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domingo, 29 de novembro de 2020

De miserável náufrago a perigoso mercenário-espião – Na tarde de hoje, em 1975, era conduzido algemado para uma tenebrosa cela da famigerada prisión Playa Negra, na Guiné Equatorial para ser executado


A Guiné Equatorial, 
foi liderada por Francisco Macías Nguema, de 1968 a 1979, que  ficou conhecido  por ter elogiado publicamente a figura de Adolf Hitler. - O número de mortos sob a ditadura de Macías, estima-se entre 50.000 e 80.000, ou, dito de outro modo, entre 1/6 e 1/4 de uma população de umas 300.000 pessoas - A 3 de agosto de 1979, seu sobrinho Teodoro Obiang Nguema Mbasogo organizou, com a ajuda de parte do exército, um golpe de estado que derrubou https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Mac%C3%ADas_Nguema

Jorge Trabulo Marques - Jornalista e antigo navegador solitário

Após ter acostado num recanto de uma pequena praia de Bococo,  encaminhei-me por trilho da floresta, amparado a um tosco pau, indo dar a  uma finca de cacau, onde fui bem acolhido – Mas depois as autoridades, ao terem conhecimento, levaram-me para a esquadra de Bococo, onde me enfiaram num horrível calabouço subterrâneo, juntamente com dois casais de trabalhadores nigerianos e as suas crianças.

Graças a Deus estou vivo  e o devo ao humanismo e à compreensão do então Comandante Obiang, atual Presidente, que, no dia em que ia ser executado, me chamou ao seu gabinete, quando, pouco depois de sair acorrentado da minha estreita e nauseabunda cela, um inesperado telefonema, soando no corredor,  ordenou ao Comissário da cadeia, que seguia a liderar a minha execução com dois guardas, fosse levado à sua presença.

Tendo acreditado nas minhas palavras e na mensagem que levava no bolso das calças, passada pelo MLSTP para saudar o povo brasileiro, quando chegasse de canoa ao Brasil, de que eu era apenas um miserável náufrago em 38 longos dias perdido numa canoa, devido a um violento tornado e não o perigoso espião, de que era suspeito

Arriscando contrariar as ordens do seu tio, não hesitou em libertar-me. Mais tarde em 1979, teve de sacudi-lo através de um golpe militar, visto, entre os milhares de execuções,  até ter assassinado o próprio irmão,  o  pai  de Obiang

Por isso, este dia é para mim, um dia de profunda tristeza e lágrimas pelo terrível sofrimento que ali passei numa estreita cela, dispondo apenas de um banco e de uma lata para as necessidades, aterrorizado pelos gritos lancinantes dos presos que diariamente eram espancados e torturado até à morte.

Guiné Equatorial -19-11-75 às 16 horas deste dia, era conduzido algemado à cadeia das execuções -  Referem dados de pesquisas, que "a prisão foi construída na década de 40 durante o domínio colonial espanhol , em uma área costeira de Santa Isabel muito próxima (hoje Malabo) de uma praia chamada Praia Negra. No início, criminosos comuns foram presos aqui, mas após a independência do país em 1968 e o estabelecimento da ditadura de Francisco Macías Nguema , muitos opositores políticos foram presos e assassinados na prisão. Inicialmente, os métodos de execução e tortura usados na prisão consistiam em execuções, o bastão vil,facões, eletrocussões ou enforcamentos. Nos anos posteriores, os métodos de execução tornaram-se progressivamente mais brutais. Em 1978, o método mais comum de execução era bater no crânio do condenado com uma barra de ferro até sua morte. https://www.wikiwand.com/es/Prisi%C3%B3n_Playa_Negra


Aproximação à Ilha de Bioko Nov 1975
S. Tomé - Outubro 1975
 




Após 38 dias 
 e noites à deriva, de  inarráveis perigos e incertezas, finalmente pude acostar a bordo da minha frágil canoa, algures no recanto de uma nesga de um discreta praia de areia negra, sobre a qual se erguia uma alta 
montanha coberta de vegetação equatorial

A partir daquioutra aventura desconhecida ia ter pela frente e não menos arriscada: uma caminhada desgastante por  espessa floresta acima. - Depois, disso, os calabouços de uma esquadra e a cela de uma sinistra prisão.


Após algumas horas na margem da pequena praia, contrariamente ao meu desejo inicial, que era o de acampar por aqui alguns dias, até me refazer da minha debilidade física e ao mesmo tempo aproveitar a generosa dádiva, que tão idílica paisagem, parecia querer oferecer-me, como recompensa de tantas privações e sacrifícios, concluo que o mais prudente era abandonar o lugarir ao encontro de um local habitado e pedir assistência às autoridades do país, a que pertencesse - Tinha acostado na maior ilha da Guiné Equatorial, mas por enquanto ainda era para  mim uma terra desconhecida e ignorada.   - Não duvidei, pois, que o mais aconselhável fosse mesmo o de virar de vez as costas ao mar e subir a floresta. - Mas, como?!  -  Por onde caminhar?!.... Valendo-me  de uns  apontamentos  redigidos nos dias em que estive preso e de outros que escrevi algum tempo depois de ter voltado a Portugal - Mais à frente os pormenores




Dada a extensão deste post, vou  apenas aqui reproduzir alguns excertos da minha entrada na Cadeia Central - Para trás ficava uma noite nos calabouços da Esquadra de Bokko, um exaustivo interrogatório pelo  Chefe da Esquadra, que eu depois descrevi num dos meus cadernos na minha miserável cela  

(…) Atravessamos várias ruas e eis-me por fim, junto à frontaria de um amplo edifício  de construção rasteira, encimado por um piso . A minha pequena trouxa é retirada da carrinha, depois, ainda sob vigilância dos policias, que me acompanharam desde a esquadra de Bococo, sou conduzido algemado  diretamente para o gabinete do Comissário da Prisão.

Ele encontra-se em sua casa, pois é já quase noite. Porém, a carta que um dos policias traz na mão, noto que lhe vem endereçada com um carimbo de urgência. Avisam-no  com a brevidade que o assunto requer, pelo que, menos de meia hora depois, ei-lo, apressadamente , denotando ares de um certo  enfado e algum nervosismo, a transpor o limiar  da porta do seu gabinete, negligenciando-se em absoluto para as continências, que, com impecável  aprumo e correção, lhe eram prestadas pelos dois agentes. E, enquanto  se acomoda, quase, precipitadamente, numa cadeira por detrás da sua secretária, mira-me de revés, com olhar vivo, injetado  de manifesta perturbação  e aspereza, passando em seguida, uma rápida olhadela pela papelada que está amontoada por detrás da sua secretária, e, como não topasse o que procurava, resmunga, em tom de voz alteado e colérico:

Em Junho 2017  -Recebido pelo Secretário-Geral do PDGE
- Onde está a carta?!... Onde está essa carta do nosso chefe?!...
Está aí! Está aí!  Sr. Meritíssimo Comissário– responde um dos policias, entre solícito e assustado, dada a forma violenta, como o inquiria, ao mesmo tempo que avança para a sua secretária, para lha indicar, pousada sobre a mesma.

- Isto vai dar muita volta!... Muita volta!... – murmura o comissário, a meia voz, excitado,  mal entreabrindo os lábios tensos e salientes da sua fisionomia, que cresce num tom rude e zangado à medida que se apressa a rasgar o subscrito e se prepara ler o extenso relatório que está dobrado dentro dele, convicto, provavelmente,  de ter entre as mãos um caso talvez de transcendente perigosidade e importância.

Aliás, à primeira vista, talvez nem seja de julgar outra coisa. Um europeu aportar sozinho numa canoa, que só os pescadores usam e numa pequena praia de areia negra, num local quase inacessível, não é caso para menos, além disso, o relato ocupa de facto um grosso número de folhas e constitui um autêntico dossier policial.

2017
Agora terei de esperar um ror de tempo que o leia. Não me autorizo a ir `casa de banho, urino as calças. 

Eu nem sequer  o cheguei a ler. Mas julgo que, só o prólogo, era tão extenso como como o restante relato. Na esquadra de Bococo, o chefe que me interrogou, disse-me que o tinha de assinar e eu não tive outro remédio que lhe apor a minha assinatura e uma quantidade de rubricas, uma em cada uma da páginas.

Evidentemente que foi o que menos me custou. Antes de próprio o assinar e de mo dar também assinar, levantou-se da sua cadeira, deu uns passos à sua frente, e, voltando o braço direito estendido para o retrato do Presidente Macias, pendurado na parede, pronuncia vigorosamente umas quantas palavras  de ordem, que o seu secretário fui sucessivamente escrevendo no fecho do dito relatório e à anteceder as respetivas assinaturas.

Sinceramente, via que estavam a dar  demasiada importância ao meu caso, mas, que chegasse a um tal extremo, digo que isso me espantou.

No entanto, vejo que o Comissário é capaz de levar o meu caso ainda mais a sério: de momento, ainda talvez seja cedo para adivinhar qual a atitude que irá tomar a meu respeito. Mas tenho para mim, cá um pressentimento que poderá não ser nada boa.

Ainda não lhe retirei a vista, desde que o vi entrar no seu gabinete. Causa-me uma certa apreensão as suas próximas reações. Parece não o prender muito a leitura: folheia-o, folheia-o e olha-me de soslaio, com evidente nervosismo. Deve estar é desejoso de vir para aí a desatinar comigo.

E realmente assim acontece. Uma breve vista de olhos por algumas  folhas do relato, e, repentinamente, volta-se para mim. Com uma cara subitamente irritada, como se acaso tivesse à sua frente a pessoa mais ignóbil deste mundo, fuzilando-me imediatamente com esta pergunta:

- Quem te autorizou a entrar na República da Guiné Equatorial?!..
- Foram os imperialistas?!.. Não foi?!...Que te pagaram para vires colaborar com os inimigos do meu país?!...

O tipo e tom da pergunta, já não me surpreende. Pois o teor é quase  à quase idêntico à desconfiança manifestada pelo Chefe da Esquadra de Bococo. A psicose da espionite deve ser a técnica dominante nas preocupações e na verborreia do sistema, que tão fanática e cegamente devem servir. Por isso, já não estranho tais absurdos. E, sem perder a serenidade, respondo-lho:

- Sr. Comissário…. – mal pronuncio esta palavra, interrompe-me:
 “ Por favor: Senhor Generalíssimo Comissário!!” – corrige-me ele
A que então respondo:   Sr. Generalíssimo Comissário: não faça semelhante juízos da minha pessoa. Tenha mais calma: não pense que está  de frente de algum malfeitor do seu país. Leia com atenção o relatório. Eu já expliquei a minha situação. Se acreditar nas minhas palavras, concluirá que eu sou outro género de pessoa. Sou um náufrago! – A que contrapõe:

- “Um mercenário!!!  Um mercenário!!! 
- Não Senhor Generalíssimo Comissário!... Sou um náufrago!... Tenha piedade de mim!.. Não vê como estou tão fraco!... Não vê o meu estado?!.. – Não acredita e volta a resmungar:
- Não és outra coisa!!!... Julgas que me enganas com a tua conversa!  Mas és demasiado ingénuo para me enganares!... Sabes! Estou a perder muito tempo contigo! O melhor é já informar o nosso comandante.

Jorge Marques  com o Embaixador Tito Mba Ada
Ergue-se abruptamente da cadeira e liga o telefone. Insiste várias vezes. Ninguém responde porque já é muito tarde.
Continua a resmungar: - “O caso é sério!!... Está fora do meu alcance”
Tenho que participar ao nosso Presidente.
Tenta então, ato continuo, o escalão, hierarquicamente  superior da cúpula governamental.
Eu vim acionar um mecanismo que estava longe de imaginar - - Pormenores em postagem a editar com base no meu diário 
..

DEPOIS DE SOZINHO NO ALTO MAR,  AGORA SOZINHO A CAMINHAR PELA FLORESTA ACIMA - (reconstituição com algumas imagens de S. Tomé)


Em S. Tomé, lembrando as aventuras no mar
Em S. Tomé, o mar é todo igual
Esta praia está ladeada por escarpas cobertas de florestas, que se opõem como barreiras intransponíveis.O mato é cerrado e avassalador, a encosta  íngreme e compacta, revestida de um denso verde emaranhado. 

 Vai ser o cabo dos trabalhos sair daqui. Tanto num sentido como do outro, não se descobre uma nesga de areia: a  floresta desce, lá  do alto até às rochas batidas pela rebentação.  Não se descobre  um trilho ou uma única clareira mas não tenho outro remédio senão  pôr os pés a caminho, antes que se faça tarde e a noite me surpreenda no interior deste espesso manto verde. Ficar aqui o resto da tarde, é uma perda de tempo inútil,   parece-me desaconselhável – Adiante!... Há que arriscar!...


Em S. Tomé. numa vereda semelhante
Errando, por entre a brenha densa de  um quase inexpugnável arvoredo, por entre árbustos e fetos gigantes, errando agora em terra, como se porventura ainda andasse   errando no mar, enfrentando uma nova aventura. De género diferente mas  talvez nem por isso menos arriscada.   

Livre como um passarinho mas com uma grande diferença: de  um passarinho, que, além de não poder voar, mal pode caminhar. 

 Despojado de tudo, sem dinheiro no bolso, sem outra fortuna que não a riqueza da dolorosa experiência por que acabava de passar - Sim, porque a maior riqueza espiritualnão advém do ócio, de uma vida cómoda e sem riscos  mas a que resulta das adversidades que se vencem - Sim, uma aventura no meio das ondas do mar, tal como eu a conheci, propicia sentimentos. emoções, estados de alma, muito intensos e muito variados, impossíveis até descreverE este lastro, não se perde, fica para toda a vida - Por isso, não se pode ser poeta, não se pode aspirar a estados elevados de espiritualidade, sem o lastro dos grandes sacrifícios, das privações. Ou  não é este o maravilhoso exemplo que nos legou o próprio calvário de Cristo?... - Eu também vivi um calvário imenso no mar. Felizmente, sobrevivi, tive sorte,  fui bem sucedido. Mas bem podia ter ficado no fundo do mar ou ter sido devorado por algum tubarão, se me tivesse resignado, perdido a fé e a confiança, se não tivesse lutado.


E agora aqui me encontro  no principio de um outro calvário, que tenho pela frenteamparado a um tosco pau. Mesmo a custo, lá  vou caminhando e cambaleando: sem outras armas que não sejam as de um coração ávido por encontrar um rosto amigo.

O  céu continua muito nebulado e a noite pode surpreender-me no meio da floresta. Mas,  para onde quer que volte, vejo-me envolvido por  um espesso labirinto de verdura, fresca e pujante. Respira-se um ambiente impregnado por uma autêntica miscelânea de vapores aromáticos, com sabores a raízes, cheiros a barro, a húmus, flores e  frutos verdes, maduros, podres, de ervas e de folhagem variada,  que me inebria os sentidos de intensos perfumes,  povoado de árvores tropicais, enormíssimas, das mais variadíssimas espécies. 

Em S. Tomé - subindo uma vereda junto à costa
O ambiente não  é diferente do que conheci nas  florestas do óbó de S. Tomé, mas não tenho a certeza se esta terra é uma ilha ou uma floresta da costa africana e dos perigos que me possa reservar.  Claro que aqui não há os tubarões, que me atacaram no mar, mas poderão existir  outros riscos e  eu não  trago nada com que me  defender, senão esta simples vara, em que me amparo e  com a qual vou sacudindo alguns arbustos,  abrindo caminho. 

S. Tomé
Perpassa, em torno de mim, um rumorejar permanente de insetos, que se mistura com os gritos de aves, nos mais estranhos sons. Ouço constantes chilreios, vindos de toda a parte. Vejo bandos de aves espavoridas, de  múltiplas cores, que se levantam à minha passagem. O barulho  da rebentação do mar, o bater das ondas nos recifes, já mal se faz soar, é praticamente abafado  pelo ruído da passarada  e do barulho da ramagem que me envolve. Não sei precisar o  que  ainda tenho de caminhar  para me ver livre deste espesso labirinto vegetal mas não posso desistir. 
Entretanto, para minha agradável surpresa, depara-se-me, inesperadamente, um género de vegetação com uma fisionomia completamente diferente: entro numa enorme clareia, onde existe uma plantação de mandioca, por entre plameiras, diversas árvores  selvagens  e bananeiras.  A subida é agora mais suave. E, um pouco mais à frente, até descubro  um carreiro de terra batida. Sigo-o em ziguezague. Sinto-me agora mais aliviado, pois acredito que me há-de levar a um lugar habitado.

PLANTAÇÕES DE CACAU

S. Tomé
Seguindo por um sinuoso trilho, que parecia  nunca mais ter fim e não me conduzir a qualquer povoação, finalmente deixo o carreiro e desemboco numa picada, que vai atravessar uma magnifica  plantação de cacaueiros, de aspeto bem cuidado, com os troncos e os ramos cobertos de lindos e coloridos frutos, que estão pendurados quase desde o chão até às pontas.

O panorama não me surpreende, pois é  muito semelhante ao das plantações dos cacauzais, em S. Tomé. Se não fosse a distância percorrida, os tormentos por que passei, através de tão extenso braço do mar, diria que tudo, afinal, não passou do pesadelo de uma longa noite mal dormida, de um mau sonho, visto que até parece que, subitamente, fui transportado para uma roça de S. Tomé.
Mas então que lugar poderá ser este? – Nem quero imaginar que me encontre na Ilha do ditador Macias!...Bom era que fosse a Nigéria, onde aportei na anterior viagem:
Após a travessia que fiz de canoa àquele país, fui detido, durante 17 dias para averiguações  mas não me trataram mal .

No meio de múltiplas cogitações, abrando o passo. Sinto uma certa inquietação crescer aos poucos dentro de mim. A incerteza do lugar preocupa-me de algum modo. . Estou desejoso  de dissipar as minhas dúvidas. 

S. Tomé
Porém, e após ter caminhado algumas  centenas de metros, por entre a ramagem dos cacaueiros, eis que começo por avistar um pequeno aglomerado de  casas. A partir de agora,  tenho absoluta certeza  de que, a qualquer momento,  poderei ter várias pessoas à minha volta. Desconheço de que nacionalidade. Não interessa. Sou um homem de aventura. Considero-me um cidadão do mundo. O importante é que sejam criaturas humanas. Aliás, já vejo algumas pessoas a andarem de um lado para o outro, lá ao fundo, num terreiro. 

Roça - S. Tomé
Presumo que já se tenham apercebido da minha estranha presença.Mostram um ar descuidado e natural. Acredito que se vão revelar minhas amigas. Afinal, é do que eu preciso: de amizade, calor humano. É do que me sinto privado nos longos dias do mar.  
Com certeza que são os moradores desta propriedade de cacauzal, que acabo de percorrer. É provavelmente a sede ou a dependência de alguma roça, como se diz em S. Tomé. O estilo das plantações é quase o mesmo. Com as suas senzalas alguns chalés, tipo colonial e outros edifícios que serão possivelmente as instalações agrícolas.

E, de facto, mal acabo de fazer estas analogias, tenho ao meu lado esquerdo, a primeira casa: baixa, tipo moradia e resolvo sentar-me na soleira da porta. Ao mesmo tempo que vários miúdos, se juntam num semicírculo à minha frente, ora olhando-me, ora entreolhando-se, num misto de espanto e quase mutismo, como se quisessem, através do meu silêncio, decifrar o que me trouxe aqui, com este meu ar estranho, que certamente lhe estou a causar, mas eu  também não me sinto menos espantado e não me atrevo a falar. Estou também demasiado emocionado para proferir qualquer palavra. E, realmente, ninguém ainda ousou perguntar-me nada.

Entretanto, de todos os lados, vejo encaminharem-se  outras pessoas, agora também adultas, na minha direção,  num misto de algum alarido confuso.  Observam-me, entreolhando-se, espantadas, pronunciando monossílabos no seu dialeto. Como estou todo queimado pelo sol e de barba por fazer, devem supor que eu venho do mar. 

Começam então por me fazer perguntas que eu não entendo. Como resposta, ergo a camisola e mostro-lhe a barriga, que está quase metida para dentro, encolhida e vazia, como um fole encolhido. Ao mesmo tempo que faço este gesto, simultaneamente perpassa à minha volta um murmúrio de espanto. Toda a gente levanta a voz numa espécie de pasmo e murmúrio clamoroso. Vejo que todos os seus rostos se mostram chocados e em muitos dos olhares reluz a  expressão de espanto e piedade de mim. Emocionado, não me contenho e começo a chorar, pondo as mãos sobre o olhos para não revelar o meu embaraço e as minhas lágrimas. Mas, compreendendo que venho cheio de fome, há já quem venha junto de mim com umas bananas para me oferecer; aceito algumas de boa vontade. Eu já mastiguei para aí vários frutos e o meu estômago está demasiado debilitado e desacostumado para suportar grandes proporções de alimentos. E esta boa gente também já compreendeu isso e houve quem me pegasse pela mão para me encaminhar para junto das suas habitações e me oferecerem a sua hospitalidade.

O LOCAL É A SEDE UMA FINCA (ROÇA) DE EX.FERNANDO PÓ.

Finalmente, já sei que terra é esta: o administrador, já veio junto de  mim e começou a fazer-me perguntas em espanhol – Sim, depreendi imediatamente que estava na Ilha de Fernando Pó. E também já sei que a  praia onde deixei a canoa, se chama Bococo e que pertence  à propriedade agrícola onde agora me encontro. Aqui não lhe dão o nome de roça mas de finca. 

Confesso que estou muito satisfeito. Desde que aqui cheguei, têm-me tratado muito bem. Afinal, tanto receio, não sei porquê. Foi realmente uma tremenda asneira não ter aportado logo nesta ilha mal me aproximei dela pela primeira vez. Estou a aguardar que as autoridades me venham buscar. Já se pôs o sol mas já me informaram que só deverão chegar daqui a algumas horas, portanto já de noite. Espero que sejam igualmente simpáticas, tal como tem sido   esta boa gente, que me acolheu com muito  carinho e generosidade. 

Senzala em S. Tomé
O administrador já me levou a sua casa, onde tomei um duche e me serviu à mesa um saboroso prato de comida, de  arroz com atum de conserva. Mas, apesar de sentir um grande apetite, não quis ir  além de umas garfadas, pois não posso exagerar, enquanto me não habituar o estômago a outra dieta, que não a do jejum  forçado e da fome, a que já vinha, tão duramente habituado. Agora quer que eu o acompanhe à praia para lhe mostrar onde está a canoa e trazer as minhas coisas: no telefonema que fez à polícia, foi-lhe dito que querem que ele faça uma relação de tudo. E até da capa de algumas peças de roupaque trouxe comigo: quiseram-mas comprar mas eu ofereci-as.
Meu Deus! Eu,  mal me posso mexer, ainda ter de voltar  lá em baixo ?!... A ter que descer e a subir outra vez a floresta!...  Porque me não deixam descansar e vamos lá à manhã, durante o dia?!...  Mas  o administrador insiste que são ordens da polícia, que ele não pode desrespeitar   tenho de o  acompanhar: diz que conhece bem o caminho, que não é difícil ir lá. Chama alguns trabalhadorespassa-lhes uma lanterna para uma das mãos, já que, com a outra, pegam numa catana.  E lá parto para outro calvário – Mas a descer, até nem é muito difícil; o carreiro está desimpedido e limpo, cheio de voltas mas transitável. Eu ainda me apercebi de uns metros dele, quando andei por ali às voltas  mas, ao meter-me pela floresta adentro, perdi-o de vista. 

Aqui o sol, põe-se, tal como em S. Tomé, quase à mesma hora, pouco depois das cinco  e meia. Agora, serão aí umas oito da noite, estou de novo junto à margem da praia e a ouvir o marulho das mesmas ondas, que para aqui me arrastaram, depois de um longo pesadeloa desfazerem-se na areia escura . À minha frente é a vastidão do mar e uma imensa escuridão – E, a canoa, afinal, onde está?!.. Eu faço esta pergunta para mim, em silêncio, mas o administrador fá-la de forma bem pronunciada, se bem que não de modo agressivo – Sim, porque o que ali se vai descobrir, são apenas destroços – alguns destroços da canoa, visto outros já andarem a boiar por vários lados da rebentação, situação que o deixa  de algum modo incrédulo e confuso. Mas vai mesmo acreditar que é o que resta da minha canoa: é que, aos destroços  há os bocados de contraplacados, que continuam pregados nas partes que não foram arrastadas; além disso estão pintados de vermelho e aqui não existe esse hábito.

Localizado o contentor, com as peças da roupa, que não tinha podido levar e que puxara para fora da praia,  um dos homens, lá o pôs às costas e  lá nos pusemos de volta pelo carreiro acima. Agora, sem ter que me amparar com um pau, já que, um  dos meus acompanhantes, se prontificou a puxar-me  pela mão. Mesmo assim, sinto-me derreado. Foi um enorme sacrifício, que fiz para  regressar ao terreiro da finca e  subir as escadas da casa do administrador, cuja imediações da frontaria, já se transformaram numa autêntica romaria. Aliás, antes de voltar à praia, já me havia apercebido disso,  que havia sempre um magote de gente, nas imediações da porta. 

Todos os habitantes das senzalas, querem ver-me e conhecer a minha história. Tenho a impressão que não se tem falado de outra coisasenão do branco que deu à costa numa canoa. Mostram-se muito admirados e cheios de curiosidade pela minha aventura. Quando passei por entre eles, antes de subir as escadas, não tiravam os olhos de mim, mirando-me dos pés à cabeça, com manifesta surpresa e curiosidade  
Às dez da noite chega a polícia, que depois de um exaustivo interrogatório, me transporta no seu jipe para os calabouços da esquadra - 

A descrição do que então se passou, é por mim descrita, num dos meus cadernos, quando sou encaminhado para famigerada cadeia central conhecida, na capital da Guiné Equatorial, na famosa  



Guiné Equatorial - 42 anos depois - 1 - País onde me senti tranquilo e feliz

Guiné Equatorial no último dia da minha estadia em Malabo - 42 anos depois de ali ter aportado numa frágil piroga e de seguida sido encarcerado por suspeita de espionagem para ser condenado à forca por Macias Nguema - Devolvido à liberdade e Salvo das garras da terrível asfixia, cujos gritos ouvia todas as noites , graças à intervenção humanista de Teodoro Obiang Nguema Mbasogo (sobrinho), atual Presidente - Em Malabo e em Bata, de belas e prósperas cidades de um país que agora me encantou e me recebeu como um dos seus ilustres filhos, revivendo o dia em que ali aportara 38 dias depois de sofrimentos e angustias inarráveis, sim, na qualidade de um miserável náufrago, depois preso e humilhado no mais hediondo dos cárceres de África mas felizmente libertado graças à generosidade e humanidade do então jovem Teodoro Obiang Nguema Mbasogo – (atual Presidente da Guiné Equatorial), contrariando as ordens do todo poderoso e sanguinário Francisco Macías Nguema –,


28 de Nov de 1975


Fundeado junto a uma praia da região de  Bococo, a sul da Ilha de Bioko - Guiné Equatorial - 
 26 de Novembro de 1975 -  Era já noite e não pude acostar. Na manhã seguinte, descobriria, na mesma orla, algures para oeste, um pequeno areal negro onde pude finalmente desembarcar. As horas magníficas que ali passei durante a manhã, naquela pequena enseda luxuriante -  qual  aspirante a Robinson Crusoe  e depois a caminhada pela floresta que me levaria a uma finca de cacau, a forma amistosa como ali fui bem recebido a contrastar com o comportamento desumano das autoridades que, mesmo extremamente debilitado, nesse dia à noite, me levariam para os calabouços de uma esquadra, sob supeita de espionagem, tendo, no dia seguinte, sido conduzido algemado para a  mais temível cadeia de África - a tenebrosa Blach Becah  -  Quer dizer morte. Quando um prisioneiro chega a esta prisão, sua família começa a preparar o caixão.- Os relatos, dessas vicissitudes por que passei na Guiné Equatorial,  que pude redigir na minha cela, cujos cadernos guardo mas, dada a  sua extensão, conto editá-los em próximas postagens - Junho ou Julho - Para já, veja como foi a minha aproximação a terra, após tão longo e penoso calvário de tormentosos  dias e noites de incerteza.


Muito por culpa do comandante do pesqueiro americano, Hornet, que me tendo prometido, em S.Tomé, que me largaria a sul de Ano Bom, na influência da corrente equatorial que me arrastaria para o Brasil - rota que pretendia seguir - me trocou as voltas, quando fundeou a Norte e ao largo daquela ilha: ou fica a bordo ou canoa ao mar - Optei pelo regresso a S.Tomé  - E, navegar no Golfo, em plena época das chuvas e dos tornados, numa frágil canoa, era opção quase suicida, de vida ou de morte - Apesar de tudo, quis o destino que, mesmo tendo sido atingido por violenta tempestade, logo na primeira noite, que me causaria a perda de quase todos os apetrechos e víveres, fosse um homem de sorte

.

É manhã do 37º dia. Ainda me encontro no mar...Estou partido!...Tenho o estomago metido para dentro. Não tenho nada na barriga... Estou realmente bastante fraco!...Estou mais próximo de terra... mas os ventos não me têm ajudado.





A manhã surgiu cinzenta e quase morta, sem a mais leve aragem a quebrar a sua triste monotonia.  Por detrás do horizonte brumoso, a custo desponta, de quando em quando, o pálido disco solar. A nordeste, vejo ao longe contornos de terra, altas montanhas cobertas por um espesso manto de um verde escuro, cujas cumeadas  ora se cobrem ora escondem sob densos nevoeiros ou claras neblinas, visão, aliás, reconfortante, porém, fisicamente, ao mesmo tempo, tão próxima como distante. Contornos de uma costa que toma o aspeto de um enorme triângulo, recortada por uma enorme baía. Mas não estou ainda  bem certo  se é o continente ou Bioko - a Ilha de Fernando Pó. As correntes mal se sentem mas  arrastam-me ao longo dessa mancha, em vez me levarem na sua direção.

Finalmente, ao princípio da tarde, levantou-se algum vento. Estou a velejar  mas com extrema dificuldade, devido à ondulação, que é muito forte. O leme, que lhe adaptei, soltou-se com uma vaga do primeiro tornado - e lá foram também os remos. Por mais esforço que faça, com o remo improvisado, não há maneira de embicar para terra. De volta e meia, a canoa atravessa-se à vaga. Mas lá  vou indo, lá vou navegando,  com determinação e a  graça de Deus







Não me apetece abrir o meu baú (o caixote de plástico), pegar no gravador e fazer o registo do meu diário. Estou apreensivo e confuso, não tenho vontade de dizer nada. Calculo que seja uma da tarde. O relógio que trouxe deixou de funcionar na primeira noite do naufrágio. Há horas que parecem infinitas... É verdade... Mas nunca perdi a noção do tempo. Quando há sol é fácil calcular as horas pela  posição que descreve no arco  do firmamento. Se o céu  está nublado, carregado de nuvens ou tempestuoso, é mais complicado. No entanto, quem é que não sente o peso do tempo?!... Quem é que,  nestas circunstâncias, não conseguirá determinar a rotação do dia ou da noite, o movimento das marés  - que no alto mar também se notam! Vogando, com a vida  à flor do mar, errando perdido,  sem destino!...


Oh, se pudesse ir a nado!... Mas não posso. Sinto-me muito fraco, cheio de fome, mas não me rendo. Estou confiante de alcançar  anda hoje, terra firme, chão seguro!..  A bússola dá-me a leitura de todos os quadrantes, porém,  não podendo dispor  de meios para calcular a minha posição, fico sem saber onde estou.  No entanto, de uma coisa estou certo: a terra está ao alcance dos meus olhos, estou muito próximo!... E tão longe de a poder alcançar, eu já me encontrei!...



Deverão ser aí três da tarde. O vento abrandou um bocado mas o mar continua muito ondulado e as minhas forças são fracas. Estou exausto, terrivelmente cansado. As pernas tremem-me e o ventre aperta-se-me com cruel dureza... Que suplício, meu Deus!...Oh, mas não posso desistir, a costa está ali à minha frente e tenho que a alcançar.


Aproxima-se o fim de tarde - Já não há vento. O mar está calmo. Entrei numa zona, que é nitidamente litoral,  com várias  manchas de correntes, que trazem à superfície uma infinidade de detritos vegetais de terra. Desde cascas de cocos, ervas, folhas de árvores, verdes ou já quase desfeitas, frutos secos e podres. Já meti algumas folhas e frutos à boca para mitigar a fome. Também se veem muitos grânulos de alcatrão e dejetos de aves.  E, como não podia deixar de ser - pois nunca deixaram de seguir a  canoa , também afluem peixes de várias espécies, que saltam, espinoteiam, aqui e além por entre os despojos e nos contínuos remoinhos, ora sôfregos, ora talvez competindo ou divertindo-se com tamanha abundância de alimentos.




Chamou-me atenção um coco, flutuando e a rebolar de um lado para o outro.  Dei umas remadas na sua direção. Qual não foi o meu espanto!... Estava sem a amêndoa e com a casca meia partida mas com um peixe lá dentro. Em redor, vários peixes graúdos, nadando em torno do coco, pareciam fazê-lo saltar. Claro que aproveitei a presa, o pequeno peixito para o meter logo inteirinho à boca. De seguida apanhei mais dois cocos inteiros. Um deles descasquei-o imediatamente com o machim e aproveitei para saborear a suculenta amêndoa. O outro guardei-o para mais tarde. 

Pormenor curioso, a companhia de uma ave: deixou o bando e veio pousar na ponta da proa da canoa, teimando acompanhar-me.  Não me pareceu que estivesse doente ou cansada. Teve sorte, achou-me inofensivo. Pois,  se não tivesse tão próximo de terra, já lhe teria pregado uma partida - Ainda bem, para ambas as partes; é que, à falta de alimentos, lá tive - e com  muita pena minha -de sacrificar tão amorosas criaturas . Além de muito piolhosas, só têm penas, pele e ossos.


Quando fiz a viagem de S. Tomé à Nigéria, de manhã, ao acordar, a borda da canoa parecia um autêntico pombal. Registei belas imagens: ao regressar a S.Tomé, deixei-as na redação de uma revista, esta entretanto extinguiu-se e perderam-se. 







O sol brilha acima de algumas nuvens no horizonte. Não há sinais de mau tempo e o mar está calmo. Mas o esforço com o remo, deixa-me arrasado. Queria libertar-me destas pequenas correntes, que parecem leitos de rios e me arrastam nos mais desencontrados sentidos, estou a ver que não consigo. Era bom que se levantasse um pouco de vento para velejar. A distância parece-me curta mas só com ajuda do remo, receio que não possa chegar lá ainda hoje.


Mais umas remadas, ó Jorge!...Vá lá!..  Tens a terra, ali a  quatro ou cinco centenas de metros!... Dobra-te sobre o remo!.. Aperta o cinto e não desistas!... De modo algum, vou desistir... Se não  desisti, até agora, como poderia desistir com os perfumes, balsâmicos, vindos da floresta, a revigorarem-me os pulmões e o meu coração?!...Tenho de lá chegar, antes que anoiteça!... Tenho de me embriagar com os aromas e as fragâncias da sua luxuriante verdura!...Vamos!...Coragem!






 Não tenho a certeza se a floresta é habitada. Pareceu-me ter visto alguns focos de luzes por entre o arvoredo. Mas deve ter sido ilusão minha. Embora, apenas já se distingue  uma massa escura, - , sim, agora só se ouvem os sons da floresta, o piar da passarada  e o vai e vem das águas, batendo e recuando não se sabe aonde, contudo, os perfumes inebriantes de toda esta atmosfera, rica e acolhedora que me envolve,  a pujança e a sua beleza que se adivinha, misturados com a doce e quente   marezia, transmitem-me uma serena paz, uma tranquilidade que há muito não sentia. Porém, com muita pena minha, tenho que ficar mais uma noite no mar. A costa é profunda. Tive que lançar várias vezes a âncora até encontrar a profundidade a que pudesse chegar a corda que amarra. Mas, por fim, lá descobri, junto a uma espécie de ilhéu, o sítio onde a âncora se prendeu. Tenho o estômago um bocado rijo, devido ao coco, às folhas e frutos, que andavam a boiar e que comi.Certamente que não vai ser fácil adormecer. Espero é que não surja mau tempo e possa retemperar um pouco as minhas forças.- Mas, antes  de me deitar, ainda vou verter para o gravador o meu primeiro testemunho, junto a esta encosta paradisíaca.



 É já noite do 37º dia! Estou à beira de uma praia!... De uma floresta virgem!...Floresta maravilhosa!... Tive imensas dificuldades!... Foi um bocado exaustivo!...Para conseguir...utilizei todas as minhas forças!... Já não tinha água!...Não tinha nada!...Depois encontrei alguns cocos... próximo aqui da praia!... Com os quais mitiguei a fome!... Estou  muito fraco! Mas ao mesmo tempo reanimado! porque estou próximo...Tenho aqui a canoa fundeada!....esperando o dia da amanhã!...Não sei, efetivamente, que terra é esta!... Mas é terra!... Uma terra que me parece fértl, rica e  maravilhosa!


"Mãe: Venho de longe e cansado
(...) Que me resta da fluata que inventei?" - Fernando Grade 

(...)"É noite, mãe: aguardo, olhos fechados, 
que uma qualquer manhã me ressuscite!...  António Salvado, in "Difícil Passagem"



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