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terça-feira, 29 de junho de 2010

CANCÃO DO MAR DE DULCE PONTES E MAR AZUL DE CESÁRIA ÉVORA - EM MEMÓRIA DAQUELES QUE NAUFRAGARAM NAS PROFUNDEZAS OCEÂNICAS




Dulce Pontes - Canção do Mar


Breves excertos do Diário registado num pequeno gravador, guardado num contentor do lixo - o meu baú)

Décimo Quinto dia

É uma hora da tarde do 15º dia. Está um calor abrasador!...Uma calmaria muito grande! Não há praticamente vento! O que pode ser mau sinal porque, quando assim o tempo está calmo, normalmente segue-se um temporal violento!..De tempestade!... De ventos fortes.

Apetecia-me realmente beber água... E tomar um banho fresco! Sim, mas é impossível aqui neste mar...Há muitos tubarões em volta, muita fauna marinha que não me convém visitar... Mas o céu está totalmente descoberto. O mar de um azul muito claro. Há por aqui algumas aves que andam a voar à procura de peixes...Eu sempre na mira de ver terra!


Hoje avistei duas grades baleias!...aqui próximo da canoa e um tubarão monstro! Um tubarão muito grande! Que andou aqui a voltear a canoa de um lado para o outro...Os pequenos tubarões, esses, continuam a todo o momento. Pois até já pesquei dois.

Há uma serenidade!... Só se vê mar! Absolutamente mar! Mar e mais nada! ... a minha canoa a vaguear, a vaguear!... Eu não sei onde estou... Não sei!... Mas não estou desesperado! Não perdi a confiança!... Estou emocionado, com certeza!... mas continuo confiante!... Realmente o homem!... Eu acho que o homem é precisamente nestas circunstâncias que ele se superioriza a si próprio....o seu espírito se enaltece!...

Há qualquer coisa de místico!...Ontem! No meio daquelas ondas!!...alterosas!...De vez em quando uma ou outra entrava com alguma água dentro da canoa!...Eu sentia-me ao mesmo tempo pequeno e gigante!... Pequeno! no meio de tanta grandeza!... E gigante! por vencer tamanha força!.








Náufragos! - Meus irmãos da desventura!

Náufragos! - Irmãos do sofrimento e do infortúnio!
- De todos os mares, em todas eras e em todos os tempos!...
- Filhos das vagas! Do tumulto das trevas
e do bramido dos ventos!... - Aves perdidas de asas cortadas
na fulminada irrupção da noite!... - Erráticos duendes
à deriva no pavor das tempestades!
Fantasmas peregrinos, vogando assombrados,
atordoados, vogando balanceados à toa
num silêncio antigo, vertiginoso!
- Em demanda de um pouso,
duma tranquila enseada,
dum acolhedor porto de abrigo!...

Em Vós, e no meu coração, a angústia das longas horas de vigília,
ansiosamente aguardadas, interminavelmente vazias, em vão!...
- Em vós, o cerrado horizonte!... O inesgotável círculo!...
Sempre à frente dos olhos, a um escasso palmo da mão!...
- Todavia, sempre mais além
da fronteira da vida,

da outra margem que a separa,
do que aquém..
.

.








MAR AZUL - Cesaria Evora


..
Yemanjá - Rainha do Mar.

Náufragos, meus irmãos!
Afinal, irmãos de todos os homens,
de todos os seres e de todas as coisas!
Tal como vós, fiz do meu pequeno barco
o mesmo lar no grande mar!...
E, através das suas ondas
rugidoras de presságios,
se não tive a vossa sorte,
quantas vezes não naveguei e aspirei,
em cada espuma, em cada noite cerrada,
em erma e afrontosa bruma, um perfume salgado de morte!...




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