Algures no Golfo da Guiné, 24 de Novembro de 1975
Sim, tal como desabafei para o meu registo gravado, que guardo no contentor de plástico que se vê na imagem (a outra do lado, é a cauda de uma das baleias avistadas) acordei mais cedo e assustado, com o barulho de enorme balanço, Acordei estremunhado. Ato contínuo, ergui-me a ver o que era, supondo que tivesse sido apanhado pelas ondas da quilha ou da esteira de algum barco. Mas o rugido e o cheio nauseabundo a peixe , fez-me logo pensar que era um enorme cetáceo que tinha vindo à superfície a respirar, que se levantou abruptamente a escassos metros da proa. Expelindo um bafo tremendo, que parecia ter emergido das profundezas mais fundas dos abismos. Não sei como a não a escaqueirou. Deu uns valentes esguichos e até ainda me molhou com uns espirros . Apanhei em cima de mim uma espécie de chuva miudinha, mas a tresandar a uma podre maresia.
Ainda o vi mergulhar e desaparecer. Levantou-se, deu uns sopros e umas borrifadelas, seguidas de alguns rugidos e mergulhou outra vez, da mesma maneira e no mesmo sítio onde se levantou - Mais parecia um mostro pré-histórico, que subitamente havia emergido do fundo dos tempos ou um negro e volúvel submarino vivo, que, depois de errar no seu alvo, se ergueu com a cauda assente nas águas e o focinho nos ares, estrebuchou, guinou, mergulhou e desapareceu.
Não é a primeira vez que se levantam junto à canoa. Mas desta vez, corri o risco de ser abalroado. Foi mesmo muito rentinho.... Tive muita sorte!... Mas elas são cautelosas e eu até gosto de as ver - Deus as proteja dos assassinos que as pescam e de forma tão bárbara; se calhar veio por curiosidade para ver que estranho corpo era o da canoa, que tem o costado como a barriga dos peixes. Ainda por cima de um azulado claro - Um gesto amável dos pescadores do Hornet, nos dias que passei a bordo do pesqueiro americano, de São Tomé a Ano Bom, onde fui largado - Foi pena não ter sido na corrente equatorial, um pouco mais a sul, mas, enfim, estava escrito que deveria ser este o meu destino. . Estava pintada de alcatrão, pelo pescador santomense, que a talhou num tronco da floresta - Se tivesse mantido a mesma cor, certamente que não teria sofrido tantos ataques dos tubarões, atraídos que são por tudo quanto se movimente, brilhe ou branqueie. Não sei se é por esta mesma razão que à volta da canoa, há quase sempre peixes das mais variadas espécies - e sobretudo muitos tubarões pequenos. Felizmente que os perigosos gigantes, solitários, que a atacam, são mais raros.
Solitário e sem destino, sob um céu cinzento e deserto de uma manhã
brumosa, envolta por um horizonte
encoberto por densas névoas e por saturadas neblinas, povoado
por silenciosos e enigmáticos sortilégios -
Ó abençoada claridade das madrugadas, que sucede à cerração impenetrável das
trevas, às longas horas de espera, aos infinitos momentos de angústia e
resignação! Afável serenidade, confiança e audácia do meu ser, que me
iluminas e abraças!... Vagueando esfomeado, transitório e frágil à superfície
de um ondulante e vastíssimo manto de lívidas ondas, que os turvados céus
tingem e confundem, vogando à superfície de um mar brumoso e
infindo.
Não
choro o meu abandono, porque, apesar da incerteza que me domina, vogando
à deriva na vasta solidão que me
rodeia, dentro de mim não há lugar nem para a derrota nem para o desespero; ainda vibra o silêncio que acalenta e
não esmorece. Subsiste a intacta e vital vibração
da esperança que não falece, que transforma o sofrimento em vitória.
Porém, oh, Deus!... Vós, que até agora me acompanhais, lá do alto, que
certamente olhais os imensos caminhos da minha náutica e errante
aventura, sabereis, com certeza, a dor que vai dentro da minha
alma!... O quanto está debilitado e enfraquecido
o meu corpo, quanta incerteza vai o meu coração! E qual o peso do
calvário por onde me arrasto e vou sendo arrastado.
Constantemente
torturado pelas minhas angustias, sinto que física e
psicologicamente me encontro noutro mundo. Não, não, este não é o mundo
de quem vive com os pés assentes em terra. Flutuo continuamente à flor do
abismo, dentro de uma urna muito frágil, que ora se ergue ora vai a cambalear,
mas nem é isso que ocupa mais os meus pensamentos, pois já estou familiarizado,
mas a fraqueza que me invade. No entanto, mesmo no limiar das minhas
forças, se a minha canoa resistir, tenho a certeza que eu não vou desistir de
lutar... Estou resignado a suportar, com infinita paciência, todos os
reveses e adversidades da minha triste sorte. Resignado, sim, mas não me vou
render; o que eu não quero é sofrer ainda mais. Só cruzo os braços quando
me deito, quando me estendo no fundo da canoa e junto as mãos ao peito. Porque,
eu sei, que, em cada alvorada, há o renascer de um novo dia, de uma noite
que se extingue e a luz apaga, uma nova promessa e uma renovada
esperança..
Parcas
têm sido as minhas palavras para o meu diário de bordo, tal como no
dia de ontem, porém, imensos os meus pensamentos, inarráveis os tormentos que
assolam o meu coração
Geralmente,
só adormeço de cansaço, quando a madrugada já vai entrada. Raro acontece antes
da meia-noite. Por um lado, é o grande desconforto de ter o estômago vazio e o
fundo da canoa ser duro e estar encharcado. Pois o colchão (de praia) há muito
rebentou e de nada me serve, Por outro lado, são os muitos pensamentos, a
imensa incerteza de que a canoa não resista. .É o que mais me preocupa. E
também tenho muito receio de ser abalroado - Sim, já vi alguns
barcos no horizonte e já uma manhã um cargueiro passou muito próximo de mim - E
eu agitar a minha capa, agitar e apitar e ele a passar ao meu lado, como
um monstro....É talvez ainda maior o desapontamento e a crueldade, que quando
se mostra um rebuçado a uma criança e se lhe nega, ante os seus olhos ávidos e
espantados.... É intraduzível a tristeza e a deceção que se apoderou de mim...
Senti-me então a criatura mais abandonada e triste deste mundo....E mais
me convenci que só podia depender de mim, da minha força de vontade.
Além disso, de noite nunca sei para onde as correntes me
arrastam.. E as correntes são quase como os ventos, nem sempre tomam o
mesmo sentido. Por vezes, até me parecem pequenos rios. São correntes
dentro de outras correntes. Receio que me aproxime da costa e seja atirado
contra a rebentação de algum penedo.. Tenho o sono dos gatos, à mínima coisa,
acordo. Ainda não consegui dormir uma noite inteira. Ou porque chove ou porque,
mesmo sem chover, as constantes pancadas e balanços das vagas na canoa,
atordoam-me, perturbam-me o descanso. O chape-chape deixa-me a cabeça num
frangalho - É um autêntico martírio! . Porém, a manhã já raiou, embora
sombria e com ameaça de trovoadas, por agora, cá vou indo, levado,
não sei para onde.
Se olhar para a bússola, sei a direcção que a canoa toma, mas os
ventos e as correntes fazem-na mudar constantemente. . Tanto pode ser
empurrada para norte, sul, leste ou oeste. Se não fosse isso, já tinha dado a
qualquer ponto da costa. Vou para onde me empurrar o vento e os caprichos
das correntes. .Eu sou um zé ninguém e a minha canoa uma tábua
flutuante... Estou muito cansado de tanto olhar para o horizonte e para a
bússola... Lá ponho a vela, quando o vento é favorável, mas com muito
esforço... Ainda se tivesse um remo apropriado, mas o que improvisei, é
demasiado tosco . Por isso, vou-me entregando à mercê de Deus...Aqui no mar
sinto um grande apelo às minhas raízes cristãs. A fé é um bom suplemento de
energias . E estou convencido que tenho um olhar divino a estender-me a sua
bênção. Mas em terra eu não sou assim tão crente.
Também já tenho avistado muitos golfinhos. Nadam em fila
lado a lado, uns dos outros. Lá vão à sua vida, e eu continuo na minha. Uma
noite resolveram brincar comigo. Fizeram do casco o seu arco. Como estava muito
escuro, deixavam um rasto luminescente...Exprimiam uns grunhidos, muito
estranhos, saindo do fundo das águas, como foguetes da escuridão,
deixando um rasto luminoso. Era cambalhota atrás de cambalhota por sobre
a canoa. Até parecia um foguetório. . Receando que algum caísse dentro da
canoa e ma partisse, dei umas apitadelas com o apito que trago sempre pendurado
no pescoço e desapareceram. Se calhar vieram-me acordar-me para a vida. ,
Foi numa daquelas noites muito tristes, em que me sentia muito fraco
e deprimido. Mas agora já estou mais acostumado a viver com a minha
fraqueza. Não tenho comido nada. Tenho estômago, mesmo duro e encolhido. Quanto
arroto, parece que até me vem à boca, o gosto às minhas vísceras. Vá lá
que não me tem faltado água das chuvas. Houve uns dias em que não choveu e só
bebi água do mar. .. Bebia de vez em quando aos golinhos para não me fazer
mal e também para não me desidratar. Não havia uma nuvem no céu e nem uma
aragem corria... Eram calmarias atrás de calmarias,, Que tormento o meu!.
Antes apanhar água das chuvas em cima do corpo, de que não chover e morrer de
sede.
Numa tarde, era tanto, tanto o calor que me queimava a
garganta, quase me sinta sufocado (sim, este é um mar equatorial, em que
o sol sob a pino e os dias e as noites são sempre iguais) que lasquei um
pedacinho da borda da canoa, que estava húmida e fiz uma espécie de chiclete.
... Meu Deus!... No mar a fome é dolorosa, mas a sede é ainda
pior - É uma tortura insuportável! - E, todavia, tanta água à minha
volta!...Que suplício!... Eu lá ia bebendo uns golitos de água salgada, mas
ficava sempre com sede. Não é a mesma coisa que a das chuvas ou água potável.
Serve para amenizar mas pouco mais dava que ir molhando os lábios e humedecendo
a garganta. . Mesmo assim, ás vezes lá ia fechando os olhos, tomando-lhe
o gosto e bebendo um pouco mais.
Curiosamente, agora que estou com o estômago completamente vazio e
encolhido, estou mais resignado. Sentia-me menos adaptado, quando tinha água e
alimentos, até cheguei a chorar. Não de desespero mas por algo estranho a mim,
misto de uma imensa tristeza a e abandono. Agora, não sei porquê, não choro,
secaram-se-me as lágrimas. Se Deus me levar, que seja essa a sua santa
vontade. A sepultura está sempre aberta ao meu lado. Não vou dar
trabalho a ninguém. Mas a fome é realmente um
suplício terrível! .E, então, dormir de estômago vazio e
encharcado, pior ainda!... Ainda se ao menos pudesse repousar!.... Bebo água e
arroto, com um sabor desagradável vindo do estômago. Costuma arrotar quem tem a barriga
cheia, mas eu aqui arroto por ter a barriga vazia. É o meu saco de fole a
implorar-me comida e eu não ter nada com que matar a fome. Ainda se ao menos
conseguisse pescar alguma coisa. Fico debruçado sobre a borda da canoa,
momentos infindos, tentando apanhá-los à mão, mas agora nem isso já consigo. Já
não sou tão lesto.
Quem vai à praia sabe o apetite que traz de lá quando volta
a casa. O mar desgasta muito. Enfim, cá me vou acostumando a viver com a
minha fraqueza e com a minha fome.. Estou mais resignado... Vou-me
entregando pacientemente ao meu silêncio e à minha solidão. Claro,
que não me sinto vencido. Vou lutando com as minhas forças, conforme
posso. Vivo num estado em que é o sentimento da própria tristeza que me
alimenta e me conforma. Sim, sem desespero e sem blasfemar contra
ninguém, alimento-me de marezia e de tristeza. Se calhar até desgasta
mais a alegria de que a resignação. Naquela noite, em que os golfinhos me
visitaram, eu estava mesmo muito abatido!".. E não me queria deitar...
Receando que me desse alguma coisa de noite e não mais
acordasse. Será que vieram acordar-me e despertar-me para a
vida?!...É bem possível.. E a baleia?!... Não terá sido a mesma
coisa?!....Vá lá malandro!... Acorda lá que já são horas de te levantares....E,
de facto, há terra à vista. Resta saber se lá chego hoje e não sou afastado
para longe, como já me tem ao acontecido.
O horizonte está brumoso. vejo para lá, de uma densa neblina, uns
recortes escuros. Não sei bem o que será. Umas vezes parecem-me nuvens escuras
e encasteladas, , outras vezes fazem-me lembrar perfis de montanhas. Oxalá seja terra.
Diário de Bordo 2 Tenho a impressão que estou realmente próximo da
costa africana...Parece que já vejo os seus contornos...Simplesmente, neste
momento, não há vento!...Há umas nuvens espessas, sobre mim, que cobrem
completamente o céu... Tudo faz prever que venha a chover...
Estou com
muita fome!.... Bastante fraco!... Sinto realmente uma fraqueza muito
grande...no corpo... Dor de costas, dor de estômago... Mas estou a ver se
aguento, com toda a paciência, estes sacrifícios todos...
.
Sou uma espécie de Lázaro
bíblico. O meu corpo está cheio de borbulhas e de pústulas da água salgada. As
unhas de alguns dedos dos pés já me caíram. Tenho a boca e a gengivas numa
chaga. Levando-me e pego no leme (improvisado) com muita dificuldade,
Trinta e cinco dias nesta trágica odisseia é realmente muito tempo, para
não dizer que é uma eternidade. Não sei, não faço a menor ideia até quando
poderei continuar a resistir a este duro e tormentoso desafio.
A cor do mar ondula lânguido e oleoso. Mudou
nitidamente de um azul escuro para um esverdeado sujo. Ora isto pode ser na
realidade sinal de que já me encontre próximo da grande embocadura do Golfo
onde as águas vêm concentrar toda a espécie de despojos, sedimentos e
porcarias. E os fundos nesta zona são relativamente baixos. Por isso, pelo aspeto
da água do mar, que, aliás, agora até passou para uma tonalidade quase turva e
cinzenta, devido à ameaça de chuva, é natural que já tenha voltado a
aproximar-me da plataforma continental, onde também se situa a própria Ilha de
Fernando Pó. Pois, desta ilha ao continente, ainda vão 30 km. Desconfio que
aquela mancha, que de volta e meia vejo aparecer e a sumir-se no horizonte,
sendo perfis de terra, deverá ser o Monte dos Camarões, que, se não estou em
erro, tem mais de 4000 metros de altitude.
Mas, por agora, não posso
fazer qualquer conjetura; estou a meio da manhã. Talvez lá para o fim da tarde
o céu se descubra melhor. Agora é muito difícil. O tempo escureceu bastante. E
não deve tardar a despenhar-se uma carga de água sobre mim.
Não sopra vento algum. Mas a atmosfera é um balão saturado de
humidade. Quase não respiro ar mas água. O mar está brando e melancólico.
Sinto-me triste vê-lo assim. Gostava de o ver com outra cor e transparência. Com
aquele azul escuro e límpido ou quase de um roxo aveludado, que é o mar das
grandes profundidades ou então num azul mais claro, com a crista das ondas
espumando e refletindo uma luz quase irreal, quando o sol está a pino, ao
meio-dia e os raios solares o atravessam, lá do
alto e bem aprumo.
Porém, para
maior tristeza minha, até parece que já nem cor tem. É muito desagradável ver
assim o céu tão espesso e carregado, o mar tão feio e cinzento.
Pois, à fome que me devora, junta-se-me ainda uma maior angústia. E
apreensão de que não tardem por aí mais uns quantos trabalhos. Pois à
chuvada à vista.
E, de facto,
com o refrescar do tempo, veio a chuva acompanhada de ventania e de fortíssimas
bátegas. Com o tecto do céu escuro e carregado, nem era de esperar senão mais
uma carga de água. A que me exponho sem hipótese de abrigo. De pouco me serve a
capa que envergo. Cubro a cabeça com um plástico mas a chuva é demasiado forte.
Cai em grossas gotas sobre a mim e não cessa de martelar a minha
canoa e à minha volta, num barulho que ameaça abafar até o próprio marulho das
vagas, que se estendem por toda a vastidão, já totalmente mergulhada por
uma cortina diluviana e cinzenta.
Continuo a
beber água das chuvas, misturada com água do mar. Não tenho anzóis para pescar.
Mal me posso mexer, mas lá tenho que pegar no vertedouro para escoar a água que
rapidamente se veio juntar à salmoura já existente, que chocalha
constantemente no fundo da canoa. Que não cessa de entrar pelas pequenas rachas
e de se avolumar. Sinto-me fraco mas também já nem sei até que ponto
esta banheira ainda possa resistir. Se quem vai ceder primeiro, serei eu ou é a
canoa que se vai abrir e voltar. Este tempo chuvoso, rouba-me as fracas
energias que ainda vão dando vida ao meu tão maltratado corpo. Estou
enregelado, sinto-me entorpecido dos pés à cabeça, ensopado de água até aos
ossos. A chuva não pára de cair e as horas arrastam-se lentas, ensopadas,
penosas e desgastantes.
No entanto,
mesmo desconhecendo a quantas ando, o dia segue o seu curso – Nada que se
comparem às horas noturnas. Mesmo decorrendo chuvosas e em gélida
cadência, não têm a mesma cor das horas mortas de uma infinita noite
escura. Avançam alheias ao meu tormento, mas nem por isso se desligam do
próprio compasso do tempo. Um dia no mar, mesmo brumoso e chuvoso,
nunca se pode comprar ao tumulto de um mar agitado, rodopiando e
tumultuando sob um céu espesso e cavernoso, imerso de solidão e liquefeito de trevas. Serão
umas quantas da tarde, não sei. Já parou de chover mas estou todo partido. Não
faço a menor ideia.
Entretanto, o
horizonte clareou, desfez-se da brumosa neblina em que se havia encoberto desde
o meio da manhã e, embora cinzento, estende-se agora por um círculo, claramente
mais amplo e afastado. O mar é agora um espelho lânguido, morno e calmo. Não se
vêm os peixes em redor da canoa. Até parece que a vida se extinguiu. Ainda hoje
não vi um raio de sol, contudo, paira em torno de mim uma estranha beleza e
quietude. Tudo se confunde e dissipa num extenso manto de harmoniosa placidez e
calmaria.
Diário de Bordo 3 - Sim,
realmente, já não tenho a menor dúvida de estar numa enorme baía!... Baía
ladeada de altas montanhas!... Que ora estão escondidas ora ligeiramente
descobertas!... Mas quase sempre escondidas...
Estou exausto!... Estou
fraco!... As forças cada vez fraquejam mais... A canoa está cheia de água!... O
fundo está cheio de água, devido às constantes chuvadas que caíram esta
manhã... Mas eu hei-de aproximar-me de terra... Eu sinto isso...
Estou completamente
exaurido!...Não sinto nada no estômago... É um saco de fole... Há uma fraqueza
geral em mim...mas o espírito permanece forte...A confiança é inabalável.... Eu
sei que estas palavras que tenho pronunciado têm sido poucas... Tenho-me
remetido num autêntico mutismo...
.
São aí quatro da tarde. O
tempo mantém-se sereno... Pouco vento. Tenho andado à deriva visto o vento ser
muito fraco.
Apanhei Há
bocadito um peixe à mão. Foi para mim uma festa!... Estou mais
satisfeito agora.... Evidentemente que o comi, crinho!... Mesmo quase vivo...
Soube-me também!.. Ah! o meu estômago andava tão vazio!... Assim ficou
melhor!...
Pensamento
do dia EU
E O MAR - José Luís Peixoto, escritor
Para José
Luís Peixoto, a melhor forma para se tirar
bom partido do mar consiste em "observá-lo, desfrutar dele, contemplá-lo
e, se possível, escrever sobre ele".
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