DEUS FEZ-ME ASSIM, QUE SE HÁ-DE FAZER?!... FEZ
COM QUE O LOUVASSE NA TERRA E NOS MARES E PROCURASSE A BELEZA QUE ESTREMECE O
CORPO, SANTIFICA E ENOBRECE A ALMA - Oh! Em criança...com que solenidade eu
edificava os meus altares!...
Sim, esse tempo já lá vai…. Por isso, aqui volto, assim sozinho e alcandorado
no rochedo e a divagar sob os solitários céus e ante a nebulosa harmonia do espaço
Sim, esse tempo já lá vai…. Por isso, aqui volto, assim sozinho e alcandorado
no rochedo e a divagar sob os solitários céus e ante a nebulosa harmonia do espaço
Foi no dia 20 de Outubro de 1975, ao nascer do sol, que fui largado pelo pesqueiro americano, Hornet, escassas
duas milhas a norte da Ilha de Ano Bom mas a 180 Km a sul da Pérola do Equador e a duas centenas de quilómetros da costa africana-
24-10-2014 - Faz precisamente hoje 39 anos – Estou em São Tomé e trouxe comigo a única recordação material que me resta: a camisola que então enverguei com a bandeira nacional de S. Tomé e Principie, que gostaria de oferecer ao Museu de São Tomé
Andava na casa dos trinta, era temerário e aventureiro. Três dias antes partira da praia da Vila das Neves rumo à Baía Ana Chaves para ser transportado naquele pesqueiro, e, numa frágil piroga, tentar atravessar o oceano Atlântico na grande corrente equatorial - Devido a um violento tornado, acabaria por ser arrastado ao longo de 38 dramáticos dias, indo acostar a uma recôndita praia da Ilha de Bioko, Guiné Equatorial.
Como se não bastasse o tormentoso calvário... Por três vezes onde aportei, fui preso e encarcerado por suspeito e perigoso! - O mar fez-me sofrer imenso mas poupou-me a vida. E, se alguma vez pecara, trazia o coração atormentado mas liberto, os olhos cansados de tanto perscrutar as noites cerradas ou os agitados horizontes mas puros de espaço e maresia, tinha a plena sensação de que o meu sofrimento me reconduzira à idade da inocência e me libertara de toda a mácula. Porém, em terra, foi tal a vil desconfiança que sempre se abateu sobre mim, que cheguei a pensar se não foi um castigo infame e maldito ter chegado vivo a terra.. se não teria sido preferível ficar para sempre - morto ou vivo - sobre as ondas ou no fundo do mar
Diário de Bordo - "Encontro-me, neste momento, algures ... Pelo imenso Golfo da Guiné.. Não tenho leme para orientar a minha canoa, no meio do mar muito agitado, bastante ameaçador!... Não sei para onde vou ... Possivelmente para o Gabão... Pois para São Tomé não há qualquer hipótese. Governar uma canoa, sem leme ou sem rumo é impossível!... Estou à mercê de todas as contingências!... Espero, todavia, chegar a lugar seguro."
24-10-2014 - Faz precisamente hoje 39 anos – Estou em São Tomé e trouxe comigo a única recordação material que me resta: a camisola que então enverguei com a bandeira nacional de S. Tomé e Principie, que gostaria de oferecer ao Museu de São Tomé
Andava na casa dos trinta, era temerário e aventureiro. Três dias antes partira da praia da Vila das Neves rumo à Baía Ana Chaves para ser transportado naquele pesqueiro, e, numa frágil piroga, tentar atravessar o oceano Atlântico na grande corrente equatorial - Devido a um violento tornado, acabaria por ser arrastado ao longo de 38 dramáticos dias, indo acostar a uma recôndita praia da Ilha de Bioko, Guiné Equatorial.
E lá parti de calções e
descalço, sem dinheiro no bolso, sem relógio e despojado de tudo; confiante de
que a canoa seria o meu único soalho e o meu único abrigo e não me deixaria
ficar pelo caminho. Todavia, sem saber por quanto tempo e os trabalhos que haveria
de ter pela frente....Certo, no entanto, de que (à semelhança das duas
anteriores viagens: de São Tomé à Ilha do Príncipe e São Tomé à Nigéria),
haveria de encontrar dias e noites de paz e de calma (momentos maravilhosos!) e
outros dias e noites de sobressalto, de tormento e agitação
Como se não bastasse o tormentoso calvário... Por três vezes onde aportei, fui preso e encarcerado por suspeito e perigoso! - O mar fez-me sofrer imenso mas poupou-me a vida. E, se alguma vez pecara, trazia o coração atormentado mas liberto, os olhos cansados de tanto perscrutar as noites cerradas ou os agitados horizontes mas puros de espaço e maresia, tinha a plena sensação de que o meu sofrimento me reconduzira à idade da inocência e me libertara de toda a mácula. Porém, em terra, foi tal a vil desconfiança que sempre se abateu sobre mim, que cheguei a pensar se não foi um castigo infame e maldito ter chegado vivo a terra.. se não teria sido preferível ficar para sempre - morto ou vivo - sobre as ondas ou no fundo do mar
Diário de Bordo - "Encontro-me, neste momento, algures ... Pelo imenso Golfo da Guiné.. Não tenho leme para orientar a minha canoa, no meio do mar muito agitado, bastante ameaçador!... Não sei para onde vou ... Possivelmente para o Gabão... Pois para São Tomé não há qualquer hipótese. Governar uma canoa, sem leme ou sem rumo é impossível!... Estou à mercê de todas as contingências!... Espero, todavia, chegar a lugar seguro."
Meu objetivo era evocar a antiga rota dos escravos e
ao mesmo tempo reforçar a minha teoria de que as Ilhas podiam ter sido ligadas
por povos da costa africana, muito antes da colonização – Já tinha navegado de
São Tomé à Nigéria e de S. Tomé ao Príncipe, faltava-me agora uma demonstração anda
mais arrojada. Estava confiante de que a poderia realizar, caso o comandante do
pesqueiro não tivesse faltado à palavra – Procurara demover-me da minha ousada
aventura, oferecendo-me
trabalho a bordo, alegando que o frágil
madeiro escavado, não podia suportar as violentas investidas das vagas..
E, na verdade, as três noites que passei a bordo foram horríveis, escotilhas fechadas, ninguém podia ir ao convés, ondas a varrerem-no de ponta a ponta ! - "Você vai morrer!... Fique connosco a trabalhar!"..Diziam-me alguns dos marinheiros, que vinham a espreitar ao meu lado o vendaval da noite cerrada!.. .Estava-se em plena época das chuvas, o mesmo cenário iria repetir-se na noite seguinte.
Em parte, tinha alguma razão - mas apenas pelo facto de ir sozinho e a canoa necessitar de mais braços. Mesmo assim, lutei e sobrevivi durante 38 longos e atribulados dias. Pois, o que há de mais perigoso, mortífero e assustador, não é o mar largo! São as áreas costeiras - Eu sabia, que, afastado dos tornados e calmarias do grande Golfo da Guiné, não teria tantas dificuldades! - Pois lá diz o velho ditado: "o que há de perigoso no mar é a terra" - E foi sempre o que eu mais receei: pois não podia prever onde chegava, em que ponto iria aportar, a que horas da noite ou do dia me poderia aproximar de chão firme. A simples bússola não bastava
Sim, estou de novo nesta maravilhosa Ilha – Desembarquei, quase sobre o pôr do
sol, o crepúsculo, nestas paragens é rápido e, quando percorria a distância que
separa o aeroporto da cidade, era já noite. No entanto, mesmo assim, o bastante
para me surpreender – E no bom sentido do termo. E, na verdade, as três noites que passei a bordo foram horríveis, escotilhas fechadas, ninguém podia ir ao convés, ondas a varrerem-no de ponta a ponta ! - "Você vai morrer!... Fique connosco a trabalhar!"..Diziam-me alguns dos marinheiros, que vinham a espreitar ao meu lado o vendaval da noite cerrada!.. .Estava-se em plena época das chuvas, o mesmo cenário iria repetir-se na noite seguinte.
Em parte, tinha alguma razão - mas apenas pelo facto de ir sozinho e a canoa necessitar de mais braços. Mesmo assim, lutei e sobrevivi durante 38 longos e atribulados dias. Pois, o que há de mais perigoso, mortífero e assustador, não é o mar largo! São as áreas costeiras - Eu sabia, que, afastado dos tornados e calmarias do grande Golfo da Guiné, não teria tantas dificuldades! - Pois lá diz o velho ditado: "o que há de perigoso no mar é a terra" - E foi sempre o que eu mais receei: pois não podia prever onde chegava, em que ponto iria aportar, a que horas da noite ou do dia me poderia aproximar de chão firme. A simples bússola não bastava
BRAVOS AFOGADOS NO MAIS FUNDO DOS ABISMOS DAS
ÁGUAS!... RESSUSCITAI! RESSUSCITAI E CANTAI A GLÓRIA DA VOSSA ESQUECIDA
BRAVURA! QUE AS ALGAS E AS CINZAS VOS COBRIRAM, MAS NÃO VOS IGNORAM! - POIS
NINGUÉM MAIS VOS CANTA OU CHORA!
COMOVIDO, AJOELHEI-ME E BEIJEI O CHÃO DA PISTA DO AEROPORTO DESTA MARAVILHOSA ILHA
COMOVIDO, AJOELHEI-ME E BEIJEI O CHÃO DA PISTA DO AEROPORTO DESTA MARAVILHOSA ILHA
Escusado será dizer que foi um reencontro emocionante,
em que as lágrimas foram mais fortes de que eu. Mas tinha mesmo que ser assim: não se pode
contrariar o coração, quando ele cede aos momentos que mais o fizeram vibrar ou
sofrer. E, na verdade, nesta ilha, nos 12 anos em que aqui vivi, o meu coração,
os meus olhos, viveram as mais díspares emoções. Sobretudo nas atribuladas
aventuras solitárias em frágeis pirogas. Aqui aprendi a arte de navegar com os
pescadores santomenses, exímios sua arte milenar. E daqui parti, por três vezes,
sozinho, disposto a enfrentar as ondas do mar alto, rumo a toda a sorte de contingências
e de perigos. Certo de que a temeridade é o caminho para a morte mas também pode ser o
ponto de partida para o mais lindo sonho
Agora, quando um dia Deus me
quiser chamar, Ele que me poupou naquele tão penoso como longo rosário de
tormentos, já o pode fazer porque cumpri finalmente o sonho de me ajoelhar e
beijar aquele chão firme que no mar não encontrava.
E ALI VOLTEI COMO UM PEREGRINO QUE VIAJAR PELO MUNDO OU PELOS MARES A FORA PARA DEPOIS ENCERRAR UM CICLO E FECHAR OUTRO
Finais de Outubro de 2014 - Passados 44 anos, ali me encontrava de novo na Baía de Anambô para mais um momento evocativo, agora para homenagear os marinheiros de dois países irmãos, com profundos laços linguísticos e históricos – De Portugal e de São Tomé e Príncipe - Após ter deixado, há 39 anos, a Ilha de S. Tomé para uma travessia oceânica, que, devido a um violento tornado, acabaria por resultar num longo e dramático naufrágio de 38 dias, aqui voltei a maravilhar-me, coma a tranquilidade edílica de um dos mais belos recantos da orla espumosa e verdejante deste verdadeiro paraíso equatorial.
OS FEITOS DOS MARINHEIROS PORTUGUESES É CASO SINGULAR NA HISTÓRIA UNIVERSAL - O DOMÍNIO COLONIAL QUE SE SEGUIU É OUTRA HISTÓRIA - ESTIVE ALI EM 21-12-1970 - PARA HOMENAGEAR OS BRAVOS QUE ME ANTECEDERAM INDO DE CANOA DESDE A CAPITAL A ANAMBÔ - E VOLTEI LÁ 44 ANOS DEPOIS - UM PEQUENO PAIS TER CRUZADO TODOS MARES EM FRÁGEIS CARAVELAS, É OBRA DA HUMANIDADE!
Sou português e não descuro os feitos marítimos dos meus
antepassados. Mas também não quero fazer
como a avestruz e meter a cabeça debaixo da areia. Nem fazer dos
compêndios coloniais a bíblia sagrada.
Sem deixar de admirar a coragem dos antigos navegadores, busco outras interpretações
BASTA QUE NÃO PERCAM A CALMA E SE ALIMENTEM COM A PESCA: A CARNE DO PEIXE MATA A FOME E O SANGUE, QUE NÃO É SALGADO, A SEDE - E A ÁGUA DA CHUVA, COM UM POUCO DE ÁGUA DO MAR, É AINDA MELHOR.
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Finais de Outubro de 2014 - Passados 44 anos, ali me encontrava de novo na Baía de Anambô para mais um momento evocativo, agora para homenagear os marinheiros de dois países irmãos, com profundos laços linguísticos e históricos – De Portugal e de São Tomé e Príncipe - Após ter deixado, há 39 anos, a Ilha de S. Tomé para uma travessia oceânica, que, devido a um violento tornado, acabaria por resultar num longo e dramático naufrágio de 38 dias, aqui voltei a maravilhar-me, coma a tranquilidade edílica de um dos mais belos recantos da orla espumosa e verdejante deste verdadeiro paraíso equatorial.
OS FEITOS DOS MARINHEIROS PORTUGUESES É CASO SINGULAR NA HISTÓRIA UNIVERSAL - O DOMÍNIO COLONIAL QUE SE SEGUIU É OUTRA HISTÓRIA - ESTIVE ALI EM 21-12-1970 - PARA HOMENAGEAR OS BRAVOS QUE ME ANTECEDERAM INDO DE CANOA DESDE A CAPITAL A ANAMBÔ - E VOLTEI LÁ 44 ANOS DEPOIS - UM PEQUENO PAIS TER CRUZADO TODOS MARES EM FRÁGEIS CARAVELAS, É OBRA DA HUMANIDADE!
Estive neste mesmo local, no dia 21 de Dezembro de 1970 e numa data em que se comemoravam os
500 anos sobre a referido desembarque por João de Santarém e Pero Escobar. Uma coisa é a verdade histórica (e foi essa
que eu procurei através de várias travessias em pirogas e que ainda hoje
questiono), outra, as prepotências e o sectarismo da colonização, as omissões
ou a verdade que convinha ao Reino..
Todavia, quer os portugueses, nas frágeis caravelas, quer os primeiros
povoadores, nas suas toscas pirogas, foram lobos do mar e heróis desbravadores
à sua maneira.
Ontem,
dia 24 de Outubro, voltei ali para expressar igualmente a
minha singela homenagem com a imagem das duas bandeiras: de Portugal e
de São
Tomé e Príncipe. Sou um crítico por muitos aspetos da colonização mas
não deixo de admirar a coragem daqueles antigos navegadores -
Naquela altura, quando ali naveguei de canoa, a
remos e a vela, desde a Baía Ana de Chaves, contrariamente ao ambiente que se
festejava na então Praça de Portugal, dir-se-ia que o meu gesto decorria como
que em silêncio contemplativo e retrospetivo, apenas presenciado por um
fotógrafo da Agência Geral do Ultramar, que ali se deslocou para fazer o
registo para a posteridade.
Porém, agora, testemunhado por dois ativos e voluntariosos jornalistas do Jornal Transparência - Diário de São Tomé e Príncipe (Adilson Castro e João Soares) que tiveram a gentileza de me acompanhar e de se associar ao singelo espírito evocativo, registando-o, bem como ainda a presença de Mauel Gonçalves, um português de visita turística a estas ilhas. Não se ouviram no local outras vozes, senão a do testemunho solidário, estudioso e amigo destes cidadãos. Tudo o mais - e sob uma atmosfera intensamente luminosa - era a voz do vento e o marulhar das ondas rolando no gogos negros e reluzentes da praia que a escassos metros iam rebentar em montões de imaculada espuma, talvez como à chegada dos primeiros homens que penetraram naquele recôncavo terrestre, ladeado por denso, idílico e luxuriante
manto
Porém, agora, testemunhado por dois ativos e voluntariosos jornalistas do Jornal Transparência - Diário de São Tomé e Príncipe (Adilson Castro e João Soares) que tiveram a gentileza de me acompanhar e de se associar ao singelo espírito evocativo, registando-o, bem como ainda a presença de Mauel Gonçalves, um português de visita turística a estas ilhas. Não se ouviram no local outras vozes, senão a do testemunho solidário, estudioso e amigo destes cidadãos. Tudo o mais - e sob uma atmosfera intensamente luminosa - era a voz do vento e o marulhar das ondas rolando no gogos negros e reluzentes da praia que a escassos metros iam rebentar em montões de imaculada espuma, talvez como à chegada dos primeiros homens que penetraram naquele recôncavo terrestre, ladeado por denso, idílico e luxuriante
manto
Contudo, verifiquei que os velhos coqueiros
debruçados sobre o mar foram substituídos por castanheiros da índia e existe um
muro a separar a margem, que não havia. Aparentemente mais bem conservado do que estava naquela altura,
onde passei uma noite horrível, com as costas sobre lascas e gogos de todos os
tamanhos e feitios (pois ali não existe praia de areia), mesmo quase sobre a
margem onde as ondas vinham bater, embrulhado pelas palmas dos coqueiros mas
constantemente a ser espicaçado e mordido por enormes caranguejos do mar e da
terra, que não me deram um minuto de descanso
Não me deitei no mato, receando as cobras negras.
E, ao alvorecer, perante aquele vetusto e simbólico padrão, rodeado de palmas, tão belas, sonoras e
verdejantes, não me importei de
homenagear os marinheiros de quinhentos, com a bandeira portuguesa. .
De facto, há que realçar a coragem dos marinheiros
lusitanos, que se fizeram ao mar apenas munidos de um mero astrolábio - Não
dispunham de sextante, nem de cronómetro ou sequer de almanaque náutico que
lhes possibilitasse algum rigor da navegação - Não iam completamente às cegas,
porém, embora dispondo de alguma
informação, iam à aventura! - Indubitavelmente, foram grandes navegadores
aventureiros!
São
Tomé 39 anos depois – – Ainda não perdi a experiência –Teste na Baia
Rosema, largara da Cidade das Neves, donde parti para a tentativa de uma
travessia de S. Tomé ao Brasil, que acabaria numa longa e penosa deriva
de 38 dias - Eis como tudo começou:
A princípio fui para ali trabalhar numa roça mas comecei por não me adaptar, lá muito bem. O administrador da roça queria que eu tratasse os trabalhadores negros por tu. Dizia ele que era "a maneira de guardarem respeito ao branco" e de eles trabalharem". Evidentemente que não me adaptei... E o dinheiro que me pagavam ao fim do mês, comparado com as promessas que me fizeram, depois de feitos os descontos para alimentação e pagamento da viagem, não me ficava quase nada. Claro que não fui para São Tomé com o objetivo de fazer fortuna, mas esperava que ao menos me atribuíssem uma compensação humanamente digna. E então os pobres trabalhadores ?!... Autênticos escravos!..
A princípio fui para ali trabalhar numa roça mas comecei por não me adaptar, lá muito bem. O administrador da roça queria que eu tratasse os trabalhadores negros por tu. Dizia ele que era "a maneira de guardarem respeito ao branco" e de eles trabalharem". Evidentemente que não me adaptei... E o dinheiro que me pagavam ao fim do mês, comparado com as promessas que me fizeram, depois de feitos os descontos para alimentação e pagamento da viagem, não me ficava quase nada. Claro que não fui para São Tomé com o objetivo de fazer fortuna, mas esperava que ao menos me atribuíssem uma compensação humanamente digna. E então os pobres trabalhadores ?!... Autênticos escravos!..
Por
força dessa minha inadaptação, o meu passa-tempo predileto, era então o
mar...Praticamente, desde que ali desembarquei, vi nele uma espécie de
refúgio. Qualquer coisa onde me sentia livre de todos os aborrecimentos.
Um horizonte sempre aberto e imenso, que me abria as portas a uma
incontível ânsia de ir mais além na procura de uma felicidade
imaginária que naquele meio ambiente eu não encontrava.
Por isso, sempre que podia, frequentava as belas praias de São Tomé. Comecei por manter estreitos contactos com os pescadores, homens corajosos e simpáticos. Aprendi a equilibrar-me nas suas canoas, começando primeiro por dar pequenos passeios de praia em praia., até que por fim veio a paixão - E, a par disso, também outras interrogações
Por isso, sempre que podia, frequentava as belas praias de São Tomé. Comecei por manter estreitos contactos com os pescadores, homens corajosos e simpáticos. Aprendi a equilibrar-me nas suas canoas, começando primeiro por dar pequenos passeios de praia em praia., até que por fim veio a paixão - E, a par disso, também outras interrogações
só canoa
de gente de feitiço" é que o tornado a levava ao Príncipe ou ao Gabão;
"outra, vem gandú (tubarão), vira a canoa e come-lhe a perna" .
Achava que era uma superstição, sem fundamento e havia que desfazer esse
fantasma: concluía que, se o tornado arrastava para lá a canoa,
involuntariamente, também lá se podia ir por vontade própria. Face a essas
lucubrações, comecei a pensar que, um dia, eu devia fazer-lhe essa demonstração
- A par disso, questionava-me também sobre o seu passado longínquo: se não
teria sido através das canoas que os seus ancestrais não teriam vindo do
continente africano.
Foi,
pois, graças a esses contactos com os pescadores santomenses, quando
trabalhei na Roça Ribeira Peixe, que iniciei a minha aprendizagem
sobre a técnica da arte de navegar nas suas frágeis pirogas e que o espírito de
aventura marítimo, se me foi desenvolvendo. E, alguns anos depois,
simultaneamente, o desafio da escalada ao Pico Cão Grande, que ali
se ergue, numa zona onde existem várias aldeias dos hábeis pescadores
"angolares".- Na verdade, não é pois a riqueza material
que mais me interessa. Mas também não é o desejo de me tornar famoso, a razão
pela qual tenho arriscado a vida. Sim, porque, excetuando esta
última viagem marítima, tenho partido clandestinamente, sem dar conhecimento
para onde vou e o que vou fazer. Sem o apoio, aprovação ou a reprovação
de quem quer que seja.
Sabia
dos muitos perigos que me podiam esperar - não os desdenhava! - mas
entregava-me ao oceano de coração aberto, possuído de uma enorme paixão, em
demanda dos grandes espaços e de uma infinita liberdade, tal qual as aves
migradoras! Olhava-o como se fosse já meu familiar e meu amigo. Embora sabendo
que a sua face, quando acometida de irascível crueldade, havia sido palco de
muitas tragédias, havia engolido muitos barcos e tragado muitas vidas. Contudo,
eu não ia ali apenas movido pelo prazer da aventura: só por isso, não sei se
compensaria... Mas orientado por razões mais fortes
O POVOAMENTO DAS ILHAS DE SÃO TOMÉ E PRINCIPE NÃPO COMEÇOU APENAS HÁ CINCO SÉCULOS
O mundo não é de
ontem nem de hoje. E nem só de há cinco séculos que o homem se arrojou nas
grandes viagens de navegação. Mesmo que o povoamento das
ilhas do Golfo da Guiné, não fosse feito através de pirogas, já os navegadores
fenícios, cartagineses e árabes, há muito haviam demandado aqueles mares, pelo
que não deixariam de procurar extrair alguns benefícios das ilhas e deixar lá
algumas pessoas.
Porém,
muito antes mesmo dessas viagens, julgo que já
os africanos eram os senhores dos mares, costa africana
e ilhas - Atlântico, Mediterrâneo e no Índico - experientes artesãos e
audaciosos mestres na arte de navegar nas suas canoas Formaram verdadeiras
civilizações, que foram retalhadas pela expansão colonial. .A supremacia do
homem branco sobre outras raças, não passa de uma ideia absurda, de um preconceito...
A existência de antigos mapas não deixa margem para dúvidas.
Os portugueses foram grandes navegadores - E talvez dos maiores navegadores daqueles tempos. Um país, tão pequeno e com tão fracos recursos económicos, ter feito o que fez, foi realmente uma verdadeira odisseia. Há, pois, que enaltecer a coragem daqueles bravos pilotos e marinheiros.
A existência de antigos mapas não deixa margem para dúvidas.
Os portugueses foram grandes navegadores - E talvez dos maiores navegadores daqueles tempos. Um país, tão pequeno e com tão fracos recursos económicos, ter feito o que fez, foi realmente uma verdadeira odisseia. Há, pois, que enaltecer a coragem daqueles bravos pilotos e marinheiros.
Todavia, surge o
aspeto negativo: o do consequente domínio colonial,
através das armas, do avanço bélico, sobre povos pacíficos, tal como o
fizerem outros europeus: aproveitando-se de prévios conhecimentos,
seguindo rotas já conhecidas, orientaram as suas navegações, não propriamente
para estabelecerem laços culturais ou de um pacífico intercâmbio comercial,
mas para imporem a sua vontade, o domínio e a exploração do comércio e
das riquezas naturais, com mão-de-obra escrava.
De facto, a grande
lição de que os portugueses se podem orgulhar é a de que, embora sendo um pequeno
país, cruzou mares e expandiu-se para os vários cantos do mundo.
A subjugação de povos e o domínio colonial sobre os mesmos, não será, com
certeza, a nota mais emblemática a recordar
NÃO
CHEGUEI ATRAVESSAR O OCEANO ATLÂNTICO, TAL COMO ESPERAVA MAS CONTINUO ACREDITAR QUE SÃO POSSÍVEIS LONGAS TRAVESSIAS
MESMO ASSIM:
Comprovei que
as canoas vão ao cabo do mundo; . naveguei e fui arrastado por centenas de milhas
e estabeleci ligações de uma delas ao continente - São Tomé-Nigéria.
e difícil navegar a bordo destas frágeis embarcações e eu não fiquei no mar, talvez o deva a um feliz acaso -Mas não estou arrependido, pois safei-me por três vezes.
e difícil navegar a bordo destas frágeis embarcações e eu não fiquei no mar, talvez o deva a um feliz acaso -Mas não estou arrependido, pois safei-me por três vezes.
Os pescadores (nas Ilhas) aos quais se inculcou o
fantasma de que gente só de feitiço é que o tornado não volta canoa ou que o “Gandú não engole perna de gente”,
poderão estar descansados – Se a tempestade algum dia os surpreender e os
arrastar fora do alcance da sua praia e da sua querida ilha, não se importem,
deixem-se levar pelo seu ímpeto.
Não cruzem os braços e se deem por vencidos:
Remem ou velejem, sempre que puderem ou então deixem
que a canoa vogue à flor das ondas, que o mar não quer nada que lhe seja
estranho e a algum ponto da costa, hão de ir parar
BASTA QUE NÃO PERCAM A CALMA E SE ALIMENTEM COM A PESCA: A CARNE DO PEIXE MATA A FOME E O SANGUE, QUE NÃO É SALGADO, A SEDE - E A ÁGUA DA CHUVA, COM UM POUCO DE ÁGUA DO MAR, É AINDA MELHOR.
A CANOA SÓ VAI AO FUNDO SE ESTIVER MUITO CHEIA DE PESCADO OU NÃO
FOR DE ÓCÁ. O MAR BRINCA
COM O SEU CASCO E O SEU CASCO DESLIZA E BRINCA COM O MAR.
Também as canoas
africanas, à semelhança das grandes migrações no Pacífico, se fizeram ao mar
alto: Fizeram extensas travessias no Golfo da Guiné, tal como os primitivos
navegadores da Polinésia, considerados os "navegadores supremos da
história": que, velejando em linha, cada uma à distancia da
visão da canoa que lhe seguia atrás, até qualquer delas divisar uma ilha
habitável, atravessaram vastas extensões daquele imenso oceano, colonizaram as
mais remotas ilhas, algumas a milhares de milhas, umas das outras, não dispondo
sequer de uma bússola ou de qualquer outro instrumento náutico
AS CANOAS DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE SÃO MAIS
PEQUENAS QUE AS DO LITORAL AFRICANO - As ilhas são montanhosas e as roças
também não permitiam o abate de grandes árvores - Mas a ligação dos
primeiros povos foi realizada a partir da costa africana para as ilhas à
vela e a remos. Actualmente, são frequentes as viagens da Nigéria para São Tomé,
com auxílio de motores fora de borda- O regresso é feito à veja e a motor.
LEVADOS PELO ESPÍRITO DE
AVENTURA, PELO INSTINTO MIGRADOR DAS AVES - que partilhavam a mesma
alegria e abundância da Mãe-Natureza, pelo acaso ou por outras razões que a
razão desconhece e só Neptuno poderia interpretar, sim, ao Mar se fizeram nas
suas pirogas e por lá se fixaram nas suas majestosas Ilhas a que
aportaram.
ALGUNS VOLTARAM ÀS TERRAS DE ORIGEM PARA TRAZEREM AS MULHERES E OS FILHOS.
E a notícia das suas maravilhas, depressa se espalharia... E, assim, pouco a pouco se foi constituindo um Povo, que se aventurou pelo oceano a fora, atraído por ilhas que lhe terão parecido os Jardins do Éden ou os Paraísos mais belos que hão conhecido
ALGUNS VOLTARAM ÀS TERRAS DE ORIGEM PARA TRAZEREM AS MULHERES E OS FILHOS.
E a notícia das suas maravilhas, depressa se espalharia... E, assim, pouco a pouco se foi constituindo um Povo, que se aventurou pelo oceano a fora, atraído por ilhas que lhe terão parecido os Jardins do Éden ou os Paraísos mais belos que hão conhecido
O que ignoravam é que a paz, a
tranquilidade secular, endémica, haveria de vir a ser quebrada,
abruptamente, com a chegada de homens e modos de ser completamente
estranhos e adversos à sua cultura e ao seu pacífico modo de vida.
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