dos anos de oiro da rádio, os seus realizadores imitam-se e repetem-se, como gira-discos e só servem para enfastiar o ouvinte com carradas de anúncios, música barulhenta e enfadonhas conversas da treta.


Mário Cesariny, conhecendo bem as minhas andanças,   sabendo que, no saco do repórter, havia sempre um gravador pronto a  premir a tecla para acionar o movimento da cassete de gravação,  por vezes, era ele mesmo, que  quando nos cruzávamos,  se o apanhasse em  pleno desvario poético, me perguntava: “Olá Jorge!... Trazes aí contigo a maquineta?”... – Claro que, mal descobria o seu perfil, à distância, era o gesto de que imediatamente me preparava para tomar: – E, sem mais delongas,  ali estava o poema, acabado de criar, vertido como se naquele momento lhe estivesse a jorrar da mais  cristalina fonte e da encosta  do mais sublime ou auspicioso  monte.

Ele concedia-me esse privilégio, não porque estivesse a pensar na forma de promover os seus versos, visto essa questão há muito estar ultrapassada, pois, a bem dizer,  Cesariny, quando nasceu, já devia vir  com o rótulo dos predestinados, além de que também não precisava de correr atrás da imprensa, nem o desejava nem era esse o seu gosto.  Fazia-o, por um lado,  porque me considerava seu amigo, e, por outro, porque, sendo também uma pessoa afável, simpática e dialogante - que gostava de dizer os seus poemas, como se cada verso lhe saísse do mais fundo das suas emoções ou cogitações, e não mercê de meras construções imaginativas de quem é muito letrado e até sabe fazer umas versalhadazecas  umas rimas ou coisas parecidas,  engraçadas ou intelectuais, que, mais das vezes ninguém entende – mas sobretudo, porque esse gesto também era surrealista, uma insólita forma de expressão artística.

Nesse aspeto, ele não fazia concessões – Sim, o gosto  de  surpreender e ser-se surpreendido, um ato poético,  artístico e espontâneo,  por aquilo que fazia e criava – Cesariny era avesso às entrevistas combinadas mas adepto e apaixonado do diálogo informal e espontâneo. E até sucedia, por vezes, que, ao cruzar-me com ele na rua, ao perguntar-lhe se  me podia dizer alguns versos para o meu gravador, me respondia: “desculpa, Jorge; mas neste momento não ando com versos na cabeça, não posso perder tempo contigo:

- Não vês, além aquele magala, tão jeitoso! …Vou ver se o engato!”…Agora não posso falar contigo…  E lá ia à sua vida…De cabeça erguida, de quem não deve, não teme; enfiado na sua gabardine… Qual andorinha apeada, mais parecendo levitar de que andar.

Conheci-o, casualmente, pela primeira vez, nos finais dos anos 70, numa discoteca Gay, no Príncipe Real, denominada Rokambole, próximo da  Faculdade de Ciências– Tinha ali ido fazer uma reportagem para a Rádio Comercial sobre a estreia de um espetáculo de travesti, e, enquanto assistia às hilariantes pantominas  dos atores, quis um feliz caso que estivesse sentado no mesmo sofá ao seu lado: às tantas, e,  como nestes ambientes informais e descontraídos, quando as pessoas estão sentadas lado a lado, o diálogo geralmente acontece, sou eu que, lhe lanço esta pergunta:

  Por caso, o Sr. não é poeta? -  Ele sorri e responde que sim, mas não disse mais nada nem eu insisti – Isto pelo facto de ter observado,   na sua maneira de falar, simples, espontânea, no relacionamento  com outra pessoa, da sua idade, sentada do seu lado direito (mais tarde vim a saber que era o pintor Francisco Relógio)  com a qual de vez em quando iam trocando umas palavras, porém,  sem qualquer tipo de afetação na voz ou nos gestos, ao contrário  de outras pessoas, que por ali conviviam e se divertiam, Porém, como é sabido, no rosto dos espíritos iluminados, o silêncio também fala. E eu quando andava em reportagem, olhava as pessoas, com olhos de ver, procurava eventuais motivos de curiosidade para apresentar no programa em que participava – Pois, tal como me confessara, mais tarde, o pintor, Carlos Botelho, em sua casa: vocês,  repórteres, devem ter muito que trabalhar para alimentar uma bocarra, tão grande, como é a da rádio – Sim, no tempo em que fazer rádio, não era só no estúdio mas ir ao encontro das pessoas e dos acontecimentos.

 A mesma dificuldade  me reconheceria também, António Ramos Rosa, outro grande poeta, que, depois de o ter visitado numa enfermaria de um hospital, pela primeira vez,  me receberia muitas vezes em sua casa, tendo, a partir de certa altura, não apenas tido o  prazer de conviver com ele e com a sua esposa, Agripina Costa Marques,  mas também para lhe registar algum poema, acabado de criar ou mesmo de levar o  original para minha casa para lho depois lho entregar em letra de forma: pois, houve uma altura, na sua vida, em que, devido a problemas de saúde, escrevia com alguma dificuldade, com gatafunhos, quase indecifráveis e, mesmo o que batia à máquina de escrever, necessitava de melhor apresentação: os versos saiam-lhe espontaneamente, até de uma simples palavra, que eu próprio pronunciasse,,  a sua poesia era de emoções, que faziam pensar mas dir-se-ia que não era pensada mas sim vertida de uma mente, fermentada e fecundada de múltiplos e profundos pensamentos,  talvez mesmo em permanente estado de ebulição ou delírio . Bom, mas neste momento, eu estou agora a lembrar a memória de Mário Cesariny

 Referindo-me aquele silêncio de Cesriny quando lhe perguntara se não era poeta,  àquela ausência de resposta à sua identificação, na verdade, tal episódio, deixou-me, de algum modo intrigado, pelo que fiquei sempre com aquela curiosidade em saber quem era  aquela figura franzina, graciosa e fantasiosa, mas ao mesmo tempo com expressão muito concentrada e  enigmática, com um rosto ascético de intelectual e de sonhador, que de vez em quando apertava os dedos alongados entre umas mãos finas de mulher ou de artista  mas que correspondia com afabilidade e simpatia  a quem se lhe dirigisse ou com quem falasse.  Sorrindo com frequência, mesmo quando depois se refugiava num ar mais ´serio.  Expressão esta que só depois lhe reconheceria, claramente. 

Jorge Trabulo Marques - Mário Cesariny
 Sim, só mais tarde, é, que, ao  ver a sua fotografia estampada num jornal, a propósito da sua poesia, pude associar  aquela figura franzina e misteriosa à do poeta Mário Cesariny – 

Naquela altura, eu conhecia mal os poetas e escritores portugueses de vista, uma vez ter passado 12 anos fora de Portugal. Por isso, quando,  um dia, ao fim da tarde,  ao  cruzar-me com ele à saída do metro nos Restauradores  -  donde pretendia caminhar  até lá cima ao Marquês de Pombal e dali dirigir-me à Rádio Comercial-RDP, na mira de registar alguns apontamentos de reportagem  (naquele tempo ainda trabalhava a recibo verde), é que não resisti a cumprimenta-lo, dizendo-lhe: “Já sei que é o poeta Mário Cesariny!- Ele corresponde-me com um amável sorriso, com uma pergunta: então e onde vai?... Vou para a Rádio Comercial!” – Falámos uns breves momentos, dizendo-lhe que um dia gostaria de lhe gravar alguns poemas e de conversar consigo. E, na verdade, muitas haveriam de ser as vezes que nos encontramos; em cafés ou numa das esplanadas dos restauradores, onde também gostava de se sentar, sim, em variadíssimas circunstâncias, tendo mesmo chegado a convidar-me a visitar a sua oficina e a conhecer as suas irmãs, em sua casa.

Naturalmente que não o posso esquecer: aquele rosto que   infundia uma natural empatia, porque, na sua maneira de ser, que lhe era genuína e inata,  naquela sua expressão de vagabundo sorridente e incorrigível  - misto de fina sensibilidade, ironia, cultura e afabilidade, não morava a hipocrisia  - -

 Em Cesariny,  tanto no poeta como no pintor,  não havia fingimento ou artificialismos imaginativos  mas espontaneidade, uma constante ânsia de revelação, um profundo sentimento de liberdade, de espírito de descoberta de fantasia ou do insólito,  de transgressão à vulgaridade, tal como as crianças olham as estrelas, estendendo a mão para lhe tocar, também em Cesariny havia como que o desejo de as poder alcançar, buscando e amando os aspetos mais sedutores, contrastantes  e misteriosos da vida, tanto nas criaturas humanas como no ambiente que o rodeava.











       
Esta é também a minha singela homenagem - Com a publicação de uma foto inédita de um protesto insólito de Mário Cesariny e a recordação de um poema escrito na  madrugada seguinte à noite  da sua partida - Editado em 2008 noutro site, na qualidade de Luis de Raziel  -  Ou só Pessoa podia ter os seus heterónimos? 



"A NECROFILIA DO PODER VEM APLAUDIR A PRÓXIMA DESTRUIÇÃO DO MAIOR  E MELHOR APETRECHADO TEATRO QUE SE CONSTRUIU EM PORTUGAL  - Protesta Mário Cesariny


1989 - Nesse dia, decorria o lançamento do livro  as Ilhas, Sophia de Mello Breyner Andresen– Mas, Mário Cesariny quis aproveitar o concorrido evento para se insurgir contra a "necrofilia do poder"  - Sim, que se preparava para o entregar ao Grupo Amorim e ali  fazer um hotel.  - Era de tal modo o aperto, no 1º piso, que, não podendo fazer o apontamento para a Rádio Comercial (mas sobretudo pelo facto da autora do “Nome das Coisas”, não dar mostras de  grande disposição  para entrevistas), resolvi descer – Nisto, ao chegar ao fundo das escadas, deparo com o poeta e meu grande amigo Cesariny, ostentando um cartaz por entre as  duas mãos, sem contudo esboçar  uma palavra, o qual  ao ver-me, sorri e  pergunta-me: “tens aí a maquineta?”...Sim, porque já não era a primeira vez que,  encontrando-me às desoras da noite pelos Restauradores, ao vir da minha estação de rádio, me fazia a mesma pergunta para me debitar o poema que lhe vinha cabeça, acabado de brotar e não se perder - Ainda possuo uma cassete com um desses maravilhosos versos, como que arrancados do fundo de uma avenida imersa por uma neblina fria e densa de Inverno.  A que eu prontamente respondo: “Tenho duas! O gravador e a máquina fotográfica”   -

Porém, antes de me aproximar para lhe ouvir de viva voz a as razões pelas quais ali se plantara com aquele cartaz, faço-lhe uma fotografia, passando a máquina fotográfica a um amigo, que viera comigo para assistir ao  referido lançamento e me fotografa de microfone empunhado.

 Entretanto, o poeta deu-se por satisfeito – Até porque, um zeloso funcionário, barafustando e tomando-o como louco, se apressara a correr para a rua a chamar um polícia. – E o agente, só não lhe pegou pelo braço, por me ver com o microfone apontado para ele. Claro, não voltei a subir as escadas – Tinha o dia ganho – Havia repórteres que entretanto continuavam a subir e a descer as escadas mas nenhum lhe prestou  atenção – Tal como outras pessoas que ali se encontravam.  tanto mais que era um protesto, vistoso mas ao mesmo tempo silencioso. Ele não ia às televisões, procurava passar despercebido nos seus “engates”, na intimidade da sua vida pessoal de poeta  e não desejava que fosse incomodado. Naquela altura, ainda não era reconhecido pelo grande público e, nomeadamente,  por aquela  gente (dos media) que só ia atrás de quem aparecia frequentemente na RTP 

DE FACTO, AQUELE FOI O DIA DO FUNERAL DA MAIS EMBLEMÁTICA SALA DE TEATRO LISBOETA
"A origem do Cine-Teatro Eden, situado na zona nobre dos Restauradores, remonta a 1902 quando Albert Beauvelet, um comerciante de automóveis, alugou as antigas cocheiras do Palácio Foz. (..) No entanto, o Éden iria decair com o passar do tempo para no último dia de 1989 transmitir o derradeiro filme: "Os Deuses devem estar loucos II".

Após ter sido adquirido pelo Grupo Amorim, este edifício transformou-se no Hotel Éden, albergando a Virgin Megastore (quem não se lembra da inauguração com a presença das Spice Girls?) que iria encerrar as portas pouco tempo depois. Logo a seguir, este espaço seria ocupado pela Loja do Cidadão, mantendo essa função actualmente. Eden: o "gigante" dos Restauradores… Cassiano Branco 

Homenagem igualmente prestada pelo autor deste site, com fotos pessoais ao poeta e pintor, auto-retratos nas personagens de Luis de Raziel e de Peregrino da Luz , bem assim a reprodução de um poema escrito na madrugada seguinte à morte de Mario Cesariny

Foto registada em  2005

.








 

OS MÚSICOS E OS POETAS NÃO MORREM,
MESMO QUANDO CHEGADA A HORA,
A MORTE LHES FECHA OS OLHOS.

Cesariny já não faz parte dos vivos.
Morreu ontem ás 5, 30 da manhã, em sua casa!
Ainda o estou a ver…
Quando à mesma hora desceu a avenida da Liberdade
Em madrugada fria de Dezembro.



Madrugada já perdida
No silêncio do tempo.
Esquecida na memória dos dias.
Boina na cabeça.
Grossa gabardina de gola alta, cingida ao corpo,
Cascol escuro enrolado ao pescoço.
Defendiam –no da frieza húmida da noite.
Andar calmo e discreto.
Não de alguém que por ali deambulasse, sem destino
Ou por ali derivasse, sem propósito, nem rumo definidos.


Antes de o reconhecer, pelo mesmo passeio que sigo,
Evolui vulto que mal se destaca na névoa, tingida a
oiro turvo pela luz escassa, que a luz pública
mal divisa e distingue.
Estranho e dormente é também o silêncio
que só de vez em quando, é interrompido
por escassos carros que vão passando.
eles mesmos, lembrando, por vezes,
vagarosas silhuetas, difusas,
vindas de largas ruas
de alguma cidade fantasma!

Mas o que vejo é Cesariny,
nítido e inconfundível, na figura,
no andar seguro e tranquilo, no sorriso maroto
de uma inocência nunca perdida,
que a idade parece ter preservado intacta..


Aí está ele! Cabeça levantada. Olhar em frente,
Olhando, horizontalmente, à linha mal iluminada do passeio.
Estilo de ave a quem ninguém impede o voo
de animal selvagem, sem rédeas nem freio.
No passo certo carrega o saber para onde vai,
a indiferença ao caminho, a ausência de embaraço inoportuno,
como quem não trás nada sobre os ombros, o incomode:
nem peso em que vá derreado nem a própria gravidade..













.




Vetustos edifícios da antiga avenida,
árvores nuas, descarnadas,
imergem no nevoeiro que tudo ofusca.
Ambiente monótono, estranho! sem vivalma
nas horas de abandonar bares e discotecas, nem partidas
para outras aventuras na vertigem do cio.
A espessa atmosfera, transfiguração em espiral contínua,
confunde e disfarça - Mesmo sem o convite,
persistem o belo e o mistério.













Já lá vão uns anos – mais de vinte ! –
Oh Meu Cesariny! Como o tempo corre?
Como a vida foge! - E, todavia,
até parece que foi ontem! - Um repórter de rádio,
pequeno gravador na mão, atrás do imprevisto,
do inesperado, vagueando na solidão da noite húmida e fria,
quase despovoada de vida e de luz, na mira de algo
que valesse uma noite perdida! - E, um poeta, ateado pelo fogo
e a rebeldia dos seus mais cruéis demónios, fidelíssimos amantes
de inspiração altíssima nas horas mais solitárias e incandescentes,
tocado pelos deuses de Olimpo: Hermes, Apolo e Dionísios
- de quem era ao mesmo tempo enteado e dilecto mensageiro,
atraído pelas tentações e volúpias de uns e outros,
qual viajante solitário em busca de “ palavras
e nocturnas palavras gemidos,
palavras que nos sobem ilegíveis À boca
Palavras diamantes palavras nunca escritas
Palavras impossíveis de escrever”..

Oh, sim, o inseparável apaixonado “dos braços dos amantes”
que “escrevem muito alto” 
Muito além do azul onde oxidados morrem”
O insólito sonâmbulo que vai peregrinando, sem âncora
e sem bússola, de olhos fechados, mas com um grande à-vontade
de quem já trata por tu as avenidas, ruas e os mais discretos becos,
esventrando, por instinto nato, os seus mais recônditos recantos,
fazendo deles o centro do mundo,
e que, tão depressa neles é visto e aparece
aureolado com o brilho de uma estátua em jardim iluminado,
como, imediatamente, se transfigura e funde
ou, mesmo, como súbita névoa que ao pousar
se dilui na atmosfera e no ar desaparece!

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Vale a pena, pois, rever os passos de tão singular figura!
Passeando-se, com a subtileza de um mago,
ou com a altiva nobreza de um Príncipe encantado,
por lugares proibidos – devassando
os escombros das “sombras
que têm exaustiva vida própria”.
Indiferente às aparências, ao escárnio severo,
alheio aos múltiplos perigos e maledicências
que, nas horas mortas, no pico das horas
mais furtivas e silenciosas,
poderão reaparecer ou ressurgir
quando menos se espera: no dobrar de cada esquina
ou num passo mais em falso ou descuidado! Desafiando
convenções sociais, a censura alheia,
não se importando “de ser visto
na companhia de gente
altamente suspeita!”

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Meu Caro Cesariny:
Como sabe, na vida há um tempo para tudo:
Há-o para o amor, a sensualidade, a poesia - para tudo
há o tempo que o homem quiser fazer enquanto for vivo.
E, também, após a morte! – há um tempo para o repouso absoluto!
- Este agora é o seu tempo! O do indomável guerreiro
ter também o justo descanso! – O do luminoso poeta ,
ao descer, lentamente, à Terra, que o criou,
subir, em espírito e, talvez também, em corpo inteiro,
imediatamente ao Céu!
















E, quanto a mim, amigo:
o meu tempo, pelo menos, por agora,
a estas tardias horas da madrugada,
em que a memória de novo me faz recuar
àquela fria noite de Dezembro,
é a de um longo momento de sentida emoção:
- tão só para recordar o belo poema,
os lindos versos, ditos palavra a palavra,
que tive o privilégio de gravar,
tal qual acabavam de ser criados,
por um inesperado poeta que, ali,
imerso em nevoeiro e névoa, quase irreal,
os dizia, com a mesma expressão
sublime e sagrada de quem diz uma oração!

 Jorge Trabulo Marques
Lisboa, 27 de Novembro de 2006

Lembra-te

Lembra-te 
que todos os momentos 
que nos coroaram 
todas as estradas 
radiosas que abrimos 
irão achando sem fim 
seu ansioso lugar 
seu botão de florir 
o horizonte 
e que dessa procura 
extenuante e precisa 
não teremos sinal 
senão o de saber 
que irá por onde fomos 
um para o outro 
vividos 

Mário Cesariny, in "Pena Capital"