Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista e antigo aluno da Escola Profissional Agrícola Conde de S. Bento
Embora sabendo que o início da festa das rosas, só começava, quase à noite, dirigi-me até ao portão da Escola Agrícola . Não estava a pensar entrar mas era somente atraído por aquele irresistível apelo de começar a reviver, cedinho e o mais perto possível, as primeiras memórias do dia. Porta fechada - Um aluno sentado num banco à entrada, com ar concetrado, em pose contemplativa ou então por via de sono mal dormido - Porventura, aguardando que lhe abrissem a porta para desempenhar alguma tarefa.
Pois era de depreender que, lá pelo seu interior, devesse haver muita azáfama
– Ultimando-se, certamente, arranjos florais e outros trabalhos.
SANTO TIRSO E SÃO TOMÉ - CIDADES DE NOMES SANTOS - E COM PROTOCOLOS DE COOPERAÇÃO. - Antes de ir à reportagem, talvez valha a pena recordar o seguinte:
O nome de Santo Tirso não é (ou
pelo menos não devia ser) desconhecido para muitos habitantes da Ilha de S.
Tomé - As geminações têm um cunho social e não deviam ser mera
formalidade. - Santo Tirso, está geminada com Santana (região de
Cantagalo), Porto (com Neves), Guimarães (com Mé-Zochi, cidade da Trindade) e
Seixal (com região de Lobata, cidade de Guadalupe) -
Maio e Junho, meses das rosas, por excelência - Nunca vi tantas rosas floridas, em canteiros - e também tantas rosas bonitas expostas - e das mais diversas cores e matizes - Está de parabéns a direção da Escola Profissional Agrícola, Conde São Bento, em Santo Tirso.
Hortas e campos bem cuidados, caminhos limpos, alunos sorridentes, mostrando, com os seus professores, o melhor do que fizeram ao longo do ano letivo - A Festa das Rosas, além de convívio e diversão, em boa parte é isso mesmo: servir de montra e de abertura à comunidade - Alguns fontanários estavam secos, mas esse problema prende-se com obras e reparações dos mesmos.
O regulamento da Escola Agrícola, agora obedece a regras mais rígidas - Ao vir do comboio, após atravessar a ponte sobre o Rio Ave, detendo-me, absorto, com os olhos presos naquele nostálgico e magnifico cenário sobre as duas quintas da Escola, era-me impossível não me aproximar da minha querida escolinha. Antes de me dirigir à parte alta da cidade, foi das primeiras visitas que fiz.
E não tardou que ouvisse os sinos da velha torre da igreja matriz - O mesmo som de sempre.
- Nesse aspeto, parece que nada mudou. O som continua a ecoar da mesma maneira, como se o seu eco, além de medir o tempo, em todas as gerações que o escutaram, o quisesse eternizar.
Entretanto, na impossibilidade de transpor o velho portão de madeira da Escola, entrei numa das portas da Igreja, ao lado .
Estavam abertas, porque era a hora da missa. E não resisti de ir dar uma olhadela àquele vetusto friso de claustros, que emolduram um pátio em forma de quadrilátero, ao centro do qual existe um fontanário - Que quadro mais silencioso e conventual!... A bem dizer, só se ouvia a água a cair das suas cascatas e os esvoaçar das pombas, que ali vão beber. – Oh, e também os cânticos da missa, coisa mais mística e solene, como há muito não ouvia ao dar os meus passos sobre aquelas desgastadas pedras tumulares!
INESQUECÍVEL - AQUELA NOITE E TARDE DA FESTA DAS ROSAS!
Impossível mostrar
tudo o que retive na retina, vivi ou fotografei – Mas deixo-lhe
algumas imagens. E julgo que não é tarde demais para lhas mostrar. Sim, não é tarde
para lhe falar das emoções que ali vivi, que me foi dado observar e reviver nos
dois dias em que decorreu a tradicional Festa das Rosas da Escola Profissional
Agrícola de Santo Tirso, ou seja, na noite do dia 31 de Maio e a partir
do meio da tarde do dia 1 de Junho, também lá estive. Pois, tantas foram
as emoções, que, se escrevesse sobre o momento, logo após o meu regresso
a Lisboa, ou as palavras me faltavam ou corria o risco de nunca
mais parar de escreve
- Nesse aspeto, parece que nada mudou. O som continua a ecoar da mesma maneira, como se o seu eco, além de medir o tempo, em todas as gerações que o escutaram, o quisesse eternizar.
Entretanto, na impossibilidade de transpor o velho portão de madeira da Escola, entrei numa das portas da Igreja, ao lado .
Estavam abertas, porque era a hora da missa. E não resisti de ir dar uma olhadela àquele vetusto friso de claustros, que emolduram um pátio em forma de quadrilátero, ao centro do qual existe um fontanário - Que quadro mais silencioso e conventual!... A bem dizer, só se ouvia a água a cair das suas cascatas e os esvoaçar das pombas, que ali vão beber. – Oh, e também os cânticos da missa, coisa mais mística e solene, como há muito não ouvia ao dar os meus passos sobre aquelas desgastadas pedras tumulares!
INESQUECÍVEL - AQUELA NOITE E TARDE DA FESTA DAS ROSAS!
– A Escola Profissional, Conde S. Bento, situada ao lado da emblemática Igreja Matriz, com edifícios e terrenos que se estendem por duas quintas, que, noutro tempo, faziam parte de um convento beneditino, para quem a frequente ou a simplesmente a visite, seja em tempo normal de aulas, nas férias ou nas suas festas, deixa sempre emoções muito calorosas, sempre algo para recordar.
De facto, há certos lugares que
são como que inspiradores, que convidam a um certo relaxamento, interiorização
e a uma certa serenidade ou espiritualidade. Não sou eu apenas que o digo, são todos os alunos que por
ali passam, e, à medida que os anos mais nos distanciam dessa despedida, mais vincada se sente a empatia, a ternura herdada desse persistente e indelével vínculo.
ENTREI MAS TIVE DE SAIR…
Os últimos dias de Maio dias de Junho são longos e, às 21 horas, já não há sol mas ainda existe muita claridade. Quando ali cheguei, por volta das oito e meia, vindo da parte alta da cidade, o ambiente era sereno, ainda não muito concorrido, dir-se-ia, relaxante, com um grupo de alunos sentados em volta de um pelourinho, outros, ex-alunos,entre eles ou com amigos e familiares, convivendo e esperando, calmamente pela hora da entrada - As frondosas árvores que por existem, sobretudo, em tempo quente, perfumavam e suavizam a atmosfera. A igreja, aquela hora, mergulhava em silêncio - O mesmo sucedia, ao lado, com o edifício do Museu Abade Faria, no piso de cima, e, no rés do Chão, adega e queijaria da Escola Agrícola - De volta e meia o portão da Escola abria-se mas as entradas eram muito restritas.
Curiosamente, momentos antes, chegava a Diretor Carlos Frutuosa – Estava distraído e é precisamente a delegada da Associação dos Pais dos alunos, com quem conversava, que me diz: “olhe, acabou de chegar, o Sr. Diretor. Vá falar com ele para o deixar entrar” – Assim fiz, a que ele acedeu amavelmente, dando-me o prazer de o acompanhar ao seu lado. Só que, lá dentro, mal transpus a porta, de imediato, uma voz me diz: “tenha paciência, só depois das nove”
– Julgo que o diretor nem se terá apercebido .Mas eu também não quis criar-lhe nenhum incómodo imprevisto, pelo que nem esperei que ele se apercebesse ou dissesse alguma coisa - A noite era de festa e ainda era uma criança - Que mais me fazia entrar uns minutos antes ou depois?!... Dir-se-ia que fora apenas o tempo de sair e me voltar a juntar com as simpáticas pessoas com quem agradavelmente dialogava.
De facto, há muito que andava à espreita desta belíssima oportunidade
- Finalmente, pude desfrutar desse privilégio. Já, por várias vezes, ali me desloquei mas nunca coincidiu com o calendário de uma das mais vivas e antigas tradições desta Escola. Mas eis que, – depois de tantos anos – lá voltei a reencontrar-me com a lindíssima festa que o Diretor Rossi - louco pelas rosas, tal como sua esposa – haveria de conceber.. Oh, e quanta memória me veio à lembrança!....
- Finalmente, pude desfrutar desse privilégio. Já, por várias vezes, ali me desloquei mas nunca coincidiu com o calendário de uma das mais vivas e antigas tradições desta Escola. Mas eis que, – depois de tantos anos – lá voltei a reencontrar-me com a lindíssima festa que o Diretor Rossi - louco pelas rosas, tal como sua esposa – haveria de conceber.. Oh, e quanta memória me veio à lembrança!....
Video - Excerto da coreografia dos alunos da
Escola Profissional Agrícola Conde de S. Bento, alusiva às viagens, aos grandes
nomes da literatura nacional e mundial -- Antecedida por uma breve charge à
polémica venda dos quadros de Miró -
"35 milhões é muito dinheiro!" - Exibida na noite da Festa das Rosas, tendo como cenário
um gracioso fontanário em granito,
também ele coberto de rosas, ladeado pelos claustros, de antigo mosteiro
beneditino -- Num local onde as rosas
das mais diversas cores e matizes, faziam as honras da casa: isoladas ou em
lindos raminhos ou mesmo em grinaldas, nos mais diversos e surpreendentes suportes -- Obviamente, ante
a presença de centenas de pessoas, desde atuais a antigos alunos, corpo
docente, pais e amigos, a muita gente da cidade de Santo Tirso ou vinda dos
concelhos limítrofes ou até de mais longe, para se associar ao espírito da
festa e celebrar as mais belas Rosas do Mundo, num evento bianual, com uma
tradição que já conta mais de meio século, numa escola também ela centenária,
com pergaminhos e com história digna de passado e de nome .
Restaurante
Rosae, com mesa posta, bonita decoração,
com os pratos, os copos e os talheres no seu lugar. Noutro tempo, eram camas e
mesinhas de cabeceira, lado a lado. Também não se iam ali servir refeições --
pois essa oportunidade estava disponível, no refeitório, justamente no piso
debaixo. Mas serviam-se bebidas,
cocktails e aperitivos e mostravam-se as performances dos alunos, sempre muito
simpáticos e prestáveis, fazendo prova pública dos seus conhecimentos e méritos, já como nas
vestes de excelentes bons técnicos --
De poderem desempenhar, profissionalmente, a atividade que abraçaram, no mais
exigente hotel ou restaurante, que lhe ofereça uma oportunidade de trabalho --
E, pelo que pude depreender, têm
sido muito solicitados os alunos
que frequentam os diversos cursos da
Escola Profissional Conde São Bento, em santo Tirso.
No nosso roteiro pelos diversas mostras da Festa das Rosas, na Escola Profissional Agrícola, Conde São Bento, em Santo Tirso, passámos também pela sala de transformação dos cereais em pão. E fomos gentilmente recebidos pela Profª. Ana -- Que ali mostrava e dava a saborear algumas das habilidades operadas pelos seus alunos. Sim, havia sorrisos e havia pão - Sobretudo, gostosos pedacinhos, de vários tipos de pão, alguns condimentados com ervas aromáticas. Mas não era uma padaria nem uma sala de panificação mas de transformação. Uma variante dos cursos dos Técnicos de Produção Agrária -- Que consiste em aplicar conhecimentos fundamentais do processo produtivo (preparação e transformação de produtos agroalimentares e respetivo embalamento) assim como de tecnologia específica do subsector agroalimentar (princípios de funcionamento e de programação, conservação e manutenção, riscos e regras de segurança
Na
imagem é a Prof. Paula Areal, de
economia e gestão, que nos recebe, na mostra
do empreendedorismo. Ela e uma
aluna que quis aprender a arte de transformar as rosas em produtos comestíveis
-- compotas e caramelos cristalizados - ou deliciosos licores bebíveis. Nos
recebeu a nós e, também, com o mesmo sorriso e disponibilidade, a todos quantos
por ali passaram - Sim, as Rosas são o motivo emblemático da Festa - e muitas e variadas são as rosas que se
puderam admirar nos claustros de um
antigo convento e nas diversas salas de aulas teóricas e práticas, colhidas dos
hortos da Escola -- Para já não falar na oportunidade de admirar os aprazíveis
campos, jardins e retiros da quinta. Mas, a festa, além de uma exposição num já
por si magnífico cenário, é sobretudo muita
alegria e convívio, entre alunos, atuais e antigos, pais e professores e
outros visitantes -- Pretexto de abertura da escola à comunidade, mostra do que melhor se faz na Escola Profissional
Agrícola Conde de S. Bento. E, de facto, muitas foram as pessoas que a
visitaram nesses dois dias - Na noite do dia 31 de Maio para 1 de Junho --
E. depois, a partir do meio da tarde. Vivendo momentos, que, certamente, tão
cedo esquecerão
Oh, e quanta memória não ressuscitou do fundo do tempo!
Oh, e quanta memória não ressuscitou do fundo do tempo!
Sim,
vivendo momentos muito agradáveis - Interiorizando-os, como que
imerso por uma espécie de nostalgia ou silêncioso recolhimento
introspetivo – Só quase, já próximo a ir-me deitar, é que acabei por
soltar um pouco mais a fala, falando de São Tomé, da minha passagem de
doze anos por aquela Ilha.
Pois era impossível deixar de associar o verde daquele formoso arquipélago ao de Santo Tirso – Há, realmente, algo em comum: não apenas pelo nome dos santos mas também pelos seus verdes intensos.
Por outro lado, deparei também com um excelente conversador, outro apaixonado pelo mar, tal como eu! Que, em companhia de seu pai, um antigo comandante da Marinha, viajou pelas sete partidas dos oceanos. Um jovem, na casa dos trinta, que, embora não sendo aluno, gostou de fazer companhia a um grupo de alunos, seus amigos, que trouxeram para ali uma maquineta, pronta a fotografar e dar a foto na hora! – Um artefacto tecnológico que fez as delícias da rapaziada – Aliás, a todas as idades: desde os pequerruchos aos mais graúdos, que não paravam de disprar e de soltar risadas e risotas frente à misteriosa objetiva.
Pois era impossível deixar de associar o verde daquele formoso arquipélago ao de Santo Tirso – Há, realmente, algo em comum: não apenas pelo nome dos santos mas também pelos seus verdes intensos.
Por outro lado, deparei também com um excelente conversador, outro apaixonado pelo mar, tal como eu! Que, em companhia de seu pai, um antigo comandante da Marinha, viajou pelas sete partidas dos oceanos. Um jovem, na casa dos trinta, que, embora não sendo aluno, gostou de fazer companhia a um grupo de alunos, seus amigos, que trouxeram para ali uma maquineta, pronta a fotografar e dar a foto na hora! – Um artefacto tecnológico que fez as delícias da rapaziada – Aliás, a todas as idades: desde os pequerruchos aos mais graúdos, que não paravam de disprar e de soltar risadas e risotas frente à misteriosa objetiva.
ÀQUELA HORA ATÉ SE FALOU DE LEVITAÇÃO…
Entrava-se já pela madrugada....E, como àquela hora, já muita gente não deixara de fazer o gosto às bilhas de cerveja, espumosa e fresquinha, pronta a sair diretamente para o copo, ali mesmo ao estender de uma mão, ou ir até “taverna” do vinho da Escola, pois, não é que este amigo queria saber – e lá tive eu que lhe explicar – e com muito gosto - como é que eu – a “seco” – lograva alguns momentos de levitação.
Foi preciso telefonar ao meu amigo, Dr. Jorge Castro Lopes – que, às duas da manhã, seguia um acesso debate na TSF – para lhe confirmar como é que eu, um dia, levei de vencida uma aposta que fizera com ele: ao encontrar-se comigo na minha aldeia, de abalada e já noite, ao dizer-lhe que ia peregrinar, até de madrugada, lá pelos penhascos do maciço dos tambores, perguntando-me se não tinha medo de andar sozinho por aquelas fragas, por aqueles cinzentos enigmáticos morros, respondi-lhe, em jeito de brincadeira, que não só não recava a noite, como até era capaz de voar de fraga em fraga, qual ave noturna dos tempos pré-históricos.
E, como quem não quer a coisa, vou de apostar com ele: - eu por atalhos, e ele com o jeep pela estrada, era capaz de chegar à sua frente, ao cruzamento com a EN102, que percorre, longitudinalmente, o vale sobranceiro ao planalto, lá ao fundo da ribeira – ele, 4km por estrada, e eu atalhando por antigos caminhos romanos, cheios de silvas, que já caiaram em desuso. Pedi-lhe que esperasse apenas cinco minutos. Ainda hoje, não sei porquê, venci a aposta. Se isto é levitar, eu naquela corrida, mais de que correr ou saltar, levitei e voei.
E assim terminou a noite, contando histórias fantásticas a um amável jovem portuense, que, enquanto me ouvia, não despegava de rir, com a mesma avidez que levava o copo de cerveja à boca.
Foi preciso telefonar ao meu amigo, Dr. Jorge Castro Lopes – que, às duas da manhã, seguia um acesso debate na TSF – para lhe confirmar como é que eu, um dia, levei de vencida uma aposta que fizera com ele: ao encontrar-se comigo na minha aldeia, de abalada e já noite, ao dizer-lhe que ia peregrinar, até de madrugada, lá pelos penhascos do maciço dos tambores, perguntando-me se não tinha medo de andar sozinho por aquelas fragas, por aqueles cinzentos enigmáticos morros, respondi-lhe, em jeito de brincadeira, que não só não recava a noite, como até era capaz de voar de fraga em fraga, qual ave noturna dos tempos pré-históricos.
E, como quem não quer a coisa, vou de apostar com ele: - eu por atalhos, e ele com o jeep pela estrada, era capaz de chegar à sua frente, ao cruzamento com a EN102, que percorre, longitudinalmente, o vale sobranceiro ao planalto, lá ao fundo da ribeira – ele, 4km por estrada, e eu atalhando por antigos caminhos romanos, cheios de silvas, que já caiaram em desuso. Pedi-lhe que esperasse apenas cinco minutos. Ainda hoje, não sei porquê, venci a aposta. Se isto é levitar, eu naquela corrida, mais de que correr ou saltar, levitei e voei.
E assim terminou a noite, contando histórias fantásticas a um amável jovem portuense, que, enquanto me ouvia, não despegava de rir, com a mesma avidez que levava o copo de cerveja à boca.
JÁ LÁ VÃO TANTOS ANOS …
Já lá vai quase meio século, que partia para a Ilha do meio do Mundo. No meu tempo, 1959-63 – oh, e há quanto tempo não foi! –, os claustros enchiam-se de mesas e os alunos serviam as pessoas que nos visitavam. Gravitava tudo em torno dos belos ramos de rosas, seus enfeites e da ceia – Uma ceia à maneira antiga, onde o caldo verde (muito apetitoso) era servido em pequenas tigelinhas de barro vidrado. E o vinho verde da Escola. No final, dividiam-se as gorjetas. Que davam muito jeito, pois ali não havia meninos ricos. Agora, as refeições eram servidas no refeitório – Também lá estive, e confesso que gostei, e até senti uma comoção que me encheu os olhos de lágrimas (mas muito íntimas, muito para dentro de mim) ao lembrar-me daqueles velhos tempos.
Eram os alunos de Turismo e Hotelaria, vestidos como
verdadeiros profissionais, com o seu avental
e farda adequada, que chamavam a
si a responsabilidade da arte de bem comer e de bem servir – Que,
de resto, também estavam encarregados das
bebidas nos claustros voltados para o recreio e, num dos corredores do piso de cima, transformado em Bar e Restaurante. Além
disso, a noite não era só de comes e bebes ou de ver as exposições das rosas,
que alindavam uma das alas dos claustros, havia ainda as performances de
bailado, enquanto no meu tempo, era confinada a exibições de ginástica.
Não se convidavam artistas de nomeada para
cantar mas os ranchos folclóricos, que
todos nós adorávamos, davam aos claustros ou à eira (pois chegou a realizar-se
nos dois lados), um ambiente, uma alegria, que era de fazer pasmar a alma, vibrar o
coração! – De um ritmo muito alegre e contagiante! A
direção, certamente que teve em conta esse passado e não
se esqueceu de levar, no dia seguinte, o rancho folclórico de Monte Córdova, da
pequena freguesia, que fica lá no alto, para os lados do Monte de Nª Srº da
Assunção, imagem que nos ficava mesmo em frente, como que fazendo parte do
mesmo cenário da quinta, quase como o do Rio Ave, dos nossos campos, hortas,
jardins, fontanários, ramadas e a bouça.
As Festas das Rosas abriram com
uma performance dos alunos – Em que o tema da corografia escolhido foram as
viagens. Por isso, nas paredes da exposição liam-se cartazes com poemas de Fernando Pessoa, de Miguel Torga, de Gabriel
Garcia Marques e textos de José saramago,
"O
fim duma viagem é apenas o começo doutra. É preciso ver o que não foi visto,
ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de
dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara
verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não
estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e traçar
caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante
volta já." José Saramago
Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar...
(Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos).
Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar.
E reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar...
(Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos).
Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar.
Miguel Torga
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Fernando Pessoa,
20-9-1933
FOLCLORE É MAIS GENUÍNO QUE A MÚSICA PIMBA
O segundo dia da Festa das Rosas – primeiro de Junho -. começou mais cedo –
As portas abriram às três tarde, e, pelas quatro, dava entrada o rancho
folclórico de Nossa Senhora Assunção Monte Córdova – Os sons dos harmónios davam o toque do
seu ritmo contagiante a lembrar antigas tradições do Douro Litoral e do Minho –
Os alunos, depois de darem o habitual passeio
com os seus mascotes mais estimados da Escola, as duas éguas e uma
cabrinha, aproximavam-se do recinto e dos velhos claustros que também
apresentavam com enfeites de rosas, fazendo as delícias dos visitantes - Tarde quente mas cheia de cor e plena de alegria. A
temperatura não era muito convidativa a estar ao sol mas a procurar uma sombra
debaixo das ramadas, pelo que, as cadeiras, por enquanto ainda não eram os
lugares mais apetecíveis. Mas não tardariam a serem solicitadas.
Ao
ir-me embora, em jeito de despedida, inda subi os degraus da adega - Não fui
comprar vinho (também julgo que não era ali que o vendiam) mas para comprar uma
compota de frutos vermelhos e um saquinho de ervas aromáticas. Depois, como
quem não quer a coisa, fui ver se a velha cabra . ainda estava pendurada no
mesmo lugar. Sim, quer o badalo da
portaria, ainda lá se encontravam. tal como a velha sineta: - a
nossa cabra, que nos chamava para as aulas ou nos convidava a ir
para o recreio ou a ir nas formaturas dos trabalhos práticos de campo, cheguei
a pensar que já não existisse mas ainda lá se mantém como que
meia disfarçada por alguns ramos de trepadeiras – Espero ali voltar no 5 de
Outubro para o tradicional convívio de antigos alunos.
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