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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE - ILHAS ASBEN E SANAM, POVOADAS POR CANOAS AFRICANAS C

Jorge Trabulo Marques  - Jornalista e investigador

 LEVADOS PELO ESPÍRITO DE AVENTURA, PELO INSTINTO MIGRADOR DAS AVES  - que partilhavam a mesma alegria e abundância da Mãe-Natureza, pelo acaso ou por outras razões que a razão desconhece e só Neptuno poderia interpretar, sim, ao Mar se fizeram nas suas pirogas e por lá se fixaram nas suas majestosas Ilhas a que aportaram.


ALGUNS VOLTARAM ÀS TERRAS DE ORIGEM PARA TRAZEREM AS MULHERES E OS FILHOS.  

E a notícia das suas maravilhas, depressa se espalharia... E, assim, pouco a pouco se foi constituindo um Povo, que se aventurou pelo oceano a fora, atraído por ilhas que lhe terão parecido os  Jardins do Éden  ou  os Paraísos  mais belos que hão conhecido

.O que ignoravam é que a paz, a tranquilidade secular, endémica,  haveria de vir a ser quebrada, abruptamente, com a chegada  de homens e modos de ser completamente estranhos e adversos  à sua cultura e ao seu pacífico modo de vida. Daí que as chamadas descobertas de 500 anos, dos ditos tempos heróicos, com as naus de guerra, armadas de canhões, partindo ao encontro de gentes indefesas, que, surpreendidas ou se refugiavam na floresta ou acorriam às praias, ignorando, porém, que esse seria o primeiro dia de uma longa e atribulada tragédia.

NÃO CHEGUEI ATRAVESSAR O OCEANO ATLÂNTICO, TAL COMO ESPERAVA MAS CONTINUO ACREDITAR QUE SÃO POSSÍVEIS LONGAS TRAVESSIAS
MESMO ASSIM:




Comprovei que as canoas vão ao cabo do mundo: naveguei e fui arrastado por centenas de milhas: - Liguei as ilhas e estabeleci ligações de uma delas ao continente.


Sozinho e ao longo de sucessivos dias é extremamente arriscado e muito difícil navegar a bordo dessas frágeis embarcações  - E, se eu não fiquei no mar, talvez o deva a um feliz acaso - mas não estou arrependido, pois safei-me por três vezes. 

Os pescadores (nas Ilhas) aos quais se inculcou o fantasma de que só gente de feitiço é que o tornado leva a canoa ou que o "gandú" não engole "perna de gente" , poderão estar descansados:

Se a tempestade alguma vez os surpreender e os arrastar para fora do alcance ou do horizonte da sua querida Ilha, não se importem; deixem-se levar pelo seu ímpeto

Não cruzem os braços e se deem por vencidos: remem ou velejem, sempre que puderem ou então deixem que a canoa vogue à flor das ondas, que o mar não quer nada que lhe seja estranho e a algum ponto da costa, hão de ir parar

Basta que não percam a calma e se alimentem com a pesca: a carne do peixe mata a fome e o sangue, que não é salgado, a sede - E a água das chuvas, com um pouco de água do mar, é ainda melhor 

A CANOA SÓ VAI AO FUNDO SE ESTIVER MUITO CHEIA DE PESCADO OU NÃO FOR DE ÓCÁ. O MAR BRINCA COM O SEU CASCO E O SEU CASCO DESLIZA E BRINCA COM O MAR.



A vida só tem sentido em prol da ciência, da arte ou da comunidade - vivida, sobretudo, sob o signo da espiritualidade. Se não for pautada por um ideal é um completo vazio. Vale sempre a pena correrem-se os riscos. Mesmo que a morte seja o maior preço a pagar."Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena."


Por minha parte, dei o meu contributo. Não procurei remar contra a história mas ir ao sabor dos ventos que a formaram, ao encontro da sua verdadeira raiz: e, pelos vistos, o que parecia estar esquecido nos bolorentos arquivos históricos, veio dar-me razão - através da demonstração das várias viagens que empreendi em pirogas primitivas.


Claro que me deparei com imensas dificuldades: - duas das três canoas que usei (embora não tendo mais de 60cm de altura por um metro de largura) eram compridas e  precisavam de mais dois braços.  E, os antigos povoadores, dificilmente  teriam partido sozinhos ao seu encontro. Muitas das pirogas que ainda hoje se constroem nos países que bordejam o Golfo, são enormes e podem ser remadas por muitos braços  de mulheres e homens

Obrigado por viajar comigo ao  fundo dos tempos  das maravilhosas ilhas do Golfo da Guiné - Há muito abordadas e habitadas por povos da costa africana - A própria história dá-nos algumas pistas e até alguns mapas - O importante é que a sua leitura, não seja feita da mesma maneira de como o adepto do futebol, que só aceita, como verdades absolutas, as boas notícias da sua equipa. Isto para já não falar dos exacerbados nacionalismos do colonialismo. 

 

 E o império? Vasto caminho
onde os que o poder despeja
Conduzirão com carinho
A civilização cristã
Que ninguém sabe o que seja.

Fernando Pessoa

A ORIGEM DO POVOAMENTO DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE É MUITO MAIS ANTIGA DO QUE AQUELA QUE A EDITADA  NOS MANUAIS DO COLONIALISMO

"Continuamos esmagados pelos Descobrimentos"

 "Vasco Graça Moura, poeta e ensaísta que entre 1988 e 1995 presidiu à Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, reconhece que continuamos “marcados” pelo que Portugal foi capaz de fazer a partir do começo do século XV, mas que essa memória, tantas vezes de olhos fechados à dura realidade do dia-a-dia do país nessa época e carregada de mitificações, não molda o que somos hoje nem limita a leitura que fazemos do passado — ajuda, antes, a compreendê-lo .PÚBLICO Série Mar Português: Continuamos esmagados pelos descobrimentos? - Público **Série Mar Português: O que (não) fizemos para voltar ao mar -*

 "O oceano constitui um local de constantes migrações, não apenas para o plâncton vegetal e animal, que deriva ao sabor das correntes, mas ainda para os animais superiores (peixes, repteis, aves mamíferos), e, como é evidente, para o homem" Cousteau"

DESCOBERTAS PORTUGUESAS - OMISSÕES E ABSURDOS


(...) "o tope comercial dos descobrimentos, em 1466,  era a Serra Leoa. Comercial. E não de forma alguma geográfico (...) Da Serra Leoa por diante e até ao Rio Lago, da actual Nigéria, os aspectos da geografia humana mudavam inteiramente. Entre o Senegal e a Serra Leoa dominava o urbanismo flúvio-marítimo. Dali por diante, ao contrário, a população encontrava-se disseminada  ao largo do litoral em pequenas aldeias; depois do Cabo das Palmas e por toda a Costa do Ouro era muito densa, mas fraccionada em unidades mínimas, que não obedeciam a qualquer organização política, como a dos mandigas. Enquanto aquele império se desenvolvera numa zona de estepes e savanas, propícia ao deslocamento de grupos humanos, ao contrário, desde a Serra Leoa por diante  e ao largo de quase todo o Golfo da Guiné a grande floresta tropical bordava as costas, impondo a disseminação dos homens, cortando-lhes os movimentos em terra e impelindo-os para  o mar" - Diz o historiador Jaime Cortesão Volume II - In "Os Descobrimentos Portugueses 


Como de depreenderá, daí a necessidade dos povos da costa do Golfo da Guiné, se sentirem impelidos a expandir-se através do oceano que tinham à sua frente  - Com o Monte dos Camarões, e florestas densas, intransponíveis, disseminadas com os tais mil pântanos, mil estuários e mil mangais, só lhes restava demandarem o mar ao encontro das ilhas.  Jaime Zuzarte Cortesão,  que, entre outros feitos e obras valorosas,  participou como voluntário do Corpo Expedicionário, como capitão médico na primeira guerra mundial, onde sofreu ferimentos graves - Sem dúvida, foi um dos intelectuais mais corajosos e notáveis do seu tempo.


Ainda no mesmo estudo, diz, Jaime Cortesão, que, "Só no fundo do Golfo da Guiné, numa região baixa cortada de rios, lagoas e canais, compreendida entre o Rio Lago e o Níger, se deparavam  de novo as aglomerações de estuário e até o grande urbanismo.


Desta sorte, a porção da litoral formada pela Costa da Malagueta. Contígua à Serra Leoa, e a seguir à Costa do Marfim e a Costa do Ouro estavam compreendidas entre duas zonas de povoamento e urbanismo flúvio-marítimo, ligadas ao tráfico de oiro, as quais por via de regra inalterável, supõem o comércio marítimo e uma cultura geográfica correspondente. E não é crível que os portugueses, durante o período henriquino, não tivessem recolhido e aproveitado informes de carácter geográfico por intermédio dos negros que levavam como escravos para Portugal e depois utilizaram como intérpretes.

Tal como tem sido escrito, a história dos descobrimentos durante a fase de transição entre a época de D. Henrique e a D. Afonso V e  D. João II assenta numa série de absurdos". Citação extraída da leitura das obras de Jaime Cortesão"







“8000 anos atrás, "barco mais antigo conhecido da África" ​​Nigéria: - Canoa  descoberta perto da região do rio Yobe, pelo pastor Fulani,  em maio 1987, na Vila Dufuna, ao escavar um poço. "Madeira quase negra" da canoa, que dizem ser de mogno Africano.  Vários testes de radiocarbono realizados em laboratórios de universidades de renome na Europa e América indicam que a canoa tem mais de 8.000 anos de idade, tornando-se assim o mais antigo na África e na terceira mais antiga do mundo. 8000 years ago africans invented a dufuna canoe in nigeria

A FUGA DE ESCRAVOS NAS CANOAS –  Referida por Gerhard – TAMBÉM COMPROVAM A POSSIBILIDADE DAS LIGAÇÕES DE CANOAS DO CONTINETE ÀS ILHAS E DESTAS AO CONTINENTE

Seibert, numa conferência, em 2009, referia-se aos "escravos fugidos de São Tomé ou do Príncipe, realizaram em suas  canoas pelas correntes marinhas ligações à ilha de Fernando Pó. Em 1778,  o ano da transição do domínio Português ao da Espanha, um grupo de  ex-escravos de São Tomé e Príncipe viveu no sul de Fernando Pó.  (..)Após a abolição da escravatura em 1875, trabalhadores contratados africanos fugidos respetivamente, foram frequentemente devolvidos  pelas Autoridades espanholas para os seus senhores em São Tomé e Príncipe. Outros foram simplesmente entregues aos empregadores locais. 
Um século mais tarde, em 1975, Jorge Trabulo Marques, partiu sozinho desta ilha numa canoa em uma tentativa de atravessar a Atlântico. Em vez disso, depois de uma odisseia de 38 dias, ele desembarcou em Fernando Pó. Ele era detido e interrogado pelas autoridades locais e depois repatriado  - Excertos de ]Equatorial Guinea's External Relations: São Tomé e ..

PENSE PELA SUA CABEÇA, LIBERTE-SE DE FICÇÕES E FANTASMAS SOCIAIS, DE PRECONCEITOS RELIGIOSOS E RACISTAS  DO PASSADO... NÃO SE IMPORTE DE DIZER:


 

QUE AS ILHAS DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE   -E, TAMBÉM, ANO BOM   E  BIOKO (EX-FERNÃO DO PÓ)-  SÃO POSSUIDORAS, NÃO DE CINCO SÉCULOS DE POVOAMENTO E COLONIZAÇÃO MAS DE UMA ORIGEM ANCESTRAL MAIS REMOTA, QUE SE PERDE NA GRANDE JORNADA DA HUMANIDADE.



Existem mapas antigos que atestam pelo menos os contactos e o conhecimento dessas ilhas - Demonstrei a possibilidade dessa ligação poder ter sido feita por povos do litoral africano, através das suas pirogas, antes de quaisquer outros colonizadores, ali aportarem. 

Possibilidade, essa, sempre omitida na historiografia oficial -  Embora vá havendo (à distância de centenas de milhas) quem  diga que, pelo menos uma era habitada, as outras, desde que se formaram, estiveram à espera das boas intenções dos colonizadores europeus e à mercê dos mosquitos: "Das quatro ilhas deste arquipélago equatorial, a única que foi encontrada povoada foi a de Fernando Pó". -Breve história das ilhas do Golfo da Guiné

De resto esta Ilha, admite-se que terá sido  a parte mais elevada de uma extensão do continente, antes do termo da última glaciação - Basta ver as profundidades naquela zona. A subida dos mares (175m) veio criar aquela e outras ilhas costeiras dos oceanos, tal como as poderá vir a fazer desaparecer - sobretudo no Pacífico - devido ao efeito de estufa, criado pelos agentes poluidores


Leia  os pormenores mais adiante da minha teoria e as várias travessias que empreendi, sozinho, em pirogas primitivas, sem quaisquer meios de comunicação com o exterior, munido apenas de uma simples bússola (mais das vezes guiado pelo sol, pelas estrelas, correntes e ventos dominantes - e até o voo das aves -




Recuando, tanto quanto possível a esses primórdios. Em demanda da derradeira origem das Ilhas do Paraíso


Vangelis - Em Homenagem à grande aventura da Diáspora da Mãe África  e ao seu Povo - e,  em particular, àquelas maravilhosas ilhas equatoriais do Golfo da Guiné,   que tão sacrificadas foram pelo longo domínio colonial - espanhol e portuguêspor muitos braços  de mulheres e homens.

 .

  
Canoe, Rivers Province, Nigeria


A GRANDE EPOPEIA AFRICANA NÃO PODE SER IGNORADA -  - O continente africano é o berço da humanidade: foi daí que irradiou o Homo sapiens . Os seus homens e mulheres, povoaram lugares nunca dantes povoados; atravessaram continentes, criaram civilizações, culturas e formaram reinos - E, mesmo os que nunca dali partiram para a grande aventura da Diáspora, tinham os seus costumes, as suas tradições e  as suas hierarquias - Eram livres à sua maneira.  

O  europeu veio mais tarde para retalhar os espaços geográficos à mercê das suas conveniências, corromper  os próprios comerciantes de escravos (sim, porque a escravatura, é tão antiga como o homem) ficando  eles com a fatia de leão: para dividiram territórios, humilharem, dominarem e escravizarem as populações a seu belo prazer, usurpando as suas riquezas

Quantas vezes, oh Deus!... De vigília à longa e eterna noite, às sombras da mais profunda e sinistra escuridão, enquanto, lá no alto, algumas estrelas que ora despontavam ora se sumiam por entre as clareiras que rasgavam o negro céu, pareciam mover-se de oriente para ocidente  mais depressa que as invisíveis correntes  que arrastavam a minha canoa, não sabia para que desconhecido ponto do misterioso horizonte...

Quando os europeus demandaram a costa de África, já os africanos, há muito mais tempo, haviam sulcado o litoral marítimo, subido e descido os rios e ligado as ilhas limítrofes  com as suas pirogas talhadas em enormes troncos de árvores

MAS OUVE QUEM REPARASSE NESSE FACTO: - Para alguns cartógrafos do século XVII, as pirogas assumiam a mesma importância  que as caravelas - lá tinham as suas razões: ambas dominavam os mares no Golfo da Guiné  -
 Jodocus Hondius (1606; 1628 or 1633)...Bertius (1649), mapas onde as canoas não são ignordas

AS CANOAS DE  SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE SÃO MAIS PEQUENAS QUE AS DO LITORAL AFRICANO -  As ilhas são montanhosas e as roças também não permitiam o abate de  grandes árvores - Mas a ligação dos primeiros povos foi  realizada a partir da costa africana para as ilhas à vela e a remos. Atualmente, são frequentes as viagens da Nigéria para São Tomé, com auxílio de motores fora de borda- O regresso é feito à veja e a motor.  VEJA ESTES DOIS EXEMPLARES shippage 5.html - ELDER DEMPSTER MEMORIES.***Praia de Eleko, Lagos, Nigéria Posteres de Zazzle.pt*******THE SAMINAKA COMPASS: Nigerian Regattas and Saminaka's African

SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE - TERRAS DE PAZ E DE BELEZA - ONDE AINDA NÃO CHEGOU A NOVA CIVILIZAÇÃO DA PIRATARIA - QUE TEM NO LIBERALISMO SELVAGEM  MUNDIAL, O SEU EXPOENTE MÁXIMO.
 
Ilhas maravilhosas! - Verdadeiros paraísos verdejantes, orlados de espuma, situados no Equador! Perdidos como frondosas umbelas de Deus no meio do mundo. Comemoram, no próximo dia 12 de Julho, 36 anos sobre a data da sua independência. Mas o seu passado histórico é bem mais longínquo, que o apregoado pelos manuais da colonização.

 .Não se sabe ao certo, em que ano e  dia ali teriam chegado as primeiras canoas com os primeiros povoadores a bordo dos grandes troncos escavados das árvores gigantescas, cortadas nas florestas costeiras africanas, nomeadamente a sul do Gabão e a Norte do Zaire - Canoas essas, que, aproveitando as correntes e os ventos favoráveis, ali teriam aportado.
Seguramente, que os intrépidos navegadores africanos, ter-se-iam dirigido, para essas ilhas, muito antes do homem branco ter-se deslumbrado com a sua vegetação luxuriante.

(construção da canoa Yoan Gato - que usei na minha última viagem)



Defendo a teoria de  que os primeiros povoadores, aqueles que, pela primeira vez,  aportaram nas suas baías,  foram os hábeis navegadores das canoas, vindos da costa africana. 

Demonstrei essa possibilidade através das várias travessias que empreendi - De resto, não será por mero acaso que as canoas surgem nas cartas do século XVII, com idêntico destaque ao das caravelas
Em minha modesta opinião, a história das descobertas prima mais pela ficção e efabulação de que em dar-nos conta do que se verdadeiramente se passou. Mas o fenómeno da sublimação foi transversal a outras potências coloniais.

 .Mesmo, acerca do ano e dia da chegada dos Portugueses, às Ilhas do Golfo da Guiné, há mais dúvidas de que certezas. Era cómodo fixar uma data e julgo que foi o que sucedeu.

Atualmente, os historiadores não se limitam às transcrições das versões mais ou menos oficiais, devassam velhos arquivos e lançam-se, sem preconceitos, numa investigação mais aprofundada - A mentalidade colonial era contrária a esse tipo de estudo - E já surgem estudos curiosos, que pelo menos vão de encontro a um passado anterior ao da época colonial... Abrem a porta a outros horizontes e probabilidades, contrariando versões intocáveis, como se fossem intangíveis dogmas papais

Entre outros contributo científicos:

Menzies pretende demonstrar que "os grandes navegadores europeus dos séculos XV a XVIII – caso de Cristóvão Colombo, de Vasco da Gama, de Fernão de Magalhães ou de James Cook, por exemplo – partiram para as suas viagens através do Atlântico ou do Pacífico sabendo de antemão o que iam encontrar uma vez que estariam munidos de cópias de mapas chineses ou de mapas que incorporavam os alegados conhecimentos cartográficos chineses resultantes das navegações patrocinadas por Yongle- In .Revista Eletrônica RETIRA.


Tabula Rogeriana (1154)..
"O conhecimento da costa africana (lê-se em RECOMENDAÇÕES era uma realidade resultante de algumas expedições realizadas desde tempos remotos. 




A primeira por ordem o faraó Necao II (610-594 A.C.), depois a viagem de Sataspes (480-470 A.C.) até à Guiné (...)Estas e outras viagens referenciadas não têm cativado o interesse da historiografia que se mostra renitente em aceitar os relatos contidos nos textos clássicos."

"A Historiografia dos séculos XVIII e XIX refere que os fenícios projetaram o seu empório comercial na costa ocidental africana. Apenas os portugueses mantiveram a tese de que esta área estava por revelar no início das navegações henriquinas"



JOÃO DE SANTARÉM E PERO ESCOBAR, Quando partiram já sabiam o que procuravam  - Mas, nesse tempo, já as pirogas eram soberanas e cruzavam as águas do Golgo da Guiné -  Pelos menos aos cartógrafos do século XVII, não passava despercebida a sua importância

  "Ao mar do cabo de Lopo Gonçalves, sessenta léguas de caminho ao lés-noroeste deste cabo, está a ilha que se chama S. Tomé, a qual mandou descobrir o Sereníssimo Rei D. João o Segundo de Portugal, e a povoou" .Breve história das ilhas do Golfo da Guiné..

AFIRMAR QUE SÓ HÁ 500 ANOS  - É quese fizeram as primeiras navegações no Golfo da Guiné, poderia aceitar-se no gtempo em que se dizia que na catequese cristâ que a Eva fora concebida a partir de uma costela de Adão

A notícia de que, naquele imenso Golfo, existiam ilhas maravilhosas, ter-se-ia espalhado, desde há muitos séculos, ao longo da costa limítrofe - De há muito que grandes canoas sulcam aquelas águas.

 CHEGUEI AVISTAR AS DUAS ILHAS:  Numa das minhas travessias de canoas, num certo dia e a meio de uma tarde na sequência de uma tempestade a Ilha do Principe e de Fernando Pó, tal como pude também ter essa comprovação, avistando, simultaneamente, S. Tomé e a Ilha do Principe, quando fiz a travessia de canoa, entre ambas as ilhas  


  

Ilha de Bioko à vista  Meu registo em 1975
A Ilha de Bioko, a mais setentrional, e também a mais próxima de terra (a 30 quilómetros ao largo da costa ocidental de África) era fácil de ser avistada, até pelo seu imponente relevo. Desta ilha, e depois da atmosfera ficar limpa, após uma grande chuvada ou tempestade, é possível avistar o Pico do Príncipe. O mesmo sucede, em relação a Tomé, a quem se encontre nas partes altas da ilha irmã. Assim sendo, a existência das ilhas no Golfo, dificilmente seria ignorada

Ao fundo à esquerda vislumbra-se Bioko, desde a costa camaronesa - Imagem extraída de um interessante estudo de autoria do Tenente-coronel João José de Sousa Cruz - Publicado na Revista Militar ::- As Ilhas do EquadorII Parte

Vivi doze anos em S. Tomé. Num certo dia, pude  fotografar, na Praia das 7 ondas e Praia da Colónia Açoriana, várias toras que ali deram à costa, com a sigla de empresas madeireiras de Cabinda. E foi essa observação, que me fez também refletir para o possível povoamento das ilhas, através das primitivas embarcações, oriundas da costa africana: se uma tora ali ia parar, era sinal de que as canoas, ali também pudessem facilmente aportar, levadas por ventos e correntes favoráveis.

Veja-se o caso da ilha da Páscoa (Polinésia) tão longe dos continentes, e, todavia, quando os europeus, ali chegaram, quão maravilhados ficaram com as suas estátuas e a sua civilização.

 O REINO DE PORTUGAL JÁ SABIA DA EXISTÊNCIA DAS ILHAS DO GOLFO DA GUINÉ  - Embora algumas das cartas maritimas não fossem impressas em Portugal, eram fundamentadas em informações que partiam dos nossos navegadores - É o que se depreende desta análise de Luis de Albuquerque 

Era habitual: os humanistas europeus, surpreendidos pelas novidades que as viagens marítimas iam ano a ano desvendando, pediam para Lisboa informações; e da capital do Reino de Portugal encontravam resposta quer de portugueses (como neste caso), quer de compatriotas seus ou de outros estrangeiros que se acotovelavam nas estreitas ruas lisboetas, atraídos ou enviados para estabelecer negócios; umas vezes reunindo textos avulsos anteriormente escritos na língua do país; outras vezes através de cartas, em alguns casos minuciosas, em que se prestam as informações; e ainda outras passando a uma minuta informativa ou um relato todo um conjunto de "experiências" pessoalmente vividas. Do primeiro tipo é o caso, bem conhecido, de Valentim Fernandes, alemão, que juntou várias peças manuscritas de diversos tipos a pedido do humanista seu compatriota Konrad Peutinger, no hoje chamado Manuscrito de Valentim Fernandes; no segundo género de testemunhos, ainda não devidamente estudados, inclui-se um elevado número de cartas informativas, nomeadamente as do mercador florentino Girolamo Sernigi datadas de Lisboa (com alusões às viagens de Vasco da Gama e dos Corte-Real), a de um certo Alexandre Zorzi, veneziano, e dada em Veneza (que relata a alguém pormenores sobre certas terras alcançadas pelos portugueses, e também sobre algumas particularidades da sua arte de navegar), a de Lázaro de Nuremberga (recentemente descoberta e editada cm Praga, que descreve uma viagem de Lisboa para Goa e faz uma análise da situação dos Portugueses no Oriente, em IS17), etc.; e, finalmente, no último género, sem dúvida, menos vulgar, deve ser incluído o texto de Alvise da Ca da Mosto (ou Cadamosto, como nós escrevemos), que foi impresso logo no início do século XVI (o signatário relata nesse escrito as duas viagens que fez à costa da Guiné, por meados do século XV).
E não vale a pena explicar pela incúria que nos caracterizaria a nós, Portugueses, ou por devastadores efeitos de terramotos ou por uma elástica e bem pouco convincente teoria de sigilo, o desaparecimento desses textos na sua língua original. Um diário de navegação, por exemplo, era um meio de trabalho posto ao serviço dos navegadores; andava de mão em mão e nessas várias mãos se "gastava", sem dele ficar lembrança na maior parte dos casos. O mesmo se pode dizer dos exemplares da Cartografia; é impensável que quase todos, se não todos os monumentos cartográficos que nos chegaram, na sua maioria com belas e ricas iluminuras, e {sublinha-se!) sem a mínima marca dos compassos que os pilotos usavam para marcar os pontos nas cartas, tivessem sido desenhadas para uso desses mesmos pilotos; foram antes encomendas de reis ou de grandes senhores, ou para lhes serem oferecidas, e por isso ficaram em grande parte preservados; as cartas que se usavam no mar seriam bem mais pobres, e o serviço da pilotagem envelheceram e se perderam.

A narrativa da navegação de Lisboa a São Tomé, agora de novo editada em Portugal, constitui uma excelente fonte de informações sobre aquela ilha. que começara a ser povoada no final do século XV, e .~ sobre o arquipélago de Cabo Verde

Por isso, as dúvidas que agora tenho, já não residem tanto em saber se as ilhas já eram ou não conhecidas e povoadas, antes dos europeus lá chegarem: - mas quem, afinal, entre os portugueses de há cinco séculos, aportou nas suas tranquilas ou agitadas baías - mas sempre azuis e límpidas - e ali pôs pé em terra pela primeira vez.

" A história dos mapas não começou na Grécia Antiga, mas entre os povos de outros continentes – asiáticos, africanos e americanos (chineses, esquimós, astecas) – que já estavam acostumados com esta prática".


O mundo não é de ontem nem de hoje. E nem só de há cinco séculos que o homem se arrojou nas grandes viagens de navegação. Mesmo que o povoamento das ilhas do Golfo da Guiné, não fosse feito através de pirogas, já os navegadores fenícios, cartagineses e árabes, há muito haviam demandado aqueles mares, pelo que não deixariam de procurar extrair alguns benefícios das ilhas e deixar lá algumas pessoas. 

Porém, muito antes mesmo dessas viagens, julgo que já os africanos eram os senhores dos mares, costa africana e ilhas - Atlântico, Mediterrâneo e no Índico - experientes artesãos e audaciosos mestres na arte de navegar nas suas canoas Formaram verdadeiras civilizações, que foram retalhadas pela expansão colonial. .A supremacia do homem branco sobre outras raças, não passa de uma ideia absurda, de um preconceito..
Os portugueses foram grandes navegadores - E talvez dos maiores  navegadores daqueles tempos. Um país, tão pequeno e com tão fracos recursos económicos, ter feito o que fez, foi realmente uma verdadeira odisseia. Há, pois, que enaltecer a coragem daqueles bravos pilotos e marinheiros. 

Todavia, surge o aspeto negativo: o do consequente domínio colonial, através das armas, do avanço bélico, sobre povos pacíficos, tal como o fizerem  outros europeus:  aproveitando-se de prévios conhecimentos, seguindo rotas já conhecidas, orientaram as suas navegações, não propriamente para estabelecerem laços culturais ou de um pacífico intercâmbio comercial,  mas para imporem a sua vontade, o domínio e a  exploração do comércio e das riquezas naturais, com mão-de-obra escrava. 

De facto, a grande lição de que nos podemos orgulhar é a de que, embora sendo um pequeno país, cruzou mares e expandiu-se para os vários cantos do mundo. A subjugação de povos e o domínio colonial sobre os mesmos, não será, com certeza, a nota mais emblemática a recordar. Links a reter..ANTIGOS IMPÉRIOS AFRICANOS......As Civilizações Africanas no Mundo Antigo.. Aos estudiosos de África..I........Civilizações Africanas......civilizações africanas


O PASSADO JÁ NÃO PODE SER ALTERADO, REPETIDO OU MODIFICADO: A ligação histórica, afetiva e cultural de Portugal, é indubitável,  com as  Ilhas Verdes do  Equador, tanto S. Tomé e  Principe, como Ano Bom e Bioko, ex-Ferando Pó, - Só que, muito antes dos portugueses, ali terem desembarcado, havia outra realidade que nunca foi dita e persite em ser ignorada  

Deve ser investigada e estudada sem preconceitos ou reservas de qualquer espécie para melhor compreensão da origem de um pouco e da própria identidade 

Os tempos já não se compadecem, nem com obscurantismos nem com hipocrisias ou submissões mas devem ser de frontalidade e de esclarecimento. Só compreendendo as verdadeiras raízes históricas, se alicerça o momento presente e se parte com coragem e determinação para os desafios do futuro. 

Pouco tempo após ter desembarcado em S. Tomé, em 1963, fiquei logo com a impressão de que as ilhas, eram possuidoras de uma história muito mais antiga, que a admitida pelo colonialismo. Aos povos africanos, situados no litoral e a sul de São Tomé, não teria sido difícil aproveitar a direção dos ventos e das correntes.



Do alto das velhas muralhas do Fortim de São Jerónimo, onde tantas vezes olhava a espuma que ali ia rebentar nas rochas negras e contemplava o mar ao largo, sim, muitas vezes ali me envolvi em prolongadas cogitações. E só via o mar... Só pensava, obsessivamente, nas distâncias e nas entranhas do mar.!.. Olhava-o com pasmo e respeito, mas queria sentir-me também parte dele! Ser mais um elemento do mítico e misterioso oceano! Ir por ali a fora numa das ágeis pirogas.! Desvendar segredos esquecidos no tempo!






Oh, e quantas vezes ali mesmo, não experimentei as estreitíssimas cascas de noz, navegando em frente ou embicando na areia da pequena praia ao lado, naqueles meus habituais treinos, ao Domingo, vindo da Praia Lagarto (ao fundo da descida a caminho do aeroporto), passando em frente da Baía Ana Chaves, Fortaleza de São Sebastião, costa da marginal, Praia Pequena e ponta do Forte de São Jerónimo -e, por vezes, ainda um pouco mais a sul, à Praia do Pantufo.


São Jerónimo era geralmente a baliza de chegada e de retorno ... E, também, muitas vezes ao fim da tarde e pela noite adentro, era o meu local preferido (até por ficar um pouco isolado e retirado da cidade) para me familiarizar profundamente com o mar.

Lembrava-me das façanhas dos pescadores são-tomenses, dos seus antepassados que demandaram as ilhas, dos barcos negreiros que ali aportaram e também dos nossos marinheiros (antes desse vil mercado) que por aquelas águas navegaram; imaginava quantos naufrágios e sofrimentos aqueles mares, já não teriam causado.

Sabia dos muitos perigos que me podiam esperar - não os desdenhava! - mas entregava-me ao oceano de coração aberto, possuído de uma enorme paixão, em demanda dos grandes espaços e de uma infinita liberdade, tal qual as aves migradoras! Olhava-o como se fosse já meu familiar e meu amigo. Embora sabendo que a sua face, quando acometida de irascível crueldade, havia sido palco de muitas tragédias, havia engolido muitos barcos e tragado muitas vidas. Contudo, eu não ia ali apenas movido pelo prazer da aventura: só por isso, não sei se compensaria... Mas orientado por razões mais fortes

Havia algo, no fundo de mim,  impelido como que por um pendor sobrenatural inexplicável que me fazia acreditar que, mesmo que apanhasse alguns sustos, tal como já havia acontecido em anteriores viagens, lá haveria de sobreviver e de me safar!.

O mar também é generoso quando quer ... A sorte protege os audazes e acreditava que o mar haveria de compreender os objetivos pelos quais que norteava o meu espírito e a minha temeridade.

Quando Luís de Camões escreveu na estância XII do V Canto de "Os Lusíadas"
"Sempre, enfim, para o Austro a aguda proa,
No grandíssimo golfão nos metemos,
Deixando a Serra aspérrima Leoa,
Co Cabo a quem das Palmas nome demos.
O grande rio, onde batendo soa
O mar nas praias notas, que ali temos,
Ficou, coa Ilha ilustre, que tomou
O nome dum que o lado a Deus tocou."

"O contributo dos Portugueses para uma nova visão do Mundo e da Natureza  é essencialmente informativo e empírico (baseado nos sentidos). Como escreveu Pedro Nunes: “os descobrimentos de costas, ilhas e terras firmes não se fizeram indo a acertar…” Pois os nossos marinheiros: “…levavam cartas muito particularmente rumadas e não já as que os antigos levavam"



"Enquanto os gregos avançavam na área da cartografia, os romanos estavam ainda num estágio anterior. Utilizando uma forma de representação primitiva, situavam Roma no centro do Mundo e davam maior importância ao registo de rotas" (..)Durante muitos séculos, os mapas foram um privilégio das elites – apenas reis, nobres, alto clero e grandes navegadores e armadores tinham acesso a esse tipo de informação. Só com a invenção da imprensa de Gutenberg, em meados do século XV, os mapas puderam ser mais amplamente utilizados. " In. Uma nova visão do Mundo - contributo português



SÓ EM 1485, PORTUGAL ELABOROU A SUA PRIMEIRA CARTA NÁUTICA  - Começaram por ser impresas em oficinas estrangeiras 



"As duas cartas portuguesas mais antigas que se conhecem, datam do século XV: a de Módena (apresenta a representação da costa Africana até ao rio do Lago) e a de Pedro Reinel (c.1485, representa a costa africana até à foz do rio Congo). Trata-se de um portulano representando a Europa Ocidental e parte de África, que reflete as explorações efetuadas pelo navegador Diogo Cão em 1482-1484, ao longo da costa africana" In "Uma Nova visão do mundo - contributo português" 



Quando  a Escola de Sagres –  foi fundada, já o Infante Dom Henrique havia recolhido abundante informação de uma grande parte da costa africana: -Convidou  uma elite de sábios na arte de navegar, oriundos dos vários países mediterrânicos, quando fundou a Escola Náutica, em Sagres - Desde Árabes a Judeus, Genoveses, Catalães e Marroquinos, com conhecimentos na cosmografia, astronomia, Geografia, entre outras ciências



A história das descobertas marítimas portuguesas está empolada de mitos



QUEM POVOOU AS ILHAS DO GOLFO DA GUINÉ? 

Título de dois artigos, de minha autoria, publicados no extinto Diário Popular (27-12-76 e 4-12-76) depois de várias travessias em pirogas no Golfo da Guiné, com as quais pretendi demonstrar que as canoas são capazes de fazer grandes viagens e resistir às maiores tempestades - admitindo, por isso, a possibilidade de as mesmas terem sido usadas pelos primeiros povoadores das ilhas, oriundos do litoral africano.

Li o que diz a versão colonial e os  contributos de outros autores, que se têm debruçado sobre este assunto. Tenho também comigo textos que nunca publiquei. Sempre na perspetiva de os reunir num livro, juntamente com os relatos das minhas aventuras. A verdade é que me tenho dispersado com outras atividades e o tempo passa. Daí ter decidido aproveitar as potencialidades da Internet. É uma via gratuita - pelo menos por enquanto, e chega a todo lado. 

Por isso, o leitor vai ter que me desculpar se corro o risco de me tornar demasiado extenso. Ainda não dou o tema por encerrado, mas gostaria de lhe dar alguma consistência.

Quis, pois, desta vez, que não ficasse apenas pelo afloramento de um dos principais objetivos que me levou sozinho (nos anos setenta) a fazer as várias travessias oceânicas em pirogas.  
Porém, se é um apaixonado pelas coisas do mar e da origem dos povos das Ilhas do Golfo da Guiné, creio que não vai perder o seu tempo ao acompanhar-me em mais esta jornada - Agora, não a bordo das frágeis pirogas, onde arrisquei a vida em prol da ciência e da história, mas à mercê da sua disponibilidade e tranquilidade.

246 Catalan-Estense Map, 1450-60... - PELOS VISTOS, UM MAPA DESENHADO COM BASE NA COMBINAÇÃO  DE  MÚLTIPLAS FONTES E  INFORMAÇÕES - Principalmente e navegações portuguesas, cujos mapas foram enciomendados ou vendidos

O mapa Catalan-Estense é um dos mapas anteriores à descoberta das ilhas do Golfo da Guiné. Que tem sido objecto de vários estudos e interpretações, desde que fora localizado. Old Maps, Expeditions and Exploration

Guardado na Biblioteca Estense - Modena: e reproduzido, pela primeira vez, por Charles Bourel de La Roncière -na sua obra LA DECOUVERTE DE L'AFRIQUE AU MOYEN AGE..No qual se diz que constam as ilhas do Gulf Of Guinea, bem como os seus nomes árabes. - Ilha de São Tomé,  a Ilha de Asben; Ilha do Príncipe Sanam. E, a Ilha de Bioko, ex-Fernão do Pó, a antiga Malicum - Pormenores mais à frente

De forma circular, com motivos religiosos e lendários, assim como a influência árabe."(...)" O mapa catalão é realmente um mapa do mundo construído em torno da carta portulano. (...)"Interpretado para incluir as terras ainda não descobertas, mas apenas postuladas" 

(...)"África ocupa a maior parte da metade sul do mapa. O continente termina em um grande arco, em conformidade com a estrutura circular do mapa, e estendendo para o leste para formar o limite sul do oceano Índico. (...)O interior do sul está em branco para salvar a legenda a África. Que começa no rio Nilo, no Egito, e termina a Gutzola no oeste: inclui toda a terra de Barbaria, e as terras ao sul. Este esquema e a legenda têm sido interpretadas como implicando algum conhecimento da extremidade sul da África, e talvez de uma rota possível a partir do oeste para o Oceano Índico 

OUTRA EXPLICAÇÃO  

No século 14, a área de Catalunha-Valência-Maiorca floresceu como um centro comercial e cultural, onde elementos árabes e judeus se misturavam à cultura cristã. São preservados numerosos mapas elaborados dentro desta escola cartográfica, entre eles o Mapa do Mundo Estense , que reúne as características de um livro-piloto: as linhas de rumo e as bandeiras ou escudos que identificam reinos e cidades; no entanto, percebe-se imediatamente que este mapa não foi criado para uso durante a navegação. Pode ser considerado um paradigma da técnica do designer, extensões lógicas de sua visão além do Mediterrâneo, dentro dos limites do mundo conhecido.- Excerto  https://www.moleiro.com/it/atlanti-e-mappe/mappamondo-estense.html


"O grande abismo ocidental, reflecte algum conhecimento sobre o Golfo da Guiné"(...) – Vale a pena ler todo o texto. Fala-se do Níger, de vários acidentes geográficos, entre outras alusões àquela região do Golfo. Refere-se, também que, até Cabo Verde, "a costa noroeste incorpora alguns detalhes de viagens contemporâneas Portuguesas" (..) "A partir dessa constatação, o mapa é geralmente datado de 1450" Sublinhando, por esse facto, que "além, de uma pequena porção do litoral, o mapa não deve nada à exploração Portuguesa."

O investigador, que faz esta leitura, elogia a "habilidade com que os cartógrafos catalães do século XIV empregaram as melhores fontes contemporâneas para modificar a visão de mundo tradicional" – E também para omitir ou remover informações antigas, "à espera de provas para obter um quadro em que se desejavam inserir as últimas descobertas Portuguesas” 

- De recordar que tais  mapas são parcos em palavras - expressavam-se mais pelas imagens e alegorismos - Fontes :#246 TITLE: Catalan-Estense World Map ..- ..Slide #246 Monograph



APÁTRIDAS, COLONIZADOS POR BRANCOS E FILHOS DE UM DEUS MENOR

As Ilhas de São Tomé e Príncipe, poderiam ter sido as Ilhas do Éden, mas não foram porque, ficaram virgens, desde que se elevaram dos mares e após a criação do mundo, só, mais tarde, Deus (o maior) levou para lá os brancos - E, todavia, erguiam-se ali mesmo em frente ao grande continente africano.

Dizem as teses cristo-colonialistas que foi o "exemplar" trabalho escravo que tirou os povos africanos da barbárie -   Mas que barbárie?... E deixou-os mais felizes?!... 

E que, os brancos, encontraram ilhas nunca dantes vistas, que as divindades celestes prodigalizaram aos que iam com a cruz numa mão e a espada na outra. - Ou que a Eva (branca, a primeira mulher) foi criada a partir de uma costela de Adão - que era também branco e foi o primeiro homem. Ainda acredita?!.

Será que a maioria da população portuguesa, vivia melhor ou estava mais desenvolvida que os povos que escravizámos?... Quando nos servimos da mão-de-obra escrava?!... Seguramente que não: "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça/Desta vaidade a que chamamos fama!" - Luís de Camões

O COLONIALISMO OMITIU E SONEGOU A VERDADE HISTÓRICA, EXPLOROU E ESCRAVIZOU OS POVOS -  O colonialismo, tal como foi, é passado... Porém, compete à história recordá-lo e fazer luz onde ainda persistem algumas sombras ou penumbras.

....

A MENTALIDADE COLONIAL  - SÓ PELO FACTO DE SE RECUSAREM A SER ANIMAIS DE CARGA:

"...Que o pobre "fôrro" tem falta de qualidade de trabalho, tudo o revela (...).Que ele não conhece a gratidão, nem a sente para com os que o arrancaram da barbárie primitiva e fizeram seu igual, especialmente  quando usa gravata, ficamo-lo sabendo agora."  
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 ."Eis porque há forros e forros... E se não enxergarmos distingui-los e tratá-los conforme a distinção que assim fizermos, corremos o risco de, endémica e periodicamente, assistirmos à repetição deste «destoar» de S. Tomé" 

 "....alguém vive em casas iguais às nossas, diz aos nativos  que o avô deles já aqui estava quando os portugueses chegaram, o que toda a gente sabe ser falso pois as ilhas eram desertas."  (...) "Esse alguém, é inimigo a enfrentar, sob pena de ter sido inútil o sangue dos mortos!".

A REAL METRALHA QUE DEUS PÔS À DISPOSIÇÃO” DOS COLONIZADORES

 ..(...) "Desconhecem o lealismo dos filhos de um Império, desconhecem os aviões e os navios, e todo um arsenal de história, de espírito humano e real metralha, que Deus pôs à disposição dos portugueses"  - In FORROS, PRETOS E BRANCOS,  1ª página do jornal do regime - A VOZ DE SÃO TOMÉ -  12 de Fev. 1953 - Um dos artigos sobre o Massacre do Batepá  Sobre os quais me refiro em ROCEIROS COMANDADOS POR TENENTE-CORONEL SPINOLISTA 



Imagem do autor deste site, acompanhado por um trabalhador santomense num palmar da Roça Rio do Ouro, junto à Praia Fernão Dias 

Ainda pude testemunhar alguns desses abusos nas grandes plantações de cacau e de café nas roças de São Tomé - onde trabalhei como empregado de mato.

Por me ter recusado a tratar os "serviçais" por tu e ao estilo colonial - os escravizados trabalhadores cabo-verdianos, moçambicanos e santomenses, fui mandado de castigo para o sul da ilha a contar cacauzeiros abandonos numa área infestada pela cobra preta, na companhia de outro trabalhador castigado.

Nas roças  só se safavam os feitores gerais, administradores e os donos, que residiam em Lisboa e  raramente lá apareciam - A generalidade dos empregados de mato (já não falando dos capatazes e pobres trabalhadores), eram simplesmente explorados. 

Dizem que o país vive uma grande estabilidade económica: é natural. A democracia não se conquista só com a mudança de um regime, é uma aprendizagem contínua. E o colonialismo - que promoveu a repressão e o autoritarismo - o que lhes ensinou?!... Quis unicamente aproveitar-se do  cacau e do café, da mão-de-obra escrava e  da sua riqueza natural.
 
EM DEMANDA DAS ROTAS DOS ANTIGOS NAVEGADORES DAS PIROGAS NAS SUAS MIGRAÇÕES DA MÃE-ÁFRICA PARA AS ILHAS DO PARAÍSO -   


Há que realçar a coragem dos marinheiros lusitanos, que se fizeram ao mar apenas munidos de um mero astrolábio - Não dispunham de sextante, nem de cronómetro ou sequer de almanaque náutico que lhes possibilitasse algum rigor da navegação - Não iam completamente às cegas, porém,  embora dispondo de alguma informação, iam à aventura! - Indubitavelmente, foram grandes navegadores aventureiros

 
Sou português  e não descuro os feitos marítimos dos meus antepassados. Mas também não quero fazer  como a avestruz e meter a cabeça debaixo da areia. Nem fazer dos compêndios coloniais a bíblia sagrada.  

Sem deixar de admirar a coragem dos antigos navegadores,  busco outras interpretações. Eu próprio me desloquei de canoa, em Dezembro de 1970, desde a Baía Ana de Chaves ao recanto de  Anambó Local onde é suposto terem aportado pela primeira vez, João de Santarém e Pero Escobar  - Mas não foi neste local mas sim na Lagoa Azul  onde posteriormente vim a encontrar a inscrição do lema do Infante Dom Henrique, que os navegadores portugueses costumavam deixar em pedras ou em troncos de árvores, onde aportavam pela primeira vez.

Curiosamente, confrontando as imagens, vejo que o sítio está agora mais bem conservado do que estava naquela altura, onde passei uma noite horrível, com as costas sobre lascas e gogos de todos os tamanhos e feitios (pois ali não existe praia de areia), mesmo quase sobre a margem onde as ondas vinham bater, embrulhado pelas palmas dos coqueiros mas constantemente a ser espicaçado e mordido por enormes caranguejos do mar e da terra, que não me deram um minuto de descanso 

Não me deitei no mato, receando as cobras negras. E, ao alvorecer, perante aquele vetusto e simbólico padrão,  rodeado de palmas, tão belas, sonoras e verdejantes, não me importei de  homenagear os marinheiros de quinhentos, com a bandeira portuguesa.  
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HÁ QUE DISTINGUIR A EPOPEIA MARÍTIMA DA COLONIZAÇÃO, QUE SUBJUGOU E TIRANIZOU OS POVOS.

Uma coisa é a verdade histórica (e foi essa que eu procurei através de várias travessias em pirogas e que ainda hoje questiono), outra, as omissões ou  a que convinha ao Reino..

Todavia, quer os portugueses, nas frágeis caravelas, quer os primeiros povoadores, nas suas toscas pirogas, foram lobos do mar e heróis desbravadores à sua maneira. 

Também as canoas africanas, à semelhança das grandes migrações no Pacífico, se fizeram ao mar alto: Fizeram extensas travessias no Golfo da Guiné, tal como os primitivos navegadores da Polinésia, considerados os "navegadores supremos da história":  que, velejando  em linha, cada uma à distancia da visão da canoa  que lhe seguia atrás, até qualquer delas divisar uma ilha habitável, atravessaram vastas extensões daquele imenso oceano, colonizaram as mais remotas ilhas, algumas a milhares de milhas, umas das outras, não dispondo sequer de uma bússola ou de qualquer outro instrumento náutico


Quase assim procedi: munido de uma simples bússola, sem bóias, meios de comunicação com exterior, encaixado num frágil esquife, quase desprovido de tudo. Recuando, tanto quanto possível, às condições precárias em que foram sulcados os mares pelos antigos povos que ligaram a costa africana às ilhas do Golfo da Guiné




Estes meus olhos têm muito que contar - Viram muitas tempestades, noites medonhas, inarráveis!...Manhãs e tardes de ameaça e assombração!... Mas também se maravilharam com muito azul do céu e do mar...


..Viveram horas intensas...extraordinárias!.... Fantasmagóricas!... Dias e dias!... Noites e noites a fio!...Completamente exposto ao sol, à chuva, aos elementos, às intempéries... Só de uma vez foram 38 dias seguidos, entre Outubro e Novembro de 1975 - mais das vezes passados à deriva, por perda dos remos principais, que um violento tornado mos roubara - Sim, a minha canoa fora escavada num casco de árvore - era comprida mas só tinha 60 cm de altura por 1 metro de largura.

Vagueava como se estivesse permanentemente no interior de um caixão à espera de ser sepultado a qualquer o momento na profundeza das águas. A minha vida estava sempre suspensa - Depois que perdi a maior parte dos apetrechos e passaram a ser as correntes e os ventos a comandar os meu destino, havia esperança (sim, nunca a perdi) mas não podia ter certeza alguma - Não sabia onde estava nem a que ilha ou ponto da costa podia ir dar. Mas também não sabia, em absoluto, se lá chegava..


A única novidade nesta minha última canoa, era um pequeno rebordo e uma pequena ponte de contraplacado para a proteger das ondas.. Parte do qual vim a sacrificar para improvisar um remo. 
Qualquer das duas canoas  que utilizei - à exceção da usada na travessia de São Tomé ao Príncipe - exigiam, no mínimo, duas pessoas - Muitas das minhas dificuldades, que enfrentei,  teriam sido superadas.  Todavia, parti sozinho

Na viagem dos 13 dias à Nigéria nem coberta levara... Na travessia de São Tomé ao Príncipe, a canoa era minúscula e ainda mais frágil de que a generalidade das canoas dos pescadores.. Não tive dinheiro para comprar uma melhor...O mastro um pau vulgar do mato e as velas, do mesmo pano que as tradicionais, com sacos de farinha das padarias.

O baú um vulgar caixote do lixo. Os instrumentos de navegação, apenas a bússola. Não levava boias. Não podia comunicar com ninguém... Enquanto não se furou, um simples colchão de praia...Depois passei aninhar-me conforme podia ...Mas raramente dormia uma noite inteira...O Golfo da Guiné Equatorial - então na época das chuvas - é turbulento, muito perigoso: ou há calmarias ou tempestades. Se tivesse alcançado o meio do Atlântico, dificilmente iria debater-me com tantas adversidades


Sacudido pelas vagas ou, quando deitado no fundo da canoa (mais das vezes encharcado numa salmoura até aos ossos) ouvindo o marulhar exasperante de cada impulso sobre o casco.... Não há palavras... é quase de se ficar louco com aquele baque-baque constante...A todos os momentos, a todos os instantes...Sempre que sentisse um estrondo maior, soerguia-me e ia logo apalpar se havia alguma racha...Mas foram os tubarões, que investiram, que lha fizeram um pouco acima da linha água - Vinguei-me, porém, da sua ferocidade, pescando alguns enquanto tive linhas e anzóis
Peixes estranhos (talvez vindos das profundidades, aproveitando-se da escuridão à superfície) vagueavam por baixo da canoa: não os via mas sentia-os quando se encostavam ou roçavam sob o bojo e nas trevas mais negras....

Baleias que se levantavam a alguns metros e que, só por um golpe de sorte, não a despedaçavam...Cardumes que chegaram arrastá-la por várias horas, como se fosse um mero despojo...Bebendo água das chuvas ou do mar, quando faltou a água potável e os alimentos... - À flor do mar e sempre com o abismo por baixo dos pés: enfraquecido e esgotado mas nunca desanimado e dado por vencido

CUSTAVA-ME A CRER QUE OS PESCADORES - TÃO EXÍMIOS NAS CANOAS - SENTISSEM ALGUM PAVOR EM PERDER A SUA ILHA DE VISTA
 

A cada pescador que eu perguntasse se já tinha ido à Ilha do Príncipe, a resposta era invariavelmente a mesma: "Quando vem tornado e leva canoa, só gente de feitiço é que vai lá parar. Vem gandú e come perna de gente" - Achava a justificação um bocado fatalista:

O colonialismo foi tremendamente castrador e repressor e contribui  para criar muitos fantasmas nas populações nativas. Pelo visto, os pescadores, estavam em vias de perder a sua memória ancestral. Se eles eram arrastados, involuntariamente, com a sua canoa para as costas do Gabão, dos Camarões ou da Ilha do Príncipe, era sinal que as canoas resistiam e também lá podiam ir voluntariamente.

Este o meu primeiro desafio: pretende contrariar esse fatalismo, que parecia instalar-se na sua mente e nos seus olhos. Mostar-lhes que as suas canoas - mesmo que o tornado as arrastasse - sendo de madeira do ócá (quase tão leve como a cortiça), podiam ir dar a qualquer parte - Eu precisava de lhe fazer essa demonstração.

Quando comprei a primeira canoa (por 200$00)a um pescador na Praia do Lagarto, eu justifiquei-me dizendo que queria ir nela ao Príncipe: "Você não seja louco!" Você, morre no caminho!.... Se você vai fazer isso, eu digo capitania!"

Não tive outro remédio senão mudar de praia... Quando, mais tarde, se constou que fizera essa travessia, passei a ser encarado como feiticeiro - E a ser procurado, por um dos profissionais - Ele pedia-me que lhes ensinasse os meus segredos - mas que segredos?...

No pós 25 de Abril, fiz a travessia à Nigéria. Mesmo assim, foi à socapa. Porém, quando regressei a S. Tomé, para tentar a travessia transatlântica - para seguir pela rota dos escravos - felizmente que já o seus povos eram soberanos, e as ilhas independentes.

Na viagem à Nigéria, ainda pensei ir acompanhado, por não ter bem a certeza de que seria capaz de fazer tão extensa travessia. Como dormir?.. (o mínimo que fosse) E ao mesmo tempo assegurar a navegação e o equilíbrio da canoa, durante os vários dias que contava demorar; eram questões que então me preocupavam. Pois, a viagem ao Príncipe, fora apenas de três dias, muito complicada e pouco conclusiva. Precisava de fazer a ligação ao continente., de reforçar a minha teoria, com um teste mais arrojado

Ainda no mesmo ano de 1975, tentei a travessia oceânica de São Tomé ao Brasil. A canoa foi transportada num pesqueiro americano para ser largada um pouco a sul de Ano Bom, na zona de influência da grande corrente equatorial. O comandante do barco, no entanto, faltou ao prometido: tentou dissuadir-me a não fazer a viagem, a abandonar a canoa e a ficar a bordo.

Não podendo navegar para oeste, vi-me forçado a voltar a São Tomé para tentar a travessia noutra ocasião - Um violento tornado, logo na primeira noite, quando empreendia o regresso, (pois não tinha outro alternativa senão aproveitar os ventos e as correntes para Norte) far-me-ia perder quase tudo. Estava-se na época das chuvas e era a pior altura para se navegar sozinho no Golfo. Naquele ponto, estava a 180 Km a sudoeste de S.Tomé e a 350Km a oeste da costa africana

Acabaria por acostar, 38 dias depois, à ILHA BIOKO - EX-FERNÃO DE PÓ - a mais setentrional .

Mas só soube, quando fui ter   a uma finca, que era a  à ilha de Bioko, Bioko –ex-Fernão do ,  

Tendo assim realizado a mais longa travessia entre as ilhasda ilha mais meridional à mais setentrional do Golfo da Guiné - Apesar das extremas dificuldades, pude sobrevir e enfrentar as maiores adversidades, provando, desse modo, que as pirogas podem resistir às mais violentas tempestades ou situações de mar.

Mesmo assim, julgo que valeu a pena - Queria prosseguir a experiência de Alain Bombard- Mostrar aos náufragos que o maior inimigo não é o mar mas o desespero - E, afinal, acabei mesmo por lutar como o náufrago que não se rende.

Pretendia reforçar a minha teoria, sobre as capacidades das pirogas, e, mesmo sozinho, logrei por três vezes navegar grandes distâncias dentro delas, provando que também as mesmas podiam ter sido usadas pelos primeiros povoadores das ilhas. 

Qual dinheiro, qual riqueza?!... - Qual vida tranquila, qual quotidiano ocioso e sem sobressaltos! quando se prossegue um ideal, um objectivo, um sonho! - Não é exibir a vaidade mas expor com fraqueza a verdade.

Antigos mapas já existiam mas estavam arrumados e esquecidos em velhos arquivos. Agora, vieram à luz do conhecimento e das novas tecnologias - Mercê de dedicados investigadores. Eu, porém, continuo a recuar no tempo, muito para lá da existência de qualquer mapa

(treinos)

A História de São Tomé e Príncipe -das descobertas, diz que as «ilhas de S. Tomé e Príncipe, foram descobertas, por João de Santarém e Pero Escobar, entre 1470-71, estavam desabitadas  e que  começaram a ser povoadas em 1493 por judeus, aventureiros, colonos portugueses e escravos  

 Álvaro Caminha, a quem o rei fizera doação da capitania de S. Tomé, trouxe para a ilha os filhos dos judeus castelhanos que não haviam deixado o reino no prazo fixado. Essas crianças, depois de baptizadas, foram entregues aos donatários, a "fim de que, uma vez tonadas grandes, pudessem contratar casamento e povoar assim aqueles ilhas"» Gastão de Sousa Dias In África Porttentosa
No tocante a Bioko  (conhecida até à independência da Guiné Equatorial, por Fernão de Pó), refere-se que a ilha foi descoberta em 1472 pelo navegador Português Fernão do Pó, a que deu o nome de Flor Formosa, tendo mais tarde passado a ser conhecida pelo nome de seu descobridor. A Ilha de Ano Bom (Pagalu) foi descoberta no dia 1 de Janeiro de 1473 e, por isso, ficou conhecida por Ano Bom. 

Estes territórios mantiveram-se Portugueses até 1778 altura em que Portugal os cedeu à Espanha os quais em 12 de Outubro de 1968 foram proclamados independentes da Espanha. A língua oficial destes territórios é o Espanhol GUINE EQUATORIAL...

Toda a zona do Golfo da Guiné e costa africana estava cartografada, e, naturalmente, sendo ilhas tão férteis e tão belas, logo que  conhecidas, dificilmente deixariam de serem procuradas e povoadas - Levando povos do litoral, ou, por curiosidade ou por espírito de aventura, a demandarem-nas, a fixarem nelas, rendidos  à  variedade e beleza da sua flora, das suas praias e abundância de frutos . Pois, todas elas, são possuidoras  de muitas espécies endémicas(fauna e flora), certamente  muito mais antigas de que a própria humanidade.São Tomé e Príncipe » Herbário da Universidade de Coimbra .....Espécies de aves endémicas de São Tomé ....Espécies de aves endémicas de São Tomé .

OS VIAJANTES DA BARCA PERDIDA -  NA PERSPECTIVA COLONIAL,  AS ILHAS DO GOLFO DA GUINÉ FORAM ENCONTRADAS DESERTAS. 

Então como explicam que, durante o longo período da escravatura, apesar de terem aportado às ilhas, centenas de barcos negreiros de diferentes partes do litoral de África, todavia, só um desses barcos - e, por sinal naufragado, iria formar o segundo maior grupo étnico em S. Tomé?... - Ou seja, teria sido pelo facto de ter ido a bordo alguma espécie de Moisés Africano?!...

Este tem sido o mote para as mais absurdas especulações: "No século XVI, um barco de escravos angolanos naufragou perto da ilha, e muitos deles conseguiram nadar até a costa, formando um grupo étnico à parte"
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 Sendo certo e sabido que esse povo sempre procurou o  isolamento e foi refractário a qualquer tipo de miscigenação. - Quando a Administração da Roça Uba Budo (da Companhia  Agrícola Ultramarina) me mandou de castigo (por me ter recusado a tratar os "serviçais" ao velho estilo da roça) e me enviou para a Ribeira Peixe, ao sul da Ilha, onde residem algumas comunidades ancestrais de  "angolares", o sermão que me impuseram foi o de que eles eram uma espécie de bichos de mato: - Enquanto, com os trabalhadores cabo-verdianos, moçambicanos e santomenses, nós os empregados de mato éramos  incentivados (obrigados) a  tratá-los a todos por tu - mas, com os angolares, devíamos ter mais cuidado.

Porém, não foi essa impressão com que fiquei: a principio, quase não os entendia, porque, muito deles, mal sabiam pronunciar uma palavra de português. Mas não me foi difícil estabelecer o melhor relacionamento. Os primeiros dois meses, foram ocupados a  cumprir o castigo (que me aplicaram) a contar os cacaueiros velhos(abandonados) numa zona infestada de cobra preta, acompanhado por  um cabo-verdiano que os marcava com cal à medida que eu os ia anotando num bloco.

Mas  depois passei a lidar com eles nas colheitas de cacau e capinagem. E confesso que nunca me senti inseguro. Pelo contrário. Sendo todos eles pescadores, foi a bordo das suas canoas que estabeleci os  primeiros contactos com esse primitivo meio de navegação.

Eles percebiam bem o que iam fazer: eu e o capataz destinávamos-lhes a área a capinar ou número dos sacos que iam colher ou a quebrar, cumpriam a empreitada e retornavam às suas praias. O empregado do mato é que só podia voltar ao terreiro, quase ao pôr-do-sol, mata-bichava e almoçava no mato, quer chovesse ou fizesse sol. E ali chovia quase todos os dias.  Falavam uns com outros na sua língua (tagarelavam a toda a hora) eu, a  maior parte do dia, de machim na mão, andava silencioso  (deslumbrado com a paisagem)  a limpar os troncos desta ou aquela planta de cacau.

Na roça, o branco(sobretudo o empregado de mato) era obrigado a ter a  samú para lhe fazer a comida, lavar a roupa e dormir com ela na cama - Depois, de uma santomense, na Roça Uba-budo, ali, o Feitor-Geral, ao segundo dia, mandou apresentar, à porta do chalé dos empregados de mato, uma mulher "angolar" para ir ter comigo - Era  mais velha 15 anos de que eu - Passei então  a compreender melhor o grau de generosidade e a personalidade daquela gente. Os angolares são pacíficos, têm uma individualidade inconfundível, que nunca me pareceu agressiva mas ciosa; o que não permitiam é que alguém os amachucasse.E, quem o fizesse, tinha a resposta na hora.

O PASSADO HISTÓRICO DESTE ARQUIPÉLAGO, DIZ-NOS QUE AS POPULAÇÕES NUNCA SE CONFORMARAM COM O OCUPANTE - E havia razões para se oporem: além de se apoderarem das suas terras, ainda as exploravam e escravizavam 

1511 - "Em S. Tomé é levantado o auto a Gonçalo Rodrigues, acusado de ter cometido as piores barbaridades, tais como deitado ao mar crianças de mama, para preservar em boa saúde e préstimo (sexual e de trabalho) as mães. O auto não tem consequências de maior."

 QUEM PRIMEIRO COMEÇOU POR MANIFESTAR A SUA INCONFORMIDADE FORAM OS "ANGOLARES"

OS "ANGOLARES", comandados por Amador (que logrou influenciar os escravos das plantações) deferiram constantes ataques aos colonos, e, com tal violência e estratégia concertada, que obrigaram a transferir a capital de São Tomé para Santo António, na Ilha do Príncipe.

 REBELARAM-SE, PORQUE ESTAVAM ORGANIZADOS: tinham a sua cultura, raízes muito  profundas ao meio, completamente diferente das do ocupante  - E o grande herói dessas lutas, tem um nome: indiscutivelmente o Rei Amador!  


Há provas históricas de que, Fernão do Pó, também teve o seu rei - O último dessa linha hierarquia (sem ceptro) foi Francisco Malabo Beosá (1896-2001), tendo vivido, entre 1896 e 2001. Cuja descendência remontam ao heroico "Malabo Lopelo Melaka, último rei bubi, que resistiu a invasão espanhola. Os clãs e localidades bubis tardaram em aceitar a soberania espanhola sobre a ilha, e até 1912, não foi obtida por meio de repressão a pacificação total da ilha" Malabo – Wikipédia

 
O ditador Francisco Macías Nguema (que ainda reinava quando aportei a Bioko (tendo sido deposto, quatro anos depois, por seu sobrinho Teodoro Obiang Nguema Mbasogo),actual Presidente da Guiné Equatorial , a quem fui levado, da cadeia central,  ao seu gabinete (então Comandante das Policias e das Forças Armadas, o qual, felizmente, ordenaria a minha libertação), pois bem, foi na fogosa campanha de 1973, que, Macias, o primeiro presidente da Guiné Equatorial, além de decretar a substituição dos topónimos de origem europeia(o que até era compreensível) atribuiu ao nome da capital da então Ilha de Fernão do Pó, o nome de Mablabo  em homenagem ao mítico rei Malabo Lopelo Melaka, último rei bubi, que resistiu a invasão espanhola. Passando a ilha a chamar-se Bioko , homenageando desse modo o povo Lubi - Só que não tardaria a persegui-lo e a dizimá-lo., privilegiando a sua etnia do enclave continental.

A ORIGEM ANCESTRAL DOS REIS E IMPERADORES NÃO É EXCLUSIVAMENTE EUROPEIA - NEM FOI NO VELHO CONTENTE QUE COMEÇOU - QUANDO O EGIPTO JÁ TINHA IMPERADORES, AINDA QUASE  TODA A EUROPA VIVIA PRATICAMENTE NA ERA DA PEDRA.
  
Todas as ilhas do Golfo eram habitadas  e há muito povoadas. Tinham os seus líderes ou réis - Se, Amador, não era rei(no sentido tradicional do termo), isso pouco importa;fora um grande líder!. E os líderes não surgem sem uma aprendizagem de raiz, desinserida do seu meio.

Cronologia: "1586 - Francisco Figueiredo  é o primeiro governador de S. Tomé. Governa sobre a cinza de incêndios feitos pelos "angolares" (...) Aliados aos escravos das fazendas, chegaram a fazer fugir para o Brasil donos de herdades."

Os "angolares" rotulados pelo colonialismo como originários de um naufrágio, "que  vindo de Angola deu à costa em uma praia  do sueste da ilha,  muito antes de 1574" - Outros defendem que foi nas Sete Pedras (aliás,  dez ilhotas)  então, ali, era mesmo impossível atingir a costa a nado  - Quando, afinal, de lá partiram tantos carregamentos  - Vindos de vários sítios e das mais diversas etnias - Com certeza que não falavam todos a mesma língua. E porque razão o "angolar" não é um dialecto?...

Se se desse a circunstância de serem  provenientes de um simples barco de negreiros (com um índice de moralidade tão alargada), alguma vez seriam  capazes de, em tão pouco tempo, se distinguirem dos demais (que também vinham do Congo e de Angola, dos mais diversos lugares da costa) e assumir a liderança?!...  -

 Mesmo, numa ilha, tão pequena (com uma superfície reduzida a 964 Km, sendo quase 2/3 impenetráveis) -  mantiveram-se afastados dos colonos e até   do maior grupo étnico?.. - Formando um povo autónomo, com uma identidade própria, que  jamais se vergaria ao domínio colonial. 

O POVOAMENTO PRIMITIVO DAS ILHAS, DIFICILMENTE PASSARIA DESPERCEBIDO  A OUTRAS ETNIAS DO CONTINENTE AFRICANO -  PASSADA A NOTICIA, NÃO TARDARIAM A IR NA ESTEIRA OUTROS GRUPOS DE AVENTUREIROS

TANTO OS  "ANGOLARES" COMO OS "FORROS" DEVEM TER EM COMUM O MESMO PASSADO ANCESTRAL  - EM AMBAS AS ETNIAS,   DEVE CORRER SANGUE NAS SUAS VEIAS DOS  PRIMEIROS  AVENTUREIROS, QUE SE FIZERAM AO MAR.

Além dos "angolares é de admitir  a existência  de outros grupos étnicos, anteriores à descolonização, que teriam sido completamente desmembrados da sua frágil organização ancestral  - Pelo que estou em crer que, entre, os chamados "forros", deverá correr também muito do sangue dos corajosos pioneiros, que ali desembarcaram pela primeira vez -  Descendentes dessa gesta heróica,  oriundos das  praias onde, em tempos recuados, terão partido os seus ancestrais.

 A HISTÓRIA É OMISSA - SÓ CONTA A VERSÃO DO COLONIZADOR BRANCO - SEJA COMO FOR, A COSTA AFRICANA, HÁ MUITOS SÉCULOS QUE NÃO ERA UM LITORAL DESCONHECIDO -  ASSIM O ATESTAM AS CARTAS QUE PERMANECIAM PERDIDAS NAS PRATELEIRAS DOS ARQUIVOS

OS RELATOS DOS HISTORIADORES SÃO CONTROVERSOS  - ALIÁS, NEM PODERIA ESPERAR-SE OUTRA COISA: O Povo era escravo e analfabeto - Pelo que, só a versão colonial ficava para a posteridade,  a que convinha: a que enaltecia os feitos  dos colonizadores.- Há porém uma certeza incontornável: : AMADOR É HOJE A MAIOR FIGURA HISTÓRICA E LENDÁRIA DAS ILHAS DE S.TOMÉ E PRÍNCIPE – E A VOZ DO POVO, TAL COMO A VOZ DE DEUS, NUNCA SE ENGANA..

 SIMPLESMENTE O MITO OU  O REBELDE QUE SE AUTO-PROCLAMOU REI – TRANSPARECE UM FACTO INCONTORNÁVEL: Se o Rei Amador  ostentava ou não o  ceptro à maneira dos réis  colonialistas,  tal como o concebia  o ponto de vista e sectário dos historiadores, súbditos desses mesmos  interesses, pois bem, Amador, fora um grande soldado e comandante.As revoltas não foram inventadas: para existirem, tinha de haver alguém a comandá-las, a impor a autoridade e a merecer o respeito e obediência gerais - Ora, tais qualidades, só poderiam advir de quem conhecia os segredos da floresta e já lá estava há muito mais tempo 

Embora,   com forças em maior número de que os ocupantes,  eles, os escravos, comandados por Amador, representavam o lado mais fraco da barricada - Não dispunha das armas dos invasores (talvez só de uns arcos de flechas e zangais) mas tinha a seu lado a voz da razão, uma imensa vontade de libertar o seu povo e  os companheiros do mesmo infortúnio e sob a mesma cruel ameaça e opressão.

De facto, sobre o passado do Rei Amador, correm as mais díspares versões - mas, se formos a ver, o mesmo se passa até com os nomes dos "descobridores das Ilhas. Para facilitar as coisas, convencionaram-se datas e foram-se buscar nomes - Sim, convenhamos: alguma vez o colonialismo podia falar de "descobertas" sem apontar os seus heróis?!...

Porém, idêntica sorte não tiveram os milhões de mártires, os heróis que foram brutalmente atirados ao mar ou que morreram sufocados em porões fétidos e acorrentados. Salvo raras excepções, os pobres dos escravos, eram simplesmente relegados para a categoria do Zé Ninguém, dos carne para canhão. 

Aliás, tal comportamento  também fora extensivo à raia miúda dos colonizadores, sobretudo aos forçados, que para ali iam desterrados a cumprir as suas penas - há quem diga que era a opção que lhe restava para escaparem à pena de morte; mas não creio que todos fossem voluntários – O que passou à posteridade,foram apenas  os nomes  dos pilotos das caravelas(e nem todos)  ou dos barcos negreiros, que se notabilizaram e donatários e governadores – Quem é que hoje aponta  um dos milhares de nomes da raia miúda  sacrificada?

Fosse o negro mais ousado e temerário,  continuaria a ser sempre negro e escravo; aliás, tal mentalidade, ainda ali pude  testemunhar,  enquanto empregado da roça e já haviam passado alguns séculos sobre as rebeliões de Amador - Acho que, o colonialismo em São Tomé e Príncipe, foi das colónias onde a sua violência mais tempo se perpetuou. Aos escravos (designados, mais tarde, por serviçais),  só restava a fuga para o mato.

O colonialismo, moldado e inspirado pelas cruzadas cristãs (cruz numa das mãos e espada na outra), manteve a  mesma face, cruel,  prepotente e abusadora, da mesma forma,  inalterável ao longo dos séculos,  tal como, em Roma, se mantiveram os dogmas do Vaticano.

A PRÓPRIA IGREJA - ATRAVÉS DA COMPANHIA DE JESUS - TAMBÉM (ELA PRÓPRIA) SE DEDICAVA AO MESMO HORRENDO MAS LUCRATIVO NEGÓCIO
 BREVE CRONOLOGIA:

1600 - A partir desta data, os Jesuítas , que se tinham estabelecido em Angola, concentrarão  os seu esforços em Luanda, onde fundarão um colégio.

Paralelamente, envolver-se-ão no comércio de escravos - a Companhia  de Jesus dispôs  dos seus próprios barcos no Brasil -, alegando que a melhor forma de converter um negro era a sua venda  para as plantações da América do Sul, que a Companhia de Jesus igualmente detinha, onde melhor poderiam ser  introduzidos na Cristandade.
  
 O ANTROPÓLOGO, HISTORIADOR E SOCIÓLOGO ALEMÃO GERHARD SEIBERT  CONSIDERA O REI AMADOR, O LÍDER DA GRANDE REVOLTA DE ESCRAVOS DE 1595, UMA FIGURA EMBLEMÁTICA NA HISTÓRIA DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

 Seibert, que é doutorado em Ciências Sociais, pela Universidade de Leiden e possui a licenciatura em Antropologia Cultural, pela Universidade de Utreque, igualmente na Holanda (entre outros cursos, inclusivamente no seu país) é um dos mais prestigiados especialistas na sua área, já publicou vários estudos sobre África, nomeadamente, sobre São Tomé e Moçambique, é docente na Universidade Nova de Lisboa, tem um vasto currículo, que pode ser consultado em:  Karl Gerhard Seibert 



O autor do livro .Camaradas, Clientes e Compadres. Colonialismo, Socialismo e Democratização em São Tomé e Príncipe, pronunciou-se sobre o Rei Amador, na conferência na CACAU, num texto a que deu o título Amador, história e mito do líder da revolta de escravos em São Tomé(1995)

Queixa-se de ter sido mal interpretado  -  .DEIXÁMOS AQUI OS DOIS LINKS: QUER DA INTERPRETAÇÃO DADA NO ARTIGO PUBLICADO  EM .. Téla Nón >> Rei dos Angolares nunca existiu em São Tomé e Príncipe? ....QUER DA REACÇÃO DE GERHARD SEIBGBERT...Téla Nón >> “Infelizmente muito que disse sobre o Rei Amador na conferência  na CACAU  em 17 de Janeiro não foi reproduzido correctamente

GERHARD SEIBERT, DIZ QUE EXISTE UM  DOCUMENTO  NO VATICANO, QUE FALA DE  AMADOR  –  

No ano de 1595 um preto da ilha de São-Tomé, chamado Amador, se levantou com os homens da sua cor, e se proclamou Rei da mesma ilha, cometendo os excessos que eram de esperar de uma besta feroz”.

Numa comunicação que fez,  em Janeiro último, proferida na CACAU, Gerhard Sibert, dá conta de dois documentos, sobre a revolta dos escravos em 1595,  “considerados históricos e fontes primárias, Ambos, na sua opinião, dizem muito pouco  sobre a pessoa de Amador - Eis um excerto do que transmitiu:
 ...........

Não se sabe nada sobre o seu passado nem sobre a sua vida pessoal. Não existe nenhuma gravura ou pintura de Amador. O manuscrito de Rosário Pinto diz apenas que era escravo de Bernardo Vieira, enquanto o documento do Vaticano afirma que o nome do seu dono era Dom Fernando. Segundo Caldeira (2006:73) este nome pode ser uma confusão com o nome do então governador Fernando de Meneses. No início da revolta, Amador auto-proclamou-se “Capitão General de Guerra e Rei nomeado absoluto, com poder de dar liberdades a todos os cativos.”[15] O manuscrito de Rosário Pinto não refere a nenhuma data sobre a morte de Amador, enquanto o documento do Vaticano relata que, depois de ter sido traído e preso, foi executado e esquartejado em 14 de Agosto de 1595.[16]-  O texto completo está acessível em .. Rei Amador, história e mito do líder da revolta de escravos em São

SÓ O FACTO DO NOME DE AMADOR SER  REFERENCIADO NO VATICANO,  DIZ MUITO - É SINÓNIMO DE QUE NÃO FORA COMPLETAMENTE IGNORADO  PELA IGREJA E O PARCEIRO COLONIALISTA - ALGUMA IMPORTÂNCIA TEVE!- 

 

NÃO CONFUNDIR YOAN GATO, COMO AMADOR, DE SEU NOME Bernardo Vieira - Ao qual o colonialismo, terá chamado de Rei Amador, no sentido pejorativo para  diminuir  a sua memória ou, talvez, como o rei inesperado, vindo do mato, desconhecido dos ocupantes. 

Anteriormente, às façanhas do bravo Amador, existiu um não menos valoroso guerreiro - Yoan Gato, porventura nome judaico de Yôḥānān - (em galês  é Ioan). Oriundo (creio eu) de mestiçagem das crianças judias, que foram enviadas à força para São Tomé - Estou mais inclinado que tivesse sido ou um desses inconformados seres humanos (já velho e cego, como referem alguns autores) ou então um filho dessa mestiçagem forçada  - 

Quando Yoan Gato foi morto, se  era oriundo das crianças embarcadas naqueles anos, em 1430, teria entre 40 a 50 anos. Ou seja, mesmo diminuído fisicamente, ainda encontrou coragem e forças para se enfrentar os povoadores da cana do açúcar. -  E tudo isto, , não muito  depois de Álvaro de Caminha, em 1493, ter sido   nomeado donatário da ilha de S. Tomé por D. João II -

De recordar que, entre 1492 e 1496, D. João II ordenou o envio de alguns milhares de crianças arrancadas aos seus pais. De tal modo, foi a  pretensão do reino em mestiçar e colonizar, que as duas ilhas chegaram a ser apontadas como "um laboratório experimental, no qual se configurou uma miscigenação  ético-social jamais vista anteriormente".   .DE EXILADOS HISPANO-LUSITANOS À ILHA DE SÃO TOMÉ

NA CRONOLOGIA DA ESCRAVATURA, EXISTE ESTE REGISTO:

1530 - Revolta contra o esclavagismo e os portugueses em S. Tomé. É dirigida por um velho cego (Yoan gato)

1596 - Amador, chefe dos "angolares" de S. Tomé é preso e supliciado á morte. In. Portugal e a Escravatura em África

MELHOR  QUALQUER DOCUMENTO COLONIALISTA OU DO VATICANO, É A MEMÓRIA ORAL DE UM POVO  - ESSA É INTRÍNSECA, CORRE-LHE NAS SUAS PRÓPRIAS VEIAS.

Em 1964, quando trabalhei na Roça Ribeira Peixe - onde a maioria dos trabalhadores eram "angolares", recordo-me, muito bem, de como se referiam à memória do seu rei. 

Se o domínio colonial escravizava aqueles que eram simplesmente mão-de-obra escrava, carne para canhão, maior violência exerceriam sobre aqueles que ousam fomentar e comandar as revoltas: basta recordar as lutas pela independência e os mártires que o regime colonial-fascista enviou para o Tarrafal. 

 Ao Rei Amador (a que alude o dito documento do Vaticano),  pois claro, poupado ao o enforcamento imediato, para não se transformar no herói à frente dos seus homens, causando ainda novas revoltas, sim, pior do que a morte imediata, só o desterro, a humilhação, para ser escravo do Rei - .Se dúvidas existisse, e aí está o documento que as desfaz - Para o deixarem morrer longe da sua ilha, humilhado e num meio que lhe era  estranho e hostil. - De um modo ou de outro, ou em São Tomé ou como criado do reino, em Portugal, foi um mártir.



O COLONIALISMO SEMPRE PROCUROU HUMILHAR E ANIQUILAR OS LÍDERES AFRICANOS – FOI O QUE FEZ TAMBÉM COM Gungunhana
.

"...em 27 de Dezembro de 1895 quando Mouzinho de Albuquerque aprisionou o régulo Gungunhana, num episódio por demais conhecido em que para o humilhar mandou o poderoso régulo sentar-se no chão, levando-o preso para Lourenço Marques e mais tarde para Lisboa"D.Carlos I-33º Rei de Portugal: Acontecimentos no ano de 1896 


 OS POVOS AFRICANOS FORAM VÍTIMAS DO COLONIALISMO - MAS TAMBÉM DE LUTAS TRIBAIS, QUE PERSISTEM NA ACTUALIDADE - TODOS OS HABITANTES DAS ILHAS DO GOLFO ENTRONCAM NUM PASSADO COMUM - O DA ORIGEM DA SUA GESTA HERÓICA ATRAVÉS DO GRANDE GOLFO! - Desde a Ilha mais próxima - a de Bioko - até à mais meridional e afastada do grande continente africano.



Na verdade, basta ir ao fundo da história para ver como os "angolares, ao longo dos tempos, reagiram à ocupação colonial, chegando a obrigar o invasor a mudar a capital para a Ilha do Príncipe. E não foi muito depois da  ocupação. Tinham o seu rei e a sua organização social e uma língua não crioula .

Ciosos dos seus costume, não se vergaram aos ocupantes da terra, procurando preservar a sua identidade

Nunca aceitaram, com bons olhos que o branco pudesse servir-se da suas  jovens mulheres. Conheci o administrador de uma das principais roças que, de quinze em quinze dias, tinha uma menina (ainda menor) à disposição para lhe tirar o "cabaço". Fazia-o sem o menor pudor e vergonha.

Os "angolares" vivem sobretudo da pesca, nas suas aldeias situadas junto à orla marítima
. No meu ponto de vista, eles são os descendentes dos primeiros povoadores da Ilha de São Tomé. Se bem que seja de admitir, como atrás referi, que outras etnias, em vez de uma, igualmente se estabelecessem em São Tomé e nas restantes ilhas, através das suas canoas, sulcando o braço do golfo, que separa as ilhas do continente africano  -  Por exemplo, no Príncipe, prevalece a etnia Moncó. Em ambas as ilhas, existem também os "tongas", filhos dos serviçais com o forros, ali nascidos - Mas não é de pôr de lado a hipótese do colonialismo ter varrido com as tradições e o passado de outros grupos étnicos.

Ano Bom a ilha mais meridional do Golfo da Guiné,  há muitos traços comuns (anatómicos e da própria língua) com  o Forro de São Tomé - Na Ilha de Bioko (ex Fernão de Pó), Durante o chamado "reinado do terror", o ditador Francisco Macías Nguema  "liderou quase um genocídio  da minoria bubi   do país, que formavam a maioria na ilha de Bioko   e trouxe muitos habitantes de suas próprias tribos, os  Fangs para Malabo"

Em São Tomé, resistiram os "Angolares" -  O que não significa que, entre os Forros e Mocós, não haja, ainda hoje, muitos descendentes  dos primitivos povoadores  da canoas, não exclusivamente originários dos navios negreiros, vindos das sucessivas levas de escravos para as plantações, que depois sofreram a aculturação (entre as várias proveniências) e até a mestiçagem dos colonos.  A história colonial pretendeu associar a origem dos "Angolares" a um hipotético naufrágio de um barco negreiro, ao largo das Sete Pedras, ao sul de São Tomé. Mas isso é uma criação absolutamente fantasista e destituída de qualquer fundamento histórico.

E, em ambas as ilhas, existem  os "tongas", filhos dos serviçais com o forros, ali nascidos - Não é, pois, de excluir  a hipótese do colonialismo ter varrido com as tradições e o passado de outros grupos étnicos - Retalhou regiões e dividiu etnias para reinar.

Sei muito bem como é aquele mar, quando ali estive como empregado de mato na Ribeira Peixe. Aquela zona ao sul é muito batida pelo vento. Mar geralmente encapelado e onde abundam muitos tubarões brancos, que são extremamente perigosos - mas não só esses. A nado não teriam quaisquer hipóteses de  salvação. E as Sete Pedras (onde os tais compêndios dizem que naufragou o barco negreiro) ainda ficam razoavelmente afastadas. 

E, depois, onde é que estava a resistência? de pessoas sub-alimentadas, que eram transportadas, como animais, acorrentadas, em porões fedorentos e atestados, onde mal poderiam respirar?.. - Veja nesta postagem A MATANÇA DOS ESCRAVOS o que, um piloto inglês, fez a um grupo de escravos, que haviam partido de São Tomé para as Américas - mandou-os atirar ao mar! - Sem dó nem piedade

Claro, que os  navegadores portugueses, quando desembaraçaram, lá para os lados de Ponta Figo, no recanto de uma pequena enseada Anambó,
a noroeste da ilha, despida de areia fina, pedregosa, repleta de gogos e ladeada por luxuriante floresta cerrada, dificilmente iam ser recebidos de braços abertos - 

Compreende-se que, ninguém que ali vivesse embrenhado por detrás do denso arvoredo, num sossego talvez milenar e verdadeiramente paradisíaco, se disporia a dar as boas-vindas ou tão pouco a  mostrar-se a estranhos! - Que talvez lhes parecessem verdadeiros extra-terrestres. 

 INVESTIGAÇÃO GENÉTICA DE "FORROS" "ANGOLARES" – DEVIA SER TOMADA EM CONSIDERARÃO MAS  NÃO É TRABALHO FÁCIL

Diz um estudo (já elaborado em 2007) pelo Laboratório de Genética Humana da Universidade da Madeira (Portugal), que,  o perfil genético nos forros e angolares, etnias mais importantes em São Tomé e Príncipe. 
Nos forros, a mais antiga etnia, a ascendência europeia é de 17,7 por cento, enquanto nos angolares, composta por descendentes de escravos da costa oeste africana e com maior poder, é de 8,2 por cento., uma vez que segundo a investigadora estes são muito resistentes ao cruzamento com outras populações, sendo os forros mais abertos.

Rita Gonçalves explicou que os "angolares" são muito resistentes ao cruzamento com outras populações, sendo os forros mais abertos
 
EVIDÊNCIAS INDISCUTÍVEIS

Das costas dos Camarões  e até da Nigéria  avista-se a Ilha Bioko  , da República da  Guiné Equatorial, antiga Ilha Fernão de Pó., que tem o Pico Basilé  (anteriormente chamado Pico de Santa Isabel), com 3011m de altitude, com continuação na dorsal que se estende pelo continente, que faz parte da Linha vulcânica dos Camarões, .onde desponta o famoso  Monte Camaroes, com uma altitude de 4.095 m acima do nível médio do mar . Aliás, todas as Ilhas Golfo da Guiné .são de origem vulcânica e estendem-se no mesmo enfiamento, com cerca de 2000 km de comprimento, incluindo o Monte Camarões, no continente..
 ......
A ilha de  Boko, situada na plataforma continental (baía Bonny  ou de Biafra, Golfo da Guiné , fica a 32 Km da costa de  Camarões, a uma distância relativamente curta, logo, pois, facilmente, avistável

Havendo mesmo quem defenda que esta ilha "estivesse ligada a África na última era glacial (há cerca de 10 mil anos), o que explica o facto de a sua flora ser muito similar à do continente "Tomé e Príncipe - Fauna e Flora.

A ser verdade, significaria que o povoamento, nessa ilha, poderia confundir-se com as movimentações de antigos grupos étnicos nessa região. Porém, outros estudiosos, actualmente, já aceitam,(o que aliás se infere na própria cartografia antiga) que a"colonização humana da ilha vem dos séculos V-VI, aproximadamente, de pequenos embarques a partir de vários pontos ao longo da costa do golfo" - Ou seja, desde que os cartagineses ali teriam chegado, na célebre expedição ao longo da costa da África   por Hanno no final do século VI aC

 
Mapa de Giovanni Leardo world map, 1448, 34.7 X 31.2 cm - Ver pormenores e o mapa mais ampliado em The Leardo World Maps DATE: 1442 -1453 .
Outra maravilha de mapa antigo, em:. Borgia World Map DATE: 1410 - 1458 .......Slide #237 Monograph. .Mostrar-lhe-ei outros mapas ainda mais antigos, noutro passo deste post
  
É minha convicção de que o início do povoamento (em todas as ilhas) nada tem a  ver com navegações exteriores à própria África - Tenho essa ideia desde há 40 anos.As canoas vão a todo o lado. O Golfo da Guiné há muito que era percorrido por enormes canoas. As que eu vi na costa nigeriana, maravilharam-me: pela sua perfeição e tamanho. 

Nas zonas costeiras tropicais ou equatoriais constroem-se pirogas em grandes troncos de árvores que nada ficam a dever, em segurança, aos veleiros da actualidade. O alemão Hannes Lindemann -nos anos 50, atravessou o Atlântico, de Las Palmas às Antilhas (Saint-Coix), a bordo de uma piroga construída na Libéria.E, na Idade Média, deu à costa espanhola, "um homem vermelho e estranho" num "tronco de árvore", que se supõem ter sido o primeiro homem a fazer a travessia sozinho de América para o velho continente. O facto é referido por Jean Merrien no seu livro "Os Navegadores Solitários"

OS VOOS DAS MIGRAÇÕES DAS AVES E O AVISTAMENTO DAS ILHAS OU DA COSTA

O primeiro sinal, a quem está no alto mar, de que se  aproxima de terra é-lhe dado pelas aves. Há aves que passam a vida nos mares e só se aproximam do litoral, quando vão nidificar. Pousam nos destroços e flutuam sobre as ondas: algumas chegaram a pernoitar na minha canoa. Há outras, porém, que vão de manhã e regressam ao fim do dia. E percorrem grandes distâncias. 



(com os pescadores na Praia Gambôa)
 
Constatei esse facto na aproximação à Ilha do Príncipe: foi a direcção dos seus voos que me deu a primeira indicação, que me estaria aproximar de terra - Naturalmente, que as populações que vivem junto às áreas costeiras - e então em zonas onde o equilíbrio ecológico não tenha sido ofendido ou quebrado o elo e a tranquilidade com natureza, mais se dão conta desse fenómeno. Julgo que essas observações não passaram despercebidas aos antigos povos daquela região: ou para se dirigirem a terra ou para saberem onde é que se erguiam as ilhas.

Por outro lado, da Ilha de Bioko, depois de um tornado, quando o céu fica limpo e dos pontos altos, avista -se a  Ilha do Príncipe. E, igualmente, das partes mais altas desta ilha, e com tempo limpo,  a Ilha de São Tomé. De resto, as ilhas elevam-se como presépios erguidos aos céus. O que significa que a sua existência, acabaria por ser do conhecimento das populações autóctones ribeirinhas
.
As ilhas sempre exerceram, em todos os povos, um natural e irresistível fascínio. Não se julgue que os africanos, lá por viverem em perfeita comunhão com a natureza e o seu meio, eram seres inferiores e que iam ficar insensíveis à sua majestosa atracção e encanto. A pensar-se assim, seria pois, mais um preconceito, igual a tantos outros, com que os europeus (usando a força das armas) os escravizaram ao longo de quase cinco séculos


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