JORGE TRABULO MARQUES - Jornalista e Investigador
Foi João de Santarém, em conjunto com Pêro Escobar e Fernão do Pó, que descobriram as quatro ilhas, que se erguem no Golfo da Guiné: - A Ilha de São Tomé foi descoberta em 21 de dezembro de 1470. A Ilha do Príncipe, em 17 de janeiro de 1471.
A Ilha de Ano Bom, a 565 km a
sudoeste da parte continental da Guiné Equatorial e a cerca de 200 km a sul de
São Tomé, foi descoberta por volta de 1475, no 1º de janeiro, de dia
de ano-bom - A Ilha de Fernando do Pó, atual Bioko, foi descoberta
pelo navegador do mesmo nome; admite-se que tenha sido em 1472 - Estas duas
Ilhas, foram possessão portuguesa entre 1474 e 1778, ano em passaram
para a Coroa Espanhola, pelo Tratado de El Pardo em troca de
terras espanholas na América do Sul, que seriam posteriormente anexadas ao Brasil
Mas não foi no sítio onde se encontra o Padrão dos Descobrimentos, em Anabô, onde é suposto, anos mais tarde, ter começado a colonização e a exploração do açúcar, mas na Lagoa Azul, um pouco mais a sul daquela área, na pequena enseada de águas profundas e abrigada dos ventos
Estive no local do Padrão dos Descobrimentos, em Anabô, há 52 anos a erguer a bandeira Portuguesa - Não tanto pela colonização posterior mas orgulho-me dos feitos dos bravos marinheiros portugueses, que, em frágeis caravelas, partindo de um pequeno país, que não ultrapassava um milhão de habitantes, demandaram por mares desconhecidos, deram a conhecer ao mundo novas terras, navegaram por todos os oceanos, mais deles perdendo a vida em dramáticos naufrágios
Admiro a coragem dos marinheiros portugueses mas questiono a colonização e
os seus métodos - Há precisamente 51 anos, nas comemorações do V Centenário ,
fiz a ligação de canoa da capital da Ilha à praia onde se diz terem chegado as
primeiras caravelas, desfraldando a bandeira portuguesa
O facto mereceu relevo na imprensa local, o mesmo não sucedeu quando, um mês depois parti de canoa clandestinamente de S. Tomé ao Príncipe, tendo sido espancado e preso pela PIDE -
Em Novembro de 2014, voltei lá, mas agora com as duas bandeiras: a de S. Tomé e Príncipe e a de Portugal. Sim, depois de ter feito a travessia de canoa de S. Tomé à Nigéria, em 13 dias, e tentado a travessia oceânica, que, embora não o tendo conseguido, acabei por viver a experiência de náufrago, ao longo de 38 dias, após o que acostei na Ilha de Bioko.longo de 38 dias, após o que acostei na Ilha de Bioko.
Tal como é reconhecido: “quando os primeiros navegadores portugueses chegavam a uma terra até então desconhecida costumavam gravar nalguma grande árvore ou pedra «este motto do Infante, Talent de Bien Faire» diz o historiador Armando Cortesão
Ermelinda de Jesus Lima,Coronel Vitor Monteiro e Alexandre Sousa |
Foi justamente no topo da colina, desta baía, que, em Agosto de 2015, pude descobrir, com o São-Tomense, Cosme Pires dos Santos, antigo companheiro nas escaladas ao Pico Cão Grande, quando ali ambos procurávamos eventuais vestígios históricos e arqueológicos, anteriores à colonização, sim, uma pedra gravada com a divisa do Infante D. Henrique, que, infelizmente, quando ali voltei em 2019, já estava desfeita. Tendo sido testemunhada por várias pessoas amigas e entidades - Nomeadamente, Evaristo Carvalho, meu antigo camarada na Brigada de Fomento-Agro-Pecuário, que, uns meses depois, viria a ser eleito Presidente da República Democrática de STP
O Diretor Geral da Cultura, Nelson Campos, acompanhou -me ao local para conhecer o achado e proceder às diligências, que forem necessárias, para o preservar e estudar mais detalhadamente - Infelizmente, além de não se terem feito essas diligências, acabou por ser destruída
Com o Cosme Pires dos Santos |
O “talant de bien faire” ficou gravado no túmulo do Infante, no Mosteiro da Batalha, e popularizou-se, sobretudo, quando em 1839, Ferdinand Denis encontrou na Biblioteca Nacional de Paris um códice encabeçado pelo título Cronica dos feitos notavees que se passarom na conquista de Guinee por mandado do Iffante dom Henrique [Crónica da Guiné]. No meio dos respetivos fólios, encontrava-se uma imagem dobrada representando um homem de chapelão, que se identifica habitualmente com o Infante D. Henrique, e, na parte inferior da folha, pode ler-se a referida expressão “talant de bië faire” (com o sinal de nasalação do “e” que hoje se substitui pela inclusão do “m” final). Divisa - Talant de Bien Faire - Escola Naval - Marinha
A palavra francesa “talent”, que se traduz em português por talento, tem origem numa expressão grega (tálantom) que indica “prato da balança”, peso ou valor. Assumiu a versão em latim de talentum, com sentido semelhante, e passou para o português para designar valores ou méritos intrínsecos de alguém. “Talant”, por outro lado, é uma palavra que existiu no dialeto provençal com um sentido de “desejo” ou “vontade”. Entrou na língua francesa e confundiu-se durante alguns séculos com “talent” (usado com duplo sentido), mas perdeu o significado provençal a partir do século XVII e desapareceu do uso corrente
É dito pelos historiadores, que, ambas as ilhas de São Tomé e Príncipe, esta descoberta no mês seguinte, em 17 de Janeiro de 1471, e que distam cerca de 140 km uma da outra e cerca de 250 e 225 km da costa noroeste do Gabão, respetivamente, se encontravam desabitadas até à sua descoberta pelos João de Santarém e Pedro Escobar Gradualmente colonizadas pelos portugueses ao longo do século XVI
A colonização teve início em finais do mesmo século conduzida pelo capitão
João de Paiva que introduziu engenhos de açúcar. O povoamento mais acentuado
foi feito mais tarde por Álvaro Caminha, com o envio de cristãos-novos resultantes
da inquisição em Portugal. A eles foram-se adicionando contingentes de escravos
vindos das costas africanas para o cultivo da cana-de-açúcar.
A religião católica esteve presente desde o início e, em 1534, o Papa de então, Paulo III, mandou constituir uma diocese, de rito latino, para o arquipélago.
Em 1567, São Tomé foi saqueada por corsários franceses. No final do século 16, a sublevação de escravos, liderados por Amador, provocando abandonasse a ilha e se dirigissem para o Brasil.
Em 1599, os holandeses atacaram São Tomé e Ano Bom. Em 1641, os holandeses ocuparam São Tomé, mas portugueses recuperaram a Ilha em 1644. Em 1709, corsários franceses ocuparam a Cidade de Sã
NAQUELA ÉPOCA A PALAVRA DESCOBRIR, SIGNFICAVA EXPLORAR O QUE JÁ ERA CONHECIDO
Não há certezas quanto à data exata da descoberta das ilhas - Diz Luís de Albuquerque: Sabe-se por exemplo que João de Santarém, Pêro Escobar, Fernão do Pó, Lopo Gonçalves e Rui Sequeira estiveram ao serviço de Fernão Gomes. Mas não há registos que nos permitam dizer com segurança qual deles, em que ano, descobriu o quê." - Admite-se, no entanto, que, a Ilha de S. Tomé, teria sido descoberta em 21 de Dezembro de 1471, e, um ano depois, em 17 de Janeiro, a Ilha do Príncipe – Por outro lado, também já, o Almirante Gago Coutinho, em “A Náutica dos Descobrimentos, aludia à palavra “descobrir”, acerca dos “factos náuticos que procederam à Viagem de ´Álvares Cabral, ao Brasil, citando o livro “Esmeraldo”, referindo que naquela época, a palavra descobrir, tem o sentido de explorar uma costa que já fora achada antes de 1948”, de “uma exploração, confiada a Duarte Pacheco.
De um modo geral, “todos os historiadores que se ocupam do «descobrimento das ilhas de S. Tomé e Príncipe» concluem que não se sabe ao certo quem foram os descobridores nem a data da descoberta; parece que ninguém se sente à vontade ao tratar do assunto - o que quase sempre acontece com o descobrimento das ilhas da parte oriental do Atlântico. – Diz Armando Cortesão em “Descobrimento e Cartografia das Ilhas de S. Tomé e Príncipe
“Convém notar”- refere o mesmo investigador - “ que desde já e sempre que se aborde tão delicado e controverso assunto, qual o significado a dar à palavra descobrimento, quando se trata de novas terras e em especial no século XV. Já vários historiadores se têm referido ao problema e dele me ocupo mais de espaço no vol. III da minha História da Cartografia Portuguesa, que estou a escrever e cujo vol. II (…)”
“A meu ver as palavras descobrimento e suas derivadas de princípio significavam que a terra respectiva foi reconhecida, provavelmente redescoberta, tornando-se conhecida de todo o Mundo, estabelecendo-se entre ela e a Europa relações normais, isto é, viagens frequentes, povoamento, colonização, relações comerciais, etc. É aquilo a que se pode chamar descobrimento oficial, como sugeriu o saudoso Com. Fontoura da Costa.
De tudo ou quase tudo o que foi descoberto, isto é, descoberto oficialmente, se pode dizer que foi redescoberto. João de Barros, cronista sério e quase sempre fidedigno, diz «terem os nossos mais terras descobertas no tempo de D. Afonso V do que achamos na escritura de Gomes Eanes de Zurara»,
“O descobrimento das ilhas do Golfo da Guiné está mal referenciado na documentação antiga e tem-se sugerido que ocorreu no contexto da exploração realizada por João de Santarém e Pêro de Escobar no golfo da Guiné, durante a qual se destacou a já referida descoberta da costa da Mina em Janeiro de 1471. Perante as dificuldades em ajustar a cronologia do descobrimento das três ilhas aqui em causa afigura-se-nos mais credível a aceitação da hipótese de os descobrimentos das ilhas de São Tomé e Príncipe terem ocorrido respectivamente em 21 de l Dezembro de 1478 e 17 de Janeiro de 1479, Tendo esta última ilha sido denominada inicialmente por a Santo António (Abade) ou Santo Antão, dia deste santo, passando depois a ser designada por «Príncipe», visto ter sido descoberta sob a égide do então príncipe D. João e futuro rei D. João II (desde 1481), pois desde Maio de 1474 era ele quem estava encarregado dos Descobrimentos. A fundamentar a verosimilhança da proposta destas datas, que foi avançada por Viriato Campos, está a circunstância de tais ilhas terem sido por certo aquelas que são mencionadas no Tratado de Alcáçovas assinado entre Portugal e Castela em 4 de Setembro de 1479. Neste documento tais ilhas estarão referidas, sem menção dos seus nomes"
É referido, por Gerhard Seibert, antropólogo, investigador e docente universitário, autor do livro Camaradas, Clientes e Compadres, num intressante estudo divulgado em “Colonialismo em São Tomé e Príncipe: hierarquização, classificação
e segregação da vida social”, que, “durante o
colonialismo em São Tomé e Príncipe, a hegemonia portuguesa não foi total, mas
às vezes contestada ou frágil, sobretudo entre os dois períodos em que a
presença portuguesa foi fraca. Durante o colonialismo moderno, a hierarquia
social era mais consolidada, enquanto havia mais segregação entre as várias
categorias. Em comparação, por razões históricas e econômicas, a sociedade
crioula cabo-verdiana foi sempre mais homogênea do que a de São Tomé e
Príncipe, sobretudo depois do século XIX. Nesse século, o restabelecimento da
economia de plantação nas ilhas no Golfo da Guiné resultou também em mudanças
demográficas consideráveis devido à imigração massiva de contratados de Angola,
Cabo Verde e Moçambique, que durante muitas décadas ultrapassaram a população
nativa em número
.O povoamento efetivo de São Tomé começou em 1493. Inicialmente o arquipélago foi povoado por duas categorias principais, colonos brancos e escravos africanos, que primeiro foram trazidos do vizinho reino do Benim, no delta do Rio Niger, e desde o início do século XVI também dos reinos do Congo e do Ndongo (Angola). Os escravos do Benim falavam edo, pertencente às línguas Benue-Congo ocidental, ao passo que os do Congo e de Angola falavam línguas banto (Benue-Congo oriental), kikongo e kimbundu, respetivamente. Essa situação linguística reete-se na gênese dos três crioulos das ilhas.1 A mestiçagem genética deu origem a uma terceira categoria, os mestiços. A alforria de escravos resultou na emergência de uma quarta categoria de negros livres, os chamados forros. Ao longo do tempo, outros escravos alforriados foram sucessivamente integrados na categoria dos forros, os crioulos maioritários de São Tomé
.Os moradores de São Tomé envolveram-se no tráfico de escravos e estabeleceram a primeira economia de plantação nos trópicos, baseada na monocultura de cana-de-açúcar e no trabalho escravo. A fuga dos escravos das fazendas de açúcar foi um fenômeno recorrente durante a primeira colonização de São Tomé. A topografia montanhosa da ilha e uma densa foresta tropical no seu interior facilitaram o estabelecimento de uma comunidade de quilombolas no sul da ilha. O isolamento relativo dessa comunidade, que viveu principalmente da pesca, da colônia no norte da ilha durante mais de dois séculos resultou na existência de um grupo minoritário distinto em termos culturais e linguísticos, os angolares.
Uma segunda colonização do arquipélago, possibilitada pela introdução do café e do cacau do Brasil, começou na segunda metade do século XIX, quando a economia de plantação foi reestabelecida. Essa recolonização foi marcada por um maior inuxo de colonos brancos, uma marginalização dos forros e, devido à abolição da escravatura, em 1875, pela introdução de uma nova categoria, os erviçais que vieram de Angola, Cabo Verde e Moçambique. De 1926 a 1961, os contratados de Angola e Moçambique foram classicados legalmente como indígenas, enquanto os de Cabo Verde e os nativos de São Tomé e Príncipe nunca foram submetidos a esse estatuto discriminatório.2 Além disso, os contratados africanos viveram espacialmente separados da população crioula nas plantações e foram excluídos da participação na sua vida social https://www.researchgate.net/publication/327596529_Colonialismo_em_Sao_Tome_e_Principe_hierarquizacao_classificacao_e_segregacao_da_vida_social
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