Ó
DEUS TORNA-ME NO ESPELHO DA TUA ABENÇOADA LUZ - Concede-me a santidade da
invisibilidade transparente e transforma-me na partícula que cintila do brilho
do teu esplendor em consciência plena dos três estados do espírito subtil: a
luminosidade irradiante e iminente para que através do silêncio e da meditação
possa compreender ainda melhor a missão que me confiastes enquanto for vosso
dedicado peregrino nesta temporária e efémera passagem da vida
PeregrinodaLuz - JTM
Alcandorado sobre
as nuas e graníticas pedras do meu torrão natal, contemplando uma das místicas páginas do grande livro da eternidade...
Para
ser sonho. A mim, como a quem sonha,
E
obscuramente pesa a certa mágoa
De
ter que despertar — a mim a morte
Mais
como o horror de me tirar o sonho
E
dar-me a realidade me apavora,
Que
como morte. Quantas vezes, (...),
Em
sonhos vários conscientemente
Imersos,
nos não pesa ter que ver
A
realidade e o dia!
Sim,
este mundo com seu céu e terra,
Com
seus mares e rios e montanhas,
Com
seus arbustos, aves, bichos, homens
Com
o que o homem, com translata arte
De
qualquer outra, divina, faz —
Casas,
cidades, cousas, modos —
Este
mundo que sonho reconheço,
Por
sonho amo, e por ser sonho o não
Quisera
deixar nunca, e por ser certo
Que
terei que deixá-lo e ver verdade,
Me
toma a gorja com horror de negro
O
pensamento da hora inevitável,
E
a verdade da morte me confrange.
Pudesse
eu, sim pudesse, eternamente
Alheio
ao verdadeiro ser do mundo,
Viver
sempre este sonho que é a vida!
Expulso
embora da divina essência,
Ficção
fingindo, vã mentira eterna,
Alma-sonho,
que eu nunca despertasse!
Suave
me é o sonho, e a vida porque é
Temo
a verdade e a verdadeira vida.
Quantas
vezes, pesada a vida, busco
No
seio maternal da noite e do erro,
O
alívio de sonhar, dormindo; e o sonho
Uma
perfeita vida me parece...
Perfeita
porque falsa, e porventura
Porque
depressa passa. E assim é a vida.
3-3-1928
Fernando Pessoa
1ª versão: “Primeiro Fausto” in
Poemas Dramáticos . Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de Eduardo
Freitas da Costa.) Lisboa: Ática, 1952 (imp.1966, p.92). Arquivo Pessoa: Obra Édita - Basta ser breve e
transitória a vida -
Fernando
António Nogueira Pessoa (Lisboa, 13 de junho de 1888 — Lisboa, 30 de novembro
de 1935) foi um poeta, filósofo, dramaturgo, ensaísta, tradutor, publicitário,
astrólogo, inventor, empresário, correspondente comercial, crítico literário e
comentarista político português.
Fernando
Pessoa é o mais universal poeta português. Por ter sido educado na África do
Sul, numa escola católica irlandesa, chegou a ter maior familiaridade com o
idioma inglês do que com o português ao escrever os seus primeiros poemas nesse
idioma. O crítico literário Harold Bloom considerou Pessoa como "Whitman
renascido",[4] e o incluiu no seu cânone entre os 26 melhores escritores
da civilização ocidental,[5] não apenas da literatura portuguesa mas também da
inglesa.[5]
Enquanto poeta,
escreveu sobre diversas personalidades – heterónimos, como Ricardo Reis, Álvaro
de Campos e Alberto Caeiro –, sendo estes últimos objeto da maior parte dos
estudos sobre a sua vida e obra. Robert Hass, poeta americano, diz:
"outros modernistas como Yeats, Pound, Elliot inventaram máscaras pelas
quais falavam ocasionalmente... Pessoa inventava poetas inteiros." In . Fernando Pessoa – Wikipédia,
Fernando Pessoa
1ª versão: “Primeiro Fausto” in
Poemas Dramáticos . Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de Eduardo
Freitas da Costa.) Lisboa: Ática, 1952 (imp.1966, p.92). Arquivo Pessoa: Obra Édita - Basta ser breve e
transitória a vida -
Fernando Pessoa - Almada Negreiros |
Fernando Pessoa - H Mourato |
Das
quatro obras que publicou em vida, três são na língua inglesa. Fernando Pessoa
traduziu várias obras em inglês (e.g., de Shakespeare e Edgar Allan Poe) para o
português, e obras portuguesas (nomeadamente de António Botto[6] e Almada
Negreiros) para o inglês.[7]
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