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sábado, 20 de agosto de 2022

EXPOSIÇÃO EM SANTA COMBA – DE FOZ CÔA –Sobreviver no Mar dos Tornados e tubarões 38 dias à deriva numa piroga - Fotográfica e documental - EM HOMENAGEM AOS EMIGRANTES


 Jorge Trabulo Marques - Jornalista

EXPOSIÇÃO EM SANTA COMBA – DE FOZ CÔA –Sobreviver no Mar dos Tornados e tubarões 38 dias à deriva numa piroga – De 19 a 23 de Agosto – Em Homenagem aos emigrantes e imigrantes -
Patente até Terça-feira, no salão da Junta de Freguesia, antiga escola primária, graças ao amável gesto de acolhimento da sua presidente, Paula Abreu, que, juntamente com a Presidente da Assembleia Adelaide Vicente e outros membros da autarquia, José Ramos, mais conhecido por Zé da Torrinha e da Sandra Sousa, igualmente me têm prestado a sua generosa colaboração
Trata-se de uma exposição que já foi apresentada no Padrão dos Descobrimentos em Março de 1999, e posteriormente no salão da junta de freguesia de Foz Côa e num dos espaços do Município da Guarda, bem como numa escola secundária na Amadora – Posteriormente, em 2015, foi exposta no Centro Cultural Português, em S. Tomé, expressando um dos exemplos: de que se vence quando não se perde a fé e a força de vontade ou se luta por um propósito nobre e não se cruzam os braços

É composta por uma série de fotografias e outros documentos das minhas aventuras em pirogas de São Tomé, iguais às dos pescadores nativos, escavadas em troncos de árvores, de experiências marítimas solitárias vividas no vasto Golfo da Guiné

Iniciativa esta que me ocorreu espontaneamente, sem prévio agendamento, com o intuito de poder mostrá-la, especialmente aos emigrantes, que neste mês regressam ao seu torrão natal para matar saudades e retemperar forças para o resto do ano - Sim, porque , também eu fui um dos habitantes destas terras que cedo deixou o lar onde nasceu – Aos 12 anos como marçano em Lisboa, e, desde os 18 anos aos 30 em S. Tomé e parte do serviço militar em Angola. Tal como tantos outros que hoje guardam episódios de vida, recordações de dias difíceis, ousando ousaram enfrentar sacrifícios e as mais inesperadas adversidades

Os objetivos dessas minhas travessias foram vários: antes de mais, o fascínio que o mar exerceu em mim, desde o primeiro dia que desembarquei, do velho Uíje, ao largo da baía azulinha da linda cidade de São Tomé; o desejo de me encontrar a sós com a solidão e a vastidão do oceano e, de perante esse cenário, de me poder interrogar, ainda mais de perto, sobre a presença e os mistérios de Deus. Mas também por outras razões de carácter histórico-científico e humanitário. Tais como: evocar a rota da escravatura, ao longo da grande corrente equatorial, lembrar esses ignominiosos tempos do comércio de escravos e chamar atenção para esse grave problema que, sob as mais diversas formas, continua afetar a existência muitos seres humanos, na atualidade.

Demonstrar a possibilidade de antigos povos africanos terem povoado as ilhas, situadas naquele imenso Golfo, muito antes dos nossos navegadores, ali terem chegado, contrariamente ao que defendem as teses coloniais, que dizem que as ilhas estavam completamente desabitadas - E a verdade é que, entretanto, já foram encontradas antigas cartas em arquivos, do tempo dos árabes que provam, justamente, esses contactos com povos que, de há muito, ali viviam.

Contribuir para a moralização de futuros náufragos, à semelhança de Alan Bombard. Segundo este investigador e navegador solitário francês, a maioria das vítimas morre por inação, por perda de confiança e desespero, do que propriamente por falta de recursos, que o próprio mar pode oferecer. Era justamente o que eu também pretendia demonstrar - Navegando num meio tão primitivo e precário, levando apenas alimentos para uma parte do percurso e servindo-me, unicamente, de uma simples bússola, sem qualquer meio de comunicar com o exterior, tinha, pois, como intenção, colocar-me nas mesmas condições que muitos milhares de seres humanos que, todos os anos, ficam completamente desprotegidos e entregues a si próprios - Porém, quis o destino que fosse mesmo esta a situação que acabasse por viver. E, felizmente, também quis a minha boa estrelinha e, creio, com ajuda de Deus, que pudesse resistir a tantos dias de angústia, de sobressaltos e de incerteza.

Já se passaram vários anos, porém, essa minha experiência ainda está muito presente na minha memória – E duvido que algum náufrago, alguma vez possa esquecer os seus longos momentos de abandono e de infortúnio -

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