Jorge Trabulo Marques - jornalista -
Acontecimento cultural, que contou com a presença do Ministro da Educação, Cultura e Ciência, Olinto Daio, Presidente do Tribunal de Contas José António Monte Cristo, da Ministra da Saúde, Maria dos Santos Trovoada e o Secretário do Gabinete do Sr. Primeiro-Ministro, Mário Gomes Bandeira, do Bispo de S.T.P., Dom António Manuel dos Santos, acompanhado pelo Rev. Padre Fausto, - Presidente da Comissão Eleitoral, Alberto Pereira, vários membros do Gabinete da Presidência da República, nomeadamente, Coronel Victor Monteiro e Amaro Pereira de Couto, Chefe da Casa Civil; Embaixador do Brasil, José Carlos de Araújo Leitão; ex-primeiro Ministro Leonel D’Alva; Adido da Defesa da Embaixada de Portugal, Sr. Coronel Lourenço Saúde; Diretora do Centro Cultural Português, Margarida Mendes; os excelentíssimos representantes das embaixadas da Guiné Equatorial e da Nigéria, respetivamente, Teodoro Elangui e Aburime Kenneth, assim como da poetiza e escritora, Conceição Lima, o historiador e escritor Albertino Bragança, Maria Alves, Luís Beirão, Ambrósio Quaresma, Ana Ribeiro e Nuno Bruno, Cláudio Coralle, Manuel da Trindade Costa, artistas da Associação Pica Pau, entre outras personalidades, empresários, muitos santomenses anónimos ou dos mais diversos setores de atividades (a que conto vir ainda a referir-me) e alguns meus compatriotas, residentes ou em gozo de férias
Nestes últimos
três dias, revivi tantas emoções, sim, ao confrontar-me com as imagens
das minhas aventuras, narrando alguns dos episódios, não só às várias
personalidades, que me honraram com a sua presença, como também às muitas
pessoas anónimas que me distinguiram com as suas palavras amigas, que outra expressão não me ocorre, senão a de começar por expressar um profundo agradecimentos a todos.
Passagens do meu Diário gravado num pequeno gravador que foi preservado com a máquina fotográfica no interior de um caixote do lixo contentor vulgar de plásticoDiário de Bordo do 33ª Dia https://canoasdomar.blogspot.com/2019/11/perdido-no-golfo-da-guine-33-dia.htm
EXPOSIÇÃO DE
VÁRIAS ODISSEIAS NO MAR E EM TERRA, – EM TUDO NA VIDA, O MAIS
IMPORTANTE NEM É TANTO O QUE SE VIVE MAS O EXEMPLO QUE PERDURA E SE
TRANSMITE
É um facto, que,
uma exposição – seja fotográfica ou pictórica – presta-se sempre às mais
diversas interpretações – Sobretudo, se for de
cunho eminentemente abstrato, subjetivo ou
artístico – Não era propriamente o caso: nesta minha exposição, além da
beleza de algumas imagens, havia abundante informação: tanto na do realismo e
dramatismo, implícito na leitura das próprias imagens, como na documental
– e, como é sabido, uma boa imagem vale por mil palavras Mas,
sobretudo, o exemplo que desta exposição é possível extrair:
Isto, porque
“estas fotografias não são apenas o registo mecânico de uma aventura no meio do
mar” Mas “ pontos de relevo num mapa de sonhos. (…) Imagens recuperadas dum naufrágio subitamente colocado ao
contrário pela rápida transformação duma derrota em vitória,” – dizia o poeta e
escritor, José do Carmo Francisco, no catálogo da exposição, que, em
meados de 1994, inaugurara no Padrão dos Descobrimentos.
Jorge Trabulo Marques - jornalista -
Acontecimento cultural, que contou com a presença do Ministro da Educação, Cultura e Ciência, Olinto Daio, Presidente do Tribunal de Contas José António Monte Cristo, da Ministra da Saúde, Maria dos Santos Trovoada e o Secretário do Gabinete do Sr. Primeiro-Ministro, Mário Gomes Bandeira, do Bispo de S.T.P., Dom António Manuel dos Santos, acompanhado pelo Rev. Padre Fausto, - Presidente da Comissão Eleitoral, Alberto Pereira, vários membros do Gabinete da Presidência da República, nomeadamente, Coronel Victor Monteiro e Amaro Pereira de Couto, Chefe da Casa Civil; Embaixador do Brasil, José Carlos de Araújo Leitão; ex-primeiro Ministro Leonel D’Alva; Adido da Defesa da Embaixada de Portugal, Sr. Coronel Lourenço Saúde; Diretora do Centro Cultural Português, Margarida Mendes; os excelentíssimos representantes das embaixadas da Guiné Equatorial e da Nigéria, respetivamente, Teodoro Elangui e Aburime Kenneth, assim como da poetiza e escritora, Conceição Lima, o historiador e escritor Albertino Bragança, Maria Alves, Luís Beirão, Ambrósio Quaresma, Ana Ribeiro e Nuno Bruno, Cláudio Coralle, Manuel da Trindade Costa, artistas da Associação Pica Pau, entre outras personalidades, empresários, muitos santomenses anónimos ou dos mais diversos setores de atividades (a que conto vir ainda a referir-me) e alguns meus compatriotas, residentes ou em gozo de férias
Passagens do meu Diário gravado num pequeno gravador que foi preservado com a máquina fotográfica no interior de um caixote do lixo contentor vulgar de plástico
Diário de Bordo do 33ª Dia https://canoasdomar.blogspot.com/2019/11/perdido-no-golfo-da-guine-33-dia.htm
É um facto, que, uma exposição – seja fotográfica ou pictórica – presta-se sempre às mais diversas interpretações – Sobretudo, se for de cunho eminentemente abstrato, subjetivo ou artístico – Não era propriamente o caso: nesta minha exposição, além da beleza de algumas imagens, havia abundante informação: tanto na do realismo e dramatismo, implícito na leitura das próprias imagens, como na documental – e, como é sabido, uma boa imagem vale por mil palavras Mas, sobretudo, o exemplo que desta exposição é possível extrair:
Na verdade, há
momentos que, por tão tormentosos e solitários na vasta imensidão
oceânica, são verdadeiras eternidades – Que o digam todos aqueles que
passaram pela dramática e dificílima situação de náufragos. Outros, nunca o
terão podido expressar, visto terem ficado sepultados para sempre no silêncio
eterno do fundo dos abismos submarinos. Pessoalmente, quis Deus ou o
destino que fosse um dos sobreviventes, de entre os milhares de vitimas,
que, por esta ou por aquela razão, anualmente, são tragados pela voragem
dos oceanos e pudesse transmitir o testemunho daquilo que o
engenho, a força de vontade e o querer humano, poderão lograr, face às maiores
provações.
Ó Deus Omnipotente e Salvador!... Ó JESUS CRISTO!...Ó BELO E MAGNÍFICO EXEMPLO SENHOR MEU!... Que maior tormento e suplício aquele!... Deitado no duro fundo daquele inconstante, encharcado, tosco e frágil madeiro escavado!… Porém, mesmo assim, quão doce e infinito era aquele meu tormento!... Quantas vezes, me lembrei da tua cruz e do teu calvário!... Quando já estavas prostrado e rendido às leis da morte e da vida para te lançarem estendido ao sepulcro!.. Quantas!... Quantas vezes!... Quando tudo à minha volta me parecia revolto e perdido… Sim, no meio avassalador daquelas espessas trevas e noites de breu, cercado pelo tumulto escuro do mar e do céu! E, ante a imensa e tenebrosa solidão, apenas se me afigurava vislumbrar o perfil do teu piedoso rosto… Embora triste e macilento, banhado de suor e de lágrimas!... Mas coroado de esplendorosa caridade e de compaixão… por aqueles mesmos que te traíram e não compreenderam a tua humana, divina e nobre missão! Mas aos quais a áurea que iluminava a tua face, me parecia resplandecer apenas emanada por um infinito sentimento de amor e perdão…
Sim, no meu caso, muitos
foram os momentos de extrema aflição, que me pareceram verdadeiras eternidades, especialmente durante os longos e difíceis 38 dias, enfrentando tempestades, sucessivas, o
doloroso sofrimento da incerteza e da fome, o suplício da sede, com tanta
água à minha volta e, por vezes, mesmo bebendo-a, não podendo matar a sede, além
de constantes e quase mortíferos ataques de tubarões – porém, de todas as memórias
que perduram – e estou certo que perdurarão para o resto da minha vida – o que
mais me apraz registar – em todo o imenso somatório das minhas
vicissitudes, é o espírito de determinação, de coragem e de
uma infinita paciência, o de, nunca, em momento algum, me ter resignado
ao extremo abandono e solidão, de lutar, de jamais me ter rendido a
cruzar os braços, face às imensas dificuldades, mas o firme e constante
propósito de as poder superar.
E, pelo que
pude depreender, esta foi justamente uma das mensagens, que julgo ter
podido transmitir, com a minha exposição “ Sobreviver no Mar dos Tornados, 38
Dias à Deriva numa Piroga, de 28 a 30 de Julho, no Centro Cultural Português,
tanto às várias personalidades, que me quiserem honrar e distinguir com a sua
presença, como ao público anónimo, graças à compreensão e ao apoio da Embaixada
de Portugal, na pessoa da Embaixadora Paula Silva, e todos os
seus colaboradores, a quem, penhoradamente, aqui expresso a minha profunda e
sincera gratidão
– Mas também ao gratificante estímulo, à honra
concedia pelos muitos gestos ou expressões, em palavras amigas e calorosos
abraços, das várias personalidades governamentais e da presidência da
república, assim como às entidades representantes de outras instituições, aos
meus compatriotas, que espontaneamente compareceram, aos muitos santomenses,
que igualmente me consideram como um dos seus
Alojamento - Por outro lado, também não seria possível prolongar a minha estadia em S. Tomé, não fosse o facto de, gentilmente, me ter sido dada a possibilidade de ter ficado alojado numa das vivendas anexas ao Palácio da Presidência da República, gesto que muito me sensibilizou e do qual aqui desejo também expressar público agradecimento
Não vês, como está o mar?!... Vais morrer!!.. Fica connosco!..
A
canoa "Yon Gato" foi carregada a bordo do pesqueiro Hornet, em meados
de Outubro, de 1975, ao largo da Baía Ana de Chaves para ser largada na corrente
equatorial - Porém, contrariamente ao prometido, ao fundear junto à Ilha
de Ano Bom (Guiné Equatorial) com o pesqueiro
envolvido por enorme agitação noturna, varrido de proa à popa, pelas já
habituais tempestades da época das chuvas, que o assolaram nas
anteriores noites, o comandante chama-me à câmara de comando para
desistir do meu propósito e coloca-me num dilema: ou fico a trabalhar
a bordo ou tenho que ser largado com a canoa. De resto, este era também o aviso e a vontade expressa da tripulação: "Jorge! Não vês, como está o mar?!... Vais morrer!!.. Fica connosco!.." Não tendo aceite a sua proposta, obriga-me assinar
um termo de responsabilidade, antes de arrear a canoa ao mar.
Face
à impossibilidade de tomar a rota
para oeste, tento o regresso a S. Tomé - Depois de um dia de navegação
rumo a Norte, perfeitamente normal, à noite um violento tornado faz-me perder a maior parte
dos
apetrechos, incluindo o remo e os mantimentos.
DEPOIS DE 38 DIAS DE NAUFRÁGIO, NOS CORREDORES DA MORTE
Ao cabo de 38 penosos dias, ao sabor das vagas, num simples madeiro escavado,
acabo por acostar à Ilha de Bioko (ex-Fernando Pó), onde sou tomado por
espião e encarcerado numa cela da Cadeia Central para ser executado, já
que este era o destino de quem ali era condenado: entrar vivo e sair cadáver.
Felizmente,
é a mensagem,
autenticada pelo MLSTP, que havia sido escrita para saudar o Povo
Brasileiro - admitindo que pudesse fazer a travessia até ao Brasil -
que me vai salvar a vida. Mesmo assim, dada a persistente
desconfiança do então Presidente Macias, que nem depois de enviar o seu
barbeiro pessoal (o santomense, Sr. Bandeira) se convencera, nem da
veracidade da referida mensagem, nem dos meus argumentos, quem acaba
por ordenar a minha soltura é o seu sobrinho, o então comandante das
Policias e das Forças Armadas, o atual Presidente Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, a quem fico a dever a vida
TRÊS DIAS DE
EXPOSIÇÃO MUITO INTENSOS
(Com o Embaixador do Brasil, em S. Tomé. José Carlos de
Araújo Leitão )
O mais importante
numa exposição, não é propriamente o tempo em que a mesma é exposta mas o seu
impacto, simbolismo e adesão – E creio que foi tudo muito expressivo; pois
foram três dias muito concorridos e intensos - Além da divulgação que
mereceu através dos órgãos de comunicação social - televisões, rádios,
imprensa escrita e Internet, a quem também muito fico agradecer a
compreensão.
Não foi possível
prolongar, por mais tempo a exposição, pois havia outros eventos, há muito
agendados – Sim, porque, numa instituição com as responsabilidades e a
envergadura do Centro Cultural Português, a sua programação é atempada e
criteriosamente organizada pela sua diretora, Margarida Mendes. Nada é deixado ao
sabor dos acasos. Mesmo assim, com tão expressivo gesto de boa vontade, foi
possível concretizar um velho sonho, que há muitos anos, vinha prosseguindo: o
de apresentar na capital destas maravilhosas ilhas, a
exposição fotográfica e documental, que esteve patente no Padrão dos
Descobrimentos, em Lisboa, de 10 de Março a 10 de Abril de 1999, inserida no
espírito da Expo98, “Os Oceanos”, subordinada ao título: SOBREVIVER NO MAR DOS
TORNADOS – 38 DIAS À DERIVA NUMA PIROGA.
Tal
como já tornei público, terminada a referida exposição, é meu desejo que o
espólio em causa seja doado ao Museu Nacional de São Tomé e Príncipe – E, se
possível, muito gostaria que a próxima inauguração, nesse histórico local,
pudesse coincidir com a véspera do 3 de Fevereiro de 2016, uma data com
particular significado para a memória do Povo de S, Tomé e Príncipe, pelo
que, desde já, aqui expresso esse meu pedido.
Jornal
Novo – 25.9.76 “Ele correu perigos que assustariam o mais corajoso,
incorreu em temeridades que não visavam o lucro mas uma meta mais longínqua. Um
insatisfeito desejo de se afirmar e de demonstrar que moram no homem, e com ele
vivem , recursos insuspeitados e adormecidos.Não se pense que se referimos a um
aventureiro gratuito, que apenas pretende chamar sobre si as atenções, sem
objectivos louváveis. Nada disso.(...) "
"As gravações a que procedeu no mar são empolgantes e transmitem o
estado de espírito do homem que se encontra só e não conta senão com ele e com
Deus. A resistência do homem á fome, à sede e ao desespero, constituem uma
constante do seu relato. É comovente a transcrição do feito de Jorge Marques, o
qual justificava a publicação de um livro, contendo, em pormenor, o que a
escassez do espaço de um jornal não comporta."
A descrição que passou á deriva numa piroga no Golfo da Guiné, se levada ao
cinema, daria um filme memorável, principalmente se o realizador extrair da
odisseia a espantosa variedade de facetas que ela oferece.” Excertos do Jornal
Novo
Na verdade, há momentos que, por tão tormentosos e solitários na vasta imensidão oceânica, são verdadeiras eternidades – Que o digam todos aqueles que passaram pela dramática e dificílima situação de náufragos. Outros, nunca o terão podido expressar, visto terem ficado sepultados para sempre no silêncio eterno do fundo dos abismos submarinos. Pessoalmente, quis Deus ou o destino que fosse um dos sobreviventes, de entre os milhares de vitimas, que, por esta ou por aquela razão, anualmente, são tragados pela voragem dos oceanos e pudesse transmitir o testemunho daquilo que o engenho, a força de vontade e o querer humano, poderão lograr, face às maiores provações.
Ó Deus Omnipotente e Salvador!... Ó JESUS CRISTO!...Ó BELO E MAGNÍFICO EXEMPLO SENHOR MEU!... Que maior tormento e suplício aquele!... Deitado no duro fundo daquele inconstante, encharcado, tosco e frágil madeiro escavado!… Porém, mesmo assim, quão doce e infinito era aquele meu tormento!... Quantas vezes, me lembrei da tua cruz e do teu calvário!... Quando já estavas prostrado e rendido às leis da morte e da vida para te lançarem estendido ao sepulcro!.. Quantas!... Quantas vezes!... Quando tudo à minha volta me parecia revolto e perdido… Sim, no meio avassalador daquelas espessas trevas e noites de breu, cercado pelo tumulto escuro do mar e do céu! E, ante a imensa e tenebrosa solidão, apenas se me afigurava vislumbrar o perfil do teu piedoso rosto… Embora triste e macilento, banhado de suor e de lágrimas!... Mas coroado de esplendorosa caridade e de compaixão… por aqueles mesmos que te traíram e não compreenderam a tua humana, divina e nobre missão! Mas aos quais a áurea que iluminava a tua face, me parecia resplandecer apenas emanada por um infinito sentimento de amor e perdão…
Sim, no meu caso, muitos foram os momentos de extrema aflição, que me pareceram verdadeiras eternidades, especialmente durante os longos e difíceis 38 dias, enfrentando tempestades, sucessivas, o doloroso sofrimento da incerteza e da fome, o suplício da sede, com tanta água à minha volta e, por vezes, mesmo bebendo-a, não podendo matar a sede, além de constantes e quase mortíferos ataques de tubarões – porém, de todas as memórias que perduram – e estou certo que perdurarão para o resto da minha vida – o que mais me apraz registar – em todo o imenso somatório das minhas vicissitudes, é o espírito de determinação, de coragem e de uma infinita paciência, o de, nunca, em momento algum, me ter resignado ao extremo abandono e solidão, de lutar, de jamais me ter rendido a cruzar os braços, face às imensas dificuldades, mas o firme e constante propósito de as poder superar.
– Mas também ao gratificante estímulo, à honra concedia pelos muitos gestos ou expressões, em palavras amigas e calorosos abraços, das várias personalidades governamentais e da presidência da república, assim como às entidades representantes de outras instituições, aos meus compatriotas, que espontaneamente compareceram, aos muitos santomenses, que igualmente me consideram como um dos seus
Alojamento - Por outro lado, também não seria possível prolongar a minha estadia em S. Tomé, não fosse o facto de, gentilmente, me ter sido dada a possibilidade de ter ficado alojado numa das vivendas anexas ao Palácio da Presidência da República, gesto que muito me sensibilizou e do qual aqui desejo também expressar público agradecimento
Não vês, como está o mar?!... Vais morrer!!.. Fica connosco!..
A canoa "Yon Gato" foi carregada a bordo do pesqueiro Hornet, em meados de Outubro, de 1975, ao largo da Baía Ana de Chaves para ser largada na corrente equatorial - Porém, contrariamente ao prometido, ao fundear junto à Ilha de Ano Bom (Guiné Equatorial) com o pesqueiro envolvido por enorme agitação noturna, varrido de proa à popa, pelas já habituais tempestades da época das chuvas, que o assolaram nas anteriores noites, o comandante chama-me à câmara de comando para desistir do meu propósito e coloca-me num dilema: ou fico a trabalhar a bordo ou tenho que ser largado com a canoa. De resto, este era também o aviso e a vontade expressa da tripulação: "Jorge! Não vês, como está o mar?!... Vais morrer!!.. Fica connosco!.." Não tendo aceite a sua proposta, obriga-me assinar um termo de responsabilidade, antes de arrear a canoa ao mar.
Face à impossibilidade de tomar a rota para oeste, tento o regresso a S. Tomé - Depois de um dia de navegação rumo a Norte, perfeitamente normal, à noite um violento tornado faz-me perder a maior parte dos apetrechos, incluindo o remo e os mantimentos.
DEPOIS DE 38 DIAS DE NAUFRÁGIO, NOS CORREDORES DA MORTE
Ao cabo de 38 penosos dias, ao sabor das vagas, num simples madeiro escavado, acabo por acostar à Ilha de Bioko (ex-Fernando Pó), onde sou tomado por espião e encarcerado numa cela da Cadeia Central para ser executado, já que este era o destino de quem ali era condenado: entrar vivo e sair cadáver.
Felizmente, é a mensagem, autenticada pelo MLSTP, que havia sido escrita para saudar o Povo Brasileiro - admitindo que pudesse fazer a travessia até ao Brasil - que me vai salvar a vida. Mesmo assim, dada a persistente desconfiança do então Presidente Macias, que nem depois de enviar o seu barbeiro pessoal (o santomense, Sr. Bandeira) se convencera, nem da veracidade da referida mensagem, nem dos meus argumentos, quem acaba por ordenar a minha soltura é o seu sobrinho, o então comandante das Policias e das Forças Armadas, o atual Presidente Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, a quem fico a dever a vida
O mais importante numa exposição, não é propriamente o tempo em que a mesma é exposta mas o seu impacto, simbolismo e adesão – E creio que foi tudo muito expressivo; pois foram três dias muito concorridos e intensos - Além da divulgação que mereceu através dos órgãos de comunicação social - televisões, rádios, imprensa escrita e Internet, a quem também muito fico agradecer a compreensão.
NÃO CHEGUEI ATRAVESSAR O OCEANO ATLÂNTICO,
TAL COMO ESPERAVA MAS CONTINUO ACREDITAR QUE SÃO POSSÍVEIS LONGAS TRAVESSIAS
Comprovei que as canoas vão ao cabo do mundo: naveguei e fui arrastado por centenas de milhas: - Liguei as ilhas e estabeleci ligações de uma delas ao continente
Sozinho e ao longo de sucessivos dias é
extremamente arriscado e muito difícil navegar a bordo dessas frágeis
embarcações - E, se eu não fiquei no mar, talvez o deva a um feliz acaso
- mas não estou arrependido, pois safei-me por três vezes.
Os pescadores (nas Ilhas) aos quais se
inculcou o fantasma de que só gente de feitiço é que o tornado leva a canoa ou
que o "gandú" não engole "perna de gente" , poderão estar
descansados:
Se a tempestade alguma vez os surpreender e os arrastar para fora do alcance ou do horizonte da sua querida Ilha, não se importem; deixem-se levar pelo seu ímpeto
Mas não cruzem os braços e se deem por
vencidos: remem ou velejem, sempre que puderem ou então deixem que a canoa
vogue à flor das ondas, que o mar não quer nada que lhe seja estranho e a algum
ponto da costa, hão de ir parar
Basta que não percam a calma e se
alimentem com a pesca: a carne do peixe mata a fome e o sangue, que não é
salgado, a sede - E a água das chuvas, com um pouco de água do mar, é ainda
melhor
A CANOA SÓ VAI AO FUNDO SE ESTIVER MUITO
CHEIA DE PESCADO OU NÃO FOR DE ACÁCIA OU DE ÓCÁ - O MAR BRINCA COM O SEU CASCO E O SEU CASCO
DESLIZA E BRINCA COM O MAR.
A vida só tem sentido em prol da ciência, do sagrado e da arte ou da comunidade - vivida, sobretudo, sob o signo da espiritualidade.
Se não for pautada por um ideal é um completo vazio. Vale sempre a pena
correrem-se os riscos. Mesmo que a morte seja o maior preço a pagar."Valeu
a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena."
Por minha parte, dei o meu contributo. Não
procurei remar contra a história mas ir ao sabor dos ventos que a formaram, ao
encontro da sua verdadeira raiz: e, pelos vistos, o que parecia estar esquecido
nos bolorentos arquivos históricos, veio dar-me razão - através da demonstração
das várias viagens que empreendi em pirogas primitivas.
Claro que me deparei com imensas
dificuldades: - duas das três canoas que usei (embora não tendo mais de 60cm de
altura por um metro de largura) eram compridas e precisavam de mais dois
braços. E, os antigos povoadores, dificilmente teriam partido
sozinhos ao seu encontro. Muitas das pirogas que ainda hoje se constroem nos
países que bordejam o Golfo, são enormes e podem ser remadas por muitos
braços de mulheres e homens
Obrigado por ter viajado comigo ao
fundo das minhas mais gratas e intensas memórias, e, eventualmente, também,
pela reconfortante sensação de – através
do exemplo destas minhas aventuras marítimas, em frágeis pirogas, o ter ajudado a viajar aos mais recuados tempos históricos destas maravilhosas
ilhas do Golfo da Guiné - Que eu julgo,
há muito abordadas e habitadas por povos da costa africana – Até porque, é a própria história colonial a dar-nos algumas
pistas e, ao desvendarem-se os escaninhos de alguns dos mais prestigiados arquivos genoveses, a poder ir-se ao encontro de cartas antigas, muito esclarecedoras.
DIVULGAÇÃO NO SITE E NO FACEBOOK - DO CENTRO CULTURAL PORTUGUÊS, EM S. TOMÉ - São Tomé e Príncipe: Exposição fotográfica e documental...Centro Cultural Português - São Tomé e Príncipe - Facebook
POSTAGENS PUBLICADAS NESTE SITE ACERCA DOS 38 DIAS À DERIVA
DIVULGAÇÃO NO SITE E NO FACEBOOK - DO CENTRO CULTURAL PORTUGUÊS, EM S. TOMÉ - São Tomé e Príncipe: Exposição fotográfica e documental...Centro Cultural Português - São Tomé e Príncipe - Facebook
POSTAGENS PUBLICADAS NESTE SITE ACERCA DOS 38 DIAS À DERIVA
DiárioPORMENORES DA DESCRIÇÃO EM https://canoasdomar.blogspot.com/2019/11/perdido-no-golfo-da-guine-37-dia-estou.html
https://canoasdomar.blogspot.com/2019/11/perdido-no-golfo-27-de-nov-1975-38-dia.html
https://canoasdomar.blogspot.com/2019/11/34-dia-perdido-no-golfo-da-guine-nao.html
"O jornalista Jorge Marques de 70 anos é o autor de uma exposição fotográfica e documental que termina esta quinta-feira, 30, no Centro Cultural Português na cidade de São Tomé. É uma exposição montada desde 27 que demonstra momentos marcantes de extrema aflição ao longo de 38 dias de navegação através de uma canoa de madeira à vela no Golfo da Guiné, debaixo das chuvas. Nestes dias, 24 dos quais o aventureiro “homem do mar” diz que só bebia água do mar, duas semanas sem alimento senão uns peixinhos que apanhava.
Jorge Marques disse, no entanto, que o “o objectivo da exposição da minha odisseia marítima é associar-me ao espírito das comemorações do 40.º aniversário da Independência de São Tomé e Príncipe. É também para mostrar á população destas encantadas ilhas às generosas e pacíficas gentes deste jovem país, das quais tenho as mais gratas recordações.É um conjunto de várias fotografias, artigos, excertos do meu diário de bordo, entre outros documentos, das minhas aventuras marítimas e da escalada do Pico Cão Grande, com a colaboração de uma corajosa equipa de são-tomenses. Espólio que, no termo da exposição, gostaria de doar ao Museu Nacional de São Tomé e Príncipe”, disse Jorge Marques.
Conforme conta aquele jornalista, no primeiro dia começou por dar pequenos passeios de praia em praia, até ao dia que sentiu que podia empreender de canoa a volta à ilha. Não autorizado pelo capitão dos portos, limitou-se a uma pequena viagem costeira de 40 milhas. Em Dezembro de 1970, foi desde a Baia Ana Chave ao lugar da Esprainha, onde é suposto terem desembarcado João de Santarém e Pero Escobar, no dia em que a cidade comemorava os 500 anos da descoberta das duas ilhas, pelos citados navegadores portugueses.
Devido ao êxito da viagem as autoridades fecharam os olhos e o facto mereceu relevo no jornal local, coisa que não iria acontecer quando em Fevereiro de 1971, sozinho e em segredo, partiu, daquela mesma baia, num dia à meia-noite, rumo à Ilha do Príncipe. Foram três dias emocionantes em que, por vezes, se sentiu perdido. Uma noite à canoa virou-se e só ao fim de uma dura luta com o mar conseguiu pô-la de novo na posição normal.
Por fim, ao 38.º dia, avista a Ilha de Fernando Pó. A recepção não foi das mais simpáticas. Preso e inquirido, este viajante solitário dos mares, regressa ao seu país, com o carimbo de repatriado no seu passaporte, afinal um documento de que nada lhe serviria para tais liberdades.
Desde então, e já lá vão uns bons anos, diz que sempre ficou a sonhar com novas viagens. Ficou-se por Lisboa, onde foi repórter da Rádio Comercial, desde 1978 até 1993, altura em que esta estação foi privatizada. É autor de um livro, editado pelo Relógio d`Agua, baseado em entrevistas feitas no meio prisional. Tem vários projectos literários em curso, entre os quais o da aventura. Outra das suas facetas, é a fotografia, da qual já conta com alguns prémios e a realização de várias exposições - Silvania Bernardo http://www.parvodigital.info/index.php/noticias/sociedade/item/2793-exposicao-fotografica-e-documental-sobre-aventuras-maritimasde-jorge-marques
(...) Do Jornal Transparência - (...) No acto da inauguração e apresentação da sua exposição, o aventureiro e jornalista português, Jorge Trabulo Marques, falou dos objectivos da exposição, e tudo quanto marcou a sua vida, e trajectória em São Tomé e Príncipe, antes e após a Independência de 12 de Julho de 1975, desde a escalada (subida) do Pico-Cão-Grande, situado na zona Sul de São Tomé, e bem como da travessia de canoa a Ilha de STP, Nigéria, Guiné-Equatorial, e na tentativa de chegar ao Brasil.
Segundo Jorge Marques, o objectivo desta exposição, é de associar ao espírito das comemorações do 40ºaniverssário da Independência de São Tomé e Príncipe; e mostrar á população destas encantadoras ilhas, às generosas e pacíficas gentes deste jovem país, das quais tem consigo as mais gratas recordações, um conjunto de várias fotografias, artigos, passagem do seu diário de bordo, entre outros documentos, das minhas aventuras marítimas e da escalada do Pico Cão Grande, com a colaboração de uma corajosa equipa de santomenses.
Episódio este, que segundo ainda o autor, no termo da sua exposição, deseja doar ao Museu Nacional de São Tomé e Príncipe.
O jornalista português disse, que a razão das suas travessias foi vários: antes de mais, o fascínio que o mar exerceu em ele, desde o primeiro dia que desembarcou da velha canoa, ao largo da baia azulinha da linda cidade de São Tomé, o desejo de encontrar a sós com a solidão e a vastidão do oceano e, de perante esse cenário, de poder perguntar, ainda mais de perto, sobre a presença e os mistérios de Deus.
Por outro lado, a sua travessia, tinha outras razões, como do carácter histórico e científico e humanitário, tais como evocar a rota da escravatura, ao longo da grande corrente equatorial, e lembrar esses ignominiosos tempos do comércio de escravos, e chamar atenção para a grave problema que, sob as mais diversas formas, continua afectar a existência muitos seres humanos na actualidade.
Demonstrar a possibilidade de antigos povos africanos terem povoado as ilhas, situadas naquele imenso Golfo, muito antes dos navegadores portugueses ali terem chegado, e contribuir para a moralização de futuros náufragos, que felizmente durante 38 dias perdidos no alto mar, com ajuda de Deus, pudesse resistir a tantos dias de angústia, de sobressaltos e de incerteza.
Para o Ministro da Educação, Olinto Daio e Coronel Victor Monteiro, a trajectória da exposição fotográfica de Jorge Marques, retrata uma grande experiência da vida única que uma pessoa vive, e esta exposição fotográfica é suficiente para descrever os 38 dias que viveu no alto mar por uma causa justa.
Na base desta exposição fotográfica, que retratam a passagem do Jorge Trabulo Marques, que viajou de canoa da Ilha de São Tomé e Príncipe, Nigéria, Guiné-Equatorial na tentativa de atravessar o Brasil, o Embaixador da República da Nigéria que tomou parte da cerimónia, formulou o convite ao Jorge Trabulo a visitar Nigéria para apresentação da exposição fotográfica.
Jorge Trabulo Marques, é natural da aldeia de Chãs (Portugal), nasceu ao 20 de Janeiro de 1945, do concelho de Vila Nova de Foz Côa, tendo vivido vários anos em São Tomé, Ilha onde desembarcou em Novembro de 1963, para um estágio na Roça Uba-Budo.
Para alguns presentes, a trajectória e a história do Jornalistas Jorge Trabulo Marques deveria ser traduzida de uma longa-metragem de um filme.http://www.jornaltransparencia.st/0126.htm
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