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sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

AMADOR – O mítico rei escravo e sem cetro – A temerária figura que a antiga escravatura colonial mais temeu – Liderou revoltas e assustou. Faz parte do imaginário do povo das maravilhosas Ilhas Verdes do Equador, e, desde há nove anos, tem o seu busto plantado ao lado da entrada principal do Arquivo Histórico e lhe é reservado um dia especial, o 4 de Janeiro, que também ontem lhe foi dedicado para que a historia ancestral não caia no esquecimento.

4 de Janeiro 2009
Há oito anos, a efeméride foi  então assinalada, com a inauguração de um busto colocado  no jardim do Arquivo Histórico de São Tomé  e do lado esquerdo da entrada principal deste edifício: era então, Presidente da República, Fradique Menezes, o grande entusiasta pela iniciativa, que foi calorosamente  bem acolhida pela população – O busto passou a ser uma referência na toponímia histórica da cidade santomense: pois, embora talhado de forma simples, sem o uso de materiais nobres,  foi artisticamente bem moldado e  concebido, denotando conter os traços fisionómicos que, de algum modo, lhe conferissem uma certa matriz fisionómica do típico santomense adulto e ancestral. Contudo, o ano passado, alguns traços da sua imagem, surgiram de algum modo modificados, nos olhos, na testa e na barba que perderam alguma unidade da criatividade inicialmente concebida, com os tons brancos e negros mais carregados, confesso que não gostei e preferia a imagem anterior.


Seja, como for, está ali um símbolo histórico e esse é realmente o aspeto mais relevante à evocação presente e futura.



Video gravado em Novembro de 2014


4 de Janeiro 2017

AMADOR - FIGURA INCONTORNÁVEL DO PASSADO HISTÓRICO DAS ILHAS VERDES DO EQUADOR - 
 - A origem ancestral dos réis e imperadores não é exclusivamente europeia - Nem foi tão pouco no chamado velho continente que começou, quando o Egipto já tinha imperadores - SIM, NUM TEMPO EM QUE, QUASE TODA A EUROPA  AINDA VIVIA PRATICAMENTE MERGULHADA NA PENUMBRA E DAS TREVAS DA ERA DA PEDRA

A origem ancestral dos réis e imperadores não é exclusivamente europeia - Nem foi tão pouco no chamado velho continente que começou - Quando o Egipto já tinha imperadores, AINDA QUASE TODA A EUROPA VIVIA PRATICAMENTE NA ERA DA PEDRA

Todas as ilhas do Golfo eram habitadas  e há muito povoadas. Tinham os seus líderes ou réis - Se, Amadornão era rei(no sentido tradicional do termo), isso pouco importa;fora um grande líder!. E os líderes não surgem sem uma aprendizagem de raiz, desinserida do seu meio.

Cronologia: "1586 - Francisco Figueiredo  é o primeiro governador de S. Tomé. Governa sobre a cinza de incêndios feitos pelos "angolares" (...) Aliados aos escravos das fazendas, chegaram a fazer fugir para o Brasil donos de herdades."




Nov. 2014
Nov 2014 
Os "angolares" rotulados pelo colonialismo como originários de um naufrágio, "que  vindo de Angola deu à costa em uma praia  do sueste da ilha,  muito antes de 1574" - Outros defendem que foi nas Sete Pedras (aliás,  dez ilhotas)  então, ali, era mesmo impossível atingir a costa a nado  - Quando, afinal, de lá partiram tantos carregamentos  - Vindos de vários sítios e das mais diversas etnias - Com certeza que não falavam todos a mesma língua. E porque razão o "angolar" não é um dialecto?...

Se se desse a circunstância de serem  provenientes de um simples barco de negreiros (com um índice de mortalidade tão alargada), alguma vez seriam  capazes de, em tão pouco tempo, se distinguirem dos demais (que também vinham do Congo e de Angola, dos mais diversos lugares da costa) e assumir a liderança?!...  -

 Mesmo, numa ilha, tão pequena (com uma superfície reduzida a 964 Km, sendo quase 2/3 impenetráveis) -  mantiveram-se afastados dos colonos e até   do maior grupo étnico?.. - Formando um povo autónomo, com uma identidade própria, que  jamais se vergaria ao domínio colonial. 

O POVOAMENTO PRIMITIVO DAS ILHAS, DIFICILMENTE PASSARIA DESPERCEBIDO  A OUTRAS ETNIAS DO CONTINENTE AFRICANO -  PASSADA A NOTICIA, NÃO TARDARIAM A IR NA ESTEIRA OUTROS GRUPOS DE AVENTUREIROS

TANTO OS  "ANGOLARES" COMO OS "FORROS" DEVEM TER EM COMUM O MESMO PASSADO ANCESTRAL  - EM AMBAS AS ETNIAS,   DEVE CORRER SANGUE NAS SUAS VEIAS DOS  PRIMEIROS  AVENTUREIROS, QUE SE FIZERAM AO MAR.

Além dos "angolares é de admitir  a existência  de outros grupos étnicosanteriores à descolonização, que teriam sido completamente desmembrados da sua frágil organização ancestral  - Pelo que estou em crer que, entre, os chamados "forros", deverá correr também muito do sangue dos corajosos pioneiros, que ali desembarcaram pela primeira vez -  Descendentes dessa gesta heróica,  oriundos das  praias onde, em tempos recuados, terão partido os seus ancestrais.

 A HISTÓRIA É OMISSA - SÓ CONTA A VERSÃO DO COLONIZADOR BRANCO - SEJA COMO FOR, A COSTA AFRICANA, HÁ MUITOS SÉCULOS QUE NÃO ERA UM LITORAL DESCONHECIDO -  ASSIM O ATESTAM AS CARTAS QUE PERMANECIAM PERDIDAS NAS PRATELEIRAS DOS ARQUIVOS

OS RELATOS DOS HISTORIADORES SÃO CONTROVERSOS  - ALIÁS, NEM PODERIA ESPERAR-SE OUTRA COISA: O Povo era escravo e analfabeto - Pelo que, só a versão colonial ficava para a posteridade,  a que convinha: a que enaltecia os feitos  dos colonizadores.- Há porém uma certeza incontornável: : AMADOR É HOJE A MAIOR FIGURA HISTÓRICA E LENDÁRIA DAS ILHAS DE S.TOMÉ E PRÍNCIPE – E A VOZ DO POVO, TAL COMO A VOZ DE DEUS, NUNCA SE ENGANA..

 SIMPLESMENTE O MITO OU  O REBELDE QUE SE AUTO-PROCLAMOU REI – TRANSPARECE UM FACTO INCONTORNÁVEL: Se o Rei Amador  ostentava ou não o  ceptro à maneira dos réis  colonialistas,  tal como o concebia  o ponto de vista e sectário dos historiadores, súbditos desses mesmos  interesses, pois bem, Amador, fora um grande soldado e comandante.As revoltas não foram inventadas: para existirem, tinha de haver alguém a comandá-las, a impor a autoridade e a merecer o respeito e obediência gerais - Ora, tais qualidades, só poderiam advir de quem conhecia os segredos da floresta e já lá estava há muito mais tempo 

Embora,   com forças em maior número de que os ocupantes,  eles, os escravos, comandados por Amador, representavam o lado mais fraco da barricada - Não dispunha das armas dos invasores (talvez só de uns arcos de flechas e zangais) mas tinha a seu lado a voz da razão, uma imensa vontade de libertar o seu povo e  os companheiros do mesmo infortúnio e sob a mesma cruel ameaça e opressão.

De facto, sobre o passado do Rei Amador, correm as mais díspares versões - mas, se formos a ver, o mesmo se passa até com os nomes dos "descobridores das Ilhas. Para facilitar as coisas, convencionaram-se datas e foram-se buscar nomes - Sim, convenhamos: alguma vez o colonialismo podia falar de "descobertas" sem apontar os seus heróis?!...

Porém, idêntica sorte não tiveram os milhões de mártires, os heróis que foram brutalmente atirados ao mar ou que morreram sufocados em porões fétidos e acorrentados. Salvo raras excepções, os pobres dos escravos, eram simplesmente relegados para a categoria do Zé Ninguém, dos carne para canhão. 

Aliás, tal comportamento  também fora extensivo à raia miúda dos colonizadores, sobretudo aos forçados, que para ali iam desterrados a cumprir as suas penas - há quem diga que era a opção que lhe restava para escaparem à pena de morte; mas não creio que todos fossem voluntários – O que passou à posteridade,foram apenas  os nomes  dos pilotos das caravelas(e nem todos)  ou dos barcos negreiros, que se notabilizaram e donatários e governadores – Quem é que hoje aponta  um dos milhares de nomes da raia miúda  sacrificada?

Fosse o negro mais ousado e temerário,  continuaria a ser sempre negro e escravo;aliás, tal mentalidade, ainda ali pude  testemunhar,  enquanto empregado da roça e já haviam passado alguns séculos sobre as rebeliões de Amador - Acho que, o colonialismo em São Tomé e Príncipe, foi das colónias onde a sua violência mais tempo se perpetuou. Aos escravos (designados, mais tarde, por serviçais),  só restava a fuga para o mato.

O colonialismo, moldado e inspirado pelas cruzadas cristãs (cruz numa das mãos e espada na outra), manteve a  mesma face, cruel,  prepotente e abusadora, da mesma forma,  inalterável ao longo dos séculos,  tal como, em Roma, se mantiveram os dogmas do Vaticano.

A PRÓPRIA IGREJA - ATRAVÉS DA COMPANHIA DE JESUS - TAMBÉM (ELA PRÓPRIA) SE DEDICAVA AO MESMO HORRENDO MAS LUCRATIVO NEGÓCIO
 BREVE CRONOLOGIA:

1600 - A partir desta data, os Jesuítas , que se tinham estabelecido em Angola, concentrarão  os seu esforços em Luanda, onde fundarão um colégio.

Paralelamente, envolver-se-ão no comércio de escravos - a Companhia  de Jesus dispôs  dos seus próprios barcos no Brasil -, alegando que a melhor forma de converter um negro era a sua venda  para as plantações da América do Sul, que a Companhia de Jesus igualmente detinha, onde melhor poderiam ser  introduzidos na Cristandade.
  
 O ANTROPÓLOGO, HISTORIADOR E SOCIÓLOGO ALEMÃO GERHARD SEIBERT  CONSIDERA O REI AMADOR, LÍDER DA GRANDE REVOLTA DE ESCRAVOS DE 1595, UMA FIGURA EMBLEMÁTICA NA HISTÓRIA DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE 

 Seibert, que é doutorado em Ciências Sociais, pela Universidade de Leiden e possui a licenciatura em Antropologia Cultural, pela Universidade de Utreque, igualmente na Holanda (entre outros cursos, inclusivamente no seu país) é um dos mais prestigiados especialistas na sua área, já publicou vários estudos sobre África, nomeadamente, sobre São Tomé e Moçambique, é docente na Universidade Nova de Lisboa, tem um vasto currículo, que pode ser consultado em:  Karl Gerhard Seibert 


O autor do livro .Camaradas, Clientes e Compadres. Colonialismo, Socialismo e Democratização em São Tomé e Príncipe, pronunciou-se sobre o Rei Amador, na conferência na CACAU, num texto a que deu o título Amador, história e mito do líder da revolta de escravos em São Tomé(1995)

Queixa-se de ter sido mal interpretado  -  .DEIXÁMOS AQUI OS DOIS LINKS: QUER DA INTERPRETAÇÃO DADA NO ARTIGO PUBLICADO  EM .Téla Nón >> Rei dos Angolares nunca existiu em São Tomé e Príncipe? ....QUER DA REACÇÃO DE GERHARD SEIBGBERT...Téla Nón >> “Infelizmente muito que disse sobre o Rei Amador na conferência  na CACAU  em 17 de Janeiro não foi reproduzido correctamente

GERHARD SEIBERT, DIZ QUE EXISTE UM  DOCUMENTO  NO VATICANO, QUE FALA DE  AMADOR  –  

No ano de 1595 um preto da ilha de São-Tomé, chamado Amador, se levantou com os homens da sua cor, e se proclamou Rei da mesma ilha, cometendo os excessos que eram de esperar de uma besta feroz”.

Numa comunicação que fez,  em Janeiro último, proferida na CACAU, Gerhard Sibert, dá conta de dois documentos, sobre a revolta dos escravos em 1595,  “considerados históricos e fontes primárias, Ambos, na sua opinião, dizem muito pouco  sobre a pessoa de Amador - Eis um excerto do que transmitiu:
 ...........
Não se sabe nada sobre o seu passado nem sobre a sua vida pessoal. Não existe nenhuma gravura ou pintura de Amador. O manuscrito de Rosário Pinto diz apenas que era escravo de Bernardo Vieira, enquanto o documento do Vaticano afirma que o nome do seu dono era Dom Fernando. Segundo Caldeira (2006:73) este nome pode ser uma confusão com o nome do então governador Fernando de Meneses. No início da revolta, Amador auto-proclamou-se “Capitão General de Guerra e Rei nomeado absoluto, com poder de dar liberdades a todos os cativos.”[15] O manuscrito de Rosário Pinto não refere a nenhuma data sobre a morte de Amador, enquanto o documento do Vaticano relata que, depois de ter sido traído e preso, foi executado e esquartejado em 14 de Agosto de 1595.[16]-  O texto completo está acessível em .. Rei Amador, história e mito do líder da revolta de escravos em São

SÓ O FACTO DO NOME DE AMADOR SER  REFERENCIADO NO VATICANO,  DIZ MUITO - É SINÓNIMO DE QUE NÃO FORA COMPLETAMENTE IGNORADO  PELA IGREJA E O PARCEIRO COLONIALISTA - ALGUMA IMPORTÂNCIA TEVE!- 

 

NÃO CONFUNDIR YOAN GATO, COMO AMADOR, DE SEU NOME Bernardo Vieira - Ao qual o colonialismo, terá chamado de Rei Amador, no sentido pejorativo para  diminuir  a sua memória ou, talvez, como o rei inesperado, vindo do mato, desconhecido dos ocupantes. 

Anteriormente, às façanhas do bravo Amador, existiu um não menos valoroso guerreiro - Yoan Gato, porventura nome judaico de Yôḥānān - (em galês  é Ioan). Oriundo (creio eu) de mestiçagem das crianças judias, que foram enviadas à força para São Tomé - Estou mais inclinado que tivesse sido ou um desses inconformados seres humanos (já velho e cego, como referem alguns autores) ou então um filho dessa mestiçagem forçada  - 

Quando Yoan Gato foi morto, se  era oriundo das crianças embarcadas naqueles anos, em 1430, teria entre 40 a 50 anos. Ou seja, mesmo diminuído fisicamente, ainda encontrou coragem e forças para se enfrentar os povoadores da cana do açúcar. -  E tudo isto, , não muito  depois de Álvaro de Caminha, em 1493, ter sido   nomeado donatário da ilha de S. Tomé por D. João II -

De recordar que, entre 1492 e 1496, D. João II ordenou o envio de alguns milhares de crianças arrancadas aos seus pais. De tal modo, foi a  pretensão do reino em mestiçar e colonizar, que as duas ilhas chegaram a ser apontadas como "um laboratório experimental, no qual se configurou uma miscigenação  ético-social jamais vista anteriormente".   .DE EXILADOS HISPANO-LUSITANOS À ILHA DE SÃO TOMÉ

NA CRONOLOGIA DA ESCRAVATURA, EXISTE ESTE REGISTO:

1530 - Revolta contra o esclavagismo e os portugueses em S. Tomé. É dirigida por um velho cego (Yoan gato)

1596 - Amador, chefe dos "angolares" de S. Tomé é preso e supliciado á morte. In. Portugal e a Escravatura em África

MELHOR  QUALQUER DOCUMENTO COLONIALISTA OU DO VATICANO, É A MEMÓRIA ORAL DE UM POVO  - ESSA É INTRÍNSECA, CORRE-LHE NAS SUAS PRÓPRIAS VEIAS.

Em 1964, quando trabalhei na Roça Ribeira Peixe - onde a maioria dos trabalhadores eram "angolares", recordo-me, muito bem, de como se referiam à memória do seu rei. 

Se o domínio colonial escravizava aqueles que eram simplesmente mão-de-obra escrava, carne para canhão, maior violência exerceriam sobre aqueles que ousam fomentar e comandar as revoltas: basta recordar as lutas pela independência e os mártires que o regime colonial-fascista enviou para o Tarrafal. 

 Ao Rei Amador (a que alude o dito documento do Vaticano),  pois claro, poupado ao o enforcamento imediato, para não se transformar no herói à frente dos seus homens, causando ainda novas revoltas, sim, pior do que a morte imediata, só o desterro, a humilhação, para ser escravo do Rei - .Se dúvidas existisse, e aí está o documento que as desfaz - Para o deixarem morrer longe da sua ilha, humilhado e num meio que lhe era  estranho e hostil. - De um modo ou de outro, ou em São Tomé ou como criado do reino, em Portugal, foi um mártir.



O COLONIALISMO SEMPRE PROCUROU HUMILHAR E ANIQUILAR OS LÍDERES AFRICANOS – FOI O QUE FEZ TAMBÉM COM Gungunhana
.

"...em 27 de Dezembro de 1895 quando Mouzinho de Albuquerque aprisionou o régulo Gungunhana, num episódio por demais conhecido em que para o humilhar mandou o poderoso régulo sentar-se no chão, levando-o preso para Lourenço Marques e mais tarde para Lisboa"D.Carlos I-33º Rei de Portugal: Acontecimentos no ano de 1896 


 OS POVOS AFRICANOS FORAM VÍTIMAS DO COLONIALISMO - MAS TAMBÉM DE LUTAS TRIBAIS, QUE PERSISTEM NA ACTUALIDADE - TODOS OS HABITANTES DAS ILHAS DO GOLFO ENTRONCAM NUM PASSADO COMUM - O DA ORIGEM DA SUA GESTA HERÓICA ATRAVÉS DO GRANDE GOLFO! - Desde a Ilha mais próxima - a de Bioko - até à mais meridional e afastada do grande continente africano.


Na verdade, basta ir ao fundo da história para ver como os "angolares, ao longo dos tempos, reagiram à ocupação colonial, chegando a obrigar o invasor a mudar a capital para a Ilha do Príncipe. E não foi muito depois da  ocupação. Tinham o seu rei e a sua organização social e uma língua não crioula .

Ciosos dos seus costume, não se vergaram aos ocupantes da terra, procurando preservar a sua identidade

Nunca aceitaram, com bons olhos que o branco pudesse servir-se da suas  jovens mulheres. Conheci o administrador de uma das principais roças que, de quinze em quinze dias, tinha uma menina (ainda menor) à disposição para lhe tirar o "cabaço". Fazia-o sem o menor pudor e vergonha.

Os "angolares" vivem sobretudo da pesca, nas suas aldeias situadas junto à orla marítima
. No meu ponto de vista, eles são os descendentes dos primeiros povoadores da Ilha de São Tomé. Se bem que seja de admitir, como atrás referi, que outras etnias, em vez de uma, igualmente se estabelecessem em São Tomé e nas restantes ilhas, através das suas canoas, sulcando o braço do golfo, que separa as ilhas do continente africano  -  Por exemplo, no Príncipe, prevalece a etnia Moncó. Em ambas as ilhas, existem também os "tongas", filhos dos serviçais com o forros, ali nascidos - Mas não é de pôr de lado a hipótese do colonialismo ter varrido com as tradições e o passado de outros grupos étnicos.

Ano Bom a ilha mais meridional do Golfo da Guiné,  há muitos traços comuns (anatómicos e da própria língua) com  o Forro de São Tomé - Na Ilha de Bioko (ex Fernão de Pó), Durante o chamado "reinado do terror", o ditador Francisco Macías Nguema  "liderou quase um genocídio  da minoria bubi   do país, que formavam a maioria na ilha de Bioko   e trouxe muitos habitantes de suas próprias tribos, os  Fangs para Malabo"

Em São Tomé, resistiram os "Angolares" -  O que não significa que, entre os Forros e Mocós, não haja, ainda hoje, muitos descendentes  dos primitivos povoadores  da canoas, não exclusivamente originários dos navios negreiros, vindos das sucessivas levas de escravos para as plantações, que depois sofreram a aculturação (entre as várias proveniências) e até a mestiçagem dos colonos.  A história colonial pretendeu associar a origem dos "Angolares" a um hipotético naufrágio de um barco negreiro, ao largo das Sete Pedras, ao sul de São Tomé. Mas isso é uma criação absolutamente fantasista e destituída de qualquer fundamento histórico.

E, em ambas as ilhas, existem  os "tongas", filhos dos serviçais com o forros, ali nascidos - Não é, pois, de excluir  a hipótese do colonialismo ter varrido com as tradições e o passado de outros grupos étnicos - Retalhou regiões e dividiu etnias para reinar.

Sei muito bem como é aquele mar, quando ali estive como empregado de mato na Ribeira Peixe. Aquela zona ao sul é muito batida pelo vento. Mar geralmente encapelado e onde abundam muitos tubarões brancos, que são extremamente perigosos - mas não só esses. A nado não teriam quaisquer hipóteses de  salvação. E as Sete Pedras (onde os tais compêndios dizem que naufragou o barco negreiro) ainda ficam razoavelmente afastadas. 

E, depois, onde é que estava a resistência? de pessoas sub-alimentadas, que eram transportadas, como animais, acorrentadas, em porões fedorentos e atestados, onde mal poderiam respirar?.. - Veja nesta postagem A MATANÇA DOS ESCRAVOS o que, um piloto inglês, fez a um grupo de escravos, que haviam partido de São Tomé para as Américas - mandou-os atirar ao mar! - Sem dó nem piedade

Claro, que os  navegadores portugueses, quando desembaraçaram, lá para os lados de Ponta Figo, no recanto de uma pequena enseada Anambó,
 a noroeste da ilha, despida de areia fina, pedregosa, repleta de gogos e ladeada por luxuriante floresta cerrada, dificilmente iam ser recebidos de braços abertos - 

Compreende-se que, ninguém que ali vivesse embrenhado por detrás do denso arvoredo, num sossego talvez milenar e verdadeiramente paradisíaco, se disporia a dar as boas-vindas ou tão pouco a  mostrar-se a estranhos! - Que talvez lhes parecessem verdadeiros extra-terrestres. 

 INVESTIGAÇÃO GENÉTICA DE "FORROS" "ANGOLARES" – DEVIA SER TOMADA EM CONSIDERARÃO MAS  NÃO É TRABALHO FÁCIL

Diz um estudo (já elaborado em 2007) pelo Laboratório de Genética Humana da Universidade da Madeira (Portugal), que,  o perfil genético nos forros e angolares, etnias mais importantes em São Tomé e Príncipe. Nos forros, a mais antiga etnia, a ascendência europeia é de 17,7 por cento, enquanto nos angolares, composta por descendentes de escravos da costa oeste africana e com maior poder, é de 8,2 por cento., uma vez que segundo a investigadora estes são muito resistentes ao cruzamento com outras populações, sendo os forros mais abertos.

Rita Gonçalves explicou que os "angolares" são muito resistentes ao cruzamento com outras populações, sendo os forros mais abertos
EVIDÊNCIAS INDISCUTÍVEIS

Das costas dos Camarões  e até da Nigéria  avista-se a Ilha Bioko  , da República da  Guiné Equatorial, antiga Ilha Fernão de Pó., que tem o Pico Basilé  (anteriormente chamado Pico de Santa Isabel), com 3011m de altitude, com continuação na dorsal que se estende pelo continente, que faz parte da Linha vulcânica dos Camarões, .onde desponta o famoso  Monte Camaroes, com uma altitude de 4.095 m acima do nível médio do mar . Aliás, todas as Ilhas Golfo da Guiné .são de origem vulcânica e estendem-se no mesmo enfiamento, com cerca de 2000 km de comprimento, incluindo o Monte Camarões, no continente..
 ......
A ilha de  Boko, situada na plataforma continental (baía Bonny  ou de Biafra, Golfo da Guiné , fica a 32 Km da costa de  Camarões, a uma distância relativamente curta, logo, pois, facilmente, avistável

Havendo mesmo quem defenda que esta ilha "estivesse ligada a África na última era glacial (há cerca de 10 mil anos), o que explica o facto de a sua flora ser muito similar à do continente "Tomé e Príncipe - Fauna e Flora.

A ser verdade, significaria que o povoamento, nessa ilha, poderia confundir-se com as movimentações de antigos grupos étnicos nessa região. Porém, outros estudiosos, actualmente, já aceitam,(o que aliás se infere na própria cartografia antiga) que a"colonização humana da ilha vem dos séculos V-VI, aproximadamente, de pequenos embarques a partir de vários pontos ao longo da costa do golfo" - Ou seja, desde que os cartagineses ali teriam chegado, na célebre expedição ao longo da costa da África   por Hanno no final do século VI aC


Mapa de Giovanni Leardo world map, 1448, 34.7 X 31.2 cm - Ver pormenores e o mapa mais ampliado em The Leardo World Maps DATE: 1442 -1453 .
Outra maravilha de mapa antigo, em:. Borgia World Map DATE: 1410 - 1458 .......Slide #237 Monograph. .Mostrar-lhe-ei outros mapas ainda mais antigos, noutro passo deste post
  
É minha convicção de que o início do povoamento (em todas as ilhas) nada tem a  ver com navegações exteriores à própria África Tenho essa ideia desde há 40 anos.As canoas vão a todo o lado. O Golfo da Guiné há muito que era percorrido por enormes canoas. As que eu vi na costa nigeriana, maravilharam-me: pela sua perfeição e tamanho. 

Nas zonas costeiras tropicais ou equatoriais constroem-se pirogas em grandes troncos de árvores que nada ficam a dever, em segurança, aos veleiros da actualidade. O alemão Hannes Lindemann -nos anos 50, atravessou o Atlântico, de Las Palmas às Antilhas (Saint-Coix), a bordo de uma piroga construída na Libéria.E, na Idade Média, deu à costa espanhola, "um homem vermelho e estranho" num "tronco de árvore", que se supõem ter sido o primeiro homem a fazer a travessia sozinho de América para o velho continente. O facto é referido por Jean Merrien no seu livro "Os Navegadores Solitários"

OS VOOS DAS MIGRAÇÕES DAS AVES E O AVISTAMENTO DAS ILHAS OU DA COSTA

O primeiro sinal, a quem está no alto mar, de que se  aproxima de terra é-lhe dado pelas aves. Há aves que passam a vida nos mares e só se aproximam do litoral, quando vão nidificar. Pousam nos destroços e flutuam sobre as ondas: algumas chegaram a pernoitar na minha canoa. Há outras, porém, que vão de manhã e regressam ao fim do dia. E percorrem grandes distâncias. 


(com os pescadores na Praia Gambôa)

Constatei esse facto na aproximação à Ilha do Príncipe: foi a direcção dos seus voos que me deu a primeira indicação, que me estaria aproximar de terra - Naturalmente, que as populações que vivem junto às áreas costeiras - e então em zonas onde o equilíbrio ecológico não tenha sido ofendido ou quebrado o elo e a tranquilidade com natureza, mais se dão conta desse fenómeno. Julgo que essas observações não passaram despercebidas aos antigos povos daquela região: ou para se dirigirem a terra ou para saberem onde é que se erguiam as ilhas.

Por outro lado, da Ilha de Bioko, depois de um tornado, quando o céu fica limpo e dos pontos altos, avista -se a  Ilha do Príncipe. E, igualmente, das partes mais altas desta ilha, e com tempo limpo,  a Ilha de São Tomé. De resto, as ilhas elevam-se como presépios erguidos aos céus. O que significa que a sua existência, acabaria por ser do conhecimento das populações autóctones ribeirinhas
.
As ilhas sempre exerceram, em todos os povos, um natural e irresistível fascínio. Não se julgue que os africanos, lá por viverem em perfeita comunhão com a natureza e o seu meio, eram seres inferiores e que iam ficar insensíveis à sua majestosa atracção e encanto. A pensar-se assim, seria pois, mais um preconceito, igual a tantos outros, com que os europeus (usando a força das armas) os escravizaram ao longo de quase cinco séculos"  21/12/2011 Excerto de são tomé e príncipe - ilhas asben e sanam, povoadas por canoas .

«POLITICA PORTUGUESA FACE AO “REINO ANGOLAR DE S. TOMÉ»

Num extenso artigo publicado, no Diário de Notícias, em 1992, o escritor e poeta santomense, descendente  da família do último Rei dos Angolares, referindo-se ao “reino angolar” e ao Rei Amador,  a dado passo, escrevia o seguinte: “ Calcula-se que por volta de 1540, cerca de 70 anos após a descoberta da Ilha, naufragou junto das Sete Pedras, um navio transportando cativos destinados a serem vendidos como escravos.

Esta gente (….) foram estabelecendo os seus quilombos pelas encostas sempre verdes que bordejam a formosa Angra de S. João, na parte meridional da ilha., onde os colonos não haviam chegado. Vivendo de uma actividade  meramente recolectora ou da pesca, haviam aberto muitos mais estreitos caminhos pelas serranias, criando o seu “habitat” próprio, multiplicando o seu número graças à extraordinária fecundidade das suas mulheres.

Os portugueses só deles tiveram conhecimento  em 1574, ano em que os angolares atacaram  e saquearam diversos engenhos de açúcar. Segundo alguns cronistas as hostilidades cometidas por aquele povo forçaram os colonos a transferir-se com casas e cabedais do estabelecimento no Brasil, que começava a ter a forma de estabelecimento regular. Parece portanto que os portugueses não só foram colhidos de surpresa, por julgarem a ilha desabitada, como não estavam militarmente preparados para desencadear uma acção punitiva que silenciasse os inesperados agressores, pois só cento e vinte anos mais tarde, veio a ser organizada uma ofensiva em profundidade.

(…) Alguns historiadores consideram que “ a guerra do mato” teria durado 120 anos , desde o primeiro ataque dos angolares até à expedição punitiva ordenada pelo capitão-general Ambrósio Pereira de Berredo e Castro. Não resta dúvida de que, durante esse período ocorreram assaltos dos angolares, mas não  parece conformar-se ter havido “uma guerra do mato” tendo por objectivo a ocupação do território dos revoltosos . Embora o Bispo  de S. Tomé, D. Martinho  de Ulhoa, se refira numa carta de 1564, à revolta dos negros do mato, só em Março de 1591, é concedido ao capitão da ilha um alvará permitindo aos condenados que quisessem participar na “guerra do mato” a comutação de pena em serviço militar. Mas a representação dos negros do mato, com vista  à sua completa extinção, apenas parece referida em 1593, no requerimento do capitão Vasco de Carvalho de Sousa, entendendo-se que deveria ser estabelecida uma táctica conveniente para o efeito. Não havendo reflexos práticos desta orientação, pois apenas em 1693, perante um novo ataque dos angolares às fazendas próximas para roubarem mulheres, foi finalmente ordenado um ataque em profundidade, levado a afeito com êxito , pelo “capitão-mor-dos-matos”, Mateus Pires. Este êxito não se traduziu , todavia, numa ocupação do território angolar. Um acordo parece ter sido estabelecido, pois o capitão dos “matos” retirou-se com as suas tropas e alguns prisioneiros. Daí em diante cessou a agressividade dos angolares, que, a partir de então,  estabeleceram relações comerciais com os Portugueses, embora mantendo a sua estrutura sociopolítica em território não contestado. Durante quase dois séculos os angolares viveram  pacificamente “ exportando” madeiras , criando porcos e cultivando bananeiras mantendo-se numa coexistência pacifica mutuamente consentida.

(…) A partir de então o seu rei recebeu a patente de “capitão dos angolares”, ficando responsável pela autoridade e pela ordem  perante o rei de Portugal. Ora o governador de então, Ambrósio Pereira de  Berredo e Castro, que tinha o titulo de capitão-general, trataou o chefe angolar  com honra semelhante, reconhecendo o poder que aquele já tinha: o de ser responsável perante o seu próprio povo pela manutenção da ordem  nos seus territórios.

Salvo, evidentemente, as devidas proporções, a atitude desse governador, tido por homem benigno, honrado e muito interessado no “bem público e melhoria da sorte dos povos”, tem certas semelhanças com a posição dos portugueses em relação ao reino do congo. Após a descoberta da região do Zaire, os monarcas lusitanos trataram  o Manicongo como” irmão real”, respeitando-lhe a autoridade e domínios.

(…) Reconhecida assim ao chefe angolar  esta paridade hierárquica pôde aquele povo viver  autonomamente durante 185 anos, dispondo de organização política própria servida por respeitadas  personalidades que envergavam vestimentas militares especiais de acordo com as patetes atribuídas pelo seu incontestado rei” – Excerto do poeta e escritor santomense, Ferreira da Costa, sob o título A política portuguesa, face ao “reino angolar” de S. Tomé 

DE SEGUIDA – ALGUNS EXCERTOS DE OUTRO TRABALHO  ACERCA DA MINHA INVESTIGAÇÃO SOBRE O POVOAMENTO DE S. TOMÉ E PRÍNCIPE 

Comunicação feita pelo Prof Doutor Armando Cortesão - no Grupo de Estudos de História Marítima, Lisboa, em 15 de Maio de 1970.

"Todos  os historiadores que se ocupam do «descobrimento das ilhas de S. Tomé e Príncipe» concluem que não se sabe ao certo quem foram os descobridores nem a data da descoberta; parece que ninguém se sente à vontade ao tratar do assunto - o que quase sempre acontece com o descobrimento das ilhas da parte oriental do Atlântico." 
    Pormenores mais à frente


Descobrimentos de S. Tomé e Príncipe – “Não se sabe ao certo quem foram os descobridores nem a data da descoberta” A resposta poderá estar numa antiga inscrição gravada numa rocha, situada na orla marítima  “Bien Faire”  (Bem Fazer) a famosa divisa do Infante D. Henrique  - Ministério da Educação, Cultura e Ciência de STP, interessado em estudar o achado Descoberta de antiga inscrição numa pedra, na orla marítima,  que poderá ter sido feita  por navegadores portugueses das caravelas, atendendo às excelentes condições de aportagem do local -  Outros achados em pedra poderão também relançar a origem do povoamento ancestral da Ilha através de canoas ou por outras embarcações – “Angolares” os temários do mar, vindos nas suas canoas do sul do Reino do Congo? 

Fra Mauro - 1459
A pedra foi encontrada por mim e pelo santomense Cosme Pires dos Santos, em Agosto, do ano passado. num dia em que, ambos, percorremos, várias áreas da orla marítima, com o objetivo de encontramos eventuais vestígios arqueológicos – Tanto anteriores à colonização, como a partir desse período.

O referido achado, que na altura me deixou bastante intrigado, por se tratar de uma inscrição antiga mas com letras do nosso alfabeto, só passou a dar-me algumas pistas da sua origem, quando, ao ler, um estudo de Armando Cortesão, ali se faz referência à divisa do Infante

Daí admitir poder tratar-se de uma antiga inscrição (parcial),  da divisa do Infante D. Henrique, atual divisa da Escola Naval “TALANT DE BIEN FAIRE” –– A pedra, em basalto, já está muito esboroada e  desgastada, faltam-lhe  alguns pedaços, pelo que, a inscrição, já não está completa – Mas, atendendo ao aspeto antigo da inscrição,  depreende-se que seja a celebre divisa do Infante Dom Henrique   - De momento, achou-se prudente não identificar publicamente o local.

O ACHADO  HISTÓRICO QUE FALTAVA  





Pedra de Dighton

Quando os  primeiros navegadores portugueses chegavam a uma terra até então desconhecida costumavam gravar nalguma grande árvore ou pedra «este motto do Infante, Talent de Bien Faire» diz Armando Cortesão – –– Depois de um antiga espada e um antigo punhal, eis alguns carateres da famosa  divisa do Infante D. Henrique - Não é a lendária “Pedra de Dighton”, com inscrições atribuídas a Corte Real, nas costas da Nova Inglaterra, em 1511, mas poderá vir a sê-lo no futuro.
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A DIVISA DO INFANTE GRAVADA PELOS NAVEGADORES PORTUGUESES NO TRONCO DAS ÁRVORES OU NAS ROCHAS



Como é reconhecido, a tendência do homem deixar sinais da sua presença, através de gravuras ou outro tipo de inscrições, é tão velha, como a natureza humana  - Os animais (cães e lobos) urinam junto das árvores ou pedras para ali marcarem o seu território – No fundo, é uma tendência dir-se-ia instintiva da preservação da espécie







A ideia de que, os portugueses, levantavam padrões, nas terras que descobriam, tal não corresponde inteiramente à verdade – Esses marcos, vieram posteriormente às descobertas e ao inicio da colonização  - Eles usavam outras formas mais simples para indicarem a sua passagem: inscrições nos troncos de árvores ou nas rochas


Quando se aborda esta questão apenas se faz alusão a árvores, esquecendo-se de que a gravação numa pedra – tal é o caso da famosa pedra de Corte Real,   - é  bem mais duradoura.






"Desde as primeiras expedições dos catalães e portugueses, tinham os navegantes o costume de gravar os seus nomes em árvores, destacando as espécies baobá (Adansônia digitata) e a dracena (Dracaena draco), que, obviamente, não é o conhecido arbusto ornamental. Nem sempre o faziam por veleidade ou vão desejo de glória; muitas vezes a inscrição era para eles uma espécie de marco, algo como um símbolo de posse, um meio de assegurar à sua pátria os direitos de primeiro colonizador. Os navegantes portugueses escolheram, com freqüência, para este fim, a bela divisa do infante D. Henrique, duque de Vizeu: Talent de bien faireb.as inscrições feitas nas cascas das árvores




"A História das Navegações Portuguesas tem pecado por ter sido escrita, por vezes, por quem desconhecia Arte Náutica - dizia Sacadura Cabral  (…) por  estranhos às «coisas do mar» como eram quase sempre, cronistas e historiadores . Incapazes de se imaginarem a navegando dentro dos navios antigos. Eles fiavam-se  nas versões que corriam, contadas por mareantes românticos, que acrescentavam  um «ponto» ao seu «conto». - 





TALANT DE BIEN FAIRE quer dizer talante, desejo ou vontade de bem fazer, e exorta um esforço pessoal de perfeição. Não tem nada a ver com a corrupção que, por facilidade, se dá à palavra “talant”, substituindo-a por “talent”, cujo sentido apontaria para uma qualidade própria intrínseca e independente da vontade ou do esforço de quem a possui. Divisa - Talant de Bien Faire - Escola Naval - Marinha


DESCOBERTAS DE GRAVURAS RUPESTRES E UMA ESPADA E UM PUNHAL, ANTIGOS – EM ANAMBÓ – JUNTO AO PADRÃO DOS DESCOBRIMENTOS – ACHADOS DE INTERESSE ARQUEOLÓGICO



gravuras rupestres - S. Tomé 2014


Não sendo arqueólogo, estou, desde há vários anos, ligado à descoberta dos calendários pré-históricos dos Tambores, nos arredores da minha aldeia, cujas imagens já correram mundo.  Além disso, já  na década de noventa, contribuí para descoberta de algumas gravuras rupestres do Vale do Côa - Isto para já não falar das várias travessias solitárias que empreendi em frágeis pirogas para comprovar a possibilidade do povoamento  inicial ter sido realizado por canoas, à semelhança das remotas ilhas do Pacífico



Ao longo da costa africana, já haviam navegado fenícios e árabes e o Infante D. Henrique, estava bem informado. A história  nem sempre é um relato fidedigno dos factos. "Se o Infante  D. Henrique e os dirigentes portugueses que se lhe seguiram proibiram a venda de caravelas ao estrangeiro, mandava a lógica que se opusessem igualmente à saída de capitães, pilotos, cosmógrafos(...) e com eles dos roteiros para as novas terras, das cartas de marear e de tudo que ensinasse a nova ciência da posição e da direcção do navio e, mais que tudo, da do sol ao meio dia." - In "DÚVIDAS E CERTEZAS NA HISTÓRIA DOS DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES"  Luís de Albuquerque

Não haja, pois, ilusões, quando o Infante D. Henrique fundou a Escola de Sagres, ele já tinha recolhido abundante informação de uma grande parte da costa de África: pelo menos, até ao Golfo da Guiné.


NÃO ESTÁ PROVADO QUE, ANAMBÓ, TIVESSE SIDO O LOCAL ONDE DESEMBARCARAM PELA PRIMEIRA VEZ OS NAVEGADORES PORTUGUESES – NEM SE SABE ONDE TERÁ SIDO – MAS FOI AQUI QUE A COLONIZAÇÃO COMEÇOU


Em virtude de contrariedades ou vicissitudes de vária ordem, somente, anos mais tarde, após o primeiro desembarque dos navegadores portugueses, em 1493, as ilhas começaram a ser colonizadas a partir de um local a que chamaram de Água-Boa, que, com o tempo passou  a ser designado  Água-Ambó, por ali passar uma ribeira de água potável e de   fácil acostagem, embora povoado por uma orla pedregosa e sem areia, mas que se estendia por uma superfície plana, das poucas existentes na costa voltada a norte e noroeste -Mais tarde mudaram-se para a Baía  Ana  de Chaves, formando ali uma pequena povoação, com aproveitamento  das terras vizinhas, justamente onde se situa  actualmente a cidade de S. Tomé

NAQUELA ÉPOCA A PALAVRA DESCOBRIR, SIGNIFICAVA EXPLORAR O QUE JÁ ERA CONHECIDO  


Não há certezas quanto à data exata da descoberta das ilhas  - Diz Luís de Albuquerque: Sabe-se por exemplo que João de Santarém, Pêro Escobar, Fernão do Pó, Lopo Gonçalves e Rui Sequeira estiveram ao serviço de Fernão Gomes. Mas não há registos que nos permitam dizer com segurança qual deles, em que ano, descobriu o quê." - Admite-se, no entanto, que, a Ilha de S. Tomé, teria sido descoberta em 21 de Dezembro de 1471, e, um ano depois, em 17 de Janeiro, a Ilha do Príncipe – Por outro lado, também já, o Almirante Gago Coutinho, em “A Náutica dos Descobrimentos, aludia à palavra “descobrir”, acerca dos “factos náuticos que procederam à  Viagem de ´Álvares Cabral, ao Brasil, citando o livro “Esmeraldo”,  referindo que naquela época, a palavra descobrir, tem o sentido de explorar uma costa que já fora achada antes de 1948”, de “uma exploração, confiada a Duarte Pacheco.


Coronel Victor Monteiro -  Gravuras rupestres

De um modo geral, salvo os historiadores, que não se limitam a transcrever a tese oficial colonial, que entendeu, arrumar factos históricos ao seu jeito, “todos os historiadores que se ocupam do «descobrimento das ilhas de S. Tomé e Príncipe» concluem que não se sabe ao certo quem foram os descobridores nem a data da descoberta; parece que ninguém se sente à vontade ao tratar do assunto - o que quase sempre acontece com o descobrimento das ilhas da parte oriental do Atlântico. – Diz Armando Cortesão  em  “Descobrimento e Cartografia das Ilhas de S. Tomé e Príncipe

“Convém notar”- refere o mesmo investigador  - “ que desde já e sempre que se aborde tão delicado e controverso assunto, qual o significado a dar à palavra descobrimento, quando se trata de novas terras e em especial no século XV. Já vários historiadores se têm referido ao problema e dele me ocupo mais de espaço no vol. III da minha História da Cartografia Portuguesa, que estou a escrever e cujo vol. II (…)”

“A meu ver as palavras descobrimento e suas derivadas de princípio significavam que a terra respectiva foi reconhecida, provavelmente  redescoberta, tornando-se conhecida de todo o Mundo, estabelecendo-se entre ela e a Europa relações normais, isto é, viagens frequentes, povoamento, colonização, relações comerciais, etc. É aquilo a que se pode chamar descobrimento oficial, como sugeriu o saudoso Com. Fontoura da Costa. - Excerto 04/03/2016  Descobrimentos de S. Tomé e Príncipe - odisseias nos mares e terras

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