O
MEU PENSAMENTO NESTA SILENCIOSA, FRIA E SOLITÁRIA NOITE VAI PARA VÓS - Em
Vésperas do Santo Natal, por entre o silêncio espectral destes ramos e troncos
enegrecidos, pisando a caruma reduzida a pó e as cinzas, sinto uma profunda dor
de alma, num misto indecifrável de amargura, silencio e abandono, lembrando-me
daqueles cujas vidas as chamas traíram no infernal e abrasivo fogo devorador ou
que perderam os seus haveres no fantasmagórico cataclismo do vasto cenário dos
pinhais ardidos
Todavia, agora que pisas as
cinzas e os esqueletos das giestas e da caruma ardida, não indagues o que te
angustia e quem foram os culpados mas responde às perguntas que este negro
vazio te cria – Assim vai este mundo confuso, atribulado, injusto e
incompreendido…
Que a Luz da Natividade Natalícia atenue a dor dos que sofrem, aspiram
conforto e justiça e Ilumine de plena alegria e de graças todas as famílias e
lares que vos Bendigam
Cada árvore é um ser para ser em nós
Para ver uma árvore não basta vê-la
A árvore é uma lenta reverência
uma presença reminiscente
uma habitação perdida
e encontrada
À sombra de uma árvore
o tempo já não é o tempo
mas a magia de um instante que começa sem fim
a árvore apazigua-nos com a sua atmosfera de folhas
e de sombras interiores
nós habitamos a árvore com a nossa respiração
com a da árvore
com a árvore nós partilhamos o mundo com os deuses
Para ver uma árvore não basta vê-la
A árvore é uma lenta reverência
uma presença reminiscente
uma habitação perdida
e encontrada
À sombra de uma árvore
o tempo já não é o tempo
mas a magia de um instante que começa sem fim
a árvore apazigua-nos com a sua atmosfera de folhas
e de sombras interiores
nós habitamos a árvore com a nossa respiração
com a da árvore
com a árvore nós partilhamos o mundo com os deuses
No seu silêncio lento e nos seus vagos rumores,
o sentido que têm no lugar onde estão,
a reverência, a ressonância, a transparência,
e os acentos claros e sombrios de uma frase aérea.
E as sombras e as folhas são a inocência de uma ideia
que entre a água e o espaço se tornou uma leve
integridade. Sob o mágico sopro da luz são barcos transparentes.
Não sei se é o ar se é o sangue que brota dos seus
ramos.
Ouço a espuma finíssima das suas gargantas verdes.
Não estou, nunca estarei longe desta água pura
e destas lâmpadas antigas de obscuras ilhas.
Que pura serenidade da memória, que horizontes
em torno do poço silencioso! É um canto num sono
e o vento e a luz são o hálito de uma criança
que sobre um ramo de árvore abraça o mundo.
António Ramos Rosa publicou perto de uma centena de livros de
poesia. Aqui fica uma brevíssima escolha de alguns poemas seus de diferentes
épocas, terminando com um texto do livro inédito Música, Contínua Cordilheira, que teve a sua
primeira edição no PÚBLICO, a 3 de Março de 201
António Ramos Rosa , nasceu em Faro, 17 de Outubro de
1924 – E faleceu, em Lisboa, a 23 de
Setembro de 2013), foi um poeta, tradutor e desenhador português
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