Jorge Trabulo Marques - Jornalista
Estivemos com ele o ano passado na Feira do Livro, numa sessão de autógrafos das suas obras, tal como já havia acontecido em certames anteriores – Ao grande investigador dos dinossauros, os meus desejos de rápidas melhoras e vida longa
Video da entrevista em 2014
Antes da operação, confessara na sua página do facebook, ter alguns receios, dizendo, que, , tendo em conta a minha idade, a caminho dos 93. Tenho estado a perder qualidade de vida a um ritmo acelerado e tenho mesmo de a fazer. Será já amanhã, dia 5. Se tudo correr bem, como espero, voltaremos a encontrar-nos no próximo dia 9.
Preciso de ultrapassar esta barreira, pois tenho projectos em curso, muito trabalho pela frente e sei que ainda sou útil a muita gente. Estou perfeitamente consciente da situação, mas feliz, de bem comigo, com os outros e com o mundo.
Estou a torcer para que tudo corra bem. Com toda a naturalidade e sem sentimentalismos, quero dizer que, se assim não for, fica aqui o meu abraço de gratidão pela amizade que me haveis dispensado nestes quase nove anos de frutuosa convivência, durante a qual aprendi imenso, e acrescentar o quão bom e importante foi para mim esta experiência.
Como em tudo na vida, mas, nomeadamente, no ensino e na divulgação científica, dois mundos onde me movimentei, considero o afecto o factor fundamental e decisivo no aproveitamento escolar e na valorização pessoal.
Como professor de Geologia, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que fui durante quatro décadas pude confirmar que a relação de afecto entre o aluno e o professor constitui uma componente fundamental para o sucesso escolar. Como divulgador de conhecimento que também fui durante esse mesmo período mais os vinte e três anos que se seguiram à jubilação, diz quem me ouve ou lê nos meus livros ou nos textos que publico nas redes sociais, que as minhas palavras tocam a afectividade e que, muitas vezes, têm sabor de poemas. E eu sei que é verdade, posto que, ainda hoje, as minhas madrugadas são trocas de afectos com muitos dos meus cerca de 34 000 leitores no Facebook. Quem me conhece sabe que sou solidário, frontal e transparente, leal, humilde, no sentido de despretensioso, lutador persistente nas causas cívicas que abracei, prazeroso e afecivo.
Para António Damásio, professor da Universidade do Sul da Califórnia e autor do livro “Sentir & Saber – A Caminho da Consciência”, (2020), o fundamental é alicerçar o raciocínio puro no que é fisiológico, naquilo que é a vida, naquilo que é o corpo. Não se pode tentar entender a mente humana, ou seja, o intelecto, sem aí incluir o papel da fisiologia, e a expressão dessa fisiologia nos sentimentos. Diz, ainda este prestigiado neurologista que “as capacidades afectivas são fundamentais porque são as primeiras”. E acrescenta, dizendo que “é sobre as capacidades afectivas que se vão colocar as capacidades cognitivas”.
Para ele e em suma: “aquilo que é a nossa vida, aquilo que é a nossa história e a nossa identidade, não é puramente cognitivo. É cognitivo misturado com o afecto. níveis”.
Estas sábias palavras de quem há, décadas, estuda a anatomia do cérebro e a sua relação com os fenómenos da consciência, vêm ao encontro de uma convicção muito enraizada em mim e que posso expressar, servindo-me, em parte, das suas palavras, dizendo que aquilo que foi e ainda é fundamental no meu trabalho e no meu pensamento tem a ver com a mistura do que é afectivo com a racionalidade do trabalho. Damásio deu-me, pois, a imensa alegria de confirmar esta muito minha convicção
Tenho plena consciência de que todos os êxitos no muito trabalho que desenvolvi, para além do empenho e da persistência que neles coloquei, foram ditados, também, pela afectividade que sempre caracterizaram o meu relacionamento com as pessoas, quaisquer que sejam as suas posições no tecido social, dos Presidentes da República ao mais humilde dos cidadãos, dos ministros aos contínuos dos ministérios, dos patrões aos assalariados, dos generais e almirantes aos soldados e marinheiros - Excerto do seu interessante texto
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