"O Primeiro-ministro Gabriel Costa, anunciou no
último Domingo que o seu Governo com menos de dois meses de mandato, vai lançar
um concurso público internacional, para salvar cerca de duas dezenas dos
antigos palácios das roças. «O
governo está empenhado em lançar um concurso internacional para que possamos
por um lado preservar o património arquitectónico dessas casas
coloniais, mas também para o desenvolvimento do turismo rural e ecológico,
para que a nossa população participe activamente no desenvolvimento dessa forma
de turismo», declarou o Chefe do Governo.
Bom era que,
as afirmações do atual primeiro-ministro, Gabriel Costa, passassem das palavras às ações, porém, o problema, é que, a Ilha, onde ele proferiu o discurso, tem o
nome do apóstolo São Tomé – Ora, como é do conhecimento bíblico, São Tomé, um
dos 12 apóstolos de Jesus Cristo, era muito cético:
(…)quando ele duvida da ressurreição de Jesus e afirma que necessita sentir Suas chagas antes de se convencer. Essa passagem é a origem da expressão "Tomé, o Incrédulo" bem como de diversas tradições populares similares, tal como "Fulano é feito São Tomé: precisa ver para crer". Após ver Jesus vivo, Tomé professa sua fé em Jesus; a partir de então ele é considerado "Tomé, o Crente"
(…)quando ele duvida da ressurreição de Jesus e afirma que necessita sentir Suas chagas antes de se convencer. Essa passagem é a origem da expressão "Tomé, o Incrédulo" bem como de diversas tradições populares similares, tal como "Fulano é feito São Tomé: precisa ver para crer". Após ver Jesus vivo, Tomé professa sua fé em Jesus; a partir de então ele é considerado "Tomé, o Crente"
”Disse-lhe
Jesus: Creste, porque me viste? Bem-aventurados os que não viram e creram”- Bom, sem com isto querer meter colherada na política interna
de S. Tomé e Príncipe, sim, longe de me querer envolver nestas controversas,
obviamente que, as palavras dos políticos, em qualquer parte do mundo, valem o
que valem: valem o crédito que merecem e justificam as suas obras. Neste caso,
o que se sabe, é que , até agora, e já lá vão 39 anos, a
maioria das roças e das suas instalações coloniais, ficaram praticamente
irreconhecíveis. E não é crível, que, numa penada, enquanto o diabo esfrega um
olho, o cenário mude de figura.
A REALIDADE NUA E CRUA – NÃO DEIXA MARGEM PARA DÚVIDAS
Refere a mesma
notícia que “A
maioria das antigas casas dos Patrões das Roças já ruiu. As autoridades
assistiram impávidos a desgraça que enterrou grande parte da memória colectiva
do país. O mais recente episódio foi o desmoronamento de uma parte do antigo
hospital da Roça Agostinho Neto, ex-Rio do Ouro.
Sem piedade, o país devorou os recheios das
antigas casas de Patrão das Roças, e assistiu o desmoronamento das mesmas. A
maioria delas foi apoderada por gentes nacionais que preferiram conviver com o
cenário de escombros, parecido com um lugar que sofreu bombardeamento aéreo, do
que agir no sentido da manutenção das casas, de valor arquitectónico e
histórico."
Diz o Telanon que "o Primeiro-ministro reconhece, que os palácios
que existiam nas roças, são de grande importância histórica. «Representam um passado histórico, um património
daqueles que com o seu sangue e suor regaram as plantações e cacau e café.
Essas casas estão abandonadas é preciso que não deixemos morrer aquilo que eu
considero ser a nossa memória colectiva», sublinhou. Gabriel quer salvar Palácios Coloniais no fim do seu mandato
De facto, os santomenses fazem parte de um povo
pacífico incapaz de matar um cachorro à nascença, pois entendem que todos os
bichos têm direito à vida e que cabe à mãe-natureza fazer a seleção natural,
mas os políticos, de modo geral, pelo que me é dado depreender, conquanto não sejam
agressivos, são exímios na demagogia – Falam, falam, mas, pelos vistos, as
obras vão sendo adiadas para o dia de São Nunca – Neste caso, ao jeito da tradição
popular em torno do apóstolo S. Tomé
- Deixando mais dúvidas de que certezas.
Mais ceticismo de que crença. Mais desilusões de que esperanças.
Palavras que subscrevo inteiramente – pois conheci essa negra realidade. Mas também poderia estar de acordo com a sua crítica aos erros que posteriormente se cometeram após a independência E que são apontados no seguimento do mesmo texto: “volvidos 34 de independência, após repetidas tentativas de viabilização falhadas com várias empresas e a famigerada distribuição de terras, os nossos dirigentes e a maioria dos são-tomenses ainda não perceberam que o modelo das roças é um modelo falhado. Nós temos de reinventar as roças e adaptá-las à nossa realidade actual.” E, pelos vistos, era justamente o que deveria ter acontecido: “Não deu os resultados almejados, a reforma agrária não foi acompanhada da necessária ruptura e substituição do antigo modo de produção por outro mais moderno” – É o que se conclui noutro texto de autoria de Maria da Graça do Espírito Santo Costa.
É verdade que as administrações das grandes propriedades agrícolas nunca valorizaram a mão-de-obra dos forros, dos filhos da terra. É verdade que nunca foram além de capatazes, excetuando alguns mulatos, filhos dos brancos administradores ou feitores gerais. Mas ao menos que, tais antigas propriedades, fossem minimamente limpas e preservadas. E não é isso que acontece, para prejuízo do povo destas maravilhosas ilhas
"Temos 10 anos para salvar as roças de São Tomé e Príncipe - Dois arquitectos portugueses inventariaram e estudaram 122 das cerca de 150 explorações de café e cacau de São Tomé e Príncipe. O que resta do antigo império colonial português pode ser um dos eixos estruturantes do futuro deste pequeno país.
AUTÊNTICOS FEUDOS (UM ESTADO DENTRO DE OUTRO
ESTADO), ONDE TODO O PODER SOBERANO ERA PERMITIDO – ATÉ A CHIBATADA!
MAS A MELHOR HERANÇA QUE SOBEJOU FOI NACIONALIZADA E DESTRUÍDA –
“Todos recordam que as roças eram exploradas por
colonos portugueses que conseguiam melhores proveitos à custa da mão-de-obra
barata dos nossos ancestrais contratados (que de facto eram escravos, visto que
não podiam regressar aos seus países de origem). Em segundo lugar, a maioria
das roças funcionava como um autêntico feudo (Estado dentro do Estado), onde o
patrão detinha todo o poder sobre as pessoas que nele viviam, onde o poder e a
justiça da Metrópole nem do Governador na Colónia não se aplicavam. Nas roças
foram cometidas talvez as maiores injustiças da era colonial. Muita gente
defende o Marco de Fernão Dias e por vezes esquece que o nosso passado também
está marcado em cada pedra das nossas roças. Por outras palavras, cada roça é um monumento
e devia ser preservado como tal.” –17 jul. 2009 Tluquí Sun Deçu:
Porquê que nós sempre persistimos nos mesmo erros?
Palavras que subscrevo inteiramente – pois conheci essa negra realidade. Mas também poderia estar de acordo com a sua crítica aos erros que posteriormente se cometeram após a independência E que são apontados no seguimento do mesmo texto: “volvidos 34 de independência, após repetidas tentativas de viabilização falhadas com várias empresas e a famigerada distribuição de terras, os nossos dirigentes e a maioria dos são-tomenses ainda não perceberam que o modelo das roças é um modelo falhado. Nós temos de reinventar as roças e adaptá-las à nossa realidade actual.” E, pelos vistos, era justamente o que deveria ter acontecido: “Não deu os resultados almejados, a reforma agrária não foi acompanhada da necessária ruptura e substituição do antigo modo de produção por outro mais moderno” – É o que se conclui noutro texto de autoria de Maria da Graça do Espírito Santo Costa.
Tenho pena que se tivessem cometido tais erros. Não
me surpreendem: são erros de um jovem país que parte em busca da sua identidade
e da sua afirmação. O colonialismo explorou a terra e o povo durante séculos e
nunca se importou em preparar quadros e apontar-lhe o rumo da sua autodeterminação.
– A Revolução de Abril, cometeu também muitos erros mas não tem propriamente
culpa, pois não fez mais do que pôr cobro a uma situação caduca e
intolerável. Mas como fazer melhor, quando a herança que se tem em mãos, é
consequência do obscurantismo e da opressão?!... Era de prever, que, um
dia, à força do Salazarismo querer tudo, nos ia deixar sem nada – Nos lançaria
para uma enorme crise social e económica e nos deixaria arruinados – Daí que
tenham sido muitos os escolhos, desde que, Portugal e os povos que subjugava,
se abriram a novos rumos na senda de uma saudável convivência, tolerância e
espírito democrático. .
Todavia fico profundamente magoado ao ver que, a pujante natureza, tomou conta das instalações das antigas roças. Há quem goste de ver as ruínas cobertas de verdura. Pessoalmente, gostaria que a natureza fosse respeitada, e também não é, nomeadamente no sul, onde as desmatações selvagens têm colocado em risco o seu equilíbrio, e que tudo quanto que foi obra do esforço humano, fosse sabiamente preservado.
É verdade que as administrações das grandes propriedades agrícolas nunca valorizaram a mão-de-obra dos forros, dos filhos da terra. É verdade que nunca foram além de capatazes, excetuando alguns mulatos, filhos dos brancos administradores ou feitores gerais. Mas ao menos que, tais antigas propriedades, fossem minimamente limpas e preservadas. E não é isso que acontece, para prejuízo do povo destas maravilhosas ilhas
Daí que, ao folhear a obra dos dois arquitetos, confesso que sou mais invadido por um sentimento de tristeza de que pelo encantamento. Já não me refiro às roças onde não estive, mas onde trabalhei, - que deceção! Ver as instalações, naquele estado ruinoso! Onde nem sequer o capim é cortado, e vivem pessoas, é desleixo em demasia! Sim, pergunto: onde estão aqueles belos edifícios do Uba Budo, Ribeira Peixe ou do antiga Roça Rio do Ouro, a que foi dado o nome do herói angolano, Agostinho Neto, com aquele hospital, no topo da avenida, que quase rivalizava com o hospital da cidade! Em que estado estão agora, todas aquelas instalações, desde as antigas senzalas, chalés dos empregados, armazéns de secagem e oficinas?.... Escombros, simplesmente escombros. – E, pelos vistos, o cenário repete-se na Boa Entrada, Água Izé, e tantas outras roças que conheci - Face a essas imagens, que poderei eu confessar senão um profundo sentimento de desencanto e de angústia.
O JORNAL PÚBLICO, AO REFERIR-SE AO LIVRO, FALA DE UM CENÁRIO APOCALÍPTICO – QUE LEVARÁ 10 ANOS PARA SE SALVAR
A imagem seguinte, do lado esquerdo, extraída do livro "As Roças de São Tomé e Príncipe", era um dos mais belos edifícios coloniais - sede da Roça Uba-Budo - Veja-se o aspeto: e dizem que vivem lá algumas famílias. Na imagem, mais à frente, estou eu (1964) de costas para a face esquerda do mesmo edifício, tal como se pode ver pelas colunas - O que era e como está!... A árvore (do perfume) é que agora está gigante e na altura era pequena. Na outra ao lado, estou na sede da Roça Rio do Ouro, actual Agostinho Neto.
"Temos 10 anos para salvar as roças de São Tomé e Príncipe - Dois arquitectos portugueses inventariaram e estudaram 122 das cerca de 150 explorações de café e cacau de São Tomé e Príncipe. O que resta do antigo império colonial português pode ser um dos eixos estruturantes do futuro deste pequeno país.
Tendo como exemplo, o estado de degradação da sede da Sociedade Agrícola Valle Flôr, a maior e mais importante das explorações de cacau e café de São Tomé e Príncipe, citado como “o mais imponente dos escombros que o império colonial português”, afirma-se que, “Se o Apocalipse aconteceu, começou aqui: edificado oitocentista a decompor-se coberto de musgo, humidade e dejectos; depois, sobre os destroços, a vida dos mais de mil são-tomenses que habitam hoje a Rio do Ouro; velhos, adultos, jovens e crianças descendentes de antigos escravos e serviçais angolanos, moçambicanos e cabo-verdianos, homens e mulheres que foram comprados e vendidos ou emigraram e que, durante o século XIX e princípio do século XX, quando São Tomé e Príncipe se tornou no maior produtor mundial de cacau, habitaram estes mesmos espaços, rodeados pelo mesmo pano de fundo de palmeiras e coqueiros
Uma imensa alameda calcetada compõe o eixo a partir do qual este mundo se organizou então e se organiza ainda hoje: na ponta mais baixa da avenida, a antiga casa senhorial, na ponta mais alta, a dominar uma colina, o susto de imponência do antigo hospital, com a enfermaria dos homens de um lado e a das mulheres do outro, ambas, hoje, ocupadas por famílias, tudo corredores vazios e portas fechadas, algumas trancadas a cadeado. A maternidade fica por detrás, depois de um pátio onde a erva nos cresce pela cintura, uma carapaça morta e esvaziada, só tecto e paredes exteriores. A antiga capela também ainda lá está, a dominar do alto as sanzalas, o complexo habitacional originalmente destinado aos trabalhadores comuns” Mais pormenores em Temos 10 anos para salvar as roças de São Tomé e Príncipe
Em 1989, no âmbito de um Programa de Ajustamento Estrutural, imposto pelo Fundo Monetário Internacional e financiado pelo Banco Mundial, o governo são-tomense executou um programa de reforma fundiária e privatizou as 14 empresas agrícolas do país, retalhando as suas terras. As casas mantiveram-se na propriedade do Estado mas foram-se degradando.”Casas das roças de São Tomé disputadas num concurso
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