Os novos tempos, são de crise financeira (para os mais fracos) e de falta de valores para os mais endinheirados, que não os cultivam. Todavia, o mundo continua, num planeta onde não faltam conflitos, fome, miséria, injustiças sociais, agressões ecológicas e desastres naturais, devastações climatéricas, de toda a ordem - Mesmo assim, .felizmente, há vozes que dizem palavras da mais bela poesia, erguem o ramo da paz, da fraternidade e do amor. Ou não deixam de erguer, bem alto, a voz do inconformismo, da sua angústia pelo sofrimento alheio
Sim, os tempos não são nada poéticos mas os poetas nem por isso deixam de cumprir a sua missão. E lá vão dizendo o que lhe vai no mais sentido da alma e no fundo do coração. É o caso da poeta, Ondina Beja, verdadeira embaixatriz das maravilhosas Ilhas Verdes, sua terra natal. Vive muito longe, algures no Norte da Europa, na Suíça, num país das montanhas com neves eternas, contudo, é no centro do mundo, naqueles lindos e sedutores tufos verdejantes, que se erguem na linha do Equador, que o seu pensamento se volve em talvez permanente e no mais apaixonante azimute.
Depois de ter representado, São Tomé e Príncipe, no festival das migrações e da cidadania em Luxemburgo, evento que atrai mais de 30 mil visitantes, ei-la a viajar mais a sul, a caminho de Cabo Verde, onde foi participar nas comemorações do Dia Mundial da Poesia, que, este ano, foi dedicado a homenagear o poeta Corsino Fortes, evento no qual esteve também o músico santomense, Filipe Santo, ambos recebidos, em audiência especial, pelo Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, que, segundo noticias, que entretanto pesquisámos, se envolveu pessoalmente nesse dia festivo, lendo poemas e acompanhando os declamadores e músicos, nas arruadas e no sítio histórico da Cidade Velha, concelho de Ribeira Grande de Santiago
Olinda Beja - "Maria Olinda Beja Martins Assunção, nasceu em
Guadalupe em 1946 (São Tomé e Príncipe), sendo porém de nacionalidade
portuguesa e residindo em Viseu. Com apenas dois anos veio para Portugal, onde
passou a residir. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas
(Português/Francês) pela Universidade do Porto, Olinda Beja é docente do Ensino
Secundário desde 1976. Ensina também Língua e Cultura Portuguesa na Suíça, é
assessora cultural da Embaixada de São Tomé e Príncipe e dinamizadora cultural.
Publicou os livros de poemas 'Bô Tendê?', 'Leve, Leve', 'No País do Tchiloli',
'Quebra-Mar' e 'Água Crioula', os romances 'A Pedra de Villa Nova', '!5 Dias de
Regresso' e 'A Ilha de Izunari' e ainda livros de contos. In Maria Olinda Beja - Poetas Apaixonados
Olinda Beja teve a gentileza de nos enviar uma amável mensagem com algumas fotos, gesto que muito nos sensibilizou e muito lhe agradecemos, acompanhado com esta singular expressão - Há momentos na vida em que só a poesia importa! - De facto, só a poesia os pode transmitir. E, pelos vistos, foi justamente o que sucedeu, recentemente, em Cabo Verde.
Os beijos em África são doces doces
como o untué que as crianças
devoram p'la manhã
As carícias em África são doces
doces como a banana-ouro
que teima em desaparecer da nossa ilha
O amor em África é doce
doce como o belo abacaxi
que se cria no mato e no quintal
Os homens em África são doces
porque os seus olhos são o untué das crianças
o seu corpo o belo abacaxi
e o seu sexo a tal banana-ouro
que não vai desaparecer da nossa ilha
Poema de Corsino Fortes
O rosto de teu filho brada pelo mar
Como panelas mortas como panelas vivas
Como panelas mortas como panelas vivas
mortas
vivas
nos fogões apagados
vivas
nos fogões apagados
Pilões calados fogões apagados
No vulcão e na viola do teu coração
No vulcão e na viola do teu coração
Boca do povo no fogo dos nossos fogões apagados
Chão do povo chão de pedra!
O sol ferve-te o sol no sangue
E ferve-me o sangue no peito
Como o fogo e a pedra no vulcão do Fogo
O sol ferve-te o sol no sangue
E ferve-me o sangue no peito
Como o fogo e a pedra no vulcão do Fogo
De sol a sol
abriste a boca
abriste a boca
Secos os pulmões
neles cresce-me
a lenha do mato
neles cresce-me
a lenha do mato
De sol a sol
os meus ossos são verdes
os teus ossos são plantas
Como a fruta-pão o tambor e o chão
os meus ossos são verdes
os teus ossos são plantas
Como a fruta-pão o tambor e o chão
De sol a sol
gritei por Rimbaud ou Maiakovsky
deixem-me em paz
gritei por Rimbaud ou Maiakovsky
deixem-me em paz
(…) Corsino António Fortes nasceu em Mindelo, na ilha de S. Vicente, em 1933. Perdeu os pais muito cedo e, aos doze anos, teve de suspender os estudos, passando a trabalhar na Companhia Ferro como aprendiz, ajudante de ferreiro e ajustador de máquinas. Em entrevista a Michel Laban, conta que, nesse período, mesmo longe da escola, saía do trabalho e a primeira coisa que fazia era ir à biblioteca municipal (cf. LABAN, 1992, p. 385). Retornou ao liceu somente aos vinte anos, onde teve encontro muito profícuo com João Varela, com quem travou diálogos sobre suas “primeiras pedras de projecto literário” (Idem, p. 386). Entre 1957 e 1960, a aproximação com Abílio Duarte, um dos fundadores do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde) e que retornava da Guiné-Bissau para mobilizar e conscientizar a juventude cabo-verdiana para a luta de libertação nacional, também o influenciaria decisivamente. Nesse período, alguns de seus poemas são publicados no Boletim dos Alunos do Liceu Gil Eanes, no Cabo Verde: boletim de propaganda e informação e na revista Claridade 9, o último número deste periódico. – Excerto de Corsino Fortes e sua poética semeadora da “cabeça calva
Nota - Algumas das fotos, tomámos a liberdade de as obter do site oficial do P. R. de Cabo Verde, que agradecemos.
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