Foi em 1971, por ocasião de um festival aéreo organizado pelo Aeroclube, destinado a assinalar a entrega dos diplomas aos alunos do 2º curso de pilotos. Sim, que decorrera no então aeródromo de São Tomé e Príncipe, por essa altura, já tornado mundialmente famoso, devido à ponte aérea São Tomé-Biafra .
A avioneta afocinhou a uma vintena de metros à minha
frente. A pessoa que se vê no primeiro plano da imagem à direita, sou eu a correr
para junto da Tiger, mal acabava de afocinhar. Um pouco mais à minha frente, correm dois funcionários do aeródromo, com os extintores, prontos para apagarem os primeiros sinais de fumo, que logo começaram a notar-se.
Encontrava-me no local a fazer a cobertura para uma reportagem da revista de Luanda, Semana Ilustrada, de que era seu delegado em São Tomé. Ainda hoje me interrogo, como foi possível, a frágil aeronave, ao embater com um tal estrondo, com a hélice e o motor sobre o duro asfalto da pista, não ter sucedido a quase inevitável explosão. Houve muita sorte. Além do tripulante, teria havido ali uma tragédia, já que os estilhaços, teriam certamente atingido as pessoas que se encontravam junto à pista, eu teria sido uma delas – Felizmente, tudo não passou de um grande susto – O bastante, no entanto, para a última parte do festival, a mais aguardada, ter sido abruptamente ensombrada e interrompida, não tendo permitido que fosse o corolário de um extraordinário espectáculo aéreo, tal como até àquele momento, estava a decorrer.
Encontrava-me no local a fazer a cobertura para uma reportagem da revista de Luanda, Semana Ilustrada, de que era seu delegado em São Tomé. Ainda hoje me interrogo, como foi possível, a frágil aeronave, ao embater com um tal estrondo, com a hélice e o motor sobre o duro asfalto da pista, não ter sucedido a quase inevitável explosão. Houve muita sorte. Além do tripulante, teria havido ali uma tragédia, já que os estilhaços, teriam certamente atingido as pessoas que se encontravam junto à pista, eu teria sido uma delas – Felizmente, tudo não passou de um grande susto – O bastante, no entanto, para a última parte do festival, a mais aguardada, ter sido abruptamente ensombrada e interrompida, não tendo permitido que fosse o corolário de um extraordinário espectáculo aéreo, tal como até àquele momento, estava a decorrer.
Findo
o rali-aéreo, que tivera a participação dos novos pilotos, seguiram-se os momentos mais aguardados do festival, com as várias acrobacias dos pilotos veteranos: Alfredo Trindade, pilotando um Austim, o chefe da pequena esquadrilha;
Comandante Gromicho, a asa direita, num Tiger e o Comandante Damião a asa
esquerda, numa Piper Cub
E,
na verdade, mal os pequenos aparelhos se ergueram no espaço em
voo rasante sobre o traço rectilíneo da pista, logo deixaram antever que o
público ia assistir às mais inconcebíveis demonstrações de voo e de perícia. E,
de facto, assim sucedeu, nos voos em
grupo, com os três experimentados e hábeis pilotos. Só que, quando chegou a
altura dos voos isolados, de cada piloto demonstrar, individualmente, as suas
habilidades, aconteceu o inesperado: o Tiger tripulado pelo Comandante Gromicho,
que iniciava a fase apoteótica do festival, ao
fazer um voo de alto risco, picado e rasante,
afocinhou com a frágil avioneta, embatendo impetuosamente com a fuselagem no solo, deixando-a
totalmente amolgada e danificada, fumegante, em começo de incêndio, cujo alastramento foi impedido pela pronta intervenção dos extintores.
Houve
algum pânico. E houve quem desatasse a escapar-se do local, mas também houve
(os responsáveis pela segurança, pilotos, repórteres e outras entidades), sim, que
acorreram imediatamente em direcção à
avioneta acidentada. Confesso que ainda hoje me interrogo, como, naquela tarde
de um belo domingo equatorial, o Comandante
Gromicho (um dos pilotos que fazia regularmente as ligações, entre as Ilhas de
São Tomé e Príncipe), logrou sair com vida do pequeno Tiger – Mas a explicação, em
boa parte, ficou a dever-se à sua notável destreza e larga experiência, fechando acto contínuo a bomba de
gasolina, e, num ápice, abrindo a porta e desembaraçando-se da modesta máquina voadora que tripulava, sofrendo
apenas umas ligeiras escoriações.
Declarações (excertos)
Comandante
Damião, instrutor
“É pena que não
haja mais incentivo, mais vontade de ajudar, porque o aeroclube é um aeroclube
pobre. E faz o máximo que pode e tem aqui instrutores bons, verdadeiramente
amigos do aeroclube – No tocante ao curso, não posso ter ficado mais satisfeito
do que estou. Foram realmente extraordinários"
Capitão Teixeira
da Silva – presidente interino da Comissão Administrativa do aeroclube e
director técnico do curso de pilotos de 1971 salientou as provas do Viriato
Moura e do jovem Vale – "O acidente que depois se passou no rali, são casos de
quem tem o brevet."
IMAGENS: avião da famosa ponte aérea com o Biafra, levantando voo da pista do aeródromo civil de São Tomé, a outra é a de um artigo, igualmente de minha autoria, chamando atenção para o péssimo estado da aerogare - No primeiro plano, ao fundo do texto, o avião que fazia semanalmente a ligação com Angola, uns metros à frente do velho hangar onde estavam estacionados dois caças do Biafra, sem as asas - Lá mais ao fundo, podem ver-se, também, os velhos constellations da ponte humanitária. A última imagem é a da Baía Ana de Chaves, com as suas canoas, numa passagem de ano. Foi desta Baía, que eu partira à meia-noite, numa frágil piroga, igual às que ali se vêem na fotografia, disfarçado de pescador, para efectuar a travessia até à Ilha do Príncipe, tendo depois sido preso pela PIDE.
- Este apontamento, ocorreu-me, aqui transcrever na sequência de uma amável mensagem que recebi de António Amorim, cujo gesto muito sensibilizou e muito lhe agradeço; lembro-me do seu nome, mas já não consigo associar a sua imagem ao nome.
Olá Jorge
Certamente já nem se lembra de mim. Eu fui testemunha desses momentos da
guerra do Biafra pois nessa altura eu trabalhava nas comunicações aeronáuticas do aeroporto de S. Tomé. Foram dos momentos mais desgastantes
e também os que mais me chocaram cada vez que os aviões chegavam carregados com
as chamadas "crianças do Biafra". Você deu um grande contributo
para a memória desta guerra na qual S. Tomé teve um papel muito importante com
as crianças que acolheu. Bom trabalho, parabéns.
Mais tarde encontrámo-nos na ilha do Príncipe, (24 DEZ
1974) chefiava eu o aeroporto, aquando da queda do avião
Piper28 pilotado pelo comandante Teixeira da Silva. Tenho um registo
fotográfico desse momento
Caro Amorim:
Lembro-me do seu nome mas não consigo associá-lo. Só com a fotografia ou falando pessoalmente consigo.
De facto, a guerra do Biafra foi uma tragédia para alguns milhões de seres humanos, mulheres, homens e crianças - A ponte-aérea de São Tomé para aquele território rebelde da Nigéria, foi muito importante, todavia incipiente para tamanho desastre humanitário. Mas o que conta, são as boas intenções e os voo heróicos. Se bem que, por detrás de muitas intenções, houvesse a corrida aos dólares e ao ouro negro. E quem sofre são sempre os que menos culpa têm, as crianças, as mulheres e os idosos, os mais vulneráveis. E foi isso que ali ambos pudemos testemunhar, com as crianças famélicas, que ali chegavam para serem carinhosamente assistidas.
de Jorge Trabulo Marques
Caro Amorim:
Lembro-me do seu nome mas não consigo associá-lo. Só com a fotografia ou falando pessoalmente consigo.
Muito
obrigado, pois, pela sua lembrança e pelas palavras tão amáveis. Vou tomar a
liberdade de publicar a sua mensagem no meu site. Se estiver por Lisboa, ou
passar por esta cidade, não deixe de me contactar. Creia que dar-me-ia muito
prazer recordar aqueles meus tempos, e seus, ali vividos, nas
maravilhosas Ilhas de São Tomé e Príncipe. Caso disponha de algumas imagens,
teria muito gosto em editá-las no meu site
De facto, a guerra do Biafra foi uma tragédia para alguns milhões de seres humanos, mulheres, homens e crianças - A ponte-aérea de São Tomé para aquele território rebelde da Nigéria, foi muito importante, todavia incipiente para tamanho desastre humanitário. Mas o que conta, são as boas intenções e os voo heróicos. Se bem que, por detrás de muitas intenções, houvesse a corrida aos dólares e ao ouro negro. E quem sofre são sempre os que menos culpa têm, as crianças, as mulheres e os idosos, os mais vulneráveis. E foi isso que ali ambos pudemos testemunhar, com as crianças famélicas, que ali chegavam para serem carinhosamente assistidas.
Um grande abraço amigo
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