Jorge Trabulo Marques - Jornalista
O Presidente da República,
Carlos Vila Nova presidiu esta manhã, em Fernão Dias, distrito Lobata, o
acto central de 03 de Fevereiro, Dia dos mártires da liberdade, tendo
apontado as mentiras e intrigas como principais causas deste massacre de
1953.
“Quando nós não temos certeza de uma coisa, nós preferíamos ou procuramos sabê-la antes de entrarmos por ai para que tudo se faça na concórdia…” – acrescentou o Presidente da República, num claro alerta a atual sociedade face a influência da mentira e da intriga nos acontecimentos de 1953.
SÃO TOMÉ E PRINCIPE - Massacre do Batepá há 71 anos .03-02-1953 Fui o primeiro jornalista a entrevistar sobreviventes e a divulgar as primeiras imagens do massacre, que me iam custando a vida ao ponto de ter que abandonar a ilha de canoa rumo à Nigéria
Em 1974, entrevistei algumas das vítimas para a revista Semana Ilustrada, de Luanda, duas dos quais em Fernão Dias, no local do famigerado campo de Concentração e outro santomense, ainda com feridas por sarar numa das pernas, com que foi acorrentada - - Trabalhos jornalísticos esses que me haveriam de custar graves dissabores, violentas reações por parte, de alguns colonos. que me furaram os pneus do meu carro à navalhada, penduraram uma forca na porta de minha casa e me agrediram selvaticamente
SÃO TOMÉ E PRINCIPE - Massacre do Batepá há 71 anos .03-02-1953 Fui o primeiro jornalista a entrevistar sobreviventes e a divulgar as primeiras imagens do massacre, que me iam custando a vida ao ponto de ter que abandonar a ilha de canoa rumo à Nigéria –
Registei as dramáticas recordações do sobrevivente Homem Cristo, além de outros antigos massacrados, assim como as confissões do Chefe das Brigadas, o verdugo Zé Mulato. Artigos publicados na revista angolana Semana Ilustrada, que me valeram pesadas represálias pelos contrários à liberdade
Isto já depois de uma tentativa de ser abalroado na estrada, posta uma forca de corda pendurada por colonos à porta de minha casa, ainda voltei a ser alvo de muitas cenas de ódio e afrontosas patifarias! - Entre as quais uma espera à porta do edifício onde residia num modesto anexo, pontapeando-me no chão e onde me apanhavam.
DEPOIMENTO DE MANUEL CARMONA - Em 1974
J. M. Que lhe fizeram, quando chegou à tal brigada de trabalhos, em Fernão Dias'?
- M. C. Padeci bastante Levei pancada demais.
- J. M. Quanto tempo esteve nessa· tal brigada ?
- M. C. Cinco meses. Vi muitos mortos, que foram pegados vivos , num bote grande que os lançava ao mar. Eu próprio é que vi, com a minha vista, em Fernão Dias, matar por ordens do Sr. José.
- J. M. O Sr. acha que se deve fazer justiça a esses indivíduos que o trataram mal e mataram outras pessoas, que ainda não foram julgados?
- M.C. Acho . Ficaria muito satisfeito até …
- J. M. Conhece muitas pessoas que o tararam mal e que ainda cá estão?
- M.C. Bem, outros morreram, os capatazes ainda cá estão. Até o que foi o chefe, o autor da justiça , ainda está a viver e outros ainda estão em S. Tomé. Eu conheço-os…
- J.M. Que lhes davam de comida , nessa brigada ? -
Excerto da entrevista publicada na revista Semana Ilustrada, que transcrevi em http://canoasdomar.blogspot.com/2015/02/massacres-dos-batepa-3-hoje-s-tome.html
COMO A MORTE CEIFOU POR COMPLETO UMA PEQUENA ALDEIA E SE ALASTROU POR QUASE TODA A ILHA -
Escasseava a mão de obra barata..
E o governador planeava construir grandes edifícios
à custa do trabalho forçado nas ilhas
e mandou o ajudante de campo
armado em soldado nazi a comandar
um grupo de milícias para ordenar
o trabalho obrigatório..
num verdadeiro retorno aos primórdios
do ignóbil e duro esclavagismo,
até que, numa remota aldeia perdida no mato,
algures pela Vila da Trindade,
alguém se encheu de coragem e reagiu
sobre o fogoso e arrogante alferes,
que teve a reação popular que merecia
e à altura da leviandade
e do desprezo como olhava a população e impunha a sua vontade
A partir daí o Governador Gorgulho - para salvar a face
dos seus desmandos e prepotências,
e, como os grandes erros, nunca vêm sós,
para justificar uns cometia outros, cada vez mais graves.
passou acusar os "rebeldes" de comunistas,
através da imprensa e da rádio.
E não tardou que os colonos - incentivados ao ódio à dita "hidra comunista",
respondessem ao apelo dos muitos boatos propalados:
"Há notícias de que foram avistados submarinos soviéticos ao largo
e descarregadas armas para apoiar a revolta dos negros insurretos contra
a integridade desta província ultramarina!" - Foram detidos
e presos vários suspeitos. O governo promete firmeza
e mão pesada aos criminosos!
Por toda a ilha mobilizam-se milhares de voluntários."
- E, quilo que poderia ter sido um caso isolado,
depressa é rotulado de rebeldia comunista.
Face a tais atoardas e falsos alarmes, as roças passam ao ataque:
empregados de mato e dos escritórios,
feitores e administradores - e até capatazes negros -
partindo em jipes de todas os cantos da colónia,
concentraram-se na Trindade, e, fortemente armados, dirigem-se
através dos caminhos do mato ao Batepá, descarregando tiroteio forte e feio,
(naquela e noutras aldeias) sobre as populações indefesas e pacíficas
O "massacre de Batepá" foi desencadeado pelo então governador de São Tomé, Carlos Gorgulho, depois de muitos santomenses se recusarem a trabalhar, de forma forçada, nas obras públicas e nas plantações de café e cacau.
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