Desprendido de tudo,
menos do que é o mistério intrínseco da vida....
Em noite escura, nos
ermos montes, quando estou só a minha alma não responde mas voa não sei para onde..
Perdido ando, Senhor Deus, no tempo, quando,
sem vós, sem mim, nisto me refugio, ausente de tudo
porém, seguro de que, solto e solitário de todo o mundo,
do que no passar é pausa íntima
entre sons minuciosos que inclinam
a atenção para uma cavidade mínima
E estar assim tão breve e tão profundo
como no silêncio de uma planta
é estar no fundo do tempo ou no seu ápice
ou na alvura de um sono que nos dá
a cintilante substância do sítio
O mundo inteiro assim cabe num limbo
e é como um eco límpido e uma folha de sombra
que no vagar ondeia entre minúsculas luzes
E é astro imediato de um lúcido sono
fluvial e um núbil eclipse
em que estar só é estar no íntimo do mundo
António Ramos Rosa, in "Poemas Inéditos"
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| Jorge Trabulo Marques e António Ramos Rosa |

Poeta e ensaísta António Ramos Rosa, um dos nomes cimeiros da literatura portuguesa contemporânea, autor de quase uma centena de títulos, de O Grito Claro (1958), a sua célebre obra de estreia, até Em Torno do Imponderável, um belo livro de poemas breves publicado em 2012. Exemplo de uma entrega radical à escrita, como talvez não haja outro na poesia portuguesa contemporânea! In https://www.publico.pt/2013/09/23/culturaipsilon/noticia/morreu-antonio-ramos-rosa-1606787





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