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terça-feira, 5 de julho de 2016

Eleições Presidenciais em S. Tomé 2016 – Campanha eleitoral, não entusiasma diáspora da juventude santomense, em Lisboa – Eu não acompanho a política, porque, cada um faz a sua vida e não resolve a vida do Povo!... – Diz um desempregado da construção civil, que este ano trabalhou na Casa de Patrice Trovoada - Outro queixa-se de que a embaixada não lhe passa documento por não aceitar a foto do corte de cabelo ao estilo de Renato Sanches: “eles querem S. Tomé no fundo poço!” - Rematam, em RAP, os Rapazes da Favela

Por Jorge Trabulo Marques - Análise e informação



Enquanto prossegue a campanha eleitoral, em S. Tomé e Príncipe, engalanando as ruas da capital das cidades e vilas, de vistosos cartazes de todos os candidatos, com estes arrastando, nos seus cortejos panfletários e comicieiros, centenas de  simpatizantes e apoiantes,   velhos e jovens,  ostentando bandeirinhas, t-charts  e bonés, -  pelo menos a nível de Manuel Pinto da Costa, Evaristo Carvalho e Maria das Neves, já que, os dois últimos na lista de votos, Hélder  Barros e Manuel Rosário, dificilmente deverão arrastar grandes multidões, sim, longe desse bulício, que parece ter quebrado a habitual monotonia da vida das Ilhas, pelo contrário, em Portugal, a  massa jovem dos emigrantes,  não só parece olhar com alguns indiferença, ceticismo ou desconfiança, todo esse frenesim politico, como,  inclusivamente, poder vir a alhear-se, de forma significativa,  da sua intervenção cívica nas urnas – Foi, pelo menos, a impressão que pude recolher na tarde deste último domingo, numa deslocação de reportagem  às Galinheiras, Fetais e Lumiar. Claro que não será das zonas mais habitadas por santomenses, em todo o caso, há também por ali uma expressiva comunidade

Houve quem criticasse pelo facto de ter havido candidatos que animaram os seus comícios com artistas angolanos - Não me parece que tenha sido má ideia; pelo contrário: - pois  não é todos os dias que os santomenses dispõem dessa oportunidade - Sobretudo com artistas de um país irmão  O importante é que Angola também faça o mesmo com os músicos santomenses


Jovens Santomenses em Lisboa e a vida política em S. Tomé: da indiferença ao protesto  

Campanha é uma coisa de que eu não quero falar; porque falar de campanha é falar de certas coisas: porque, quem está no poder não vai fazer nada; o país está na porcaria, está na merda!” “Não dou nenhuma preferência, porque todos fazem a mesma brincadeira”– Da indiferença ao protesto – De um modo geral foi esta a impressão que registamos, neste último domingo à tarde,  nas breves entrevistas a vários jovens santomenses, que vivem nos subúrbios de Lisboa, nomeadamente no Bairro do Lumiar, Fetais e Galinheiras.  

 José jardineiro – há 11 anos, em Portugal – A vida não corre  bem porque, estamos aqui em Portugal, nós que somos emigrantes de S. Tomé, nunca somos apoiados em nada – Mas, depois, quando chega o dia da eleição, querem que a gente vá votar!... Mas, se não temos apoio, não vale a pena a gente votar   Vou pensar ainda para ver se consigo fazer alguma coisa

Chamo-me Amadeu Sangrado: neste momento, não sei para quem votar…Mas, com o tempo, vou tentar conhecer os candidatos para ver o melhor que tenha uma boa influência para o país ou não. Compreendo que as pessoas, estejam atentas, porque o futuro depende disso

Eu tenho 32 anos. Neste momento, estou a viver Portugal e estou muito descontente com a realidade, lá em S. Tomé  e com o candidatos atuais, lá em S. Tomé . E o nosso descontentamento aqui, é acerca dos músicos estrangeiros, que os políticos, lá em S. Tomé, gastam uma fortuna, com esses cantores estrageiros, em vez de apostar no que é nosso ! E nós temos bons cantores, lá em S. Tomé, e mesmo aqui, em Portugal, também temos

Há muitos jovens, que acabam a formação e chegam a S. Tomé e não tem como encostar! Acaba a vida numa miséria: quem tem. Encosta, quem não tem vai embora!

Muitas pessoas estão a passar fome, em S. Tomé ! Mas onde vão buscar esse dinheiro para fazer a campanha? Aonde?!... Gastam tanto dinheiro na campanha!

Nós estamos aqui em Portugal, somos estudantes e o estado santomense, em vez de nos apoiar com bolsa de estudo, para nós nos podermos formar, que é para o futuro do pais, ter mais jovens, com capacidade, não apostam!  Estamos muito descontentes, com essa realidade, lá em S. Tomé 

TRABALHOU NA CASA DO PRIMEIRO-MINISTRO PATRICE TROVOADA

Eu sou o Camilo Afonso Rita: o meu tio, Cosme Rita, foi ministro em S. Tomé  - Eu não acompanho  a politica, porque, para mim, é uma tristeza.

- Ainda não pensou em quem vai votar?  - R: Eu não penso em nenhum deles, porque, nenhum deles faz nada! Ainda este ano trabalhei na casa do primeiro-ministro de S. Tomé  - Cada um faz a sua vida e não resolve a vida do Povo!... É complicado!

Laurindo André do Espírito Santo – Eu estou doente, vim doente! Há 18 anos! Com Hemodiálise – Estou a viver na miséria!... Como é que vejo a politica, em S. Tomé? -  Olha péssima! A gente está aqui, não tem dinheiro para pagar a casa, nem dinheiro para comer

Sim, em quero um dia regressar a S. Tomé A política esta mesmo péssima! Ninguém faz nada!
Wilson  – Há cinco anos em Portugal – Natural de Chão Grande, Água Lama Era cozinheiro, atualmente está desempregado  - Com muitas saudades de S. Tomé e dos amigos! Par ver meus familiares!  Ainda não sabe em quem vai votar

EMBAIXADA DE S, TOMÉ E PRÍNCIPE, EM LISBOA - NÃO ACEITA FOTOGRAFIA DE CIDADÃO AO ESTILO DO CABELO DE  RENATO SANCHES

Infelizmente, a Embaixada de S. Tomé é ignorante! O meu amigo foi lá, precisa de documentos e estão-lhe a mandar cortar o cabelo  - O Mauro, há seis anos, em Portugal,  precisa de um documento da Embaixada e não lho passam, porque quem uma fotografia, com outro corte de cabelo – E m relação às eleições, ainda está na expetativa, ainda não decidiu em quem vai votar; o Governo  não está bom, não.

 HÁ, PORÉM, QUEM JÁ SAIBA EM QUEM VAI VOTAR 

Wandaley Costa - "Eu sou um cidadão santomense, que estou em Portugal, há seis anos. Eu vou botar no Sr. Evaristo Carvalho: é um candidato com quem eu me identifico".

"Eu não conhecendo bem os candidatos, mas acho que votaria na Maria das Neves; acho que é uma boa vali dar o voto à Maria das Neves."

"Eu acredito que, S. Tomé, um dia vai melhorar, acredito! O Pinto da Costa se calhar pode fazer alguma coisa"

O domingo, para mim, começou bem cedo, pois tive que me deslocar ao aeroporto, a fim de ali arranjar um portador para enviar uma pequena encomenda a uma pessoa amiga . Aproveitei  para iniciar o  registo da reportagem, mas não fui bem sucedido, em termos de qualidade técnica, já que, o microfone, ligado  à máquina fotográfico, adquirido há uns dias, ao contrário de outro que possuía,  em vez de ser ser direcional, captava todos os ruídos, tornando algumas declarações inaudíveis.


Da parte da geração, dos mais velhos,  nota-se, porém, uma maior atenção e consciencialização   politica:  - Não quer dizer que toda a agente, venha a dirigir-se às mesas de voto; bem longe disso: haverá sempre, como é habitual,  uma grande abstenção;  até porque, os postos, não estão assim, tão próximos  das residências, como nas duas Ilhas, o que exige algum esforço.

UMA TARDE SURPREENDENTE E REVELADORA - DE CONVÍVIO E DE ENCONTROS COM  TALENTOSOS JOVENS ARTISTAS DA MÚSICA RAP

A  meio da tarde, dirigi-me à zona de Fetais e  Galinheiras, por sugestão de um santomense, dizendo-me que, por aquelas bandas, estavam previstos vários pequenos comícios  – Apenas deparei, com um de pequeno convívio de apoiantes de Maria das Neves, animado por um grupo musical,  em  ambiente alegre e caloroso, mas nem por isso muito concorrido.




Antes de ali chegar, graças à colaboração do jovem Santomense , Wanderley Costa -  fervoroso apoiante de Evaristo Carvalho, que se  prontificou a encaminhar-me por algumas tasquinhas onde podia encontrar santomenses - , penso que a melhor surpresa da tarde, além da prestável generosidade deste jovem, que me serviu de guia, foi a de ter encontrado uma variadíssima diáspora santomense, desde jovens aos mais crescidos – Desde gente desempregada e a viver com extremas dificuldades, a empresários, gente de sucesso – Mas todos de uma grande cordialidade e simpatia, como é apanágio do pacifismo e amabilidade,  própria das maravilhosas Ilhas Verdes do Equador   

Estive no restaurante de um  santomense. o Café da Judite r  também entrei num moderno salão de um jovem cabeleireiro,  em  plena atividade, pese o facto de ser domingo, com vários  empregados a trabalharem a seu lado, que, pelos vistos, fazem parte de um grupo musical, a que faço referência num dos vídeos, aqui editados – Deste modo, dir-se-ia que foi um domingo com bonitas surpresas, a começar pelo grupo musical Rapazes da Favela

Rap – “Eles querem S. Tomé, no fundo do Poço” – Dizem os  Rapazes da Favela – Em Eleições

Em S. Tomé - Eleições presidências 2016 – “Eles querem S. Tomé, no fundo do Poço! “– Palavras dirigidas  aos políticos e candidatos, eivadas de sarcasmo e de humor, ditas ao ritmo harmonioso e cadenciado dos sons e gestos dos  talentosos Rapazes da Favela, na sua expressão RAP, residentes nos  subúrbios de Lisboa –  Em que os chamados palavrões ou expressões, tidas como obscenas ou banais, na cadência surpreendente do improviso, assumem a graça, o humor, retemperam os gestos de harmoniosa carga alegre, artística e metafórica


"Eu não tenho partido/ À pala dos sistemas, eu detesto político!/ Neste momento eu estou aqui, ativo/ Com os meus amigos/emigrantes africanos/ Neste momento, eu estou aqui, agradeço a Deus pela vida que eu levo, mentira!/ Neste momento, eu estou aqui, na tuga, na porcaria!/Se calhar, se eu estivesse em África, também estaria na mesma porcaria/ Mas, antes demais nada. Eu tenho que explicar/ que nós temos que nos fazer na “laive”/Senão um gajo está fudido, aqui, na Tuga/ ou em qualquer parte!/
(…) Viva S. Tomé/ Mas não vivam os ministros! Que se foda o Patrício Trovoada! A Maria das Neves!  Que se foda o Pinto da Costa!/Eles querem é S. Tomé no fundo poço! Eles querem S. Tomé, no fundo Poço!

 GRANDE REVELAÇÃO DA MÚSICA RAP – ELES VÃO DAR QUE FALAR

Eles são a grande revelação da música RAP, de expressão santomense, de raiz genuinamente africana, que se denominam de  Rapazes da Favela - ou seja, os  RDF:

Uns nascidos em Portugal, outros emigrados, mas todos oriundos das Ilhas Verdes do Equador  –  Residentes nos bairros periféricos de lisboa, nas zonas mais esquecidas, marginais  e problemáticas  – Das   Galinheiras, Fetais e dos Lumiar – Ivan Mendes,  talentoso jovem improvisador, de franzina e baixa estatura física, sem o corpo escultural dos companheiros de batida, que ludicamente o  ostentam, ao leu, tal como o Deus o fez,  mas é assim: os homens não se medem aos palmos mas pelo que valem e expressam, pelas suas ações e qualidades  – É o caso     do genial poeta e músico,  vocalista  e fundador do grupo constituído por vários jovens, alguns  estudantes outros jovens-trabalhadores e até desempregados. Nomeadamente, Aylton Pires, Pinto da Costa, Mauro, entre outros



Musica, ritmo e poesia – Palavras de improviso, de pendor poético e humorístico, mas  com forte motivação de protesto  e sentido – Os gestos acompanham a cadência  rítmica  para lhe  reforçarem ainda mais a força da letra poética, harmoniosa, satírica  de denúncia ou protesto ou simplesmente de matriz lúdica e sensual – Porém, nunca vazia, desprovida ou fútil de significado: desde apologia paz e à liberdade, ao consumo do álcool, como fonte de prazer e de aturdido esquecimento das agruras do dia a dia,  aos mais variadíssimos temas do quotidiano de gente pobre, das favelas,  marginalizadas e humilde.   .    

 Como é sabido, o  rap  tem a sua  origem  na Jamaica, dos anos 60, na altura em que passaram a ser instaladas colunas de som, animando as festas populares das ruas e salões dos bairros mais pobres, onde os vários artistas anónimos, passaram a  revelar o seu talento e qualidade de rebeldia coreográfica, num misto de mímica, de melodia e de improvisação poética, cujo temática, de inspiração interventiva, social e politica, abordava também as violência que dos bairros, a chamada revolução do sexo e da droga -  No entanto, embora a origem do Rap, tenha essa fonte história, as suas  formas de expressão, têm evoluído  de acordo com o estilo e o génio de carta artista – E, na verdade, em minha opinião, constato neste surpreendente e talentoso grupo denominado RDF – Rapazes da Favela, no qual auguro êxito assegurado, quando uma televisão lhe der a oportunidade de os convidar à ribalta.

…. Neste momento, eu estou aqui a gozar um pouquito de liberdade de expressão/ à descida, por rimas  progressivas/ Quem não curta a bota, que se foda, tem partida!/Neste momento, eu estou aqui, na via, sem bazofaria!/Acabei há modo de beber uma sangria!/ Mas isso, não me faz feliz!/ (… ) Sou uma africano de raiz / Quero simplesmente viver em paz ao lado dos meus rapazes! – Numa imprevisão poética que nem a avaria momentânea da caixa de sons, faz quebrar.

Banda Leguelá, - Música Santomense África em Lisboa com temas antigos e modernos



 - Banda Leguelá - As condições do registo não permitiram a melhor acústica, em todo o caso aqui fica um brevíssimo vídeo, com um dos elementos fundadores do grupo – Gravado num fim de tarde deste último domingo, de alegre diversão, da comunidade santomense, em Fetais-de-Baixo -  

Trata-se, com efeito, de um dos mais jovens grupos musicais, de música típica santomense,  formados na capital portuguesa, com músicos oriundos dos mais lendários grupos das maravilhosas Ilhas de S. Tomé e Príncipe -  grupo recém-formado por Leonildo Barros, extraordinário guitarrista do mítico grupo África Negra e o único membro da formação original que reside em Portugal há largos anos. Leonildo recrutou para a banda mais um guitarrista, um baixista, um baterista, um percussionista e dois vocalistas, numa tipologia de formação clássica análoga aos grandes reis da rumba são-tomense, aos quais vão beber a principal influência musical.


S. Tomé – Diáspora santomense,  em Lisboa,  dos mais velhos, atenta à vida social e politica do seu país




A vida dos santomenses, em Portugal, atualmente, não é fácil, aliás, tanto para emigrantes como para os que aqui nasceram, em todo o caso, sentem-se perfeitamente integrados, muitos conhecendo também o desemprego, no entanto, há também muitos santomenses, não só trabalhando nos diversos sectores de atividade, como na qualidade de gestores e empresários, que, além de não quebrarem  o vínculo com o seu país,  seguem com  atenção, através da rádio e televisão, a realidade politica e social,  ao contrário dos mais jovens  – Foi o que procurámos saber, em tempo de campanha para as presidenciais,  a realizar no dia 17 deste mês. – Fizemos mais entrevistas, porém, devido às deficientes  condições técnicas de gravação, com demasiado ruído de fundo, optamos por não as editar  

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