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terça-feira, 6 de outubro de 2015

Poesia de São Tomé - Aqui Onde Estou os Sonhos são Verdes – Dom Manuel dos Santos - O mais recente livro de poesia, lançado hoje em Setúbal

Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista  


Dom Manuel dos Santos, Bispo de São Tomé, habitual colaborador da Rádio Renascença, nas orações de manhã à quarta-feira, vai estar hoje em Setúbal, nesta Terça Feira, dia 6, para o lançamento oficial do seu mais recente livro de poesia - -Aqui Onde Estou os Sonhos são Verdes




Depois de ter sido apresentado, em Fátima, no passado dia 25,  a um grupo de pessoas amigas, e, no dia 4 de Outubro, pelo Frei Fernando  Ventura, no seminário dos Carvalhos, agora é a vez da editora fazer a apresentação oficial na capital do Sado: pelo Padre Sívio Couto, pároco da Moita  e pela Profª Isaura Carvalho, que se referirá aos aspetos santomenses, que caracterizam a obra poética  do Poeta e carismático Pastor  - Um português, nascido em São Joaninho, concelho de Castro Daire,  mas que, desde há vários anos, faz das ilhas de São Tomé e Príncipe, ama e abraça,  como terra sua, fazendo da sua aldeia e destes espaços, os lugares mais marcantes da sua vida


(Actualização) Imagem- Nesta Terça-feira, ao fim da tarde, em Setúbal -- Perante uma sala, completamente cheia, Dom Manuel dos Santos - Bispo de São Tomé - Lendo o poema: O Meu País é Aqui , durante a apresentação da sua mais recente obra poética, com o título: - Aqui Onde Estou Os Sonhos São Verdes, editada pela Chiado Editora, que teve lugar na Galeria Municipal do Banco de Portugal







 “Quem conheceu as roças no período colonial e voltar a olhar para elas, a diferença é gigantesca – Disse Isaura Carvalho,  ao referir-se a um dos poemas de Dom Manuel dos Santos, intitulado Roça,  frisando que, na opulência de outrora, hoje encontramos espaços abandonados, habitados por gentes que estão esquecidas quase do mundo” – “É esta realidade, que o Sr. Bispo, Dom Manuel dos Santos,  também conhece, a que também dedicou a seu tempo um poema”– Lido pelo próprio durante a cerimónia de apresentação, na Galeria Municipal do Banco de Portugal, em Setúbal, ao fim da tarde do dia, 6 de Outubro.

Com efeito, a Roça é o termo da grande propriedade de cacau do período colonial, que surge naturalmente associado às Ilhas de São Tomé e Príncipe – No Brasil, a palavra roça também é usada e serve de tema para o cinema e a literatura, mas tem outra simbologia: pode significar tanto o próprio terreno de  cultivo, pequena parcela familiar, como o ato de trabalhar na roça. – Porém, é nas Ilhas Verdes do Equador, que a sua conotação é mais forte: além de ter significado poder e riqueza de cacau e café, e más memórias de escravidão, traduzia também a expressão do grande latifúndio à semelhança da grande propriedade alentejana

Por isso mesmo, as roças  de São Tomé e Príncipe continuam a ser tema inspirador na poesia santomense – Quer no tempo colonial, como agora –  Mas, que se sabia, mesmo nos áureos  tempos da exploração do cacau e do café, não se conhecem versos que as deifiquem  -  Agora, pelos vistos, num tempo em que se encontram bastante descaracterizadas, nomeadamente a nível de edifícios e estruturas tecnológicas, na sua quase generalidades, em ruínas, esquecidas e irreconhecíveis,   também não deixam de ser pano de fundo inspirador, tanto para analistas, como para poetas e escritores -  E foi justamente o que se passou com Dom Manuel dos Santos.

No tempo Colonial, Fernando Reis, intitulou um dos seus romances de “A Roça” – Da qual foi feito até um folhetim radiofónico: trabalhava eu como empregado de mato, na Roça Rio do Oiro, atual Roça Agostinho Neto, da Sociedade Agrícola Vale Flor, quando, no refeitório e à hora de jantar,  a dita novela se ouvia numa telefonia ali colocada – Era seguida com muita atenção e a razão era simples de explicar: porque surgia associada à realidade: nem a endeusava nem a diminuía – Quem trabalhava na roça ou conhecia o seu ambiente, facilmente se identifica em múltiplos aspetos, como enredo do folhetim radiofónico –Daí o seu êxito, mesmo junto da população.  

Na Roça

Na roça o sol põe-se mais cedo
Na roça o ossobó canta mais cedo
Na roça o choro entristece mais cedo
Na roça o sono chega mais cedo

Na roça as palavras são mais cansadas
Na roça os sonhos são mais pequenos
Na roça as noites demoram a apagar-se
Na roça as mulheres dormem acordadas

Excerto – Poema de Dom Manuel dos Santos



Isaura de Carvalho saudada por Dom Manuel, após apresentação 
Foi Alda Graça Espírito Santo , a matriarca da poesia santomense, que, ao tomar conhecimento dos seus versos, o estimulou a dar a conhecer a sua poesia – Confessou-nos, Dom Manuel dos Santos, num diálogo informal, que decorreu durante o almoço oferecido na Quinta Calcaterra,  http://www.calcaterraturismo.com/ da freguesia de Marialva, concelho de Meda, no seguimento da sua visita à Pedra da Cabeleira de Nª Srª, na festa do Equinócio do Outono, nos arredores da aldeia de Chãs, de Vila Nova de Foz Côa.
“Encontrei umas folhas, com uns poemas seus, mas isso tem de ser publicado” Disse, um dia,  Alda Graça Espírito Santo, a Dom Manuel dos Santos. A grande matriarca da poesia santomense, que faleceu a 10 de Março de 2010, já não pôde assistir à publicação de nenhum dos livros do Bispo de São Tomé e Príncipe, mas foi ela que o estimulou a editá-los, que saíssem do anonimato dos seus cadernos – E também do seu computador para onde agora vai como que debitando os seus momentos de inspiração, numa espécie de diário poético: não apenas de cariz eminentemente  bíblico e espiritual mas também sobre os mais diversos temas do quotidiano e  recordações, nomeadamente de das  terras que o viram nascer. 

Tal como é dito, no prefácio do livro “Momentos de Verde e Mar”,  autor de poemas  que “evocam sentimentos íntimos do poeta e retratam a sua a subjectividade  do seu mundo interior que ora se encontra muito próxima  do real ora se afasta dele para se recolher na intimidade  das palavras” Ou, tal como é escrito, em Poemas de Fé de Vida e Fé, pelo Fr. Fernando Ventura: “Não tendo medo das palavras nem dos afectos encontrados na vida e na história, o autor dá às palavras o gesto sereno da contemplação vivida, o som profundo das sonoridades da África, o gosto do mar das ilhas e das gentes de um país à espera de si próprio e do seu futuro, um futuro que tarda em chegar, num presente que é um «ainda não» mas que permite abrir o coração do poeta ao ininteligível da esperança no leve-leve de um devir que se faz tarde.

Percorrer este livro, é ir ao encontro do mar, da paisagem que a ilha aperta mas que o mar alarga, é ouvir a voz do cacaueiro, o riso da fruta-pão, é abrir a alma ao perfume da flor do café, à segurança do embandeiro que resiste ao tempo, ao colorido do vozear das crianças, ao marulhar do oceano que abraça feliz a areia da praia só contaminada pela ignomínia indizível dos assassinos dos sonhos. 

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