"STP constrói o primeiro navio a base de chapas de aço para ligar as duas ilhas" –Este o
título de uma notícia, dada pelo Telanón, que me agradou duplamente: por um
lado, é realmente uma boa noticia, saber que “Manuel Roque, empresário nacional, proprietário do estaleiro
com o mesmo nome, “esta quarta – feira deu início ao projecto dos seus sonhos.
Sonhos antigos” . “Apenas com seus meios sem recurso a qualquer financiamento
estrangeiro ou bancário, logrou “construir uma embarcação que possa garantir a
ligação marítima regular e segura entre as ilhas de São Tomé e Príncipe. Um
projecto que pretende resolver um problema crónico entre as duas ilhas, que
viram naufragar vários navios e vidas humanas nas águas que as une”STP constrói o primeiro navio a base de chapas de aço
Por outro lado, esta noticia fez-me
imediatamente recordar a memória de Manuel Roque, um dos mais bem sucedidos
exemplos de humanismo e de conivência social, junto das populações nativas e de
sucesso económico na atividade comercial e industrial das Ilhas.
QUEM SAI AOS SEUS NÃO
DEGENERA.
Penso que é o exemplo seguido pelo empresário
José Manuel Roque –
Tal pai, tal filho: o mesmo sorriso, a mesma expressão facial: de quem em vida, fora um extraordinário exemplo, humano e social, de engenho, determinação e humildade, tanto no arrojo empreendedor, como no modo de estar na vida.
Quando deixei, São Tomé, em Outubro de 1975, com o objetivo de atravessar o oceano numa canoa, ele ainda era rapaz – Quando ali voltei, em 20 de Outubro do ano passado, 39 anos depois, sim, de seu filho, já vagamente me recordava. Porém, bastou um encontro fortuito para facilmente o reconhecer - Mais elegante e menos forte mas era a imagem, a expressão parecidíssima de seu pai, o Sr. Manuel Roque .
Tal pai, tal filho: o mesmo sorriso, a mesma expressão facial: de quem em vida, fora um extraordinário exemplo, humano e social, de engenho, determinação e humildade, tanto no arrojo empreendedor, como no modo de estar na vida.
Quando deixei, São Tomé, em Outubro de 1975, com o objetivo de atravessar o oceano numa canoa, ele ainda era rapaz – Quando ali voltei, em 20 de Outubro do ano passado, 39 anos depois, sim, de seu filho, já vagamente me recordava. Porém, bastou um encontro fortuito para facilmente o reconhecer - Mais elegante e menos forte mas era a imagem, a expressão parecidíssima de seu pai, o Sr. Manuel Roque .
Quis um feliz acaso, que, ao passar junto de uns antigos estaleiros, situados de fronte à Baía Ana de Chaves - já ao fim da tarde e quase sobre a hora do fecho - , a minha curiosidade me levasse a dar uma espreitadela lá para dentro: pois é justamente aí que vou encontrar José Manuel Roque, que acabo por fotografar já após fechar o portão.
No breve e cordial diálogo encetado, recorda-me seu pai, os artigos que publique na revista Semana Ilustrada, acerca da sua atividade, cuja imagem e excertos do texto, aproveito para aqui citar e com muito prazer
Sim, e faço-o com muito gosto, porque, José Manuel Roque, pelo que logo me apercebi, é, realmente, um caso exemplar do filho que sabe honrar os ensinamentos e a memória de seu pai - Do português, simples, de origem humilde, que, além de ter sido um magnifico exemplo de tenacidade, de integração social, de sucesso pessoal, soube também honrar a sua língua e o nome de Portugal – Contrariamente, ao autoritarismo do modelo colonial prosseguido nas Roças.
MANUEL ROQUE – O
ROSTO DO PORTUGUÊS - SORRIDENTE E AFÁVEL - ELE NÃO
MERECIA TÃO GROTESCA HUMILHAÇÃO - Certo que, com o
passar dos anos, o tempo tudo apaga e tudo esquece – Mas há memórias que dificilmente se apagarão: pessoalmente, testemunhei o vandalismo, intervindo, acalmando ânimos e evitando o pior, junto de um grupo de jovens, que, saindo de uma calorosa manifestação, pró-independentista, movidos por um certo destempero revolucionário, invadiram as lojas situadas na então praça Mouzinho da Silveira e ruas adjacentes - Higino Curado dos Santos, Casa Beirão, Manuel Roque e Pereira Duarte - começando por insultar, empurrando e agredindo os empregados e os gerentes, lançando à rua os recheios, saqueando os géneros alimentares, e os que, não puderam
levar, nomeadamente arroz e feijão, ostensivamente espalhados pelo meio da
rua, com a alegada falsidade de que estavam envenenados – E quanta falta não
vieram a fazer! Numa altura em que havia perturbações constantes na ordem pública e começavam a escassear os bens essenciais.
Um dia, muito conturbado: pois, nessa mesma manhã, também os empregados, feitores gerais e administradores das roças, vendo os paióis esvaziados das armas, que lhe haviam sido retiradas por elementos ativistas, depois de abandonarem muitas dessas propriedades agrícolas, invadiram o Palácio do Governador, atual Palácio Presidencial, insultando o coronel Pires Veloso - Estando por ali perto, na esplanada do Palmar, como jornalista, a observar os acontecimentos, só não fiu linchado e assassinado por milagre - Mas esse é um episódio para contar noutro contexto.
Em boa verdade, muito poucos são os nomes anónimos, que, por este ou
aquele exemplo das suas vidas, não mereciam figurar no rol das grandes personagens
históricas. Pois, mas a vida é assim mesmo: na vida há um tempo para tudo, e
cada tempo, tem as suas recordações – Por exemplo, quem hoje se recorda de
Manuel Roque ou da Casa Manuel Roque, não serão, com certeza, as atuais gerações mas as do seu tempo –
E muitas foram: quer de santomenses, quer de portugueses, ali residentes -
Pois, para quem não se lembre, aí está bem viva a memória, espelhada por
seu filho, José Manuel Roque.
QUEM ERA MANUEL ROQUE? - Respondo com alguns excertos do relato que publiquei na Revista Semana Ilustrada, de Luanda, em Outubro de 1973 - Recordando as suas origens, humildes, a sua
integração e ascensão comercial e empresarial:
“Natural de Santo
André, Castelo Branco, Manuel Roque é um
verdadeiro beirão, em toda a acepção da palavra, que aos 22 anos deixou a sua
região e demandou caminhos de S .Tomé. Tinha então concluído o serviço militar,
findo o qual se alistou para servir na Polícia de S. Tomé (1939). Trazia
consigo apenas uma simples mala com a1guma roupa e uma vontade enorme de
singrar na vida. Durante três anos imediatos serviu como 1º cabo no corpo daquela Polícia, tendo passado, a
maior parte do tempo, como motorista, no Palácio do Governo.
Mas no espírito de
Manuel Roque havia de facto uma ânsia enorme de trabalhar, de independência e
de construir ele próprio o seu futuro, no qual sempre confiou e depositou as
melhores esperanças, não obstante as dificuldades e os sacrifícios a que teve
de se submeter. Assim, e ainda durante esse primeiro período da sua vida, conseguiu fazer parte de uma
organização de transportes marítimos. A Sociedade Sagres· Ld - Constituída
pelos já falecidos João Mota e Eduardo Castela que havia de fundar a actual firma
Eduardo Çastela Ld. Anos depois, desligou-se dessa sociedade e foi motorista de
praça, na altura em que pouco mais havia de que cinco ou seis carros de aluguer
na nossa cidade.
Entretanto, ainda
no desempenho da sua profissão, criou uma agência comercial, na qual trabalhou
essencialmente representações. Sempre animado por um forte desejo de ser alguém na vida, o. negócio começa a
entusiasmá-lo. Com alguns fundos apurados na agência de representações, e algum dinheiro
anteriormente economizado, Manuel Roque lança-se a partir de então, abertamente, na atividade
comercial. Simultaneamente instala uma cervejaria e logo· a seguir uma
mercearia. Depois seria a caminhada cada
vez mais arrojada e ampla, até, que, em 1954, passou a dedicar- se totalmente
ao ramo do comércio. Em 1958 fundou, então a sua principal casa comercial e
dois anos depois adquiriu a Casa de Gonçalves Dias.
Manuel Roque é
portanto, actualmente, um próspero comerciante
da praça santomense. Mas nem por isso deixa de ser sempre o mesmo homem:
simples; modesto e trabalhador .É das pessoas que prefere mais a obra às
palavras. E dos que gosta mais de fazer, de construir, de que dizer que vai
fazer isto ou aquilo ou obter esta ou aquela coisa. As pessoas quando se dão conta,
já ele tem mais uma casa, uma vivenda ou
fábrica construída (ele está em vias de
ter três ,como veremos a seguir). Quase não se sabe qual a sua pr6xuna ideia, a
não ser alguns dos seus qualificados empregados, nos quais deposita a maior
confiança , mas nunca perdendo o sentido da sua inteira independência.
Como se depreende,
Manuel Roque é de facto um homem de trabalho: Útil não só a si próprio e aos
seus como à própria sociedade onde vive. Pois a sociedade é realmente desses
homens que precisa, para os quais o dinheiro não é puramente um fim mas um meio
de produzir mais trabalho e, consequentemente, maior prosperidade
UM VERDADEIRO
COMPLEXO INDUSTRIAL
A firma Manuel
Roque Ld., é, no campo industrial, um tanto menos conhecido. Já desde há alguns
anos que dela faz parte também uma fábrica de sabão. A fábrica era pequena. E
grande parte da produção era posta à venda numa das secções da casa Roque Ld.
que emprestou o nome à firma e que é justamente uma das mais concorridas e mais
bem recheadas da praça. Mas no decorrer deste ano, e assim, de um momento para o outro , a firma Manuel Roque Ld. abriu-se,
decididamente, para o campo industrial.
Melhorou , com novo equipamento a fábrica de sabão, e instalou uma outra
unidade fabril para extracção de óleos de copra e de coconote . Rapidamente, e
quase que inacreditavelmente para alguns, com os produtos desta começaram já a
galgar fronteiras e a imporem- se pelos diversos mercados nacionais
estrangeiros, tal a sua alta qualidade . Ainda durante o ano em curso, uma
outra fábrica surgirá. As instalações estão prontas. Aguarda- se a todo o
momento o equipamento. Trata-se de uma fábrica de rações para gado, a que já nos
referimos não há muito nesta revista
FÁBRICA DE
EXTRACÇÃO DE ÓLEOS
Tanto a fábrica de
extracção de óleos de copra e de coconote , como a de sabão, e a de rações que
irá ser montada dentro de pouco tempo, ficam situadas no mesmo sítio (Búdo-
Budo).
Fazem parte, como
dissemos, de um verdadeiro complexo industrial, devidamente murado. Lá dentro
ficam Localizadas , em sequência, as três unidades fabris. Numa cobertura mais
recente está a fábrica de· extração de óleos. Sob essa cobertura, desenhava-se
à nossa vista, como de surpresa , mal se
transpõe as meias paredes que a protegem, todo um equipamento pleno de qualidade e automatismo.
(…) “Como
complemento a esta fábrica, há ainda a considerar a secção de carpintaria, onde se procede à aparelhagem
e moldagem das respectivas caixas para acondicionamento dos sabões, Nela, igualmente
tivemos oportunidade de verificar que os seus artífices são uns verdadeiros mestres
À excepção do
encarregado da fábrica de óleos' o restante pessoal que ali trabalha nas mais
diversas ocupações, é toda da ilha, o que é mais um forte contributo para o preenchimento
e valorização da mão-de-obra local· . - Excertos - Por Jorge Trabulo Marques
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