Jorge Trabulo Marques - Jornalista e antigo navegador solitário
25ª DIA
"Sinto-me muito cansado, cheio de sede. Estou sem água das chuvas.. Mas vai-se aguentando com paciência... Vai-se aguentando!..."
(...)Sim, leve e doce é o silêncio neste dia de calma!...
Todavia, grande é a dor e o tormento,
nestas longas horas solitárias!...
Nestes longos momentos de ausência
e de infinito cansaço da minha alma!..
Se ao menos, em todos os pontos do imenso círculo,
que se estende a perder vista à minha volta
se escancarassem todas as janelas do mundo?!...
Se abrissem todas as portas dos recantos da Terra?!...
- Para que eu, de tão longe, pudesse ver- vos....
– ó remota e tranquila aldeia donde nasci!... –
alcandorada e de asas abertas, como ave branquinha,
pousada nas graníticas quebradas
do longínquo planalto!...
também a mim, com os teus próprios olhos, sempre abertos
à Terra inteira e perpétuamente voltados
ao imenso Universo!!..
- Sim, estou arredado de tudo!... Ninguém sabe onde estou!...
Ainda se ao menos pudesses imaginar o caminho por onde eu ando
- ó amável saudade! - ou pudesses adivinhar o errático destino
que eu trilho e para aonde eu vou?!... – Oh, acredita!..
Já me sentiria muito feliz!...Mesmo que algum tornado
me fizesse desaparecer no meio do seu torvelinho!!..
– oh, testemunho querido do meu berço!
- Tenho a certeza que, nesse crucial momento,
eu não estaria tão sozinho!. Creio que os vossos olhos
estariam tão turvos de sal e rasos do mar como os meus!...
.
(...)Descansa coração, angustiado!... Descansa!..
(...)Descansa coração, angustiado!... Descansa!..
Sê paciente, acalma-te!... Não desesperes!...
Afinal não é isto o que tu procuras?
Não é isto o que tu queres?!...
Não foi esta a missão a que te impuseste?!...
- Transcende-te e ultrapassa os limites do impossível!
Não é este o teu sonho?!.. Oh, sim... aproxima
as tuas batidas com as do coração dos anjos
e, tal como eles, torna-te invisível!...
-Eu sei... Eu sei!...coração amigo!...
No fundo é o que tu desejas... e tens conseguido!...
Sim, não vês que o vínculo que há em ti
entre o passado e o presente
é o mesmo que a distância
que vai agora de ti ao futuro?
...inexistente!...
EM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE - NÃO RARAS VEZES A TRAGÉDIA BATE À PORTA DAS POBRES PALHOTAS
DOS CORAJOSOS PESCADORES DAS FRÁGEIS PIROGAS - FUI
TESTEMUNHA DE ALGUNS DESSES INFAUSTOS EPISÓDIOS
TÃO FREQUENTES NAQUELAS MARAVILHOSAS ILHAS DO MEIO DO MUNDO
Pescadores são-tomenses desaparecidos podem ter morrido
20 Janeiro 2005
"As autoridades marítimas são-tomenses receiam pelas vidas dos dois pescadores da zona de Neves ainda desaparecidos, que faziam parte dum grupo inicial de seis que se perderam no mar devido à bruma. No último fim-de-semana, o nevoeiro atenuou e permitiu a um avião da força aérea portuguesa fazer uma missão de busca e salvamento para localizar os seis homens. Mas algumas fotografias tiradas pelo avião mostram pelo menos duas canoas, ambas partidas ao meio.
(...)Ainda traumatizados, António Filipe e seu filho Geraldo recordam os
momentos aflitivos que viveram no mar.
Dizem ter passado momentos angustiantes no mar durante sete dias e
sete noites sem comida nem água e obrigados, por isso, a comer peixe
cru e a beber ou a água do mar ou a própria urina.
Tinham partido para o mar a 10 de Janeiro passado, mas o manto de pó
branco que encobria os céus são-tomenses impediu-os de reconhecer o
caminho de volta à casa".
Desamparados e sem saber o que fazer, deixaram-se levar pela
corrente das águas, pois, as várias tentativas para encontrar terra
firme, esgotou as últimas reservas de combustível que tinham na
piroga, explicaram.
Na segunda-feira, e depois de o nevoeiro ter atenuado e aberto um
pouco os céus das ilhas, António e Geraldo Filipe avistaram terra
firme, mas já muito longe de casa. A corrente marítima empurrou-os
de Neves para o ilhéu das Rolas, do Norte para o Sul da ilha de São
Tomé.
António Filipe que há mais de 40 anos se dedica à pesca, diz agora
que vai largar a profissão, enquanto que o filho, ainda jovem,
promete continuar a desafiar o mar porque, argumenta, é daí onde
retira o sustento.
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