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segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Odisseia no Golfo da Guiné 38 dias numa piroga - Há 50 anos principiava a minha odisseia solitária no mar dos tornados e dos tubarões a bordo da piroga Yon Gato - Avançava sozinho mar fora na tentativa da travessia oceânica pela rota dos escravos.

Jorge Trabulo Marques 

 Era o  princípio de um longo e dramático calvário mas a que nunca cruzei os braços ou me dei por vencido., ao longo dos 38 dias e noites após ter sido largado a bordo de um pesqueiro na Ilha de Ano Bom e ainda afastado da corrente equatorial que eu desejava seguir , decidi inverter o percurso, visto o comandante me ter forçado a largar a canoa ou ficar a bordo a trabalhar,      - Avançava sozinho mar fora na tentativa da travessia oceânica pela rota dos escravos. Vou passar a recordar alguns episódios do meu diário de bordo, cujos registos pude guardar num vulgar caixote de plástico, num simples contentor do lixo, sem o qual não teria hoje imagens dos tubarões que pude capturar e até dos gigantes que avançavam para me atacarem a canoa,



No dia 18 de Outubro de 1975,  concluída a construção da canoa num tronco escavado de ocá, na floresta das imediações da então Vila das Neves, hoje cidade e capital do distrito de Lembá, com ajuda do mesmo pescador-construtor, ensaiava o primeiro troço de navegação, desde a  Vila das Neves ao estaleiro  de Germano Castela, na Baía Ana de Chaves, onde lhe é adaptado um leme, carregados os cinco bidões de água potável, vários alimentos e  posto um contentor de plástico (do lixo)  a fim de  guardar a máquina fotográfica e o gravador (que iria servir de registo do diário) bem como algumas peças de vestuário.



Feito o carregamento e os últimos arranjos, dirijo-me, então,  para junto do pesqueiro Hornet, a meio da tarde do dia 18 de, um pesqueiro americano, que se encontrava  fundeado ao largo da Fortaleza S. Sebastião, atual Museu Nacional.

Como os ventos e as correntes, são dominantes do Sul para Norte, eu precisava de ser largado na corrente equatorial, um pouco a Sul da Ilha de Ano Bom, que é onde a Corrente de Benguela se divide: uma parte vem perder-se a Norte do Golfo e a outra deriva em direção ao Equador para o coração do Atlântico, até voltar para sul, junto à costa brasileira, num périplo que desce até quase ao Oceano Antártico, confluindo depois para a costa africa

O comandante, desse pesqueiro, comprometeu-se a largar-me naquela corrente, mas faltou à palavra. Na impossibilidade de apanhar corrente equatorial, decidi empreender o regresso a S. Tomé para tentar a travessia noutra oportunidade . Era o principio de um longo e dramático pesadelo


A ilha Ano Bom,  com uma superfície de, aproximadamente, 6,4 km (comprimento) por 3,2 km (largura), parecia um pequeno boné. Localizada no  Atlântico Sul a 350 km da costa oeste do continente africano  e a  180 km a sudoeste da ilha de São Tomé,  com pouco mais de mil almas, quase esquecidas do resto do mundo, onde o único europeu era um sacerdote, que, aliás, chegou vir a bordo do pesqueiro para receber alguma caridade, dada a penúria e escassez de alimentos, que por lá existia.

 Eu próprio fiz permuta com algumas latas de conserva por cocos e bananas, com os pescadores, que também ali chegavam com as suas estreitíssimas canoas para vender à tripulação os seus frutos frescos e, no fundo, para matarem a fome, visto ter então apenas uma ligação anual com  o resto do território da Guiné Equatorial.

Ao pôr do sol, inesperadamente,  a canoa é  então arreada por ordem do comandante, alegando que a canoa estorvava a pesca e  não podia deixar-me na zona da grande corrente equatorial, que, inevitavelmente, me arrastaria para oeste ao longo do imenso oceano. Penso que, um tal ultimato, feito àquela hora, com a noite prestes a cair, era  mais uma forma de me atemorizar e me convencer a desistir.

Estando o mar calmo, não havendo vento, dada a proximidade da Ilha, havia pois o risco de poder  ser assaltado... Praticamente, não conseguia sair do mesmo sítio, sempre com os olhos na pequena ilha que tinha ali bem próximo, receoso que alguma canoa saísse de lá.  Até porque as últimas palavras que ouvira do alto do convés, foram bem esclarecedoras: "escapa-te daqui o mais depressa que puderes, senão te roubam!!"... 

Já com as primeiras sombras do curto crepúsculo, e após um  giro em torno do horizonte, o pesqueiro, aproxima-se de mim e volta a carregar-me a piroga, prometendo largar-me no dia seguinte. Horas depois,  em plena noite cerrada, o barco é  de novo envolvido por enorme agitação, varrido de  proa à popa,  pela já habituais tempestades noturnas da época das chuvas, que o assolaram em noites anteriores. 

Muitos dos tripulantes, voltam a vir junto de mim, procurando persuadir-me a  ficar a bordo com eles:

Jorge! Não vês, como está o mar?!... Vais morrer!!.. Fica connosco!"  Por sua vez, o imediato, conduz-me  à cabine do Comandante, convidando-me a trabalhar a bordo.  Não tendo aceite a proposta, obriga-me assinar um termo de responsabilidade.

E, de facto, ninguém se atrevia a expor-se ao vento e à chuva. À fúria do mar. Eu olhava a escuridão, por detrás das escotilhas e fixava os olhos bem abertos na borbulhante e pálida espuma, ouvia o marulho das vagas a desfazerem-se contra o casco e galgarem-no!... Olhava e escutava pasmado a sua inaudita violência com alguma apreensão, mas estava determinado...

Nada deste mundo podia demover-me da minha determinação!... Sentia-me ao mesmo tempo atraído por uma espécie de resistível desafio e tenebroso fascínio...Sentia que o palpitar do meu coração precisava de vibrar ou se aquietar com o marulho das ondas. Os meus olhos, só queriam espraiar-se ou deleitar-se com o imenso azul clarinho dos céus e o azul profundo da vasta superfície oceânica.

ANTES DESTA AVENTURA -  já havia feito  a travessia de S. Tomé ao Príncipe. e, 5 anos depois, a travessia de S. Tomé à Nigéria, em 13 dias 
Não era a minha primeira experiência solitária, o meu encontro a sós com o mar: já havia  realizado a travessia em piroga de S. Tomé ao Príncipe, em 3 dias e de S. Tomé à Nigéria,  em 13 dias

Foi em Março do mesmo ano: largara pela calada da noite para me escapar das perseguições movidas por alguns colonos em represálias aos meus artigos na revista Semana Ilustrada de Luanda, de que era seu correspondente, por via de dar voz ao movimento pró-independência e de denunciar os crimes do massacre do Batepá. 

Não me restou outra alternativa senão a de me escapar numa frágil piroga pela calada da noite, numa noite de tempestade, com o beijo amigo e de olhos toldados de lágrimas pela minha companheira santomense, a minha querida e saudosa Margarida.

Sabia que, quanto maior a nau maior é a tormenta.  Pois, as canoas, vogando à flor do mar, com vento de popa ou mesmo impelidas pelo remo, entram numa espécie de  desenfreada vertigem e furtiva cavalgada do sobe e desce, e, mesmo que as ondas sejam tão altas como as montanhas, elevam-se, acompanham o seu ritmo,   a sua hilariante dança!...

Mar! Mar! Mar! ... Esta palavra mágica de três letras não me saía do pensamento. Eu queria a voltar a estar sozinho com os olhos extasiados ou circunscritos em todos os confins do círculo que se abrem sobre o vasto mar! - E, ao sulcar as suas ondas, ir buscar raízes e pedaços da história, perdidos no tempo e no  esquecimento 

Dois dias depois da independência de S. Tomé e Príncipe, e após 13 dias da bem sucedida viagem clandestina à Nigéria, regressava de novo à minha maravilhosa Ilha, sem um tostão na algibeira e a bordo de um avião militar português, para concluir a escalada do Pico Cão Grande, com novos apetrechos  e realizar a grande travessia oceânica. 

Na Ilha de São Tomé, recebera o melhor apoio e carinho e não queria desiludir ninguém; de forma alguma podia defraudar essa ajuda: a canoa fora mandada fazer a um pescador da Vila das Neves, que derrubou um ocá na floresta e que depois o escavou com o machim e à enchó, tendo sido paga com os apoios recebidos de várias pessoas

 Mentalizara-me de que a travessia estava ao meu alcance, sabia que, se precisasse de socorro, ninguém me poderia valer. Não levava meios de comunicação com ninguém. Servia-me apenas de uma bússola, orientava-me




Proibição da burca em espaços públicos? Uso de máscara no carnaval ou da Covide, é proibido? E os milhares de abusos sexuais da igreja católica?O instinto sexual faz parte da natureza humana: reprimir o acasalamento é fomentar o desvio sexual

Jorge Trabulo Marques - Jornalista


Proibição da burca em espaços públicos? Uso de máscara no carnaval ou da Covid, é proibido? E os milhares de abusos sexuais da igreja católica?O instinto sexual faz parte da natureza humana: reprimir o acasalamento é fomentar o desvio sexual.Impedir o sacerdote de acasalar é forçá-lo a desviar-se para atos imprevistos ou condenáveis. O ato sexual, só é reprovável e pecaminoso, ato pedófilio se for forçado, não consentido ou aliciador de crianças e de menores

O ladrão que pretende roubar, tanto pode disfarçar-se de uma burca, capote, como de uniforme de agente da autoridade ou de bem engravatado - Aliás, os maiores criminosos, são os de colarinho engomado, a que justiça raramente toca. Daí não ser pretexto para se proibir o uso de um véu que cubra o rosto.

Para já não falar do lenço escuro usado nas aldeias, com o qual chegam a cobrir o rosto nos dias mais frios ou nos funerais, para conter o escorrimento das lágrimas. .

Sheik David Munir Diz que "há uma ignorância enorme perante alguns deputados" que dizem que usar burca "retira a liberdade à mulher"Frisando que "o Islão não obriga a mulher a cobrir o seu rosto", continuou, não deixando de frisar que se "quiser vestir de sua livre vontade, e se a lei do país o permite", não vê razão para não deixar.

A organização Amnistia Internacional condenou a aprovação, pelo parlamento português, do projeto-lei do Chega que prevê a proibição da ocultação do rosto em espaços públicos, considerando que é "discriminatório e viola os direitos das mulheres".

"A proposta é discriminatória e viola os direitos humanos das mulheres que optam por usar um véu para cobrir o rosto", afirma a organização em comunicado.O Parlamento português aprovou na sexta-feira, na genera

Não pretendo confundir o aprumado sacerdote, que se esforça por reprimir ou controlar os seus apetites sexuais, ao extremado violador de crianças ou de outros assédios a mulheres casadas iu solteiras - Isso também, não é novidade alguma: mas é mais contranatura, proibir de casar ou usar a burca? Nem é obrigatório - Diz o imã da mesquita de Lisboa Sheik David Munir,: "uso da vestimenta feminina islâmica não é obrigatório".

Certo que a "liberdade de ser padre é uma vocação que envolve a escolha consciente dese dedicar ao serviço da Igreja, com o celibato como um compromisso para manter a liberdade de servir sem os laços de uma família" Mas se outras religiões ou paragens conciliam os dois aspetos, qual a razão desse fudamentalismo, que, aliás, contradiz a liberdade bíblica: - A Igreja ensina que o celibato sacerdotal - embora seja uma prática muito valorizada - é uma "disciplina", não um "dogma".

A Igreja, em Portugal, é extremamente conservadora.. D. António Ferreira Gomes, que foi bispo do Porto, perseguido e homiziado por Salazar, é uma dessas grandes referências no avanço de conceitos ultrapassados: mais nefastos que úteis ao fiéis e à comunidade.

A perda de vocações poderá ser um aviso e uma advertência para a hierarquia. Alertou, em 2011, . Manuel Clemente, bispo do Porto, criticando a Igreja velha e distante da realidade circundante.


O Catolicismo Oriental (Rito Bizantino, por exemplo) de fato permite padres casados; o celibato clerical estrito é principalmente uma característica das igrejas de Rito Latino (Catolicismo Romano).

ENTÃO É PREFERIVEL QUE "Mais de 4.800 abusos sexuais na Igreja Católica em Portugal, anuncia comissão Comissão independente validou diretamente 512 testemunhos de abuso, mas estima que o total de casos é quase dez vezes superior

Nas últimas sete décadas, foram abusadas sexualmente mais de 4.800 crianças no seio da Igreja Católica em Portugal. É a estimativa do relatório apresentado pela comissão independente esta segunda-feira, baseada em 512 denúncias diretas. No entanto, o coordenador da comissão, o pedopsiquiatra Pedro Strecht, considera que se trata de um número "absolutamente mínimo".

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Auto Floripes e Tchiloli - A Património Imaterial da Humanidade – Sugestão do Musicólogo Carlos Almeida, em 12 de Julho 2013, num evento integrado nas comemorações do 38º aniversário da independência de S. Tomé e Príncipe - Agora corre esta noticia: Tchiloli à beira de reconhecimento pela UNESCO como Património Cultural Imaterial

Jorge Trabulo Marques - Jornalista







E noticia recente de que “São Tomé e Príncipe poderá, já em dezembro, ver reconhecida pela UNESCO uma das mais emblemáticas expressões da sua identidade cultural: o Tchiloli. Esta manifestação singular de teatro, música e dança integra o inventário de património cultural e imaterial recentemente submetido pelo Estado santomense à organização internacional.

Até dezembro, estou em crer que já seremos contemplados com o Tchiloli como Património Cultural Imaterial”, afirmou Emir Boa Morte, Diretor-Geral da Cultura e Secretário da Comissão Nacional da UNESCO.

A lista de candidaturas inclui ainda seis antigas roças coloniais e a proposta de inscrição de São Tomé e Príncipe como Reserva Mundial da Biosfera, uma ampliação da atual designação atribuída à ilha do Príncipe.

O auto Floripes  e Tchiloli a Património da Humanidade  -  Sugestão  lançada pelo musicólogo são-tomense, Carlos Almeida, atual quadro da Sociedade Portuguesa de Autores, durante a “ Conversa sobre o “Dicionário Santome – Português” - Um dos vários eventos  com que a  diáspora  assinalou os 38 anos sobre a  proclamação da independência  - Teve lugar na sede ACOSP -  Associação da Comunidade de S.Tomé e Príncipe em Portugal, tendo contado com a presença do Prof. Tjerk Hagemeijer, do Centro linguístico da Universidade Nova de Lisboa, responsável do  livlu-nglandji, “santome-portugêji,  em coautoria  com Gabriel Antunes de Araújo, da Universidade de São Paulo.

"Embora sendo uma peça de origem europeia, o Tchiloli é hoje património cultural são-tomense. Pois, após ter sido introduzido em S.Tomé, passou a ser praticado por são-tomenses e com algumas alterações conforme a percepção do mesmo povo. Temos na obra influências europeias e africanas, que fizeram com que tivéssemos o Tchiloli que hoje temos. O Tchiloli constitui um dos testemunhos da história de S. Tomé e ao mesmo tempo, traço da presença e dominação europeia no nosso país. - See more Património de S. Tomé.: Tchiloli

"Anualmente no dia 15 de Agosto, a ilha do Príncipe é invadida por milhares de visitantes que para ali se dirigem a fim de assistir a festa de São Lourenço e o Auto de Floripes. Atracção cultural que preenche o cartaz turístico da ilha do Príncipe, é um teatro de rua cujo argumento retrata o conflito entre cristãos e mouros. Auto de Floripes - 


HÁ QUE PRESERVAR E VALORIZAR O PATRIMÓNIO CULTURAL

O fado é português e já foi classificado como Património Imaterial da Humanidade. Amália Rodrigues, com a sua voz inconfundível, deu-lhe a projeção internacional que merecia.  A morna é  única e tipicamente cabo-verdiana –  E teve na interpretação de Bana, falecido recentemente, em Lisboa, a grande figura que mais projetou pelos quatros cantos do mundo a doce melodia das Ilhas de Cabo Verde. 

O Governo deste país,  ao mesmo tempo que prestava homenagem a um dos seus mais admirados filhos,   fez  aprovar uma resolução da morna como Património Histórico e Cultural Nacional – Um passo importante para a sua candidatura à UNESCO a  Património da Humanidade. Ora, aí está também o momento do Governo de S.. Tomé, valorizar e promover, a nível mundial, duas das suas mais singulares expressões artísticas de cariz etnográfico, histórico e teatral.

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Portugal 2- Hungria 2 Empate adia o apuramento mas não ofusca o brilho da Seleção Nacional e de Cristiano Ronaldo, com dois golos marcados -


                        Jorge Trabulo Marques - Football Dream - No video mais imagens 


Portugal 2- Hungria 2 Empate adia o apuramento mas não ofusca o brilho da Seleção Nacional e de Cristiano Ronaldo, com dois golos marcados - Um penalti não assinalado, mas rasteirada bem fotografada . Ao cair do pano, balde de água esfria e vem quebrar a euforia da festa em Alvalade, adiando o apuramento para novembro


VIDEO DO JOGO

A seleção Nacional , depois de ter começado a perder, logrou a empatar e depois a ganhar por 2 a 1 até aos 46 minutos do segundo tempo quando o húngaro Dominik Szoboszlai, vem desfeitear o brilho da equipa das quinas, com sucessivas bolas à trave
Tal como é sublinhado pela imprensa desportiva, “Cristiano Ronaldo, capitão da seleção fez os dois golos da reviravolta frente à Hungria, em Alvalade, e tornou-se o melhor marcador da história em jogos de qualificação para o campeonato do mundo”. Mas tudo se esfumaria nos primeiros instantes do prolongamento, adiando o apuramento.










segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Pico Cão Grande, em São Tomé -1ª Escalada ao cume em 12 de Outubro de 1975 à Agulha Vulcânica mais Vertical da Terra. - Depois de várias tentativas desde meados de 1970



Jorge Trabulo Marques - Jornalista e líder da equipa da primeira escalada ao Pico Cão Grande, concluída com êxito em 12 de Outubro de 1975, após  cinco anos de sucessivas tentativas
Desprovidos de recursos técnicos usados nas grandes escaladas, sem calçado adequado, luvas ou capacetes, munidos apenas de vulgares cordas e de uma vareta de pontiaguda numa mãos com que nos segurávamos nas reentrâncias naturais ou onde não nos era possível fixar umas cavilhas improvisadas, com os pés apenas cobertos por vulgares meias, lá íamos subindo descalços
BIG DOG IN SÃO TOME - THE GREAT PEAK CLIMBING THE VERTICAL "This is one of the highest needle-shaped "volcanic plug" peaks on Earth  -In The Dark Tower: Found!

As minhas primeiras tentativas da escalada ao Pico Cão Grande,  ocorreram em meados de 1970 - Fui  a  primeira pessoa a escalar sozinho este majestoso pico. Dizia-se que o Cão Grande  tinha feitiço e quem ousasse escalá-lo, ficava lá morto. Por isso, não  constava que alguém tivesse ousado subir as suas paredes verticais. Eu achei que devia quebrar esse enguiço. Mas também por se me impor como um desafio desde o primeiro dia que  fui trabalhar como empregado de mato para a Roça Ribeira Peixe   - E que veio a tornar-se ainda mais intenso  depois de abandonar aquela propriedade agrícola. 

Impunha-se-me a sua conquista como uma espécie de  desforra às humilhações de que fui alvo por parte da administração daquela roça e da Roça Uba-budo, pertencentes à mesma empresa: A companhia Agrícola Ultramarina. 

O administrador mandara-me para ali de castigo a contar cacaueiros, numa área abandonada e infestada pela cobra-preta, pelo facto de me ter recusado a tratar os trabalhadores por tu e de forma autoritária, ao velho estilo colonial. Andava eu com um trabalhador cabo-verdiano: ele de caldeirinha na mão cheia de água de cal para marcar os cacaueiros que eu ia contado.   Eu andava de galochas e ele descalço: um dia uma serpente picou-o e morreu no local. Nesse mesmo dia à noite abandonei  a Roça. 

 O Sebastião, que residia numa pequena aldeia, próximo da ponte do Caué,, era quem me acompanhava até ao sopé de um dos flancos. Era caçador de porcos. E aproveitava para, com os seus cães, fazer as suas caçadas.  seguidas de várias subidas solitárias, até que, em Outubro de 1975, na companhia de dois jovens e corajosos santomenses, conseguimos completar a subida.

.DEVIA SER DECLARADO PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE OU MONUMENTO NACIONAL - Tal como o Devils Tower National Monument - EUA



Finalmente a imagem da bandeira que foi estiada na crista de um dos picos mais singulares e difíceis da Terra. -  Em homenagem aos desafios da serenidade e da coragem - O testemunho que faltava dar aos desconfiados e incrédulos  - Foto registada na ponte do Caué, antes da  expedição através da floresta,  com a minha valorosa equipa de santomenses; Pires dos Santos e Constantino Bragança..  Não disponho das últimas imagens, visto ter abandonado a Ilha, dias depois para  uma aventura maritima de canoa.. Não tendo, até hoje, podido recuperar esse e  outro espólio. 

DEPOIS DA ESCALADA COM A  MINHA EQUIPA,  HOUVE VÁRIAS EXPEDIÇÕES - MUNIDAS DE EQUIPAMENTOS QUE NÓS NÃO DISPUSEMOS  - A escalada nas rochas - seja a nível das grandes alturas, tomando o nome de alpinismo,  seja em que circunstância for, é um desrato nobre - Um  dos desportos mais arriscados    e difíceis  do mundo, que não deve ser praticado por  meros caprichos exibicionistas  ou a titulo competitivo, senão como  um desafio ou uma conquista humana às dificuldades impostas pela formações rochosas da natureza  

 Mas, pelos vistos, há quem o pratique exibindo conquitas sem as fazer É o caso do Pico Cão Grande - Fizeram escaladas no Pico Cão Pequeno, afirmando, depois , de  que haviam escalado o Cão Grande. - Curiosamente, com este em pano de fundo, a  que mais à frente me reportarei.  Recebem apoios e têm que os justificar de qualquer forma . E, segundo apuramos, nalguns casos, pagando irrisórias importâncias a quem os ajuda a transportar as mochilas

As ilhas deviam promover  este desporto. E todas as escaladas deviam ser devidamente autorizadas  e  acompanhadas por observadores para, em caso de acidentes, terem pronta assistência clinica. Veja-se o que se passa com a escaldado Evereste  

Informação atualizada - 25/04/2022  Uma licença de escalada para o Everest custa US$ 11.000 (cerca de R$ 50.000, na cotação atual*), e no ano passado o Nepal faturou US$ 4,1 milhões com essas vendas. Por outro lado, o país gerou um total de apenas US$ 451.000 de vendas de licenças para seus outros sete picos acima de 26.000 pés/7.900 metros de altitude  https://gooutside.com.br/permissoes-para-escalar-o-everest-despencam


O Pico Cão Grande, que se ergue no coração da floresta equatorial, ao sul  da Ilha de São Tomé, não é apenas um gigantesco falo de pedra basáltica, é,  indubitavelmente, uma das mais singulares maravilhas  geológicas da terra: não tanto pela altitude mas pela forma e verticalidade. 

Situado dentro dos limites do Parque Nacional Ôbó de São Tomé  , mesmo assim,  parece-me que seria importante declará-lo monumento nacional - tal como sucedera  a outra enigmática formação rochosa  - o  Devils Tower National Monument, a Torre do Diabo, que se ergue  no estado de Wyoming, EUA

  Cada um com as suas peculiaridades, ambos de  origem ígnea monolítica,  infunde uma surpreendente  beleza e mistério. Enquanto Devils Tower o  tem o topo relativamente plano, o Cão Grande é uma rocha, quase pontiaguda de  formada por um bloco maciço, vertical, escorregadio e escarpado –

Autêntico dedo gigantesco apontado aos céus!- que se destaca do coração da floresta mais densa e exuberante da zona meridional da ilha, próximo da linha do Equador, onde a queda pluviométrica oscila, entre 4500 a 5000mm anuais  – Monólito  de origem vulcânica com  663 metros de altitude, com um perímetro na base, talvez superior à  superfície rochosa que se levanta aprumo, sobre o manto verde, que se calcula acima dos 300 m de altura  - ou mais, conforme a vertente que se escalar -   Algumas das suas escarpas, além de encobertas pela floresta, confundem-se  com o próprio monte donde emerge, desnudam-se dele e vão quase até à  linha das águas, que correm ou jorram junto dele,  excedendo muito além das três centenas de metros calculados, que é possível medir em área livre e aberta. 

Quem o vir de longe,  seja da clareira da floresta,  seja ao surgir da curva de uma estrada ou até a levantar-se  à frente dos olhos, irrompendo no meio de uma pequena reta, não poderá deixar de  sentir o pasmo de uma majestosa aparição,  de ser tentado a contemplar, algo  que parece divinizar toda a natureza selvagem envolvente – Qual gigantesca testemunha, simultaneamente, terrena e cósmica! Ou qual expressão  genuína de  um monumento, erguido da terra, aos céus! 

Seja de que ângulo for, de perto ou mais afastado, o Cão Grande é único no seu género: não há conhecimento de  semelhanças no Planeta.

 

Daí o fascínio que exerce aos olhos de quem o contempla. Mas, sobretudo, o permanente desafio que se revela aos amantes da escalada vertical -  Pessoalmente, pude  viver tais emoções, sentir o grande prazer  – misto de glória, apreensão e receio – Tendo por companheiros o Cosme Pires dos Santos e o Constantino Bragança e os meus guias, do Sebastião e do Chico. 

 De sesfraldarmos, no topo do seu cume,  a Bandeira Nacional de São Tomé e Príncipe, depois de nas sucessivas escaladas, antes da Independência, termos erguido a Bandeira Portuguesa, trepando  as suas vertiginosas faces, que se erguem aprumo no mais denso manto da selva verde. De sermos os primeiros seres humanos  - pois  há aves que lá nidificam – a pisar as rochas da sua monumental crista!

Já lá vão cinquenta anos, todavia as memórias, permanecem ainda hoje tão vivas, tão vibrantes, como se o tivesse acabado de  escalar – O que parecia  custar aceitar era o não reencontro, a não  partilha dessas mesmas emoções,  com o valoroso Pires dos Santos – Mas, felizmente quis o destino que, finalmente, na tarde de 5 de Agosto, 2015, nos reencontrássemos, num abraço fraternal e amigo, tal como o testemunha  o vídeo, gravado junto de sua casa, na companhia da sua mulher, e dois dos seus irmãos e do jornalista Adilson Castro.  

Nas margens do rio Côa 
MONSTRUOSO PÁRA-RAIOS - EM DIAS DE TEMPESTADE, É DE TAL MANEIRA FUSTIGADO POR FAÍSCAS E RELÂMPAGOS, QUE MAIS LEMBRA A  TORRE NEGRA E INCENDIADA DO INFERNO

A sua forma, quase esférica e pontiaguda, funciona como um portentoso para-raios! - Várias vezes vi esse espetáculo pirotécnico noturno  da Roça Ribeira Peixe, quando ali trabalhava, como empregado de mato - Dizia-se lá: "Olha lá está o Cão Grande a ser bombardeado pela fuzilaria do diabo!!...  - Não tarda a  trovoada a vir por aí abaixo!...Curiosamente, mais das vezes, as nuvens faziam por lá a descarga e a chuva não atingia o  terreiro da roça, que ficava ali junto ao mar - É, sem dúvida, a zona onde chove mais! - Em São Tomé há cinco micro-climas - Que vão desde os 300mm na cidade São Tomé, até aos 5000mm, onde se situa aquele pico.





"Quem tiver o singular privilégio de visualizar esta rara pedra preciosa certamente ficará repleto de variadíssimas e agradáveis sensações"  - In Património de S. Tomé.: Roça Porto Alegre



"This is one of the highest needle-shaped "volcanic plug" peaks on Earth (300 m), perhaps even more impressive than the Devils Tower in Wyoming   (386 m), as it rises above the landscape in an equally unexpected and even bluntly obscene way. It is however more difficult to photograph than Devils Tower: its top is often hidden by clouds or precipitation, not to mention that it's harder to get to the tiny country of São Tomé and Principe (though I'm sure it's worth the effort).

The Dark Tower by Stephen King have been inspired by Pico Cão Grande? This “volcanic plug” is in Obo National Park in the tiny island country of São Tomé and Principe off the coast of Africa. Photographs of this tower are hard to take because the top is usually in the clouds, but you’ll find some good ones at Dark Roasted Blend. Link. - In The Dark Tower: Found!
  .
.....

The heavy mist and humidity over the surrounding jungle (the rainfall varies between 4500 mm to 5000 mm per year) adds to the mystery and the foreboding feeling of the Great Dog Peak, as its rocky presence rises and darkly glistens Pico Cão Grande - Neatorama


EM DEZENAS DE ESCALADAS - 1970 -1975 - UM PORTUGUÊS (O AUTOR DESTE POST) E MAIS QUATRO SANTOMENSES, ARRISCARAM A VIDA  NAS PAREDES APRUMO DESTA TORRE:  UM DOS MAIS DIFÍCEIS E IMPONENTES PICOS DO MUNDO
uto-retrato - do Peregrino da luz - por  mares,  montes e picos
 
NÃO PERMITAS QUE NO MEIO DO CAMINHO DA TUA VIDA HAJA UMA PEDRA  QUE TE IMPEÇA DE SONHAR E DE TE TRANSCENDER -  MAS QUE SEJA O MARCO QUE TE ABRA OS HORIZONTES DE ESPERANÇA E DE LUZ 

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra



 Sim, um dia eu vi  uma enorme pedra no meio de uma linda floresta  - Atraído pelo seu fascínio, fui ao seu encontro - E, quando me apercebi, parecia  que essa pedra se atravessava no meu caminho - E só havia uma forma de impedir que essa pedra esmagasse os meus sonhos, escalá-la - E foi o que fiz:  inicialmente sozinho, depois com outros companheiros - Pois vi que era demasiado grande para as minhas possibilidades - A vida também nos ensina a ser solidários e a mostrar que a união faz a força - Foi o exemplo que depois tomei. E julgo que do mesmo modo, assim pensaram os meus companheiros que seguiram os meus passos.


Perdoem-me se veem nas minhas palavras autoelogio - Mas, a certeza dos nossos actos, quando bem sucedidos, porque não reconhecermo-los?.. -  Sim, poderei dizer, que, enquanto ao monte mais alto do mundo, acorrem, todos os anos, uns largos milhares de desportistas  - e é porque há limites ao número de expedições, mesmo tendo de desembolsar em equipamento, viagens e taxas aí uns 100 mil dólares, mais deles vão lá apenas para o ver de perto - não são autorizados -  (Everest By the end of the 2010 climbing season, there had been 5.104 ascents to the summit by about 3.142 individuals)- e já foi escalada por alpinista cego e outro com próteses nas pernas) aos picos, às agulhas de pedra, a essas anónimas torres verticais, mais delas continuam ignoradas, muitos torcem o nariz - Parece ser o caso do Cão Grande: até hoje, além de minha equipa,  não houve alguém, antes ou depois de nós,  que ateste  ter subido as suas rochosas escarpas  As nossas fotos é que já foram reeditadas para sites da especialidade, extraídas da publicação que tínhamos noutro espaço, que para aqui transferimos - Mas soubemos que já houve quem lá fosse com esse propósito: uma equipa de italianos e outra de japoneses. Viram, contemplaram, admiraram, deram meia volta e foram-se embora - para desfazer dúvidas, fizemos o registo no site apropriado, em: - peakery No qual constam os picos de todo o mundo e as escaladas -: até agora fomos os únicos e os primeiros.  Não é motivo para nos pormos nos bicos dos pés - isso fizemo-lo lá muitas vezes -  mas para humildemente reconhecermos que no ser humano moram insupeitáveis forças capazes de superar as maiores adversidades e de o transcender.

ACIMA DOS 200 METROS ERA DE CORTAR A RESPIRAÇÃO


- Se a corda rebentasse ou uma cavilha se desprendesse (e era tudo tão improvisado e tão artesanal) estatelávamo-nos imediatamente no sopé. Talvez amortecidos pelas copas  da floresta que o cercam, mas apenas o tempo para a queda ser ainda mais horrível: de tomarmos consciência da morte que nos esperava sobre os blocos  de basalto em  redor - Numa das escaladas, o meu companheiro, que seguia uns metros acima, só teve tempo de me dizer: pedra!!! E eu encostar a cabeça à rocha. Ainda me tocou na orelha. Ele, foi menos feliz: uma lasca que se desprendeu apanhou-lhe o pulso, fez-lhe um grande golpe - Ainda hoje me custa a crer como ele se   aguentou e não cedeu à queda.  

A chuva era o maior  constrangimento  - quando chove a pedra fica como uma  enorme garrafa de vidro - E onde há musgos,  pior ainda! E, ali, no sul, chove quase todos os dias (pelo menos naquele tempo), e nós não não nos conformávamos por tão prolongada espera. A neve é o tapete ideal para se cravarem os pitões das botas na alta montanha, mas numa rocha lisa, deseja-se o mais seca possível. 

CÃO GRANDE: ESCALADA  APRUMO E SOB O FIO DA NAVALHA

No período da Gravana, que corresponde aqui ao Verão no Hemisfério Norte, chove um pouco menos. E, tal como em toda a ilha, não há praticamente crepúsculo. Logo que o disco solar se esconde no oceano, rapidamente anoitece; o mesmo acontece ao alvorecer; passa-se rapidamente da noite mais espessa à claridade mais radiosa. Quem anda na floresta ou faz uma escalada, já sabe que não se pode descuidar - Eu naquele dia descuidei-me.

Enquanto me aproximava do exíguo abrigo, uma trovoada  tornou repentinamente a parede basáltica  numa gigantesca garrafa de vidro - fiquei praticamente pendurado, e, nessa altura, estava sozinho sobre o abismo e fora do lugar de segurança - Foi uma noite horrível! A bem dizer, também não estava só: do fundo do arvoredo, ouviam-se muitos sons.E o que, hoje eu  mais recordo, é o cheiro do musgo húmido e da pedra (aquela pedra parece que ainda tem o cheiro da incandescência dos  magmas) e os perfumes inebriantes que vinham lá das copas e da folhagem. Onde os macacos faziam geralmente uma enorme algazarra e, quando por lá se passava (com o Sebastião abrindo caminho com o machim, a zagaia e as suas matilhas para capturar os porcos bravos) por entre fetos gigantes e lianas, não havia vez alguma que não deparássemos com as temíveis cobras pretas! - Mas ali também não há leões nem tigres ou outras feras selvagens

 Raras eram as noites ali bem passadas, mas aquela, de facto (e eu naquele  dia eu estava sozinho) afigurava-se ser de todas a mais dramática. A mente teve que funcionar a duzentos por cento. Impondo ao meu corpo a firmeza e a robustez de uma estátua. Envolto em espessas neblinas, chuva diluviana tropical e densas trevas, era impossível arredar pé. Era uma situação muito perigosa e desconfortável. O Ilhéu das Rolas, fica ali ao largo, não muito longe, frente a Porto Alegre - Estava quase sobre a linha do equador, mesmo assim, exposto todo à  noite, chuva, senti um grande desconforto,  devido arrefecimento do corpo..

Não dormi um minuto.  Abraçado àquele negro penedo, como que pedindo-lhe protecção. O que me valeu foi que havia uns esporões debaixo dos meus pés que me impediram de escorregar. A rocha estava escorregadia como óleo sobre mármore.

QUANTAS VEZES DESEJEI SER HOMEM PÁSSARO! - NO ENTANTO, NÃO PODENDO ALCANDORAR-ME A ESSA METAMORFOSE -   POR ALEGRIA OU TRISTEZA E IMPOTÊNCIA  -  , DEI MUITOS GRITOS COMO OS "GABÕES" DO MATO!... 

Quando era garoto eu adorava ir para a ladeira do nosso Lavor do Ferro, lá para os lados do Côa e correr por ali abaixo, abrir os braços e ter a sensação de voar. Depois, nas veredas da  boiça da Escola Agrícola, em Santo Tirso, ainda mais testei essa tentação de pássaro voador. Às tantas da noite, vendo-me ali pendurado, pensei mesmo nisso; algumas dessas recordações afloraram-me à mente... Apetecia-me ser um homem pássaro, ter asas de condor e voar ou ser o falcão que persegue os papagaios -Mas dei muitos berros.. À índio ou à gabão do mato. Cada ascensão mais difícil conquistada, era encher pulmões e extravasar a alegria! - A macacada no obó da capoeira, dava logo sinal e ficava em alvoroço! - Era uma coisa que eu fazia muitas vezes... De dia e de noite, sobretudo nas minhas escaladas solitárias.

De noite era mais para espantar fantasmas ou comunicar com os meus companheiros ermitas. Naquela altura, havia trabalhadores que fugiam das roças(devido aos maus tratos - sobretudo moçambicanos e cabo-verdianos) que se refugiavam no mato - chamavam-lhe os gabões; viviam da caça, que trocavam com outros bens alimentares nas aldeias. Eu imitava o grito deles. E, por vezes, eles correspondiam: dos arredores e lá do fundo do arvoredo, em torno do  Cão Grande

 Oh! sim, mas ali no meio daquela escuridão alagada de chuva, se despegasse os braços da rocha e os abrisse, a queda era fulminante como o chumbo. Mais tarde pedi ao meu grande amigo Pires dos Santos para me tirar ali uma foto. Queria recordar aquela noite que poderia ter sido a última da minha vida - Tudo era escuro e viscoso. Mas eu tinha que zelar pela minha vida: não queria precipitar-me no abismo e morrer;  lá fui resistindo, conforme pude. Só Deus, sabe como..



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