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quinta-feira, 25 de outubro de 2018

A minha odisseia solitária no mar foi há 43 anos - A bordo de uma frágil piroga escavada num tronco de árvore do mato - Sou filho ignorado de Portugal, mas orgulho e honrado, apaixonado, com muito amor, pelas Ilha Verdes do Equador - Os longos e penosos 38 dias e noites de trevas ou de luar, de incerteza ou de pasmo, que maravilharam ou atormentaram o meu peito e o meu olhar - e que por mim, tanto foram vividos e muito sentidos - , estão ainda muito presentes no meu espírito e não os posso esquecer - Deus fez-me assim, o que é que eu hei-de fazer!..... Também as odisseias dos bravos marinheiros - mais deles ignorados e sem uma linha por escrever - nem todos foram poupados e tragados à fúria das vagas alterosas e de morrer

Jorge Trabulo Marques




DEUS FEZ-ME ASSIM, QUE SE HÁ-DE FAZER?!... FEZ COM QUE O LOUVASSE NA TERRA E NOS MARES E PROCURASSE A BELEZA QUE ESTREMECE O CORPO, SANTIFICA E ENOBRECE A ALMA - Oh! Em criança...com que solenidade eu edificava os meus altares!... 
Sim, esse tempo já lá vai…. Por isso, aqui volto, assim sozinho e alcandorado
no rochedo e a divagar sob os solitários céus e ante a nebulosa harmonia do espaço

Foi no dia 20 de Outubro de 1975, ao nascer do sol, que fui largado pelo pesqueiro americano, Hornet, escassas duas milhas a norte da Ilha de Ano Bom mas a 180 Km a sul da Pérola do Equador e  a duas centenas de quilómetros da costa africana

24-10-2014  -  Faz precisamente hoje 39 anos – Estou em São Tomé e trouxe comigo a única recordação material que me resta: a camisola que então enverguei com a bandeira nacional de S. Tomé e Principie, que gostaria de oferecer ao Museu de São Tomé

Andava na casa dos trinta, era temerário e aventureiro. Três dias antes partira da praia da Vila das Neves rumo à Baía Ana Chaves para ser transportado naquele pesqueiro, e,  numa frágil piroga, tentar atravessar o oceano Atlântico na grande corrente equatorial - Devido a um violento tornado, acabaria por ser arrastado ao longo de 38 dramáticos dias, indo acostar a uma recôndita praia da Ilha de Bioko,  Guiné Equatorial.


E lá parti de calções e descalço, sem dinheiro no bolso, sem relógio e despojado de tudo; confiante de que a canoa seria o meu único soalho e o meu único abrigo e não me deixaria ficar pelo caminho. Todavia, sem saber por quanto tempo e os trabalhos que haveria de ter pela frente....Certo, no entanto, de que (à semelhança das duas anteriores viagens: de São Tomé à Ilha do Príncipe e São Tomé à Nigéria), haveria de encontrar dias e noites de paz e de calma (momentos maravilhosos!) e outros dias e noites de sobressalto, de tormento e agitação

Como se não bastasse o tormentoso calvário... Por três vezes onde aportei, fui preso e encarcerado por suspeito e perigoso! - O mar fez-me sofrer imenso mas poupou-me a vida. E, se alguma vez pecara, trazia o coração atormentado mas liberto, os olhos cansados de tanto perscrutar as noites cerradas ou os agitados horizontes mas puros de espaço e maresia, tinha a plena sensação de que o meu sofrimento me reconduzira à idade da inocência e me libertara de toda a mácula. Porém, em terra, foi tal a vil desconfiança que sempre se abateu sobre mim, que cheguei a pensar se não foi um castigo infame e maldito ter chegado vivo a terra.. se não teria sido preferível ficar para sempre - morto ou vivo - sobre as ondas ou no fundo do mar






Diário de Bordo  - "Encontro-me, neste momento, algures ... Pelo imenso Golfo da Guiné.. Não tenho leme para orientar a minha canoa, no meio do mar muito agitado, bastante ameaçador!... Não sei para onde vou ... Possivelmente para o Gabão... Pois para São Tomé não há qualquer hipótese. Governar uma canoa, sem leme ou sem rumo é impossível!... Estou à mercê de todas as contingências!... Espero, todavia, chegar a lugar seguro."


 
Meu objetivo era evocar a  antiga rota dos escravos  e ao mesmo tempo reforçar a minha teoria de que as Ilhas podiam ter sido ligadas por povos da costa africana, muito antes da colonização – Já tinha navegado de São Tomé à Nigéria e de S. Tomé ao Príncipe, faltava-me agora uma demonstração anda mais arrojada. Estava confiante de que a poderia realizar, caso o comandante do pesqueiro não tivesse faltado à palavra – Procurara demover-me da minha ousada aventura, oferecendo-me trabalho a bordo,  alegando que o frágil madeiro escavado, não podia suportar as violentas investidas das vagas..

E, na verdade,  as três noites que passei  a bordo foram  horríveis, escotilhas fechadas, ninguém podia ir ao convés, ondas a varrerem-no de ponta a ponta ! - "Você vai morrer!... Fique connosco a trabalhar!"..Diziam-me alguns dos marinheiros, que vinham a espreitar ao meu lado o vendaval da noite cerrada!.. .Estava-se em plena época das chuvas, o mesmo cenário iria repetir-se na noite seguinte.

Em parte, tinha alguma razão - mas apenas pelo facto de ir sozinho e  a canoa necessitar de mais braços. Mesmo assim, lutei e sobrevivi durante 38 longos e atribulados dias. Pois, o que há de mais perigoso, mortífero  e assustador, não é o mar largo! São as áreas costeiras -  Eu sabia, que, afastado dos tornados e calmarias do grande Golfo da Guiné, não teria tantas dificuldades!  - Pois lá diz o velho ditado: "o que há de perigoso no mar é a terra" - E foi sempre o que eu mais receei: pois não podia prever onde chegava, em que ponto iria aportar,  a que horas da noite ou do dia me poderia aproximar de chão firme. A simples bússola não bastava


Sim, estou de novo nesta maravilhosa Ilha – Desembarquei, quase sobre o pôr do sol, o crepúsculo, nestas paragens é rápido e, quando percorria a distância que separa o aeroporto  da cidade,  era já noite. No entanto, mesmo assim, o bastante para me surpreender – E no bom sentido do termo.


BRAVOS AFOGADOS NO MAIS FUNDO DOS ABISMOS DAS ÁGUAS!... RESSUSCITAI! RESSUSCITAI E CANTAI A GLÓRIA DA VOSSA ESQUECIDA BRAVURA! QUE AS ALGAS E AS CINZAS VOS COBRIRAM, MAS NÃO VOS IGNORAM! - POIS NINGUÉM MAIS VOS CANTA OU CHORA!

COMOVIDO, AJOELHEI-ME E BEIJEI O CHÃO DA PISTA DO AEROPORTO DESTA MARAVILHOSA ILHA

Escusado será dizer que foi um reencontro emocionante, em que as lágrimas foram mais fortes de que eu.  Mas tinha mesmo que ser assim: não se pode contrariar o coração, quando ele cede aos momentos que mais o fizeram vibrar ou sofrer. E, na verdade, nesta ilha, nos 12 anos em que aqui vivi, o meu coração, os meus olhos, viveram as mais díspares emoções. Sobretudo nas atribuladas aventuras solitárias em frágeis pirogas. Aqui aprendi a arte de navegar com os pescadores santomenses, exímios  sua arte milenar. E daqui parti, por três vezes, sozinho, disposto a enfrentar as ondas do mar alto, rumo a toda a sorte de contingências e de perigos. Certo de que a temeridade é o caminho para a morte mas também pode ser o ponto de partida para o mais lindo sonho

Agora, quando um dia Deus me quiser chamar, Ele que me poupou naquele tão penoso como longo rosário de tormentos, já o pode fazer porque cumpri finalmente o sonho de me ajoelhar e beijar aquele chão firme que no mar não encontrava.




 E ALI VOLTEI COMO UM PEREGRINO QUE VIAJAR PELO MUNDO OU PELOS MARES A FORA PARA DEPOIS ENCERRAR UM CICLO E FECHAR OUTRO
Finais de Outubro de 2014  -  Passados 44 anos, ali me encontrava de novo na Baía de Anambô para mais um momento evocativo,  agora para homenagear os marinheiros de dois países irmãos, com profundos laços linguísticos e históricos – De Portugal e  de São Tomé e Príncipe  - Após ter deixado, há 39 anos, a Ilha de S. Tomé para uma travessia oceânica, que, devido a um violento tornado, acabaria por resultar num longo e dramático naufrágio de 38 dias, aqui voltei a maravilhar-me, coma a tranquilidade edílica de um  dos mais belos recantos da orla espumosa e verdejante deste verdadeiro paraíso equatorial.

OS FEITOS DOS MARINHEIROS PORTUGUESES É CASO SINGULAR NA HISTÓRIA UNIVERSAL - O DOMÍNIO COLONIAL QUE SE SEGUIU É OUTRA HISTÓRIA - ESTIVE ALI EM 21-12-1970 - PARA HOMENAGEAR OS BRAVOS QUE ME ANTECEDERAM INDO DE CANOA DESDE A CAPITAL A ANAMBÔ - E VOLTEI LÁ 44 ANOS DEPOIS - UM PEQUENO PAIS TER CRUZADO TODOS MARES EM FRÁGEIS CARAVELAS, É OBRA DA HUMANIDADE!

Estive neste mesmo local,  no dia 21 de Dezembro de 1970 e numa data em que se comemoravam os 500 anos sobre a referido desembarque por João de Santarém e Pero Escobar.  Uma coisa é a verdade histórica (e foi essa que eu procurei através de várias travessias em pirogas e que ainda hoje questiono), outra, as prepotências e o sectarismo da colonização, as omissões ou  a verdade que convinha ao Reino.. Todavia, quer os portugueses, nas frágeis caravelas, quer os primeiros povoadores, nas suas toscas pirogas, foram lobos do mar e heróis desbravadores à sua maneira.

Ontem, dia 24 de Outubro, voltei ali para expressar igualmente a minha singela homenagem com a imagem das duas bandeiras: de Portugal e de São Tomé e Príncipe. Sou um crítico por muitos aspetos da colonização mas não deixo de admirar a coragem daqueles antigos navegadores -


Naquela altura, quando ali naveguei de canoa, a remos e a vela, desde a Baía Ana de Chaves, contrariamente ao ambiente que se festejava na então Praça de Portugal, dir-se-ia que o meu gesto decorria como que em silêncio contemplativo e retrospetivo, apenas presenciado por um fotógrafo da Agência Geral do Ultramar, que ali se deslocou para fazer o registo para a posteridade. 

Porém, agora, testemunhado por dois ativos  e voluntariosos   jornalistas do Jornal Transparência - Diário de São Tomé e Príncipe (Adilson Castro e  João Soares) que tiveram a gentileza de me acompanhar e de se associar ao singelo espírito evocativo, registando-o, bem como ainda a presença de Mauel Gonçalves,  um português de visita turística a estas ilhas. Não se ouviram no local outras vozes,  senão a do testemunho solidário, estudioso e amigo destes cidadãos. Tudo o mais  - e sob uma atmosfera intensamente luminosa - era a voz  do vento e o marulhar das ondas rolando no gogos negros e reluzentes da praia que a escassos metros iam rebentar em montões de imaculada espuma, talvez como  à chegada dos primeiros homens que penetraram naquele recôncavo terrestre, ladeado por denso, idílico e luxuriante
manto

Contudo, verifiquei que os velhos coqueiros debruçados sobre o mar foram substituídos por castanheiros da índia e existe um muro a separar a margem, que não havia. Aparentemente  mais bem conservado do que estava naquela altura, onde passei uma noite horrível, com as costas sobre lascas e gogos de todos os tamanhos e feitios (pois ali não existe praia de areia), mesmo quase sobre a margem onde as ondas vinham bater, embrulhado pelas palmas dos coqueiros mas constantemente a ser espicaçado e mordido por enormes caranguejos do mar e da terra, que não me deram um minuto de descanso

Não me deitei no mato, receando as cobras negras. E, ao alvorecer, perante aquele vetusto e simbólico padrão,  rodeado de palmas, tão belas, sonoras e verdejantes, não me importei de  homenagear os marinheiros de quinhentos, com a bandeira portuguesa.  .

De facto, há que realçar a coragem dos marinheiros lusitanos, que se fizeram ao mar apenas munidos de um mero astrolábio - Não dispunham de sextante, nem de cronómetro ou sequer de almanaque náutico que lhes possibilitasse algum rigor da navegação - Não iam completamente às cegas, porém,  embora dispondo de alguma informação, iam à aventura! - Indubitavelmente, foram grandes navegadores aventureiros!

Sou português  e não descuro os feitos marítimos dos meus antepassados. Mas também não quero fazer  como a avestruz e meter a cabeça debaixo da areia. Nem fazer dos compêndios coloniais a bíblia sagrada.  Sem deixar de admirar a coragem dos antigos navegadores,  busco outras interpretações


São Tomé 39 anos depois –  – Ainda não perdi a experiência –Teste na Baia Rosema, largara da Cidade das Neves, donde parti para a tentativa de uma travessia de S. Tomé ao Brasil, que acabaria numa longa e penosa deriva de 38 dias -  Eis como tudo começou: 

A princípio fui para ali trabalhar numa roça mas comecei por não me adaptar, lá muito bem. O administrador da roça queria que eu tratasse os trabalhadores  negros por tu. Dizia ele que era "a maneira de guardarem respeito ao branco" e de eles trabalharem". Evidentemente que não me adaptei... E o dinheiro que me pagavam ao fim do mês, comparado com as promessas que me fizeram,  depois de feitos os descontos para alimentação e pagamento da viagem, não me ficava quase nada.  Claro que não fui para São Tomé com o objetivo de fazer fortuna, mas esperava que ao menos me atribuíssem uma compensação humanamente digna. E então os pobres  trabalhadores ?!... Autênticos escravos!..  

Por força dessa minha inadaptação, o meu passa-tempo predileto, era então o mar...Praticamente, desde que ali desembarquei, vi nele uma espécie de refúgio. Qualquer coisa onde me sentia livre de todos os aborrecimentos. Um horizonte sempre aberto e imenso, que me abria as portas a uma incontível ânsia de ir mais além na procura de uma felicidade imaginária  que naquele meio ambiente eu não encontrava.
 
Por isso, sempre que podia, frequentava as belas praias de São Tomé. Comecei por manter estreitos contactos com os pescadores, homens corajosos e simpáticos. Aprendi a equilibrar-me nas suas canoas, começando primeiro por dar pequenos passeios de praia em praia., até que por fim veio a paixão - E, a par disso, também outras interrogações

só canoa de gente de feitiço" é que o tornado a levava ao Príncipe ou ao Gabão; "outra, vem gandú (tubarão), vira a canoa e come-lhe a perna" . Achava que era uma superstição, sem fundamento e  havia que desfazer esse fantasma: concluía que, se o tornado arrastava para lá a canoa, involuntariamente, também lá se podia ir por vontade própria. Face a essas lucubrações, comecei a pensar que, um dia, eu devia fazer-lhe essa demonstração - A par disso, questionava-me também sobre o seu passado longínquo: se não teria sido através das canoas que os seus ancestrais não teriam vindo do continente africano.

Foi, pois, graças a esses contactos  com os pescadores santomenses, quando trabalhei na Roça Ribeira Peixe,  que  iniciei a minha aprendizagem sobre a técnica da arte de navegar nas suas frágeis pirogas e que o espírito de aventura marítimo, se me foi desenvolvendo. E, alguns anos depois, simultaneamente,   o desafio da escalada ao Pico Cão Grande, que ali se ergue, numa zona onde existem várias aldeias dos hábeis pescadores "angolares".-  Na verdade, não é pois  a riqueza material que mais me interessa. Mas também não é o desejo de me tornar famoso, a razão pela qual tenho arriscado a vida. Sim, porque,  excetuando   esta última viagem marítima, tenho partido clandestinamente, sem dar conhecimento para  onde vou e o que vou fazer. Sem o apoio, aprovação ou a reprovação de quem quer que seja. 






Sabia dos muitos perigos que me podiam esperar - não os desdenhava! - mas entregava-me ao oceano de coração aberto, possuído de uma enorme paixão, em demanda dos grandes espaços e de uma infinita liberdade, tal qual as aves migradoras! Olhava-o como se fosse já meu familiar e meu amigo. Embora sabendo que a sua face, quando acometida de irascível crueldade, havia sido palco de muitas tragédias, havia engolido muitos barcos e tragado muitas vidas. Contudo, eu não ia ali apenas movido pelo prazer da aventura: só por isso, não sei se compensaria... Mas orientado por razões mais fortes

 O POVOAMENTO DAS ILHAS DE SÃO TOMÉ E PRINCIPE NÃPO COMEÇOU APENAS HÁ CINCO SÉCULOS

O mundo não é de ontem nem de hoje. E nem só de há cinco séculos que o homem se arrojou nas grandes viagens de navegação. Mesmo que o povoamento das ilhas do Golfo da Guiné, não fosse feito através de pirogas, já os navegadores fenícios, cartagineses e árabes, há muito haviam demandado aqueles mares, pelo que não deixariam de procurar extrair alguns benefícios das ilhas e deixar lá algumas pessoas. 

Porém, muito antes mesmo dessas viagens, julgo que já os africanos eram os senhores dos mares, costa africana e ilhas - Atlântico, Mediterrâneo e no Índico - experientes artesãos e audaciosos mestres na arte de navegar nas suas canoas Formaram verdadeiras civilizações, que foram retalhadas pela expansão colonial. .A supremacia do homem branco sobre outras raças, não passa de uma ideia absurda, de um preconceito...  

 A existência de antigos mapas não deixa margem para dúvidas.

Os portugueses foram grandes navegadores - E talvez dos maiores  navegadores daqueles tempos. Um país, tão pequeno e com tão fracos recursos económicos, ter feito o que fez, foi realmente uma verdadeira odisseia. Há, pois, que enaltecer a coragem daqueles bravos pilotos e marinheiros.

Todavia, surge o aspeto negativo: o do consequente domínio colonial, através das armas, do avanço bélico, sobre povos pacíficos, tal como o fizerem  outros europeus:  aproveitando-se de prévios conhecimentos, seguindo rotas já conhecidas, orientaram as suas navegações, não propriamente para estabelecerem laços culturais ou de um pacífico intercâmbio comercial,  mas para imporem a sua vontade, o domínio e a  exploração do comércio e das riquezas naturais, com mão-de-obra escrava.

De facto, a grande lição de que os portugueses se podem   orgulhar é a de que, embora sendo um pequeno país, cruzou mares e expandiu-se para os vários cantos do mundo. A subjugação de povos e o domínio colonial sobre os mesmos, não será, com certeza, a nota mais emblemática a recordar

NÃO CHEGUEI ATRAVESSAR O OCEANO ATLÂNTICO, TAL COMO ESPERAVA MAS CONTINUO ACREDITAR QUE SÃO POSSÍVEIS LONGAS TRAVESSIAS

MESMO ASSIM:

Comprovei  que as canoas vão ao cabo do mundo; .  naveguei e fui arrastado por centenas de milhas e estabeleci ligações de uma delas ao continente  - São Tomé-Nigéria.

e difícil navegar a bordo destas frágeis embarcações e eu não fiquei no mar, talvez o deva a um feliz acaso  -Mas não estou arrependido, pois safei-me por três vezes.

Os pescadores (nas Ilhas) aos quais se inculcou o fantasma de que gente só de feitiço é que o tornado não volta canoa  ou que o “Gandú não engole perna de gente”, poderão estar descansados – Se a tempestade algum dia os surpreender e os arrastar fora do alcance da sua praia e da sua querida ilha, não se importem, deixem-se levar pelo seu ímpeto.
Não cruzem os braços e se deem por vencidos:
Remem ou velejem, sempre que puderem ou então deixem que a canoa vogue à flor das ondas, que o mar não quer nada que lhe seja estranho e a algum ponto da costa, hão de ir parar

BASTA QUE NÃO PERCAM A CALMA
E SE ALIMENTEM COM A PESCA: A CARNE DO PEIXE MATA A FOME E O SANGUE, QUE NÃO É SALGADO, A SEDE - E A ÁGUA DA CHUVA, COM UM POUCO DE ÁGUA DO MAR, É AINDA MELHOR.  

A CANOA SÓ VAI AO FUNDO SE ESTIVER MUITO CHEIA DE PESCADO OU NÃO FOR DE ÓCÁ. O MAR BRINCA COM O SEU CASCO E O SEU CASCO DESLIZA E BRINCA COM O MAR.

Também as canoas africanas, à semelhança das grandes migrações no Pacífico, se fizeram ao mar alto: Fizeram extensas travessias no Golfo da Guiné, tal como os primitivos navegadores da Polinésia, considerados os "navegadores supremos da história":  que, velejando  em linha, cada uma à distancia da visão da canoa  que lhe seguia atrás, até qualquer delas divisar uma ilha habitável, atravessaram vastas extensões daquele imenso oceano, colonizaram as mais remotas ilhas, algumas a milhares de milhas, umas das outras, não dispondo sequer de uma bússola ou de qualquer outro instrumento náutico

AS CANOAS DE  SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE SÃO MAIS PEQUENAS QUE AS DO LITORAL AFRICANO -  As ilhas são montanhosas e as roças também não permitiam o abate de  grandes árvores - Mas a ligação dos primeiros povos foi  realizada a partir da costa africana para as ilhas à vela e a remos. Actualmente, são frequentes as viagens da Nigéria para São Tomé, com auxílio de motores fora de borda- O regresso é feito à veja e a motor. 

LEVADOS PELO ESPÍRITO DE AVENTURA, PELO INSTINTO MIGRADOR DAS AVES  - que partilhavam a mesma alegria e abundância da Mãe-Natureza, pelo acaso ou por outras razões que a razão desconhece e só Neptuno poderia interpretar, sim, ao Mar se fizeram nas suas pirogas e por lá se fixaram nas suas majestosas Ilhas a que aportaram. 

ALGUNS VOLTARAM ÀS TERRAS DE ORIGEM PARA TRAZEREM AS MULHERES E OS FILHOS.

E a notícia das suas maravilhas, depressa se espalharia... E, assim, pouco a pouco se foi constituindo um Povo, que se aventurou pelo oceano a fora, atraído por ilhas que lhe terão parecido os  Jardins do Éden  ou  os Paraísos  mais belos que hão conhecido
O que ignoravam é que a paz, a tranquilidade secular, endémica,  haveria de vir a ser quebrada, abruptamente, com a chegada  de homens e modos de ser completamente estranhos e adversos  à sua cultura e ao seu pacífico modo de vida. 






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