São Tomé e Príncipe, comemora hoje o seu Dia Nacional
Sob os céus distantes do Equador,
amanhece e desponta um novo dia!
Irrompe e acorda a resplandecente aurora, desprendem-se do ar
sons dedilhados de luz, erguem-se à superfície das águas
brumas transparentes, evoluem halos leves de claridade,
cintilam e vibram os vultos verdejantes e iluminados
de duas ilhas encantadas: São Tomé e Príncipe!
Ó ilhas formosas! Édens longínquos da minha memória!
Radiosa respiração dos astros!
Ressonância inacessível da minha saudade!
- Agora, que tão longe estais dos meus olhos, quanto peso vai no meu coração,
quanta recordação, quanto me lembrais!
Ó melodiosa harmonia celestial! - Meu paraíso perdido!
Voz oculta do meu próprio destino!
Eco silencioso do meu pensamento nostálgico!
Via errante dos meus passos! - Onde poderei agora encontrar
o perfume inigualável das vossas florestas,
o elixir com que alimentava a minha alma e os meus sentidos?!...
- Oh! aqueles aromas inebriantes que exalam
do fundo húmido dos vossos fecundos solos,
tornam ainda mais fresca e pujante a natureza!
Irrompem na sinfonia cromática do aveludado verde da folhagem,
reflectem-se através dos raios de luz que penetram
as próprias gotículas do orvalho, atravessam
os frondosos arvoredos, dissolvem-se
em misteriosos vapores e nevoeiros
até à alucinação, à clara saturação
que pousa sobre as montanhas.
Oh, sim, as fragrâncias e os perfumes
que saturam a atmosfera da brenha densa vegetal
respiram-se por todo o lado, até na crista dos mais eriçados picos,
invadem a orla das douradas ou negras praias,
circulam por entre as cubatas das aldeias
- e até nas ruas e jardins da cidade, quando as acácias florescem -
Espalham-se sobre as copas de todas as árvores,
infiltram-se até às raízes, cheiros plenos de substâncias aromáticas
sobem do fundo da vegetação rasteira e arbustiva,
impregnam a margem das estradas e dos caminhos.
São arrastados pelos ventos, lá dos pontos mais altos,
perseguem o leito dos rios e das ribeiras
até se dissolverem no sal-gema
das maresias e brisas marítimas
ou do sopro violento dos tornados.
Oh! o meu passado que não volta
mas ressurge intacto na minha memória.
Aqueles dias de permanente descoberta nas Roças Uba-Budo,
Ribeira Peixe e Rio do Ouro - Eu pouco menos era de que outro escravo,
todavia, a beleza do mato?!.. - Uma maravilha inigualável!...
Eu tinha 18 anos e partira da minha aldeia
para ali fazer um estágio como Agente Rural,
que frequentei na Escola Agrícola de Santo Tirso;
tudo para mim era novo e me fascinava!...
Não havia uma encosta ou uma grota que fosse igual à outra!
Os cacauzais repletos de frutos de todas as cores, desde o tronco às pernadas
e aquelas árvores exóticas enormes, que lhes serviam de sombra,
que eu não descansei enquanto não lhe conheci
todos os seus nomes - Depois havia ainda as matabalas
e outras herbáceas com as folhas pintalgadas e até ananases bravios
que nasciam por entre o capim verde. De volta e meia dava duas machinadas
num cacho de bananeira e metia-o numa velha cova aberta de cacaueiro,
dois dias depois, todas as bananas estavam maduras e amarelinhas, que consolo!
- Reacendiam de aromas e de cheiro!
Postal Colonial
Os serviçais, ao terminarem as empreitadas das capinas,
da apanha ou quebra do cacau ou da sulfatagem, eram obrigados
apanhar umas quantas ratazanas que tinham de apresentar antes de largarem
- a maior praga do cacau - , mas, alguns, à falta de proteínas,
até as levavam para casa, como se fossem pequenos coelhos
- E só depois, os infelizes, eram autorizados a voltar à senzala
- Mas, o empregado de mato (sempre de machim na mão), lá ficava
a vaguear por aqueles frondosos caminhos das plantações
até quase ao pôr-do-sol. Só depois regressava
ao terreiro e ao chalé. Mata-bichava e almoçava da marmita
que o muleque lhe tinha ido levar, confecionado
pela samú negra - A minha tinha o dobro da minha idade!
Na roça ninguém podia ficar sem "muala."
E depois (numa breve pausa) lá ia saborear a banana com peixe,
regada com azeite de palma ou um arrozito,
com a marmita entre as pernas, sentado
num tronco tombado e apodrecido ou numa pedra
e com nuvens de mosquitos a quererem devorar-me.
A ementa pouco ou nada variava e o melhor era a fruta.
Findos os trabalhos, ficava por lá o santo dia inteiro, chovesse ou fizesse sol.
Eu entretinha-me a cortar os rebentos dos cacaueiros e a contemplar cada recanto.
Às tantas divertia-me a apanhar as amarelíssimas centopeias gigantes.
Agarrava-as pela cabeça, cortava-lhe os dois ferrões e depois deixava-as
passear pela camisa, até cairem ao chão. Incomodava-me era o cheiro pestilento.
Com as cobras rateiras (muito grossas e igualmente mal cheirosas),
também cedo aprendi a enrolá-las no pulso - E, mais tarde,
até enxames (barbas) de abelhas africanas,
cheguei a fazer pousar no queixo
-
Mas, às cobras pretas e às tarântulas, eu nunca lhes tocava,
sempre tive algum cuidado e respeito pelo seu veneno - Seguia
os seus movimentos, como o pássaro encantado
e nunca lhe virava as costas, sem me certificar para onde se dirigiam.
Que havia eu de fazer - o resto do dia - sozinho no mato?!..
Eu era um cafuso (este o nome que era dado na cidade aos empregados de mato);
mais instruído de que os analfabetos (mais deles mal sabiam escrever o nome),
mas às tantas - como na roça o que contava era a grossaria e não as habilitações -
quase ia ficando, tão analfabeto como eles: à noite queria escrever uma carta
e, tão confuso me sentia, que não sabia como.
Estive vários meses sem mandar umas linhas aos meus pais.
O que me distinguia deles era a forma de lidar com os serviçais.
Nunca tratei um trabalhador por tu ou o castiguei. Mas sofri por isso.
Oh! tantas! tantas recordações! Algumas das quais
bem dolorosas, é certo, mas a maravilhosa paisagem
está ainda muito nítida na retina dos meus olhos
ofusca todas as outras imagens, deslumbra-me
e é a única tela que eu agora revejo.
Mesmo, quando o tornado - vindo do mar - assolava
a encosta e era preciso abrigar-me junto ao tronco de uma jaqueira
- a árvore de raízes fundas e resistente a todas as intempéries -
para não levar com uma pernada nas costas ou um pau seco na cabeça.
Ainda conheci vários empregados aleijados - Os trabalhadores.
esses, coitados, cabo-verdianos, moçambicanos, tongas ou forros,
abrigavam-se como podiam, porém, como as árvores resistentes,
não davam para todos, já era a habitual algum partir as costas,
e servir de carne para canhão - Até o peixe seco, já deteriorado
fedorento e o feijão bichoso, vindos de Moçâmedes (guardado em armazéns húmidos),
lhes devia saber mais a bichos, a bolores azedos e a ranço que outra coisa.
Oh, mas de que infâmia eu havia de me lembrar!
- Agora não quero trazer ao presente
esse comportamento esclavagista ou as chibatadas que eram dadas
pelo capataz aos mais renitentes,
que muito me decepcionou e me entristicia-
Bem me bastou ver a miséria no local e os castigos que me foram aplicados
(enviado pelo Administrador-geral a contar cacaueiros abandonados
numa dependência da Roça Ribeira Peixe, ao Sul, infestada de cobras venenosas)
por me haver recusado a tratar os trabalhadores por tu e ao velho e infame estilo colonial:
prefiro agora dar largas a outras belas memórias.
Ó prodigiosa graça iluminada!
Alucinante prodígio Equatorial!
Vinde preencher a minha alma das alegrias (e até das tristezas)
que me roubou a vossa longa ausência!
Vinde colmatar o vazio que me criaste
por nunca mais vos ter visto.
Irrompe e acorda a resplandecente aurora, desprendem-se do ar
sons dedilhados de luz, erguem-se à superfície das águas
brumas transparentes, evoluem halos leves de claridade,
cintilam e vibram os vultos verdejantes e iluminados
de duas ilhas encantadas: São Tomé e Príncipe!
Ó ilhas formosas! Édens longínquos da minha memória!
Radiosa respiração dos astros!
Ressonância inacessível da minha saudade!
- Agora, que tão longe estais dos meus olhos, quanto peso vai no meu coração,
quanta recordação, quanto me lembrais!
Ó melodiosa harmonia celestial! - Meu paraíso perdido!
Voz oculta do meu próprio destino!
Eco silencioso do meu pensamento nostálgico!
Via errante dos meus passos! - Onde poderei agora encontrar
o perfume inigualável das vossas florestas,
o elixir com que alimentava a minha alma e os meus sentidos?!...
- Oh! aqueles aromas inebriantes que exalam
do fundo húmido dos vossos fecundos solos,
tornam ainda mais fresca e pujante a natureza!
Irrompem na sinfonia cromática do aveludado verde da folhagem,
reflectem-se através dos raios de luz que penetram
as próprias gotículas do orvalho, atravessam
os frondosos arvoredos, dissolvem-se
em misteriosos vapores e nevoeiros
até à alucinação, à clara saturação
que pousa sobre as montanhas.
Oh, sim, as fragrâncias e os perfumes
que saturam a atmosfera da brenha densa vegetal
respiram-se por todo o lado, até na crista dos mais eriçados picos,
invadem a orla das douradas ou negras praias,
circulam por entre as cubatas das aldeias
- e até nas ruas e jardins da cidade, quando as acácias florescem -
Espalham-se sobre as copas de todas as árvores,
infiltram-se até às raízes, cheiros plenos de substâncias aromáticas
sobem do fundo da vegetação rasteira e arbustiva,
impregnam a margem das estradas e dos caminhos.
São arrastados pelos ventos, lá dos pontos mais altos,
perseguem o leito dos rios e das ribeiras
até se dissolverem no sal-gema
das maresias e brisas marítimas
ou do sopro violento dos tornados.
Oh! o meu passado que não volta
mas ressurge intacto na minha memória.
Aqueles dias de permanente descoberta nas Roças Uba-Budo,
Ribeira Peixe e Rio do Ouro - Eu pouco menos era de que outro escravo,
todavia, a beleza do mato?!.. - Uma maravilha inigualável!...
Eu tinha 18 anos e partira da minha aldeia
para ali fazer um estágio como Agente Rural,
que frequentei na Escola Agrícola de Santo Tirso;
tudo para mim era novo e me fascinava!...
Não havia uma encosta ou uma grota que fosse igual à outra!
Os cacauzais repletos de frutos de todas as cores, desde o tronco às pernadas
e aquelas árvores exóticas enormes, que lhes serviam de sombra,
que eu não descansei enquanto não lhe conheci
todos os seus nomes - Depois havia ainda as matabalas
e outras herbáceas com as folhas pintalgadas e até ananases bravios
que nasciam por entre o capim verde. De volta e meia dava duas machinadas
num cacho de bananeira e metia-o numa velha cova aberta de cacaueiro,
dois dias depois, todas as bananas estavam maduras e amarelinhas, que consolo!
- Reacendiam de aromas e de cheiro!
Postal Colonial
Os serviçais, ao terminarem as empreitadas das capinas,
da apanha ou quebra do cacau ou da sulfatagem, eram obrigados
apanhar umas quantas ratazanas que tinham de apresentar antes de largarem
- a maior praga do cacau - , mas, alguns, à falta de proteínas,
até as levavam para casa, como se fossem pequenos coelhos
- E só depois, os infelizes, eram autorizados a voltar à senzala
- Mas, o empregado de mato (sempre de machim na mão), lá ficava
a vaguear por aqueles frondosos caminhos das plantações
até quase ao pôr-do-sol. Só depois regressava
ao terreiro e ao chalé. Mata-bichava e almoçava da marmita
que o muleque lhe tinha ido levar, confecionado
pela samú negra - A minha tinha o dobro da minha idade!
Na roça ninguém podia ficar sem "muala."
E depois (numa breve pausa) lá ia saborear a banana com peixe,
regada com azeite de palma ou um arrozito,
com a marmita entre as pernas, sentado
num tronco tombado e apodrecido ou numa pedra
e com nuvens de mosquitos a quererem devorar-me.
A ementa pouco ou nada variava e o melhor era a fruta.
Findos os trabalhos, ficava por lá o santo dia inteiro, chovesse ou fizesse sol.
Eu entretinha-me a cortar os rebentos dos cacaueiros e a contemplar cada recanto.
Às tantas divertia-me a apanhar as amarelíssimas centopeias gigantes.
Agarrava-as pela cabeça, cortava-lhe os dois ferrões e depois deixava-as
passear pela camisa, até cairem ao chão. Incomodava-me era o cheiro pestilento.
Com as cobras rateiras (muito grossas e igualmente mal cheirosas),
também cedo aprendi a enrolá-las no pulso - E, mais tarde,
até enxames (barbas) de abelhas africanas,
cheguei a fazer pousar no queixo
-
Mas, às cobras pretas e às tarântulas, eu nunca lhes tocava,
sempre tive algum cuidado e respeito pelo seu veneno - Seguia
os seus movimentos, como o pássaro encantado
e nunca lhe virava as costas, sem me certificar para onde se dirigiam.
Que havia eu de fazer - o resto do dia - sozinho no mato?!..
Eu era um cafuso (este o nome que era dado na cidade aos empregados de mato);
mais instruído de que os analfabetos (mais deles mal sabiam escrever o nome),
mas às tantas - como na roça o que contava era a grossaria e não as habilitações -
quase ia ficando, tão analfabeto como eles: à noite queria escrever uma carta
e, tão confuso me sentia, que não sabia como.
Estive vários meses sem mandar umas linhas aos meus pais.
O que me distinguia deles era a forma de lidar com os serviçais.
Nunca tratei um trabalhador por tu ou o castiguei. Mas sofri por isso.
Oh! tantas! tantas recordações! Algumas das quais
bem dolorosas, é certo, mas a maravilhosa paisagem
está ainda muito nítida na retina dos meus olhos
ofusca todas as outras imagens, deslumbra-me
e é a única tela que eu agora revejo.
Mesmo, quando o tornado - vindo do mar - assolava
a encosta e era preciso abrigar-me junto ao tronco de uma jaqueira
- a árvore de raízes fundas e resistente a todas as intempéries -
para não levar com uma pernada nas costas ou um pau seco na cabeça.
Ainda conheci vários empregados aleijados - Os trabalhadores.
esses, coitados, cabo-verdianos, moçambicanos, tongas ou forros,
abrigavam-se como podiam, porém, como as árvores resistentes,
não davam para todos, já era a habitual algum partir as costas,
e servir de carne para canhão - Até o peixe seco, já deteriorado
fedorento e o feijão bichoso, vindos de Moçâmedes (guardado em armazéns húmidos),
lhes devia saber mais a bichos, a bolores azedos e a ranço que outra coisa.
Oh, mas de que infâmia eu havia de me lembrar!
- Agora não quero trazer ao presente
esse comportamento esclavagista ou as chibatadas que eram dadas
pelo capataz aos mais renitentes,
que muito me decepcionou e me entristicia-
Bem me bastou ver a miséria no local e os castigos que me foram aplicados
(enviado pelo Administrador-geral a contar cacaueiros abandonados
numa dependência da Roça Ribeira Peixe, ao Sul, infestada de cobras venenosas)
por me haver recusado a tratar os trabalhadores por tu e ao velho e infame estilo colonial:
prefiro agora dar largas a outras belas memórias.
Ó prodigiosa graça iluminada!
Alucinante prodígio Equatorial!
Vinde preencher a minha alma das alegrias (e até das tristezas)
que me roubou a vossa longa ausência!
Vinde colmatar o vazio que me criaste
por nunca mais vos ter visto.
Oh, sim! onde irei eu agora apanhar as tão belas rosas de porcelana,
as orquídeas, as begónias que colhia nos vossos frondosos hortos?!
E aqueles ramos das tão delicadas flores, brancas e roxas do macá
e do pau lírio?!...- Oh, tantas flores selvagens de cores lindíssimas!
Tantas flores exóticas e bonitas, tão variadas! - Que florescem e rescendem
debaixo do quente e húmido manto arbóreo,
no qual se entrelaçam as lianas, o lemba-lemba,
vegeta a corda-pimenta, a corda de água,
desprendem-se e soltam-se os mais surpreendentes bálssamos
na diversidade da profusa e maravilhosa cobertura vegetal!
(Praia das Sete Ondas Postal Colonial)
Ó divino e formoso sortilégio! - Minha linda Ilha de São Tomé!
- Imagem ardente dos anos da minha juventude mais ousados!
as orquídeas, as begónias que colhia nos vossos frondosos hortos?!
E aqueles ramos das tão delicadas flores, brancas e roxas do macá
e do pau lírio?!...- Oh, tantas flores selvagens de cores lindíssimas!
Tantas flores exóticas e bonitas, tão variadas! - Que florescem e rescendem
debaixo do quente e húmido manto arbóreo,
no qual se entrelaçam as lianas, o lemba-lemba,
vegeta a corda-pimenta, a corda de água,
desprendem-se e soltam-se os mais surpreendentes bálssamos
na diversidade da profusa e maravilhosa cobertura vegetal!
(Praia das Sete Ondas Postal Colonial)
Ó divino e formoso sortilégio! - Minha linda Ilha de São Tomé!
- Imagem ardente dos anos da minha juventude mais ousados!
Dada a impossibilidade de poder vislumbrar-vos,
pelo menos por agora - será que terei eu de conformar-me,
dando-vos por definitivo o meu adeus para sempre!
Oh, não! não posso acreditar em tal fatalidade! - Ó plenitude perdida dos meus olhos!
Imagino-vos bem longe de mim mas tenho-vos sempre no pensamento!...
Não estais esquecida!... Por ora, eu não posso ir junto de vós,
mas vinde então vós ao encontro do meu coração!
Vinde numa manhã qualquer e trazei-me
a esperança de um espasmo alegre de frescura,
a junção da terra às palpitações do meu peito!
Mesmo que seja a névoa saturada, o nevoeiro
que pousa no cimo dos florestados montes ou apenas um único raio de luz do firmamento azul
que vos serve de arco - Vinde ter comigo, abençoada dádiva! - Generoso Éden terrestre!
Trazei-me as múltiplas sensações, que os anos e a distância
já me roubaram, os agradáveis momentos de adoração dos verdes coloridos,
frescos e intensos das copadas árvores que formam os densos e misteriosos obós,
amálgamas de sinfonias de sons e de cores, povoadas por nervosas cascatas
e correntes de águas, impregnadas de substâncias aromáticas inesgotáveis,
frémitos do abandono, de silêncio e deslumbramento!
Oh , às os que procuram ir ao encontro
de novas sensações e novidades no devir!
Por mim, já me sentiria feliz se ao menos voltasse
a viver um pouco das emoções que vivi em São Tomé e Príncipe!
Sim, naqueles meus 12 anos, a vida não me foi fácil: desembarquei
com dois tostões na algibeira
e regressei à minha aldeia com os bolsos completamente vazios.
Mas que importância tem isso?! - Se eu também não parti à procura da riqueza!
Que importam as afrontas (não do amável e pacífico povo) quando me pus ao lado
da sua independência!
Que importam os riscos, os muitos sustos que os tornados me pregaram,
os longos dias e noites de incertezas, longas vigílias e angústias
vividas nas frágeis canoas de ocá dos pescadores,
quando se persegue um ideal, desinteressado e por sincero amor!
- Ó celestiais abóbadas! Ó cúpulas azuis ou brancas
que a luz satura e ofusca!- Etéreas transparências
e afectuoso diálogo que se expande
espontânea e livremente
sob o copado verdejante do bosque luxuriante! - Ao menos voltasse
eu ao solitário ao mar ou ao seio ubérrimo da maternal floresta!
Ó respiração perfumada e fértil da verde e tenra folhagem!
Que gravitas por ramos de poléns, de pétalas e silabas,
transcendendo os sentidos das pessoas, das aves e animais e alastras
por tudo quanto se eleva acima das águas do oceano azul
Floresces ao longo das margens de nervosos regatos e correntes cristalina,
competindo lado a lado com as palmas gigantes dos fetos,
vicejas à sombra do cacauzal perfumado das roças,
brotas em múltiplas formas garridas e divinas, debaixo das frondosas eritrinas,
cobres-te por debaixo das palmas dos coqueiros e palmeiras, mangas, jacas!
Postal Colonial
Refulges e mistura-te com os tufos das bananeiras,
que escondem cachos e folhas laminadas de luz nas entranhas da mata
ou em redor das enormes amoreiras bravas,
das figueiras loucas, dos mararapiões, coqueiros, coleiras e ocás!
Sim, é o ambiente de fornalha das gigantescas e ramalhudas árvores,
as cores que vibram com lampejos de fogo e se misturam e confundem
com os cheiros característicos dos izaquenteiros,
safuzeiros, fruta-pão, árvore da canela, da quina,
o suave perfume da baunilha, o aroma leve dos mamoeiros
a floração adocicada dos cafezeiros! Massa selvagem viçosa e compacta,
fresca e verdejante que só o recorte da negra costa restringe e aplaca.
Ergue-se do seio exuberante da exótica capoeira, engrinalda
velhos muros e sebes e floresce até aos mais altos picos e serras
- Seu reino é mesmo o do ventre cerrado e perfumado do òbó!
- Fluída e refulgente exaltação verde e divinal!
Pujante sagração vegetal que exala baforadas de essências e de néctares
que atraem revoadas de insectos e até outras bênçãos sobrenaturais!
Prodígios de sombras e de luz, de cores e tons, de formas e sons,
que invadem todos os recantos da floresta, cobrindo toda a ilha (as Ilhas)
num único manto. Vão até onde o oceano tinge o verde de azul e o detém
Oh! não há outra dádiva mais pura e sagrada da natura como esta!
Prodigiosos jardins, quão belos e fantásticos! - Propiciadores
de bálssamos e de formas de vida, capazes de enfeitar a mais linda jarra
para depois - sob o cântico do verde e dourado ossobó -,
ao coro do chilrear melodioso da multicolorida passarada,
ser colocada aos pés do altar
do omnipotente Deus ou da Deusa mais sublime e venerada,
como saudação à iluminada palavra
INDEPENDÊNCIA - LIBERDADE!...
Jorge Trabulo Marques
Postal Colonial)
dando-vos por definitivo o meu adeus para sempre!
Oh, não! não posso acreditar em tal fatalidade! - Ó plenitude perdida dos meus olhos!
Imagino-vos bem longe de mim mas tenho-vos sempre no pensamento!...
Não estais esquecida!... Por ora, eu não posso ir junto de vós,
mas vinde então vós ao encontro do meu coração!
Vinde numa manhã qualquer e trazei-me
a esperança de um espasmo alegre de frescura,
a junção da terra às palpitações do meu peito!
Mesmo que seja a névoa saturada, o nevoeiro
que pousa no cimo dos florestados montes ou apenas um único raio de luz do firmamento azul
que vos serve de arco - Vinde ter comigo, abençoada dádiva! - Generoso Éden terrestre!
Trazei-me as múltiplas sensações, que os anos e a distância
já me roubaram, os agradáveis momentos de adoração dos verdes coloridos,
frescos e intensos das copadas árvores que formam os densos e misteriosos obós,
amálgamas de sinfonias de sons e de cores, povoadas por nervosas cascatas
e correntes de águas, impregnadas de substâncias aromáticas inesgotáveis,
frémitos do abandono, de silêncio e deslumbramento!
Oh , às os que procuram ir ao encontro
de novas sensações e novidades no devir!
Por mim, já me sentiria feliz se ao menos voltasse
a viver um pouco das emoções que vivi em São Tomé e Príncipe!
Sim, naqueles meus 12 anos, a vida não me foi fácil: desembarquei
com dois tostões na algibeira
e regressei à minha aldeia com os bolsos completamente vazios.
Mas que importância tem isso?! - Se eu também não parti à procura da riqueza!
Que importam as afrontas (não do amável e pacífico povo) quando me pus ao lado
da sua independência!
Que importam os riscos, os muitos sustos que os tornados me pregaram,
os longos dias e noites de incertezas, longas vigílias e angústias
vividas nas frágeis canoas de ocá dos pescadores,
quando se persegue um ideal, desinteressado e por sincero amor!
- Ó celestiais abóbadas! Ó cúpulas azuis ou brancas
que a luz satura e ofusca!- Etéreas transparências
e afectuoso diálogo que se expande
espontânea e livremente
sob o copado verdejante do bosque luxuriante! - Ao menos voltasse
eu ao solitário ao mar ou ao seio ubérrimo da maternal floresta!
Ó respiração perfumada e fértil da verde e tenra folhagem!
Que gravitas por ramos de poléns, de pétalas e silabas,
transcendendo os sentidos das pessoas, das aves e animais e alastras
por tudo quanto se eleva acima das águas do oceano azul
Floresces ao longo das margens de nervosos regatos e correntes cristalina,
competindo lado a lado com as palmas gigantes dos fetos,
vicejas à sombra do cacauzal perfumado das roças,
brotas em múltiplas formas garridas e divinas, debaixo das frondosas eritrinas,
cobres-te por debaixo das palmas dos coqueiros e palmeiras, mangas, jacas!
Postal Colonial
Refulges e mistura-te com os tufos das bananeiras,
que escondem cachos e folhas laminadas de luz nas entranhas da mata
ou em redor das enormes amoreiras bravas,
das figueiras loucas, dos mararapiões, coqueiros, coleiras e ocás!
Sim, é o ambiente de fornalha das gigantescas e ramalhudas árvores,
as cores que vibram com lampejos de fogo e se misturam e confundem
com os cheiros característicos dos izaquenteiros,
safuzeiros, fruta-pão, árvore da canela, da quina,
o suave perfume da baunilha, o aroma leve dos mamoeiros
a floração adocicada dos cafezeiros! Massa selvagem viçosa e compacta,
fresca e verdejante que só o recorte da negra costa restringe e aplaca.
Ergue-se do seio exuberante da exótica capoeira, engrinalda
velhos muros e sebes e floresce até aos mais altos picos e serras
- Seu reino é mesmo o do ventre cerrado e perfumado do òbó!
- Fluída e refulgente exaltação verde e divinal!
Pujante sagração vegetal que exala baforadas de essências e de néctares
que atraem revoadas de insectos e até outras bênçãos sobrenaturais!
Prodígios de sombras e de luz, de cores e tons, de formas e sons,
que invadem todos os recantos da floresta, cobrindo toda a ilha (as Ilhas)
num único manto. Vão até onde o oceano tinge o verde de azul e o detém
Oh! não há outra dádiva mais pura e sagrada da natura como esta!
Prodigiosos jardins, quão belos e fantásticos! - Propiciadores
de bálssamos e de formas de vida, capazes de enfeitar a mais linda jarra
para depois - sob o cântico do verde e dourado ossobó -,
ao coro do chilrear melodioso da multicolorida passarada,
ser colocada aos pés do altar
do omnipotente Deus ou da Deusa mais sublime e venerada,
como saudação à iluminada palavra
INDEPENDÊNCIA - LIBERDADE!...
Jorge Trabulo Marques
Postal Colonial)
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