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terça-feira, 8 de junho de 2021

São Tomé, a ilha afunda-se: Vila de Santa Catarina já tem muro de proteção contra ondas gigantes – Mas de pouco valerá a continuar a desflorestação selvagem a sul e as queimadas a noroeste na zona da savana – Até os guardiões do Ob, já temem pela extinção do “pau 3” do famoso afrodisíaco vegetal


JORGE TRABULO MARQUES – Jornalista e investigador - ALETARÇÕES CLIMÁTICAS – Um fenómeno irreversível se não houver vontade dos governantes - Períodos de secas prolongados, alternados com períodos gélidos e fortíssimas tempestades 

Praia S. Jerónimo - Março 2016 

PLANETA AZUL AMEAÇADO  - Comparem-se as duas imagens e vejam-se as alterações a nível de subida das águas, - Esta foto - de minha autoria - registada em Março de 2016  -  vista geral da Praia S. Jerónimo, já com o Hotel Pestana e a Fortaleza menos exposta  

 - A segunda imagem é do antigo militar, António Vaz  - 1967-69 

 Retrata  a mesma praia mas com uma maior língua de areia, sem necessidade de quebra-mar - Na altura, era a praia preferida da comunidade portuguesa - Hoje raros são os banhistas que a frequentam: as ondas já avançam até ao muro da avenida e a praia tornou-se demasiado perigosa

Nível do mar subiu mais nos últimos cem anos que nos três milênios anteriores

O nível dos oceanos subiu mais rapidamente ao longo do século XX do que nos três últimos milênios, devido às alterações climáticas, indica um estudo publicado na segunda-feira. - Os climatólogos estimaram que sem o aumento da temperatura do planeta observada desde o início da era industrial, a subida dos oceanos teria correspondido a menos metade no século XX.


CONNSEQUÊNCIAS INEVITÁVEIS 

Em 2014, a população da Vila pesqueira de Santa Catarina, localizada na parte norte da ilha de São Tomé, foi confrontada com um fenómeno estranho. Ondas gigantes invadiram a vila. Várias casas ficaram destruídas : «Nunca vimos coisa igual. Ondas com cinco a seis metros de altura. Apanhou-nos desprevenidos, engoliram os nossos porcos, cães, galinhas, destruíram as nossas casas e o produto do nosso trabalho», disse a agência Lusa, José Ribeiro, um dos moradores no local» - Lusa 

Mas o que ali sucedeu, no dia 31 de Maio daquele ano, poderá repetir-se em qualquer altura, pese o facto de agora ser noticiado de já ter sido concluído o muro de proteção à humilde vila piscatória, financiado pelo Banco Mundial e pelo Fundo Global para o Ambiente, iniciado em Agosto do ano 2020 – Refere o Téla Nón



FEÓMENO CLIMÁTICO PREOCUPANTE
– No desequilibro no ecossistema   - Guardiões d´Obô pedem ajuda para salvar Pau3 – O famoso afrodisíaco usado na medicina  natural  «Pau 3, é uma planta endémica de São Tomé e Príncipe. As folhas e as cascas são muito utilizadas na medicina tradicional. Pau 3 é afrodisíaco».  Segundo Camuenha, o Pau 3, « está em vias de extinção». A procura desenfreada das cascas para produção de uma bebida alcoólica designada exactamente de “Pau 3”, está a ameaçar esta espécie de planta, assegurou o guardião d´Óbô. – Diz  Abel Veiga no Téla Nõn https://www.telanon.info/destaques/2021/06/04/34441/guardioes-dobo-pedem-ajuda-para-salvar-pau3/

Vedor em São Tomé   Onde a água já escasseia nas torneiras  . Poderá dar ajuda a localizar veios , nascentes e até canos de água esquecidos- Num país onde a queda pluviométrica Já foi abundante e agora começa a escassear nas torneiras - Fiz o teste em S. Tomé, na Trindade, na cidade e até na montanha, na Roça Saudade, junto do Eng Henrique Pinto da Costa, sim, para detetar a presença de veios de água – Não fiquei desiludido nas experiências. mas sei que a situação não é animadora – Mas o  vedor pode dar ajuda a localizar veios , nascentes e até canos de água esquecidos-


Fossas provocadas pela erosão da subida do nível do mar

É um facto, incontornável, que, o tempo em que a água nunca faltava nas torneiras e nos fontanários, já lá vai – De facto, é grande o número de rios, ribeiras e águas, que se encontram em ambas as ilhas – Em S. Tomé, há também muitas fontes vivas, e pelo meio da capital, corre o chamado Rio Água Grande, por sinal o de menor extensão, que nasce na Roça Saudade e, cujas águas, hoje muito poluídas e lodosas, mas que, nos primórdios da colonização, chegaram a ser consideradas águas santas, recomendadas aos doentes

Atente-se nestas noticias: Empresa de Água e Electricidade, justifica o racionamento no fornecimento de água à população com a falta de chuva no arquipélago.

Em zonas circundantes a própria capital é ainda frequente ouvir-se que há falta de um verdadeiro serviço de abastecimento de água potável. No entanto, são vários os projectos já tornados públicos(muitos ainda no papel) pelas autoridades que visam o aumento e o melhoramento da rede de abastecimento de água nas ilhas”..


NO DIA EM QUE VI CERCADO DE CHAMAS  E INUNDADO PELA GRITARIA DE BANDOS DE FALCÕES    - Que procuram insetos fugitivos   Era Gravana, o período mais seco das Ilhas - E, tudo, afinal, em grande parte por via das alterações  climáticas por via de uma inesperada queimada, quando seguia na viatura do Coronal Victor Monteiro, acompanhado do jornalista Adilson Castro Adí, a caminho de Neves, ali próximo da praia das Conchas.


Não tivemos outro remédio senão, depois de uma curta paragem, sebão de irromper pela estrada adiante, por entre espessa fumaca misturada de enormes e abrasivas chamas e de bandos de falcões que chegaram a partir o para-brisas de uma viatura que ia à nossa frente, visto já não podermos recuar 

- Graças à coragem, à perícia e à calma e experiência militar do bom amigo que nos conduzia, que, mesmo, com as chamas, quase junto dele, na berma da estrada, nem por isso, perdeu a serenidade. Confesso, eu que tenho vivido tantas e inesperadas situações, tanto no mar como em terra, é que nunca me vi ante um cenário dantesco, como este, mais perto de ser esturrado de que dali sair vivo


As alterações climáticas, são uma grave ameaça a nível mundial e as primeiras consequências, com  o descongelamentos dos gelos nos pólios,  a par do efeito de estufa a nível global, nomeadamente na áfrica austral, com secas prolongadas, que alternam  com violentas tempestades, colocando em risco  a biodiversidade e  as condições vida das populações, é, obviamente,  a subida dos oceanos,  começando por afetar as zonas urbanas litorais e as suas mais férteis planícies  e deixando não só milhões de pessoas em risco de fome, como também levando à morte de milhares de animais de espécies em vias de extinção.

Em Outubro, de 2014, ao aproximar-me do aeroporto de S. Tomé,  pouco de ali desembarcar, a panorâmica que eu esperava de um verde tenro e luxuriante, no que deparei, no litoral do Ilhéu das Cabras a Fernão Dias, mostrava-se-me de uma mancha seca e torrada, com alguns trechos a fazerem-me lembrar as manchas negras e ardidas de Angola – Diz-se que é por  causa do mercado do carvão . Mas não só: fazem-se derrubadas e queimadas, de qualquer jeito, sem a menor preocupação

Sabia de notícias, que davam conta de que “O manto verde que cobria toda a zona sul de São Tomé, incluindo vastas áreas do Parque Arqueológico do Obõ, santuário de pássaros e árvores endémicas, estava  a desaparecer  em consequência da desmatação desregulada para a introdução de novas espécies de palmares que consomem demasiada água e afetam a vegetação endémica e arbustiva

SUBIDA DO MAR - Algumas das praias poderão mesmo desaparecer até ao fim do século – O aquecimento global, atividade vulcânica dos Camarões, exploração dos carbonetos, as principais causas de uma catástrofe à vista e de imprevisíveis consequências.  Mas, a desflorestação em S. Tomé, além de propiciar alterações climatéricas na Ilha, também pode contribuir para o agravar destes riscos.  

Vi que existem graves ameaças ambientais, tanto à beira mar como no interior.  Por exemplo, onde está o recife (ilha), que se situava frente à praia lagarto, que  há 40 anos ficava completamente descoberto? - Sim, no qual os pescadores iam buscar o isco  para a sua pescaria e os veraneantes  se estendiam ao sol. Não só não descobri os menores sinais desse recife espalmado, como, ainda bem pior: vi uma baía, quase  sem margem, com a maré cheia a invadir a estrada e, nalgumas áreas,  com mais cascalho de que areal.  



NÃO SE PODE FICAR INDIFERENTE  ESTA DESFLORESTAÇÃO  DESMEDIDA - Justiça trava devastação da zona sul de S.Tomé -  Mas será que travou mesmo?

Já conhecia a desflorestação através de vídeos e de fotografias - Porém, longe de imaginar que a sua dimensão  fosse tão  extensiva - Pelo que me foi dado observar,  a área devastada, ao sul da ilha de S. Tomé,  pareceu-me duplicar ou mesmo triplicar os tais 4000 hectares que  foram concessionados  pelo Estado santomense a um grupo privado 


 
Orlas costeiras comidas pelo mar, colocando em risco habitações, caminhos ou estradas. Então, na estrada das Neves, depois da Lagoa Azul, por mais paredões que ali se façam – e vimos que havia importantes obras em curso – não tarda, que o troço existente, acabe  por ficar submerso e de se tornar intransitável. E se torne necessário  romper as veredas e fazê-la noutras curvas de nível, mais alto. O pior é a insegurança para  as pequenas comunidades  piscatórias, que vivem as suas vidas, intimamente com o mar,  junto de encostas, tão abrutas, e ao mesmo tempo já tão ameaçadas pelo avanço das águas,  as quais, não tendo  outra alternativa onde se alojar, só restará a possibilidade de virem a  transformar-se em aves.  Pois, mas é gente que vive com um pé em terra e outro no mar – E, este, além de ser adverso, lá fora, nas fainas do seu dia, agora, ainda por cima, lhes ameaça o próprio lar, a humilde cubata de madeira.  Antevê-se, pois,  um futuro algo incerto e inseguro. 

A caminho do sul, ao chegar-se à Ribeira Afonso, até há  porcos que, na fase da maré-vazia,  tranquilamente invadem a margem do escasso areal negro que resta para se  refastelarem de marisco, contudo, um observador mais atento, nota que, uns metros mais ao nível do arruamento,  facilmente se apercebe que já  nem as obras de proteção,  igualmente ali levadas a cabo,  poderão  assegurar que as canoas, ali empoleiradas, deixem de ser  arrastadas por um temporal mais agressivo. 



AS ILHAS SÃO AS PRIMEIRAS  PARCELAS DA TERRA A SOFREREM OS PIORES IMPACTOS


Dizem especialistas que “os moradores de regiões costeiras estão ameaçados em todo o planeta – seja em Nova Orleans (EUA), em Roterdã (Holanda) ou em Daca, a capital de Blangadesh, onde a cada ano as águas obrigam 100 mil pessoas a se mudarem”

Mas é  nas ilhas que o  aumento do nível das águas, mais se faz sentir: quer nas ilhas de origem vulcânica, por natureza mais elevadas, quer  nas de formação coralinea  - Muitas destas, já se toraram praticamente inabitáveis.

“A causa é o aquecimento global e o consequente aumento do nível do mar. Desde 1993, o avanço foi de 40 centímetros na região das Ilhas Carteret, cuja altitude mal chega a um metro. Estudos do Instituto de Pesquisa de Impactos Climáticos, de Leipzig, na Alemanha, prevêem um aumento do nível do mar, em termos globais, de um a dois metros até o fim deste século. Ilhas correm risco de afundar - Deutsche Welle


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