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sexta-feira, 31 de julho de 2015

Em S. Tomé – Encerramento da Exposição: “Sobreviver no Mar dos Tornados, 38 dias à Deriva Numa Piroga” – “Experiência de vida única” que é “também a demonstração do querer humano sobre as adversidades” “davam um filme” – Palavras de Olinto Daio”, Ministro Educação, Cultura e Ciência,

                                             Jorge Trabulo Marques - jornalista -



                                                               

 Acontecimento cultural, que contou com a presença do Ministro da Educação, Cultura e Ciência, Olinto Daio, Presidente do Tribunal de Contas José António Monte Cristo, da Ministra da Saúde, Maria dos Santos Trovoada e o Secretário do Gabinete do Sr. Primeiro-Ministro, Mário Gomes Bandeira, do Bispo de S.T.P., Dom António Manuel dos Santos, acompanhado pelo Rev. Padre Fausto, - Presidente da Comissão Eleitoral, Alberto Pereira,  vários membros do Gabinete da Presidência da República, nomeadamente, Coronel Victor Monteiro e  Amaro Pereira de Couto,  Chefe da Casa Civil;  Embaixador do Brasil,  José Carlos de Araújo Leitão; ex-primeiro Ministro Leonel D’Alva;  Adido da Defesa da Embaixada de Portugal, Sr. Coronel Lourenço Saúde; Diretora do Centro Cultural Português, Margarida Mendes; os excelentíssimos representantes das embaixadas da Guiné Equatorial e da Nigéria, respetivamente, Teodoro Elangui e Aburime Kenneth, assim como  da poetiza e escritora, Conceição Lima, o historiador e escritor Albertino Bragança, Maria Alves, Luís Beirão, Ambrósio Quaresma, Ana Ribeiro e Nuno Bruno, Cláudio Coralle, Manuel da Trindade Costa, artistas  da Associação Pica Pau, entre outras personalidades, empresários, muitos santomenses anónimos ou dos mais diversos setores de atividades  (a que conto vir ainda a referir-me) e alguns meus compatriotas, residentes ou em gozo de férias




Nestes últimos três dias, revivi tantas emoções, sim,  ao confrontar-me com as imagens das minhas aventuras, narrando alguns dos episódios, não só às várias personalidades, que me honraram com a sua presença, como também às muitas pessoas anónimas que me distinguiram com as suas palavras amigas, que outra expressão não me ocorre, senão a de começar por expressar  um profundo agradecimentos  a todos.

Passagens  do meu Diário gravado num pequeno gravador que foi preservado com a máquina fotográfica no interior de um caixote do lixo  contentor vulgar de plástico


EXPOSIÇÃO DE VÁRIAS ODISSEIAS NO MAR E EM TERRA, –  EM TUDO NA VIDA,  O MAIS IMPORTANTE NEM  É  TANTO O QUE SE VIVE MAS O EXEMPLO QUE PERDURA E SE TRANSMITE



É um facto, que, uma exposição – seja fotográfica ou pictórica – presta-se sempre às mais diversas interpretações – Sobretudo, se for de  cunho  eminentemente abstrato, subjetivo ou  artístico  – Não era propriamente o caso: nesta minha exposição, além da beleza de algumas imagens, havia abundante informação: tanto na do realismo e  dramatismo, implícito na leitura das próprias imagens, como na documental –  e, como é sabido, uma boa imagem vale por mil palavras  Mas, sobretudo, o exemplo que desta exposição é possível extrair:

Isto, porque “estas fotografias não são apenas o registo mecânico de uma aventura no meio do mar” Mas “ pontos de relevo num mapa de sonhos. (…) Imagens recuperadas dum naufrágio subitamente colocado ao contrário pela rápida transformação duma derrota em vitória,” – dizia o poeta e escritor, José do Carmo Francisco, no catálogo da  exposição, que, em meados de 1994, inaugurara no Padrão dos Descobrimentos.














Na verdade, há momentos que, por tão tormentosos e solitários na vasta imensidão oceânica,  são verdadeiras eternidades – Que o digam todos aqueles que passaram pela dramática e dificílima situação de náufragos. Outros, nunca o terão podido expressar, visto terem ficado sepultados para sempre no silêncio eterno do fundo dos  abismos submarinos. Pessoalmente, quis Deus ou o destino que fosse um dos  sobreviventes, de entre os milhares de vitimas, que, por esta ou por aquela razão,  anualmente, são tragados pela voragem dos oceanos e  pudesse transmitir o testemunho daquilo  que o engenho, a força de vontade e o querer humano, poderão lograr, face às maiores provações.




Ó Deus Omnipotente e Salvador!... Ó JESUS CRISTO!...Ó BELO E MAGNÍFICO EXEMPLO  SENHOR MEU!... Que maior tormento e suplício aquele!... Deitado no duro  fundo daquele inconstante, encharcado, tosco e frágil madeiro escavado!… Porém, mesmo assim, quão doce e infinito era aquele meu tormento!... Quantas vezes, me lembrei da tua cruz e do teu calvário!... Quando já estavas prostrado e rendido às leis da morte e da vida para te lançarem estendido ao sepulcro!.. Quantas!... Quantas vezes!... Quando tudo à minha volta me parecia revolto e perdido… Sim, no meio avassalador daquelas espessas trevas e noites de breu, cercado pelo tumulto escuro do mar e do céu! E, ante a imensa e tenebrosa solidão, apenas se me afigurava vislumbrar o perfil do teu piedoso rosto… Embora triste e macilento, banhado de suor e de lágrimas!... Mas coroado de esplendorosa caridade e de compaixão… por aqueles mesmos que te traíram e não compreenderam a tua humana, divina e nobre missão! Mas aos quais a áurea que iluminava a tua face, me parecia resplandecer apenas emanada por  um infinito sentimento de amor e perdão… 



Sim, no meu caso,  muitos foram os momentos de extrema aflição, que me pareceram verdadeiras eternidades, especialmente durante os longos e difíceis 38 dias, enfrentando tempestades, sucessivas, o doloroso sofrimento da incerteza e da fome, o suplício da  sede, com tanta água à minha volta e, por vezes, mesmo bebendo-a, não podendo matar a sede, além de constantes e quase mortíferos ataques de tubarões – porém, de todas as memórias que perduram – e estou certo que perdurarão para o resto da minha vida – o que mais me apraz registar – em todo o imenso somatório das minhas vicissitudes,  é o espírito de  determinação, de coragem e de uma infinita paciência,  o de, nunca, em momento algum, me ter resignado ao extremo abandono e solidão, de lutar, de jamais me ter rendido a  cruzar os braços, face às imensas dificuldades, mas o firme e constante propósito de as poder superar.

E, pelo que  pude depreender,  esta foi justamente uma das mensagens, que julgo ter podido transmitir, com a minha exposição “ Sobreviver no Mar dos Tornados, 38 Dias à Deriva numa Piroga, de 28 a 30 de Julho, no Centro Cultural Português, tanto às várias personalidades, que me quiserem honrar e distinguir com a sua presença, como ao público anónimo, graças à compreensão e ao apoio da Embaixada de Portugal,   na pessoa da Embaixadora Paula Silva,  e todos os seus colaboradores, a quem, penhoradamente, aqui expresso a minha profunda e sincera gratidão 

Mas também ao gratificante estímulo, à   honra concedia pelos muitos gestos ou expressões, em palavras amigas e calorosos abraços, das várias personalidades governamentais e da presidência da república, assim como às entidades representantes de outras instituições, aos meus compatriotas, que espontaneamente compareceram, aos muitos santomenses, que igualmente me consideram como um dos seus

 Alojamento - Por outro lado, também não seria possível prolongar a minha estadia em S. Tomé, não fosse o facto de, gentilmente,  me ter sido dada a possibilidade de ter ficado alojado numa das vivendas anexas ao Palácio da Presidência da República, gesto que muito me sensibilizou e do qual aqui desejo também expressar público agradecimento

 Não vês, como está o mar?!... Vais morrer!!.. Fica connosco!..

A canoa "Yon Gato" foi carregada a bordo do pesqueiro Hornet, em meados de Outubro,  de 1975, ao largo da Baía Ana de Chaves para ser largada na corrente equatorial - Porém, contrariamente ao prometido, ao fundear junto à Ilha de Ano Bom (Guiné Equatorial) com o pesqueiro envolvido por enorme agitação noturna, varrido de  proa à popa,  pelas já habituais  tempestades da época das chuvas, que o assolaram nas anteriores noites, o comandante chama-me à câmara de comando para desistir  do meu propósito e coloca-me num dilema:  ou fico a trabalhar a bordo ou tenho que ser largado com a canoa. De resto, este era também  o aviso e a  vontade expressa da  tripulação: "Jorge! Não vês, como está o mar?!... Vais morrer!!.. Fica connosco!.." Não tendo aceite a sua proposta, obriga-me assinar um termo de responsabilidade, antes de arrear a canoa ao mar.

Face à impossibilidade de tomar a rota para oeste, tento o regresso a S. Tomé - Depois de um dia de navegação rumo a Norte, perfeitamente normal, à noite um violento tornado faz-me perder a maior parte dos apetrechos, incluindo o remo e os  mantimentos. 

 DEPOIS DE 38 DIAS DE  NAUFRÁGIO, NOS CORREDORES DA MORTE

 
Ao cabo de 38 penosos dias, ao sabor das vagas, num simples madeiro escavado, acabo por acostar à Ilha de Bioko (ex-Fernando Pó), onde sou tomado por espião e encarcerado numa cela da Cadeia Central para ser executado, já que este era o destino de quem ali era condenado: entrar vivo e sair cadáver.

  Felizmente, é a mensagem, autenticada pelo MLSTP, que havia sido escrita para saudar o Povo Brasileiro - admitindo que pudesse fazer a travessia até ao Brasil - que    me vai salvar a vida. Mesmo assim, dada a  persistente desconfiança do então Presidente Macias, que nem depois de  enviar o seu barbeiro pessoal (o santomense, Sr. Bandeira) se convencera, nem da veracidade da referida mensagem, nem dos meus argumentos,   quem  acaba por ordenar a minha soltura é o seu sobrinho, o então comandante das Policias e das Forças Armadas, o atual Presidente Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, a quem fico a dever a vida

TRÊS DIAS DE EXPOSIÇÃO MUITO INTENSOS

(Com o Embaixador do Brasil, em S. Tomé. José Carlos de Araújo Leitão )

  
O mais importante numa exposição, não é propriamente o tempo em que a mesma é exposta mas o seu impacto, simbolismo  e  adesão – E creio que  foi tudo  muito expressivo; pois foram três dias muito concorridos e intensos  - Além da divulgação que mereceu através dos órgãos de comunicação social -  televisões, rádios, imprensa escrita e Internet, a quem também muito fico agradecer a compreensão.

Não foi possível prolongar, por mais tempo a exposição, pois havia outros eventos, há muito agendados – Sim, porque, numa instituição com as responsabilidades e a envergadura do Centro Cultural Português, a sua programação é atempada e criteriosamente organizada pela sua diretora, Margarida Mendes. Nada é  deixado ao sabor dos acasos. Mesmo assim, com tão expressivo gesto de boa vontade, foi possível concretizar um velho sonho, que há muitos anos, vinha prosseguindo: o  de apresentar na capital destas maravilhosas ilhas,  a exposição fotográfica e documental, que esteve patente no Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, de 10 de Março a 10 de Abril de 1999, inserida no espírito da Expo98, “Os Oceanos”, subordinada ao título: SOBREVIVER NO MAR DOS TORNADOS – 38 DIAS À DERIVA NUMA PIROGA.

Tal como já tornei público, terminada a referida exposição, é meu desejo que o espólio em causa seja doado ao Museu Nacional de São Tomé e Príncipe – E, se possível, muito gostaria que a próxima inauguração, nesse histórico local, pudesse coincidir com  a véspera do 3 de Fevereiro de 2016, uma data com particular significado para a memória do Povo de S, Tomé e Príncipe,  pelo que, desde já, aqui expresso esse meu pedido.

Jornal Novo – 25.9.76 “Ele correu perigos que assustariam o mais corajoso, incorreu em temeridades que não visavam o lucro mas uma meta mais longínqua. Um insatisfeito desejo de se afirmar e de demonstrar que moram no homem, e com ele vivem , recursos insuspeitados e adormecidos.Não se pense que se referimos a um aventureiro gratuito, que apenas pretende chamar sobre si as atenções, sem objectivos louváveis. Nada disso.(...) "

"As gravações a que procedeu no mar são empolgantes e transmitem o estado de espírito do homem que se encontra só e não conta senão com ele e com Deus. A resistência do homem á fome, à sede e ao desespero, constituem uma constante do seu relato. É comovente a transcrição do feito de Jorge Marques, o qual justificava a publicação de um livro, contendo, em pormenor, o que a escassez do espaço de um jornal não comporta."

A descrição que passou á deriva numa piroga no Golfo da Guiné, se levada ao cinema, daria um filme memorável, principalmente se o realizador extrair da odisseia a espantosa variedade de facetas que ela oferece.” Excertos do Jornal Novo

NÃO CHEGUEI ATRAVESSAR O OCEANO ATLÂNTICO, TAL COMO ESPERAVA MAS CONTINUO ACREDITAR QUE SÃO POSSÍVEIS LONGAS TRAVESSIAS

MESMO ASSIM:







Comprovei que as canoas vão ao cabo do mundo: naveguei e fui arrastado por centenas de milhas: - Liguei as ilhas e estabeleci ligações de uma delas ao continente


Sozinho e ao longo de sucessivos dias é extremamente arriscado e muito difícil navegar a bordo dessas frágeis embarcações  - E, se eu não fiquei no mar, talvez o deva a um feliz acaso - mas não estou arrependido, pois safei-me por três vezes. 
Os pescadores (nas Ilhas) aos quais se inculcou o fantasma de que só gente de feitiço é que o tornado leva a canoa ou que o "gandú" não engole "perna de gente" , poderão estar descansados:

 


Se a tempestade alguma vez os surpreender e os arrastar para fora do alcance ou do horizonte da sua querida Ilha, não se importem; deixem-se levar pelo seu ímpeto
Mas não cruzem os braços e se deem por vencidos: remem ou velejem, sempre que puderem ou então deixem que a canoa vogue à flor das ondas, que o mar não quer nada que lhe seja estranho e a algum ponto da costa, hão de ir parar

Basta que não percam a calma e se alimentem com a pesca: a carne do peixe mata a fome e o sangue, que não é salgado, a sede - E a água das chuvas, com um pouco de água do mar, é ainda melhor 

A CANOA SÓ VAI AO FUNDO SE ESTIVER MUITO CHEIA DE PESCADO OU NÃO FOR DE ACÁCIA OU DE ÓCÁ - O  MAR BRINCA COM O SEU CASCO E O SEU CASCO DESLIZA E BRINCA COM O MAR.

A vida só tem sentido em prol da ciência, do sagrado e da arte ou da comunidade - vivida, sobretudo, sob o signo da espiritualidade. Se não for pautada por um ideal é um completo vazio. Vale sempre a pena correrem-se os riscos. Mesmo que a morte seja o maior preço a pagar."Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena."

Por minha parte, dei o meu contributo. Não procurei remar contra a história mas ir ao sabor dos ventos que a formaram, ao encontro da sua verdadeira raiz: e, pelos vistos, o que parecia estar esquecido nos bolorentos arquivos históricos, veio dar-me razão - através da demonstração das várias viagens que empreendi em pirogas primitivas.

Claro que me deparei com imensas dificuldades: - duas das três canoas que usei (embora não tendo mais de 60cm de altura por um metro de largura) eram compridas e  precisavam de mais dois braços.  E, os antigos povoadores, dificilmente  teriam partido sozinhos ao seu encontro. Muitas das pirogas que ainda hoje se constroem nos países que bordejam o Golfo, são enormes e podem ser remadas por muitos braços  de mulheres e homens

Obrigado por ter viajado comigo ao  fundo das minhas mais gratas e intensas memórias, e, eventualmente, também, pela reconfortante sensação  de – através do exemplo destas minhas aventuras marítimas, em frágeis pirogas,  o ter ajudado a viajar aos mais recuados  tempos  históricos destas maravilhosas ilhas do Golfo da Guiné -  Que eu julgo, há muito abordadas e habitadas por povos da costa africana – Até porque, é  a própria história colonial a dar-nos algumas pistas e, ao desvendarem-se os escaninhos de alguns dos mais prestigiados arquivos genoveses, a poder  ir-se ao encontro de cartas antigas, muito esclarecedoras. 

 DIVULGAÇÃO NO SITE E NO FACEBOOK - DO CENTRO CULTURAL PORTUGUÊS, EM S. TOMÉ -   São Tomé e Príncipe: Exposição fotográfica e documental...Centro Cultural Português - São Tomé e Príncipe - Facebook

POSTAGENS PUBLICADAS NESTE SITE ACERCA DOS 38 DIAS À DERIVA

DiárioPORMENORES DA DESCRIÇÃO EM https://canoasdomar.blogspot.com/2019/11/perdido-no-golfo-da-guine-37-dia-estou.html

https://canoasdomar.blogspot.com/2019/11/perdido-no-golfo-27-de-nov-1975-38-dia.html

https://canoasdomar.blogspot.com/2019/11/34-dia-perdido-no-golfo-da-guine-nao.html

ALGUNS DOS ECOS DO QUE FOI DITO: Com a devida vénia e agradecimento - Do Jornal on line "O Parvo"

"O jornalista Jorge Marques de 70 anos é o autor de uma exposição fotográfica e documental que termina esta quinta-feira, 30, no Centro Cultural Português na cidade de São Tomé. É uma exposição montada desde 27 que demonstra momentos marcantes de extrema aflição ao longo de 38 dias de navegação através de uma canoa de madeira à vela no Golfo da Guiné, debaixo das chuvas. Nestes dias, 24 dos quais o aventureiro “homem do mar” diz que só bebia água do mar, duas semanas sem alimento senão uns peixinhos que apanhava.

Jorge Marques disse, no entanto, que o “o objectivo da exposição da minha odisseia marítima é associar-me ao espírito das comemorações do 40.º aniversário da Independência de São Tomé e Príncipe. É também para mostrar á população destas encantadas ilhas às generosas e pacíficas gentes deste jovem país, das quais tenho as mais gratas recordações.É um conjunto de várias fotografias, artigos, excertos do meu diário de bordo, entre outros documentos, das minhas aventuras marítimas e da escalada do Pico Cão Grande, com a colaboração de uma corajosa equipa de são-tomenses. Espólio que, no termo da exposição, gostaria de doar ao Museu Nacional de São Tomé e Príncipe”, disse Jorge Marques.

Conforme conta aquele jornalista, no primeiro dia começou por dar pequenos passeios de praia em praia, até ao dia que sentiu que podia empreender de canoa a volta à ilha. Não autorizado pelo capitão dos portos, limitou-se a uma pequena viagem costeira de 40 milhas. Em Dezembro de 1970, foi desde a Baia Ana Chave ao lugar da Esprainha, onde é suposto terem desembarcado João de Santarém e Pero Escobar, no dia em que a cidade comemorava os 500 anos da descoberta das duas ilhas, pelos citados navegadores portugueses.

Devido ao êxito da viagem as autoridades fecharam os olhos e o facto mereceu relevo no jornal local, coisa que não iria acontecer quando em Fevereiro de 1971, sozinho e em segredo, partiu, daquela mesma baia, num dia à meia-noite, rumo à Ilha do Príncipe. Foram três dias emocionantes em que, por vezes, se sentiu perdido. Uma noite à canoa virou-se e só ao fim de uma dura luta com o mar conseguiu pô-la de novo na posição normal.
Por fim, ao 38.º dia,  avista a Ilha de Fernando Pó. A recepção não foi das mais simpáticas. Preso e inquirido, este viajante solitário dos mares, regressa ao seu país, com o carimbo de repatriado no seu passaporte, afinal um documento de que nada lhe serviria para tais liberdades.
Desde então, e já lá vão uns bons anos, diz que sempre ficou a sonhar com novas viagens. Ficou-se por Lisboa, onde foi repórter da Rádio Comercial, desde 1978 até 1993, altura em que esta estação foi privatizada. É autor de um livro, editado pelo Relógio d`Agua, baseado em entrevistas feitas no meio prisional. Tem vários projectos literários em curso, entre os quais o da aventura. Outra das suas facetas, é a fotografia, da qual já conta com alguns prémios e a realização de várias  exposições - Silvania Bernardo http://www.parvodigital.info/index.php/noticias/sociedade/item/2793-exposicao-fotografica-e-documental-sobre-aventuras-maritimasde-jorge-marques

(...) Do  Jornal Transparência - (...) No acto da inauguração e apresentação da sua exposição, o aventureiro e jornalista português, Jorge Trabulo Marques, falou dos objectivos da exposição, e tudo quanto marcou a sua vida, e trajectória em São Tomé e Príncipe, antes e após a Independência de 12 de Julho de 1975, desde a escalada (subida) do Pico-Cão-Grande, situado na zona Sul de São Tomé, e bem como da travessia de canoa a Ilha de STP, Nigéria, Guiné-Equatorial, e na tentativa de chegar ao Brasil.
Segundo Jorge Marques, o objectivo desta exposição, é de associar ao espírito das comemorações do 40ºaniverssário da Independência de São Tomé e Príncipe; e mostrar á população destas encantadoras ilhas, às generosas e pacíficas gentes deste jovem país, das quais tem consigo as mais gratas recordações, um conjunto de várias fotografias, artigos, passagem do seu diário de bordo, entre outros documentos, das minhas aventuras marítimas e da escalada do Pico Cão Grande, com a colaboração de uma corajosa equipa de santomenses.

Episódio este, que segundo ainda o autor, no termo da sua exposição, deseja doar ao Museu Nacional de São Tomé e Príncipe.

O jornalista português disse, que a razão das suas travessias foi vários: antes de mais, o fascínio que o mar exerceu em ele, desde o primeiro dia que desembarcou da velha canoa, ao largo da baia azulinha da linda cidade de São Tomé, o desejo de encontrar a sós com a solidão e a vastidão do oceano e, de perante esse cenário, de poder perguntar, ainda mais de perto, sobre a presença e os mistérios de Deus.

Por outro lado, a sua travessia, tinha outras razões, como do carácter histórico e científico e humanitário, tais como evocar a rota da escravatura, ao longo da grande corrente equatorial, e lembrar esses ignominiosos tempos do comércio de escravos, e chamar atenção para a grave problema que, sob as mais diversas formas, continua afectar a existência muitos seres humanos na actualidade.
Demonstrar a possibilidade de antigos povos africanos terem povoado as ilhas, situadas naquele imenso Golfo, muito antes dos navegadores portugueses ali terem chegado, e contribuir para a moralização de futuros náufragos, que felizmente durante 38 dias perdidos no alto mar, com ajuda de Deus, pudesse resistir a tantos dias de angústia, de sobressaltos e de incerteza.
Para o Ministro da Educação, Olinto Daio e Coronel Victor Monteiro, a trajectória da exposição fotográfica de Jorge Marques, retrata uma grande experiência da vida única que uma pessoa vive, e esta exposição fotográfica é suficiente para descrever os 38 dias que viveu no alto mar por uma causa justa.
Na base desta exposição fotográfica, que retratam a passagem do Jorge Trabulo Marques, que viajou de canoa da Ilha de São Tomé e Príncipe, Nigéria, Guiné-Equatorial na tentativa de atravessar o Brasil, o Embaixador da República da Nigéria que tomou parte da cerimónia, formulou o convite ao Jorge Trabulo a visitar Nigéria para apresentação da exposição fotográfica.

Jorge Trabulo Marques, é natural da aldeia de Chãs (Portugal), nasceu ao 20 de Janeiro de 1945, do concelho de Vila Nova de Foz Côa, tendo vivido vários anos em São Tomé, Ilha onde desembarcou em Novembro de 1963, para um estágio na Roça Uba-Budo.

Para alguns presentes, a trajectória e a história do Jornalistas Jorge Trabulo Marques deveria ser traduzida de uma longa-metragem de um filme.http://www.jornaltransparencia.st/0126.htm



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