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sábado, 1 de setembro de 2018

Walt Whitman – 1819 – 1892 – – Tributo ao poeta do verso livre e da verdade poética e não ficcionada – Acompanhe-me ao fundo da sua memória porque os seus versos continuam ainda como “Folhas de Erva” soltas ao vento mas que jamais vão desaparecer do pensamento de quem os ler,


Jorge Trabulo Marques - No heterónimo de Peregrino da Luz  - SE NÃO PUDERES ACOMPANHAR-ME, PENSA QUE PODERÁS TAMBÉM PARTILHAR DA MESMA DIVINDADE QUE EU BUSCO SOLITÁRIO E SILENCIOSO, SOBRE AS PEDRAS E OS VERDES OU RESSEQUIDOS MUSGOS DE ROCHOSOS ERMOS OU FABULOSOS E ENCASTELADOS PENHASCOS


Walt Whitman (1819 – 1892) é considerado, merecidamente, um dos maiores poetas dos EUA – quando não o maior poeta – bem como de toda a literatura moderna ocidental. É lembrado, com frequência, como o inventor do verso livre, como também pela natureza sexual (bi-, homo- e autossexual, dependendo da interpretação) de seus poemas, bastante escandalosa para a época (e, bem, o que não era?), ou então ainda por sua relação apaixonada com a democracia – uma palavra perigosa de se usar por conta das conotações nefastas com que as ações dos EUA do século XX  acabaram lhe tingindo, melhor compreendida aqui se lembrarmos de seu sentido etimológico significando “poder do povo” . Devemos lembrar, porém, que há muito mais em Whitman do que isso.

SE NÃO  PUDERES ACOMPANHAR-ME, PENSA QUE PODERÁS TAMBÉM PARTILHAR DA MESMA DIVINDADE QUE EU BUSCO SILENCIOSO E SOLITÁRIO  - Por antigos trilhos e caminhos,  testemunhos perenes dos meus primeiros passos, percorridos quantas vezes descalço na minha adolescência,  calcorreados sozinho em demanda das misteriosas e ermas fragas para ali me elevar sobre o musgo verde ou ressequido de fabulosos e encastelados penhascos.
Deus ouve-nos se escutarmos a sua voz - E a sua Voz é a Voz da Natureza. Aprendamos pois a escutá-la Para dela decifrarmos todos os seus maravilhosos 
 enigmas -



Walt Whitman – Canção de Mim Mesmo (trecho inicial, traduzido) .
Eu celebro o eu, num canto de mim mesmo,
E aquilo que eu presumir também presumirás,
Pois cada átomo que há em mim igualmente habita em ti.

Descanso e convido a minha alma,
Deito-me e descanso tranqüilamente, observando uma haste da relva de verão.

Minha língua, todo átomo do meu sangue formado deste solo, deste ar,
Nascido aqui de pais nascidos aqui de pais o mesmo e seus pais também o mesmo,
Eu agora com trinta e sete anos de idade, com saúde perfeita, dou início,
Com a esperança de não cessar até morrer.

Crenças e escolas quedam-se dormentes
Retraindo-se por hora na suficiência do que não, mas nunca esquecidas,
Eu me refugio pelo bem e pelo mal, eu permito que se fale em qualquer casualidade,
A natureza sem estorvo, com energia original.





"Quem quer que sejais, vinde viajar comigo!
Em viagem comigo encontrará o que não cansa nunca.
A terra não cansa nunca,
a terra é rude, quieta, a princípio incompreensível,
a Natureza é rude e a princípio incompreensível,
não percais a coragem, continuai, existem coisas divinas
bem escondidas,
eu vos juro que existem coisas divinas mais belas
do que possam as palavras dizer".

"Folhas de Erva - Walt Whitman

POR CAMINHOS INEXPLORADOS
Por caminhos inexplorados,
Pela vegetação junto às margens das lagoas,
Liberto de uma vida que se expõe a si mesma,
De todos os princípios já conhecidos, dos prazeres, benefícios, conveniências,
Com que há muito alimentava a minha alma,
Tenho agora a certeza de que os princípios ainda não conhecidos, tenho a certeza de que a minha alma,
De que a alma do homem para quem falo se enche de alegria junto dos companheiros,
Aqui, só, longe do mundo tumultuoso,
Em harmonia com as línguas aromáticas que aqui falam,
Já sem constrangimento (pois neste lugar isolado respondo como não ousaria noutro qualquer),
Diante de mim a vida intensa que não se revela, mas que contém tudo
"Folhas de Erva - Walt Whitman



Ao que foi crucificado
Meu espírito está com o teu, caro irmão,
Não te importes porque tantos, dizendo teu nome, não te compreendem;
Eu não digo teu nome, mas te compreendo (há outros também;)
Eu te especifico com graça, Ó, meu camarada, para saudar a ti e saudar àqueles que estão contigo, antes e depois – e aos que virão também,
Todos nós labutamos juntos, transmitindo o mesmo fardo e sucessão;
Nós poucos, iguais, indiferindo a terra, indiferindo o tempo;
Nós, que cingimos todo continente, toda casta – permitindo toda teologia,
Compaixonados, perceptivos, em harmonia com os homens,
Nós andamos silentes entre disputas e asserções, sem rejeitar os que disputam, nem o que é assentido;

Nós ouvimos berros e barulhos – somos tocados por divisões, ciúmes, recriminações por todo lado,
Eles se fecham peremptoriamente sobre nós, para cercar-nos, meu camarada,
No entanto andamos irrestritos, livres, por todo o mundo, em jornada por alto ou baixo, até deixarmos nossa marca indelével sobre o tempo e diversas eras,
Até saturarmos o tempo e as eras, que os homens e mulheres de raças e eras por vir, possam provar-se como nossos irmãos e amantes, como nós somos.




To Him that was Crucified
My spirit to yours, dear brother;    
Do not mind because many, sounding your name, do not understand you;    
I do not sound your name, but I understand you, (there are others also;)    
I specify you with joy, O my comrade, to salute you, and to salute those who are with you, before and since—and those to come also,
That we all labor together, transmitting the same charge and succession;
We few, equals, indifferent of lands, indifferent of times;
We, enclosers of all continents, all castes—allowers of all theologies,
Compassionaters, perceivers, rapport of men,
We walk silent among disputes and assertions, but reject not the disputers, nor any thing that is asserted;

 
We hear the bawling and din—we are reach’d at by divisions, jealousies, recriminations on every side,
They close peremptorily upon us, to surround us, my comrade,
Yet we walk unheld, free, the whole earth over, journeying up and down, till we make our ineffaceable mark upon time and the diverse eras,
Till we saturate time and eras, that the men and women of races, ages to come, may prove brethren and lovers, as we are.

(Traduções de Adriano Scandolara)


WALT (Walter) WHITMAN nasceu em West Hills, Huntington (Long Island – EUA), em 31 de Maio de 1819, e foi educado sob a influência dos quakers (defensores do pacifismo e simplicidade), comunidade de que sua mãe, Louisa Van Velsor, de origem holandesa, fazia parte. Após estudos elementares, deixou a escola aos 10 anos de idade, começando a trabalhar, a princípio como menino de recados e depois como aprendiz de tipógrafo. Até os 22 anos permaneceu junto à família, ora ensinando, ora publicando folhetos e seus primeiros versos e histórias. Foi redator de vários jornais e ajudava o pai e o irmão na construção de casas, dedicando as horas vagas à confecção do livro que viria a ser sua obra máxima: Leaves of Grass (Folhas de Relva)


Em 1855 morre o pai de Walter Whitman. É o ano da primeira edição (anônima) de Leaves of Grass – Folhas de Relva. O volume, de 100 páginas, não trazia nem o nome do editor, nem o do autor. Apenas um retrato do poeta em mangas de camisa. Leave of Grass foi mal recebido pela crítica e pelo público dos Estados Unidos, o mesmo sucedendo às várias edições que, sempre acrescidas de novos poemas, depois disso se publicaram.


Durante Guerra Civil (1860-1860), serviu como enfermeiro e, em meio ao conflito continuou a adicionar poemas para novas edições do seu trabalho e escrever textos com conteúdo político. Enfraquecido pelas experiências da guerra, foi atacado por uma paralisia que o incapacitou para os restantes 20 anos de sua vida. Foi nesta fase, porém, que sua fama se irradiou pelo estrangeiro.


Em 1871 ocorre a emancipação dos negros e é também o ano da Emenda XIV à Constituição (que lhes dá o direito de votar). Neste mesmo ano realiza-se a Exposição Internacional de Nova Iorque, onde Whitman declama alguns poemas inéditos, e o da 5.ª edição de Leaves of Grass, de que são feitas duas tiragens com poucos meses de intervalo. A coletânea reúne agora um total de 273 poemas. Também em 1871 publica, Democratic Vistas. O estilo é seco e descritivo. A obra questiona a corrupção social e política daqueles tempos. Em 1872 vai a Hanover, no New Hampshire, a convite do Dartmouth College, uma universidade de tradições liberais.


Em 1873, duas tragédias abalam sua vida. Em 23 de janeiro, fica paralisado do lado esquerdo do corpo. Em abril daquele ano conseguiu recuperar parte da antiga agilidade. Todavia, em 23 de maio, ocorre a segunda tragédia: Louisa Van Velsor, sua mãe, morre. Walt Whitman foi seriamente atingido pelo impacto da morte da mãe. A saúde Walt Whitman piora constantemente.


Sofrendo de depressão e fisicamente debilitado, recebe a notícia, em julho de 1874, da sua demissão do Ministério da Justiça.

Em 1876, publica a 6.ª edição de Leaves of Grass em dois volumes: o 1.º reproduz a edição anterior e no 2.º aparecem os ensaios e vinte poemas inéditos. A sétima edição de Leaves of Grass saiu em 1880 e a oitava edição foi publicada em 1889.

Em 1888 sofre o mais grave ataque de paralisia. Nesse ano, financiado por Horace Traubel, vê publicados dois novos volumes: November Boughs, que reúne 62 poemas inéditos, e Complete Poems and Prose of Walt Whitman.


Nos últimos anos de vida, porém, foi feita justiça à obra-prima de Whitman.

Morreu em 26 de março 1892.


Walt Whitman foi um dos maiores expoentes da poesia norte-americana no século XIX e é reconhecido como inventor do verso livre. Sua obra inaugurava a literatura nacional dos Estados Unidos e influenciaria toda a principal corrente poética do país no século XX, influenciando por exemplo, poetas como William Carlos Williams, Carls Sandburg, Ezra Pound, Allen Ginsberg, dentre outros.






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