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sábado, 11 de junho de 2016

Descolonização de S. Tomé e Príncipe –- Coronel Ricardo Durão expulso no mesmo avião- Fui eu que o levei ao aeroporto - Oficial do MFA, Moreira Azevedo, faz o relato dos dias de instabilidade, após 25 de Abril 74 - Nacionalistas santomenses, ativistas, reclamavam a independência total e imediata, os roceiros queriam travá-la - “O meu pai sempre esteve empenhado em que houvesse concórdia entre as várias partes e não se extremassem posições” – Diz o filho de Pires Veloso Entrevistado no mesmo dia em que, Rui Veloso, seu primo, dava lá o espetáculo do 10 de Junho

Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista

Em S. Tomé, o 10 de Junho, dia de Camões e das Comunidades Portuguesas, este ano foi comemorado com um espetáculo de Rui Veloso, que se deslocou à capital das Ilhas Verdes do Equador a convite da Embaixada Portuguesa “para cantar e encantar o público com  as canções que marcaram a sua longa carreira musical “- Declarou à imprensa, à sua chegada.

O músico português, que é sobrinho do último governador e alto comissário de Portugal em S. Tomé e Príncipe, em declarações à imprensa, manifestou-se “encantado com a beleza paisagística da ilha de São Tomé," que visita pela primeira vez.

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Nos  próximos dias, tenciona  descobrir a ilha do Príncipe, tendo declarado, que,   o arquipélago, tem um potencial turístico incomparável, dando o  exemplo de alguns países,  até de expressão portuguesa em África, onde o turismo cresce e é uma das principais fontes de receitas, mas que não tem o potencial que as ilhas verdes de São Tomé e Príncipe, oferecem ao visitante” – Refere o Télanon.Rui Veloso em São Tomé para celebrar dia de Portugal de Camões e

UM DIA HEI-DE IR A S. TOMÉ - CURIOSA COINCIDÊNCIA" - Agora é o primo em Portugal, com o mesmo sonho, que ele teve, quando a situação era inversa: não propriamente para conhecer pela primeira vez mas para revisitar e matar saudades

Conheço. Rui Veloso, desde o principio da sua carreia, desde os tempos  em que eu era repórter da Rádio Comercial-RDP – Deu-me até o prazer de me convidar a mostrar a sua casa, para onde contava ir morar, em Lisboa, após o casamento – E lembro-me de me ter dito, quando lhe dizia que eu tinha estado em S. Tomé e entrevistado o seu tio, Pires Veloso: "um dia hei-de lá ir"  - O sonho comanda a vida - E lá andará ele  - radiante! - a  contemplar aquelas lindas praias e o verde manto luxuriante das florestas

Curiosa coincidência, ontem, 10 de Junho, já quase pelo fim da tarde: - encontrei-me casualmente, na Feira do Livro,  com o filho mais velho do General Pires Veloso (falecido, vai para dois anos), oportunidade para falarmos daquelas maravilhosas ilhas e das recordações, com que ficou, de  quando ali esteve, aos 16 anos,  com o seu pai, pouco tempo depois da revolução do 25 De Abril de 1974: inicialmente, como Governador de S. Tomé e Príncipe, até 18 de Dezembro do mesmo ano, data em que assumiria o cargo de Alto Comissário, em cujas funções se manteve até à independência daquele território, em 12 de Julho de 1975.

Manuel Pedroso Marques e Moreira Azevedo
Naturalmente, que, neste casual encontro, que decorreu junto ao pavilhão da Ãncora Editora, quando ele me surpreendeu com a expressão “independência total, cá cú Pôvô Mecê, que fez parte de um enorme cartaz com o qual o seu pai foi recebido por um grupo de nacionalistas são-tomense, à sua saída do aeroporto, teria mesmo que ser pretexto para um lembrar de recordações, até porque também eu pude testemunhar e reportar, jornalisticamente, esse histórico desembarque.

Porém, a surpresa, não ia ficar apenas por este encontro: pois, no local também estava o Coronel  José Maria Moreira de Azevedo, que igualmente me reconheceu, visto ter sido um dos delegados do MFA, que depois viria também a desempenhar outras funções, no governo de transição,  até à independência, e que ali se encontrava rodeado de outros amigos, nomeadamente, o Coronel Pedroso Marques, que ali estava para autografar a sua obra “Os Exilados Não Esquecem Nada Mas pouco Falam”, bem como de José Miguel Noras, antigo Presidente da Câmara de Santarém, para autografar o livro “Mais Património – Vida e alma por trás das pedras”  -


Foi o Coronel Pires Veloso que expulsou Ricardo Durão   -  Fui eu que o levei ao aeroporto

SPINOLA QUERIA CONTRARIAR O PROCESSO DE DESCOLONIZAÇÃO

Em S. Tomé e Príncipe, não houve luta armada, porque as ilhas são pequenas  e o Povo é tradicionalmente pacífico. Não obstante os sofrimentos infligidos por vários aspetos da dureza e dominio colonial, que, de resto, estiveram na esteira de algumas violentas revoltas ao longo dos séculos.

No entanto, existia um movimento, que pugnava pela libertação e independência – Esse movimento, denominado MLSTP, foi fundado por um grupo de estudantes nacionalistas, no exterior, que procurava, sob várias formas (umas públicas, através de um programa de rádio, no Gabão) e outras clandestinas, consciencializar  a população.


Quando se deu o 25 de Abril, a maioria dos colonos foi apanhada de surpresa, pensando que a luta pela independência, dizia apenas respeito aos movimentos armados  da Guiné, Angola e Moçambique e dificilmente admitiriam que o futuro de S. Tomé e Príncipe, ia justamente depender do que viesse acontecer naquelas colónias -  Mas depressa se enganaram, porque, entretanto, mal a liberdade de expressão, foi instaurada, com o desencadear da revolução, não tardou a que, grupos de jovens nacionalistas, liderados pela Associação Cívica Pró-MLSTP, viessem para as ruas reclamar – através de várias manifestações populares - a “independência total e imediata”

Pois isso, tais factos, acabaram por provocar alguma insegurança e perturbação, no até então ambiente  de paz e de tranquilidade (diga-se, imposto pela opressão) que acabaria por ser restaurado, alguns anos depois do brutal massacre de 3 de Fevereiro de 1953, infligido por um Governador que queria obrigar a população nativa a trabalhar à força nas   brigadas das obras públicas – Isto porque, os  serviçais contratados, a mão-de-obra proveniente  de Cabo Verde, Guiné, Angola e Moçambique, revelar-se-ia insuficiente  para as grandes plantações nas Roças. 

O que se passou, em 1953, é do domínio público  e deixou feridas e ressentimentos na alma,, não fácies de apagar- Quando se deu o 25 de Abril, a memória ainda estava muito fresca  e terá sido essa a principal razão   pela qual, os ideais nacionalistas, tiveram ponta e significativa adesão, com greves, reivindicações  e manifestações populares, que se sucediam dia a dia,  embora de forma agitada e acalorada, mas  não pautada por atos de violência física.

Todos os sectores de atividade são afetados   mas é nas roças que mais se fazem sentir os efeitos  - E é também donde começam a partir alguns sinais alarmantes – Os roceiros, aos quais já lhe foram retiradas as armas dos paióis milicianos, é onde a crispação e a insegurança é maior  - Por seu turno, em Lisboa, os patrões pressionam   Spínola, a contrariar, nestas ilhas, a descolonização, alegando que as ilhas estavam desertas e pertenciam a Portugal, que envia  o coronel Ricardo Durão, anterior comandante da CTSTP - pessoa muito grada dos recreios, dadas as jantaradas, com que o brindavam - , e, sem dar prévio conhecimento, ao Governador Coronel Pires Veloso, manda-o para S. Tomé – Mas vai ter de regressar no mesmo avião – Este é um dos episódios que, ontem, me recordou, o oficial que o conduziu de regresso ao aeroporto para partir no mesmo avião - Ouça o vídeo mais à frente.

RUI VELOSO - HÁ QUEM LHE  IMITE AS CANÇÕES MAS NÃO A SINGULARIDADE E MANEIRA DE SER  - COMO PESSOA E ARTISTA

O Rui Veloso é único no seu género musical e na sua pessoa. É uma espécie de cometa onde as estrelas se confundem umas com as outras. É este o panorama sob a abóbada do nosso pequeno firmamento que se ergue no estreito rectângulo à beira-mar plantado. Nasceu a 30 de Julho de 1957, em Lisboa, mas ainda foi bebé ( com três meses) para o Porto. Não tem nada de Lisboeta. É um típico tripeiro: no falar e no à-vontade de comunicar: os lisboetas são mais sisudos e convencidos. Não quer dizer que sejam todos assim: mas o faduncho triste e a indolência dos mouros do sul têm bastantes dessemelhanças da garra e vivacidade dos lusitanos ou celtas do Norte. Herda do signo Leão as melhores qualidades e virtudes. A determinação, o talento e a generosidade. Simples e ao mesmo tempo nobre de carácter. Completou agora 30 anos de carreira mas eu desejo-lhe que toque e cante mais trinta. Por muitas Primaveras bonitas que apetecem viver, mesmo dos dias que "tão depressa brilham como depressa estão a chover". Que viva ainda por muitas mais. Não sou um fã da musica rock. Mas gosto de o ouvir cantar e apreciei muito o seu "Chico Fininho," antes de ele ser mais uma "estrela no céu". Claro, das que verdadeiramente cintilam e brilham!

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Sem dúvida, no começo dos anos 80, foi uma grande pedrada nos convencionalismos do charco. Dos convencidos que inovavam mas repetiam-se e imitavam-se até ao enfado. Era uma música que trazia uma nova lufada e incarnava simultaneamente uma personagem da nova geração, que, desiludida, já dos políticos e, para curtir a falta de guita nas algibeiras, despontava para as "curtes" ou "speeds". Marcou o começo de um período e um outro estilo. E o pronúncio dos shoppings e dos grandes centros comerciais que desertificam a cidade, a massificam e desumanizam ainda mais, os alvores do flagelo dos ácidos que corroem e matam como a "estricnina". E (com a sua "camponesa") até do abandono dos campos. Ele meio agarotado meio romântico de um tempo pós exageros revolucionários, pós mazelas e fascismos da guerra colonial e prenúncio dos democracismos fingidos e hipócritas. Que parece jamais ter sarado. Aliás, se agravaram com a peste dos mercado global e dos liberalismo selvagens. .Que cada vez mais se reflecte nos bairros da fome, da merda, da solidão e da miséria. E que então parecia já rever-se no próprio intérprete. Que o denunciava meio a sério meio a brincar. Talvez com mais eficácia das então já estafadas e comprometidas baladas militantes.

Ele também escorreito e magro, afável e carinhoso, popular e desprendido, simpático e meio matreiro, amigo do seu amigo mas sempre ele mesmo ("por mais amigos que tenha, sinto-me sempre sozinho") com o mesmo olhar e sem vaidades. Hoje está um bocadinho mais cheiinho. Mas é ainda a voz e imagem emblemáticas do eterno Rui das baladas, canções e músicas inimitáveis! O sentir e as preocupações da juventude do pós 25 de Abril e das actuais. gerações. Cujas letras e o canto, vão sendo apreciadas e lembradas pelos que agora - tal como ele - já são pais. Num meio quase submerso e invadido pelo género pimba, cujo amolecimento pseudo-romântico, com resquícios de provincianismo piegas parece difícil de curar, ele aí está, o Rui Veloso, igual a si próprio, ainda a cintilar, tal como dantes, com a mesma alegria e matriz como principiou, tal como a estrela da manhã, ao raiar no horizonte. Igual no seu brilho mas sempre o despontar de uma nova alvorada. Sem porém lograr ocultar as duras realidades sociais da vida que a matizam. Ele continua a ser a estrela brilhante da noite ou da manhã que ao mesmo tempo que traz o brilho, alegria; é ainda aquela que é o bordão do pastor e atenta vigia


PIRES VELOSO - TALVEZ ASSIM ESTIVESSE ESCRITO NOS ASTROS QUE SÓ ELE PODERIA SALVAR UM PARAÍSO DE MORTE E CONVULSÃO


Tal como já tive ocasião de referir, neste site,Se há um governante, do período colonial, que não pode ser esquecido, em S. Tomé e Príncipe, ele é o General Pires Veloso, que, mais tarde, em Portugal, passaria a ser conhecido por Vice-Rei do Norte – Igualmente pelas mesmas razões: por ter evitado uma guerra civil, quer, quando ali foi colocado como Governador e Alto Comissário, quer, após o seu regresso a Portugal, na qualidade de Comandante da Região Militar do Norte, como um dos protagonistas do 25 de Novembro de 1975, 



Após o 25 de Abril de 1974, Pires Veloso foi nomeado governador de São Tomé e Príncipe, passando, a 18 de dezembro do mesmo ano, a alto comissário, função que manteve até à independência do território, a 12 de julho de 1975.António Elísio Capelo Pires Veloso

 – Sem a sua intervenção, sensata, ponderada e inteligente, dificilmente teria deixado de haver um segundo banho de sangue naquela Ilha – Já o disse numa postagem, publicada aqui neste site, de que não retiro uma linha, da qual transcrevo alguns excertos.

GENERAL PIRES VELOSO (ENTÃO TENENTE-CORONEL) AGIU BEM, AO OBRIGAR, RICARDO DURÃO (DA MESMA PATENTE E ATUAL  GENERAL) A NÃO SAIR DO AEROPORTO E A VOLTAR NO MESMO AVIÃO A PORTUGAL - 

ATITUDE SENSATA E INTELIGENTE  – – Talvez mais grave que o massacre de 3 a 7 de Fevereiro de 1953 (muito antes da guerra colonial), levado a cabo por milícias, fortemente armadas, dirigidas pelo próprio governador, Carlos Gorgulho, constituídas por colonos, militares e alguns serviçais, que os roceiros e governo, atiraram contra os naturais da Ilha. Só pelo facto de se recusarem ao trabalho forçado nas obras públicas e nas grandes plantações do cacau e café. Houve quem reagisse e, não tardou, que um caso isolado, fosse tomado por  "rebeldes" de uma "revolta comunista"




PIRES VELOSO, EVITOU UM BANHO DE SANGUE – E reforçou a confiança nos dirigentes nacionalistas

Faltou-lhes lá o Tenente-coronel Ricardo Durão a liderar a revoltaque, uns dias antes, desembarcara no aeroporto de São Tomé. Se o Tenente-Coronel Pires Veloso (mais tarde também promovido  a General), não o obrigasse a voltar no mesmo avião, estou certo de que, as águas que correm nas pacíficas Ilhas de São Tomé e Príncipe, ter-se-iam toldado por muitas manchas de sangue. E, sobretudo, se o Governador, não apelasse à calma dos manifestantes: os quais se rebelaram por motivos absolutamente injustificáveis, pois ninguém os molestou - Seguiram, depois, para  o quartel da Polícia Militar e Cinema Império. Porventura, na perspectiva de que, Ricardo Durão, os viesse comandar -  Já que,  o episódio do seu regresso forçado, não fora tornado público.



Mal me apercebi da sua presença, e, vendo-o de camuflado, semblante  sisudo, pressenti imediatamente que não vinha para fazer coisa boa.     Não chegara a passar para o exterior do aeroporto: estava sozinho, junto a uma porta fechada, do lado direito do edifício, voltada a sul  e nos limites ainda da área reservada.

 Eu costumava ali ter  acesso para ir buscar o volume das revistas que  a redação me enviava semanalmente, de Luanda.. E, ao regressar, foi quando me apercebi da sua presença - Estava nitidamente com olhar de caso:  “Passa-se alguma coisa, Sr. Tenente-Coronel?!  -  Esboça uma sorriso amarelo e diz: Não, obrigado!..Não há problema nenhum!!... Vim cá só a passear!.. E não estou autorizado, não sei porquê!.... Que eu saiba, a Ilha ainda não é dos pretos." – Vi logo que havia por ali  tentativa de golpaça e não insisti.   Pires Veloso Governador de S. Tomé e Príncipe, alertado  para a sua presença, trocou-lhe as voltas. Obrigando-o a regressar no mesmo avião. E lá foi de volta  o  grandalhão oficial com uma verdadeira chapada sem dor, mas com muita humilhação e muito bem dada!

No seu livro de memórias ( “Vice-Rei do Norte - Memórias e Revelações) o agora General Pires Veloso, faz uma breve referência, mas é omisso em apontar o nome do oficial - Diz apenas o seguinte“Sentindo que a minha atitude em recusar receber um oficial superior, enviado especial do Presidente da República, general Spínola – que fiz regressar no mesmo avião que havia trazido, sem o ouvir – havia obtido a aprovação entre os meus adversários, sabia ter conseguido com isso algum crédito.” 

Sem dúvida, um  procedimento sensato e inteligente de Pires Veloso; de outro modo, dificilmente apaziguaria as tensões existentes entre colonos e os dirigentes da Associação Cívica. Porque, o mais certo, era que os colonos (sentindo-se encorajados e comandados) passassem deliberadamente ao ataque, podendo desencadear a contra-revolução, de imprevisíveis consequências. 


então Tenente-Coronel Ricardo Durão (hoje general) –   homem forte do Comando Militar  de S. Tomé e Príncipe  não esperava que, o brioso oficial Pires Veloso, lhe desse uma grande tapona. 
Peão de confiança de Spínola (não entrara na aventura contra-revolucionária spinolista de11 de Março de 1975 , porque não calhou, tal como outros, que viram o tapete sair-lhes dos pés .

O ex-comandante do Comando   Territorial Independente de São Tomé e Príncipe  (CTISTP), conhecia bem o arquipélago, as roças e  os roceiros, com os quais convivera em altas jantaradas e almoçaradas, nas sedes das administrações: pois era já um costume enraizado que a elite económica, há muito, mantinha com a tropa. Mas, agora, de certeza que não vinha com esse propósito – Os tempos eram de revolução. E os roceiros opunham-se ostensivamente! Já tinham invadido o Palácio do Governo e dir-se-ia que só faltava pegarem nas armas que possuíam nas arrecadações. O que não dispunham era de quem os apoiasse ou de um comando operacional. Supõe-se que deveria ser a missão que trazia na manga o velho amigo das altas comezanas e das festanças.de fatiota branca. Só que nem sequer chegou a sair da gare do aeroporto.. Saiu-lhe o tiro pela culatra - E ainda bem: 

bom senso de Pires Veloso, uma vez mais esteve  à altura das suas responsabilidades, evitando mais uma enorme confusão - Ah, sim, não tenho a menor dúvida, teria havido muitas mortes em São Tomé: de parte a parte, eu seria uma delas. - Fui  tomado pelos colonos como o bode expiatório de todos os problemas.  E a  única arma que dispunha era a máquina de escrever, que ma escaqueiraram por completo,  - Tive de pedir  uma emprestada a pessoa amiga. Sabe Deus as adversidades por que então passei para poder continuar a enviar os meus trabalhos jornalísticos para a revista Semana Ilustrada, em Luanda.

“Sentindo que  a minha altitude em recusar receber um oficial superior, enviado especial do Presidente da República, general Spínola – que fiz regressar no mesmo avião que o havia trazido, sem o ouvir -  havia obtido a aprovação entre os meus adversários, sabia ter conseguido  com isso algum crédito"


"Aproveitando esse crédito, organizei uma reunião, no Palácio do Governo, com dirigentes da Associação Cívica para tratar  do assunto das armas da Organização Provincial dos Voluntários"

Tentei convencê-los  a serem eles próprios  fazerem a entrega dessas armas no Quartel-General, o que fizeram, nesse mesmo dia.

Poderá imaginar a sensação de alívio e bem-estar quando, ao cair da tarde, o coronel Cardoso do Amaral, me comunicou que tudo tinha corrido muito bem e que o armamento havia sido recebido!

Foi uma fase no processo da descolonização, decisiva e marcante, fundamentalmente porque havia conseguido, além do controlo de grande quantidade de armas dispersas pelo Território, ter as Forças Armadas disciplinadas, para além de um entendimento com respeito e confiança mútos entre autoridades portuguesas, dirigentes do MLSTP, Associação Cívica e população em geral”

(...) nós tudo procurámos fazer para que a passagem de S. Tomé e Príncipe, de colónia a pais independente, se fizesse com suavidade, tolerância, compreensão, ora criando um mínimo de estruturas que ajudassem ao funcionamento de uma nova Democracia, ora denunciando erros e, na medida do possível, corrigindo-os do passado.

“Porém, esta minha atitude de tolerância” – refere o agora General Pires Veloso - , “compreendendo o estado de uma larguíssima maioria  do povo (que não pensava noutra coisa          que não fosse a Independência Imediata), fechando os olhos, por vezes, a pequenos incidentes provocatórios e procurando o diálogo, não foi bem aceite por algumas centenas de brancos ainda no Território.

Confusos, não tendo entendido bem quão profunda havia sido a revolução de 25 de Abril, um dia invadiram o Palácio querendo falar comigo.

Em tom de crítica, acusaram-me de actuar como um verdadeiro Governador, ser mole demais, sem capacidade de decisão e pedindo protecção para essa noite, pois tinham informações de que os pretos iam massacrá-los.

Tranquilizei-os na medida do possível, garantindo-lhes que eu, nessa noite, pessoalmente, iria patrulhar a cidade, o que fiz, conduzindo um VW, por vezes acompanhado com o meu ajudante de campo.

Nas casas dos portugueses não apagaram as luzes e, quando ouviam o motor do meu carro (era o único a circular), abriam a janela. Eu dava-lhes a Boa-Noite e eles correspondiam.

Preservar o nome e a presença de Portugal

Viveu-se então a fase final do processo, em ambiente de boas relações entre autoridades portuguesas e são-tomenses, num clima de tranquilidade e compreensão, que culminou, a 12 de Julho, com uma festa de dignidade ímpar, com um respeito total entre todos”.


O ex-comandante do C
omando   Territorial Independente de São Tomé e Príncipe  (CTISTP), conhecia bem o arquipélago, as roças e  os roceiros, com os quais convivera em 
em opíparas comezanas,  na Casa Grande, nas residências dos administradores. -  Spínola, não queria a independência desta ex-colónia, alegando que as ilhas estavam desertas, quando foram descobertas pelos portugueses (estafado argumento para justificar o domínio sobre  as populações autóctones), tendo-o enviado com a missão de se juntar aos roceiros e liderar um golpe contra-revolucionário.
Mas não chegou sequer a transpor a alfândega do aeroporto. Teve de aguardar, junto à aerogare, mas do lado voltado para a pista e fora das vistas do público,  até que fosse recambiado no mesmo aviãoHumilhação bem feita e à altura das circunstâncias.
Desta vez não vinha de farda branca, como era costume  pavonear-se pelas  roças nos jipes dos patrões. E nas suas jantaradas. Envergava o camuflado de operacional. Vinha pronto para liderar a revolta.  Cumprimentei-o e perguntei-lhe o que se passava  - pois vi logo, pela sua cara e  traje, que havia ali sinais de golpada à vista. 

 Ele conhecia-me, sabia bem que eu não estava do lado da sua barricada e foi parco de palavras.  Que eu saiba, até hoje, o caso nunca chegou a ser notícia. E tão pouco a informação foi conhecida naquele momento pelos nacionalistas (mas foram informados, ainda nesse dia)  pois,  se o vissem por lá, teria havido, logo ali,  uma grande confusão...E talvez tivesse sido ele a primeira vítima. A aerogare estava cheia de gente,  era dia de "São Avião!".  Da maneira que andavam os ânimos tensos, de certeza que não se safava de um valente aperto.

Simpático com a burguesia roceira, que o obsequiara, na  sede das administrações, na "Casa  do Patrão" ao pomposo velho estilo colonial - cínico com quem lhe conviesse, e, nos meios do exército, era tido como  um  duro...  Amedalhado por "altos feitos" pela sua manifesta lealdade ao império colonial, via-se que era dos tais que não deixava os seus créditos entregues por mãos alheias. Os roceiros, haviam-no obsequiado com lautos banquetes e ele não lhes queria ser ingrato. O que não toleravam é que os defensores do 25 de Abril, lhes falassem em independência e em liberdades democráticas. Certamente que eu teria sido um dos que fazia parte das suas listas, dos traidores e indesejáveis brancos a abater.  Já em Lisboa, não podia passar frente ao  Bar PIC NIC no Rossio. - Ponto de encontro dos colonos mais reacionários.

Um dia, uma dúzia deles, apanharam-me no Metro e voltaram agredir-me traiçoeiramente, como se estivessem na selva em São Tomé. Tal como fizeram na então chamada "Praça de Portugal", quando me dirigia a minha casa, por volta das oito da noite. Aguardavam-me emboscados no interior de um carro estacionado. Não havia luz na cidade, e, mal me viram, encadearam-me com os faróis e atiraram-se a mim como lobos. Tendo-me deixado, quase morto e prostrado no asfalto

Não me mataram, porque, entretanto, viram os faróis de outro carro e puseram-se na alheta. Noutra ocasião, arrombaram-me a casa, escaqueiraram com todas as minhas coisas e puseram-me uma forca pendurada à entrada da porta.  Por duas vezes, furaram-me à navalhada os pneus dos meu carro. Entre outras patifarias.

SORTE PARA O POVO SANTOMENSE E PARA O PRÓPRIO LÍDER DO ABORTADO GOLPE CONTRA-REVOLUCIONÁRIO

Se, Ricardo Durão (agora general) ou algum militar aceitasse comandar os roceiros, como aconteceu no Batepá, teria sido uma  mortandade, talvez ainda maior!... Milhares de santomenses teriam sido baleados!... Até porque muitos dos implicados naquele massacre, ainda por lá por lá se passeavam à vontade...

Pessoalmente, também achei prudente não lançar o alerta, sobre a presença de Ricardo Durão, uma vez que  ia ser recambiado. Não havia interesse em gerar mais tensões das que já existiam. Teve sorte.. E também o povo de santomense, que se livrou de uma séria ameaça à sua integridade. Teria havido muitos mártires!...E já bastava de sangue derramado por séculos de colonização.  

Pirou-se, quase da mesma forma que o  Zé Mulato, o capataz do sinistro campo da morte de Fernão Dias, outro dos grandes assassinos no massacre do Batepá, que, para não se expor a eventuais represálias,  teve de embarcar para a terra do seu pai (antigo colono, natural da região de Viseu),  tendo entrado no aeroporto pela porta do "cavalo" disfarçado com a sua fatiota azul de carpinteiro.   

Quando alertei Pires Veloso, da presença do inesperado oficial, ele já lhe tinha dado instruções para regressar no mesmo voo. "Já sei que ele aí está: vai já no mesmo avião. Não se preocupe".  

O movimento pró-independentista apreciou atitude do Governador, que até então não acreditava nas boas intenções de Pires Veloso, pois via-o com desconfiança - Os santomenses olhavam os militares portugueses, como tropa de domínio colonial. Porém, a partir daquela altura, o Governador passou a ser visto como um dos seus e  com outros olhos. No seu livro  “Vice-Rei do Norte - Memórias e Revelações, o agora General Pires Veloso, faz uma breve referência, mas, como atrás referi,  é omisso em apontar o nome do oficial  - E alude também à  inesperada invasão dos colonos ao Palácio do Governo - 

PIRES VELOSO, O GOVERNADOR CERTO PARA LEVAR A CABO – E PACIFICAMENTE - UM PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA, QUE COMEÇARA DA FORMA MAIS TENSA E ATRIBULADA

Repito: não fosse a serenidade, firmeza  e sensatez de Pires Veloso, nem quero imaginar o que poderia ter acontecido! Não se constava que algum negro tivesse molestado  fisicamente qualquer branco!  Mas, de facto, havia colonos que continuavam a agir como se nada tivesse mudado. A palavra independência era algo impensável e que lhes custava admitir. 



Os roceiros estavam fortemente armados e constituíam uma séria ameaça!  Nas propriedades agrícolas, havia muitas armas: as velhas Mauseres, que foram usadas pela infantaria Nazi. Com as quais, os colonos, habitualmente se treinavam.
Também eu, aos 18 anos, fui obrigado a participar, nesses treinos, quando para ali fui estagiar na Roça Uba-Budo, num campo de tiro ao alvo, situado junto à praia, onde, aos Domingos  de manhã, cada branco fazia para ali a fogachada que quisesse.

 .Pires Veloso, noutra  das passagens do  seu livro de memórias, “Vice-rei do Norte”, alude às reações do Secretário-geral das ONU, Kut Waldheim  e o dirigente da OUA, Salim, Salim, junto do nosso embaixador na ONU, face às queixas apresentadas pelos independentistas. No entanto, o antigo Governador e Alto-Comissário, considera que a questão havia sido empolada. E que, mais tarde, foram as mesmas personalidades a reconhecerem  que não se justificavam as tais razões invocadas com  “ a falta de liberdades democráticas”.

PIRES VELOSO,  USA O TERMO  DE “A GUARDA PRETORIANA DOS DONOS DAS ROÇAS” – NÃO ESTAVA ENGANADO

E não exagera. Os colonos nas roças estavam armados e bem armados. Refere, ainda, em  “Memórias e Revelações”, que,  “era notória a apetência dos responsáveis da Associação Cívica por terem armas em seu poder, talvez para dizerem ao mundo, como os da Guiné, Angola e Moçambique, que também eles haviam alcançado a independência com luta armada” – Não creio que fosse este o desejo dos ativistas da Associação Cívica Pró-MLSTP – O santomense é por natureza pacificoE, Pires Veloso, julgo que se apercebeu bem desse facto. As suas ações nunca foram além de comícios e manifestações. Não vi que alguém ali tivesse pegado numa arma ou levantasse sequer essa questão. Participei em algumas das reuniões dos seus dirigentes e ninguém ali falou em pegar em armas. 

É um facto que existiam por lá alguns elementos mais fundamentalistas, que Pires Veloso cita no seu livro, e com posições, mais extremistas, com as quais eu próprio discordei à sua frente, que achavam que o fim do colonialismo no arquipélago, só poderia terminar "com a saída completa dos colonos” – E, de facto, atendendo ao comportamento irredutível de muitos deles, sobretudo dos "cafusos", nas roças, em boa parte até tinham fundamentas razões. Mas longe de desejarem pegar em armas. – Quem queria pegar nas armas eram os empregados das roças, forçados pelos roceiros mais duros  - E só não aconteceu a tragédia, porque, à última hora, lhes faltou o comandante das  operações

 “ A SITUAÇÃO ERA PERIGOSÍSSIMA” DIZ PIRES VELOSO – Se era?!... ..As roças foram armadas pelo exército com máuseres; mas os roceiros fizeram entrar na Ilha metralhadoras clandestinas, que, certamente, ainda deverão estar por lá escondidas ou enterradas, não tendo chegado a ser devolvidas com as velhas máuseres.

Recordo que, ao sul da Ilha, na Praia Grande, em 1964, foi encontrada uma baleeira abandonada.  Eu vi essa baleeira branca e a PIDE  por lá a investigar o caso, tendo admitido  a hipótese de ter havido um descarregamento de armas por parte dos soviéticos (mais uma vez os comunistas à baila) para fins subversivos - Mas a versão era outra.

Mais tarde  ouvi bichanar ao feitor geral da Roça Ribeira Peixe, onde eu trabalhava, o seguinte desabafo para o chefe dos escritórios:  “Agora já podemos dormir descansados!... Estamos  na selva do inferno mas já  temos metralhadoras para matar o preto que se atreva a fazer-nos o que fizeram em Angola!. Enganámos os PIDEs. O exército só nos quis dar as máuseres, que nem para matar pássaros já servem, mas agora já temos com  que  nos defendermos”.

Pires Veloso, refere que “ a situação era perigosíssima”  – inteiramente de acordo: – há muito se sabia que as roceiros estavam armadas até aos dentes. (...) Esclarece que “tratava-se de material distribuído à chamada Organização Provincial dos Voluntários que, no fundo, constituía a guarda pretoriana dos donos das roças”

“Em determinado momento, para mim, a situação ficou altamente preocupante” – refere o ex-governador, “ quando, ocasionalmente, tive conhecimento de que, nalgumas roças, havia arrecadações com material de guerra, melhor do que o exército dispunha. Apesar dessas roças estarem já sob controlo dos “guerrilheiros”, estes ainda não haviam mexido nesse material”


SE OS ATIVISTAS PRÓ-INDEPENDÊNCIA, QUISESSEM PEGAR EM ARMAS, TÊ-LO-IAM FEITO, - Tiveram essa oportunidade quando os roceiros abandonaram as roças – Mas não o fizeram porque não era esse o seu objetivo.  

Os roceiros abandonaram as roças e alojaram-se no quartel militar e no Cinema Império –  Se os militantes da Associação Cívica, quisessem enveredar pela via armada, não teriam devolvido essas armas, que foram lá buscar – E fizeram-no, não porque quisessem fazer uso delas, mas para evitar que as mesmas os matassem.




INDEPENDÊNCIA TOTAL, CÁ CU PÔVÔ MECÊ”

Esta a expressão ostentada, numa enorme cartaz,  com que foram dadas as boas vindas ao então Tenente Coronel Pires Veloso - O Primeiro e o último governador pós 25 de Abril - Este o aviso de que a vontade do povo santomense era soberana e imparável, por mais obstáculos que existissem.

 Os ativistas – pró-independência - não enveredaram pela luta armada mas causaram forte contestação e instabilidade, não dando tréguas a qualquer ideia ou projeto que não visasse a total libertação do povo oprimido do arquipélago. Promovendo uma constante onda de agitação política e social. Não deram hipóteses a que os movimentos federalistas ou neocoloniais, conquistassem adeptos e se implantassem. 




Independência” era a palavra de ordem mais ouvida nos comícios e manifestações de rua. E, nos cartazes, os slogans mobilizadores pautavam-se, sobretudo, por um claro e único objetivo, expresso em linguagem popular : “Independência total, çà cu pôvô  mecê ”  -  Independência total é  tudo o que povo quer. Os jovens ativistas da Associação Cívica, foram a principal força interventiva e conciencializadora durante o processo de descolonização –. Sem a sua coragem e o seu dinamismo, porventura, ainda hoje as duas ilhas, eram colónias, tal como sucede a outros territórios que estão nas mãos de 61 países.

INVADIRAM O PALÁCIO, INSULTARAM O GOVERNADOR – E NO FINAL – QUANDO ME VIRAM ALI PRÓXIMO – CORRERAM ATRÁS DE MIM PARA ME LINCHAREM 

Uma manhã, ao saírem do palácio, depois de insultarem, o Governador, Pires Veloso – mal me viram sentado na esplanada do Restaurante Palmar, – onde pretendia inteirar-se daquela estranha ocorrência -, imediatamente correram furiosos atrás de mim!  E eram umas largas centenas. Se me apanhassem, naquele momento, estou convencido que me  tinham esmagado e linchado. - Mesmo assim ainda levei com uma pedra na cabeça. E o que me valeu foi ter subido por umas escadas e me ter  refugiado num telhado. À noite foi socorrido por um santomense que me levou para sua casa, onde estive escondido  quase duas semanas.
 Fugi para uma escada, até que caísse a noite, para me escapar para qualquer sítio, pois sabia que já tinham assaltado a minha casa e espatifado tudo. Era demasiado arriscado ali voltar.  Foi um rapaz negro (que me distribuía a Semana Ilustrada) que,  tendo-se apercebido da minha entrada naquela escada (onde por acaso pude esconder-me sem que fosse visto pelos moradores) que veio, mais tarde, em meu auxilio. Os colonos (muitos deles, em vez de regressarem às suas casas), optaram por se aquartelar com a tropa portuguesa. Nessa altura, as ruas à noite ficavam praticamente desertas e eu tive então oportunidade de escapar dali. Tendo passado quase duas semanas na casa dos pais desse generoso jovem, num autêntico esconderijo, algures no mato. 




PIRES VELOSO ALUDE AINDA,  NO SEU LIVRO:  “VICE-REI DO NORTE – Memórias e Revelações” À INESPERADA INVASÃO DOS COLONOS AO PALÁCIO DO GOVERNADOR


A manifestação podia ter acabado numa tragédia: havia o desejo de pegar em armas e atacar os defensores da Independência Total. Estes depressa galvanizaram as populações e o movimento do pró era imparável. Só se matassem o povo inteiro. Houve quem estivesse quase a perder as estribeiras. – Felizmente que, a Providência ou os caprichos dos destino, quiçá mesmo a bênção do santo que deu nome à  principal Ilha, enviaram a São Tomé e Príncipe, um homem probo e bom, corajoso e sensato, de seu nome, António Elísio Capelo Pires Veloso, nascido em Gouveia, a 10 de Agosto de 1926, e falecido no  Porto, 17 de agosto de 2014, major-general do Exército português, conhecido como o "vice-rei do Norte" pelo seu desempenho militar no Golpe de 25 de Novembro de 1975 e pelo livro de memórias que escreveu em 2009.

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“É preciso explicar a importância do 25 de Novembro, se não tivesse existido, o 25 de Abril teria desaparecido, (…) E não se pode ensinar às crianças na História de Portugal, que o Eanes foi um herói. Pois se ele não fez nada!”, afirmava então.- PÙBLICO  Morreu Pires Veloso, o “vice-rei do Norte” - PÚBLICO


ACORDOS DE ARGEL – MOMENTO HISTÓRICO

Referem registos, que “De 23 a 26 do mês de Novembro de 1974 reuniram-se em Argel delegações do Governo Português e do Movimento de Libertação de S. Tomé e Príncipe (MLSTP), com vista a fixação, por acordo, do esquema e do calendário do processo de descolonização do território de S. Tomé e Príncipe.
A delegação portuguesa era constituída pelo ministro da Coordenação Interterritorial, Dr. Almeida Santos, pelo secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, Dr. Jorge Campinos, pelo secretário-adjunto do Governo de S. Tomé e Príncipe, major José Maria Moreira de Azevedo, e pelo capitão Armando Marques Ramos.
A delegação do Movimento de Libertação de S. Tomé e Príncipe era constituída por Miguel Trovoada, membro do Bureau Político e do Secretariado Executivo e Encarregado das Relações Exteriores do MLSTP, pelo engenheiro José Fret, membro do Bureau Político e do Secretariado Executivo e encarregado da Propaganda e Informação do MLSTP, pelo Dr. Gastão Torres, membro do Bureau Político do MLSTP, e por Pedro Umbelina, membro do Bureau Político do MLSTP.
As conversações decorreram em ambiente de franca cordialidade, sob os bons auspícios do Governo Argelino, tendo as referidas delegações chegado aos seguintes pontos de acordo:

1.° O Governo Português reafirma o direito do povo de S. Tomé e Príncipe à autodeterminação e independência, de acordo com a Lei Constitucional Portuguesa n.° 7/74, de 26 de Julho, e com as resoluções pertinentes da Organização das Nações Unidas.
2.° O Governo Português reconhece o Movimento de Libertação de S. Tomé e Príncipe como interlocutor e único e legítimo representante do povo de S. Tomé e Príncipe.
3.° O Movimento de Libertação de S. Tomé e Príncipe e o Governo Português, conscientes da necessidade de assegurarem nas melhores condições possíveis a transferência de poderes para o futuro Estado independente de S. Tomé e Príncipe, acordam em estabelecer o esquema e o calendário do respectivo processo de descolonização, criando para o efeito os seguintes órgãos:

a) Um Alto-Comissário;
b) Um Governo de Transição.  Excerto de
descon12 - Centro de Documentação 25 de Abril 



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