Jorge Trabulo Marques - Jornalista
A vida escrava dos
africanos na capital do reino colonial após abolição da escravatura – Os tempos mudam mas a escravatura do presente,
será assim tão diferente da do passado?
- A narrativa do livro não a questiona mas o autor vê com atenção e preocupação a difícil
vida nas suas ilhas

Orlando Piedade, estreou-se,
com “O Amor Proibido, em 2011, baseando-se
na historiografia colonial das Ilhas Verdes do Equador. Em 2014 publicou “Os Meninos Judeus Desterrados - De Portugal para São Tomé e
Príncipe por Ordem Del Rei D. João II em 1493,
trazendo para a atualidade, o drama das crianças judias deportadas
para S. Tomé, e outras histórias relacionadas com essa horrível deportação, que
foram arrancadas do seio familiar e desterradas para São Tomé e Príncipe, nos
primórdios da colonização - onde a grande maioria acabaria por não resistir
quer às agruras da viagem quer às adversidades do clima e, sobretudo, devido ao
profundo trauma causado pela ausência do carinho maternal e paternal, | Embora a residir em Lisboa, nem assim esquece as suas Ilhas |
Se o texto revela a presença
permanente e actuante do preconceito racial que desvaloriza os africanos e dá
como a da dureza da sua vida, pois mesmo livres perante a lei - depois da
abolição da escravatura em Portugal decretada pelo Marques de Pombal em 1773 -
estes homens e mulheres, 'os pretos', não só são rejeitados pela sociedade portuguesa
como se mantêm na esfera laboral mais degradante, fornece também os elementos
que permitem conhecer as estratégias de sobrevivência africanas e as suas formas
de integração e de pacificação nos
quotidianos portugueses.
ILHAS SACRIFICADAS E INGOVERNÁVEIS –
ONTEM E HOJE
Escreve o autor, na
página 123: “Apesar dos lamentos, tudo corria sobre rodas. Pelo menos no plano
pragmático, Portugal esqueceu-se de que São Tomé e Príncipe fazia parte do
império colonial português. Enquanto as cidades, vilas e aldeias do reino de
Portugal barulhavam, ora ao grito absolutista ora ao grito liberal, solitário,
o arquipélago ligou-se ao Brasil - via São Salvador da Baía através de um
cordão umbilical chamado tráfico de escravos. O cordão foi sendo solidificado
com a ex-colónia que, durante muito tempo, se revelou um São Salvador das
finanças das ilhas em função do comércio de escravos para ali dirigido. A alfandega
da Baía pagava à colónia uma renda anual, importantíssima para sobreviver ao
esquecimento, que a ligava a uma espécie de suborno à memória.
Uma renda anual pelos
direitos sobre os escravos para aí traficados e isso permitia um equilíbrio
financeiro bastante razoável sob a batuta de alguns notáveis que pautavam o
rumo a seguir e, assim, definiam o plano estratégíco. Um plano estratégico
moldado à medida do "eu", focado nas "minhas ambições", nas
"minhas vaidades" - o "eu" que impedia as ações de qualquer governador destacado para
as ilhas, sobretudo aquele que realmente abraçasse a missão de que era imbuído,
de dedicação ee zelo, sem lugar a duelo de titãs porque o governador o elo mais
fraco, logo rapidamente chegava à conclusão
de que as ilhas eram ingovernáveis.
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