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sexta-feira, 11 de setembro de 2015

São Tomé – Indústria Naval dá passo inovador na construção do primeiro navio de chapas de aço para ligar as duas ilhas do arquipélago - José Manuel Roque, segue dinamismo de seu pai Manuel Roque - Um dos antigos colonos portugueses mais empreendedores, até à independência, na atividade comercial e industrial

"STP constrói o primeiro navio a base de chapas de aço para ligar as duas ilhas" –Este o título de uma notícia, dada pelo Telanón, que me agradou duplamente: por um lado, é realmente uma boa noticia, saber que “Manuel Roque,  empresário nacional, proprietário do estaleiro com o mesmo nome, “esta quarta – feira deu início ao projecto dos seus sonhos. Sonhos antigos” . “Apenas com seus meios sem recurso a qualquer financiamento estrangeiro ou bancário, logrou “construir uma embarcação que possa garantir a ligação marítima regular e segura entre as ilhas de São Tomé e Príncipe. Um projecto que pretende resolver um problema crónico entre as duas ilhas, que viram naufragar vários navios e vidas humanas nas águas que as uneSTP constrói o primeiro navio a base de chapas de aço 

 Por outro lado, esta  noticia fez-me imediatamente recordar a memória de Manuel Roque, um dos mais bem sucedidos exemplos de humanismo e de conivência social, junto das populações nativas e de sucesso económico na atividade comercial e industrial das Ilhas.


QUEM SAI AOS SEUS NÃO DEGENERA.

Penso que é o exemplo seguido pelo empresário José Manuel Roque – 

Tal pai, tal filho: o mesmo sorriso, a mesma expressão   facial: de quem em vida, fora  um extraordinário exemplo, humano e social, de engenho, determinação e humildade, tanto no arrojo empreendedor, como no modo  de estar na vida.

Quando deixei, São Tomé, em Outubro de 1975, com o objetivo de atravessar o oceano numa canoa, ele ainda era rapaz – Quando ali voltei, em 20 de Outubro do ano passado, 39 anos depois, sim, de seu filho, já vagamente me recordava. Porém, bastou um encontro fortuito para facilmente o reconhecer - Mais elegante e  menos forte   mas era a imagem, a expressão parecidíssima de seu pai, o Sr. Manuel Roque .

 
Quis um feliz acaso, que, ao passar junto de uns antigos estaleiros, situados de fronte à Baía Ana de Chaves  -  já ao fim da tarde e quase sobre  a  hora do fecho - , a minha curiosidade me levasse a dar uma espreitadela lá para dentro: pois é justamente aí que vou encontrar José Manuel Roque, que acabo por fotografar já após fechar o portão.

 No breve e cordial diálogo encetado, recorda-me seu pai, os artigos que publique na revista Semana Ilustrada, acerca da sua atividade, cuja imagem e excertos do texto, aproveito para aqui citar  e com muito prazer 

Sim, e faço-o com muito gosto, porque, José Manuel Roque, pelo que logo me apercebi, é, realmente, um caso exemplar do filho que sabe honrar os ensinamentos e a memória de seu pai  - Do português, simples, de origem humilde, que, além de ter sido um magnifico exemplo de tenacidade, de integração social, de sucesso pessoal, soube também honrar a sua língua e o nome de Portugal – Contrariamente, ao autoritarismo do modelo colonial prosseguido nas Roças. 

MANUEL ROQUE – O ROSTO DO PORTUGUÊS - SORRIDENTE E AFÁVEL - ELE NÃO MERECIA TÃO GROTESCA HUMILHAÇÃO -  Certo que, com o passar dos anos, o tempo tudo apaga e tudo esquece –  Mas há memórias que dificilmente se apagarão: pessoalmente, testemunhei o vandalismo, intervindo, acalmando ânimos  e evitando o pior,  junto de um grupo de jovens, que, saindo de uma calorosa manifestação, pró-independentista, movidos por um certo destempero revolucionário, invadiram as lojas situadas na então praça Mouzinho da Silveira e ruas adjacentes - Higino Curado dos Santos, Casa Beirão,  Manuel Roque e  Pereira Duarte  - começando por insultar, empurrando e agredindo os empregados e os gerentes,  lançando à rua os recheios,  saqueando os géneros alimentares, e os  que, não puderam levar, nomeadamente arroz e feijão, ostensivamente espalhados pelo meio da rua, com a alegada falsidade de que estavam envenenados – E quanta falta não vieram a fazer!  Numa altura em que havia perturbações constantes na ordem pública e   começavam a escassear os bens essenciais.
Um dia, muito conturbado:  pois, nessa mesma manhã, também os empregados, feitores gerais e administradores das roças, vendo os paióis esvaziados das armas, que lhe haviam sido retiradas por elementos ativistas, depois de abandonarem muitas dessas propriedades agrícolas, invadiram o Palácio do Governador, atual Palácio Presidencial,  insultando o coronel Pires Veloso - Estando por ali perto, na esplanada do Palmar,  como jornalista, a observar os acontecimentos, só não fiu linchado e assassinado por milagre - Mas  esse é um episódio para contar noutro contexto.
  Em boa verdade, muito poucos são os nomes anónimos, que, por este ou aquele exemplo das suas vidas, não mereciam figurar no rol das grandes personagens históricas. Pois, mas a vida é assim mesmo: na vida há um tempo para tudo, e cada tempo, tem as suas recordações – Por exemplo, quem hoje se recorda de Manuel Roque ou da Casa Manuel Roque, não serão, com certeza, as atuais gerações mas as do seu tempo – E muitas foram: quer de santomenses, quer de portugueses, ali residentes  -  Pois, para quem não se lembre, aí está bem viva a memória, espelhada por seu filho, José Manuel Roque.

QUEM ERA MANUEL ROQUE?  - Respondo com alguns excertos   do relato  que publiquei na Revista Semana Ilustrada, de Luanda, em Outubro de 1973  - Recordando as suas origens, humildes, a sua integração e ascensão comercial e empresarial: 

Natural de Santo André,  Castelo Branco, Manuel Roque é um verdadeiro beirão, em toda a acepção da palavra, que aos 22 anos deixou a sua região e demandou caminhos de S .Tomé. Tinha então concluído o serviço militar, findo o qual se alistou para servir na Polícia de S. Tomé (1939). Trazia consigo apenas uma simples mala com a1guma roupa e uma vontade enorme de singrar na vida. Durante três anos imediatos serviu como 1º cabo  no corpo daquela Polícia, tendo passado, a maior parte do tempo, como motorista, no Palácio do Governo.

Mas no espírito de Manuel Roque havia de facto uma ânsia enorme de trabalhar, de independência e de construir ele próprio o seu futuro, no qual sempre confiou e depositou as melhores esperanças, não obstante as dificuldades e os sacrifícios a que teve de se submeter. Assim, e ainda durante esse primeiro período  da sua vida, conseguiu fazer parte de uma organização de transportes marítimos. A Sociedade Sagres· Ld  -  Constituída pelos já falecidos João Mota e Eduardo Castela que havia de fundar a actual firma Eduardo Çastela Ld. Anos depois, desligou-se dessa sociedade e foi motorista de praça, na altura em que pouco mais havia de que cinco ou seis carros de aluguer na nossa cidade.

(reportagem de outra empresa, de Germano Castela, da qual fez parte, Manuel Roque)

Entretanto, ainda no desempenho da sua profissão, criou uma agência comercial, na qual trabalhou essencialmente representações. Sempre animado por um forte desejo de  ser alguém na vida, o. negócio começa a entusiasmá-lo. Com alguns fundos apurados na agência de  representações, e algum dinheiro anteriormente economizado, Manuel Roque lança-se  a partir de então, abertamente, na atividade comercial. Simultaneamente instala uma cervejaria e logo· a seguir uma mercearia. Depois seria a caminhada  cada vez mais arrojada e ampla, até, que, em 1954, passou a dedicar- se totalmente ao ramo do comércio. Em 1958 fundou, então a sua principal casa comercial e dois anos depois adquiriu a Casa de Gonçalves Dias. 

Manuel Roque é portanto, actualmente, um próspero comerciante  da praça santomense. Mas nem por isso deixa de ser sempre o mesmo homem: simples; modesto e trabalhador .É das pessoas que prefere mais a obra às palavras. E dos que gosta mais de fazer, de construir, de que dizer que vai fazer isto ou aquilo ou obter esta ou aquela coisa. As pessoas quando se dão conta, já ele tem mais uma casa, uma  vivenda ou fábrica construída (ele está  em vias de ter três ,como veremos a seguir). Quase não se sabe qual a sua pr6xuna ideia, a não ser alguns dos seus qualificados empregados, nos quais deposita a maior confiança , mas nunca perdendo o sentido da sua inteira independência.

Como se depreende, Manuel Roque é de facto um homem de trabalho: Útil não só a si próprio e aos seus como à  própria sociedade  onde vive. Pois a sociedade é realmente desses homens que precisa, para os quais o dinheiro não é puramente um fim mas um meio de produzir mais trabalho e, consequentemente, maior prosperidade 

UM VERDADEIRO COMPLEXO INDUSTRIAL

A firma Manuel Roque Ld., é, no campo industrial, um tanto menos conhecido. Já desde há alguns anos que dela faz parte também uma fábrica de sabão. A fábrica era pequena. E grande parte da produção era posta à venda numa das secções da casa Roque Ld. que emprestou o nome à firma e que é justamente uma das mais concorridas e mais bem recheadas da praça. Mas no decorrer deste ano, e assim, de um  momento para  o outro , a firma Manuel Roque Ld. abriu-se, decididamente,  para o campo industrial. Melhorou , com novo equipamento a fábrica de sabão, e instalou uma outra unidade fabril para extracção de óleos de copra e de coconote . Rapidamente, e quase que inacreditavelmente para alguns, com os produtos desta começaram já a galgar fronteiras e a imporem- se pelos diversos mercados nacionais estrangeiros, tal a sua alta qualidade . Ainda durante o ano em curso, uma outra fábrica surgirá. As instalações estão prontas. Aguarda- se a todo o momento o equipamento. Trata-se de uma fábrica de rações para gado, a que já nos referimos não há muito nesta revista

FÁBRICA DE EXTRACÇÃO DE ÓLEOS 

Tanto a fábrica de extracção de óleos de copra e de coconote , como a de sabão, e a de rações que irá ser montada dentro de pouco tempo, ficam situadas no mesmo sítio (Búdo- Budo).
Fazem parte, como dissemos, de um verdadeiro complexo industrial, devidamente murado. Lá dentro ficam Localizadas , em sequência, as três unidades fabris. Numa cobertura mais recente está a fábrica de· extração de óleos. Sob essa cobertura, desenhava-se à  nossa vista, como de surpresa , mal se transpõe as meias paredes que a protegem, todo  um equipamento pleno de qualidade e automatismo. 

(…) “Como complemento a esta fábrica, há ainda a considerar a secção  de carpintaria, onde se procede à aparelhagem e moldagem das respectivas caixas para acondicionamento dos sabões, Nela, igualmente tivemos oportunidade de verificar que os seus artífices são uns verdadeiros mestres

 À excepção do encarregado da fábrica de óleos' o restante pessoal que ali trabalha nas mais diversas ocupações, é toda da ilha, o que é mais um forte contributo para o preenchimento e valorização da mão-de-obra  local· . - Excertos - Por Jorge Trabulo Marques 





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