JORGE TRABULO MARQUES - JORNALISTA
O
antigo Presidente São-tomense, Manuel Pinto da Costa, designado, em
Abril 2021 para integrar e presidir a comissão de elaboração da obra literária
que relatará a história de luta anticolonial dos Países Africanos de Língua
Oficial Portuguesa, PALOP, que diz ter aceite como “um desafio imenso e mobilizador que tem pela frente”,
sim, ao patriota santomense, cofundador do MLSTP, que presidiu aos destinos do
seu País por duas vezes, nomeadamente, de 1975 a 1991 e de 2011 a 2016, pelos vistos,
não lhe vão faltar argumentos para levar a cabo a hercúlea e significativa tarefa,
pois até já começou a dar bem fundamentados
sinais, em artigos de opinião, de que há matéria, mais de que suficiente, para vir a subscrever obra de vulto e de peso.
Para já, fazendo-o com o intuito de “ provocar
unicamente outras reflexões sobre um assunto” que lhe “ parece importante para a vida futura de um país como
STP. Considerando, que, “para melhor servir a
sociedade as elites políticas de STP têm que aprender a conhecer e amar o seu
país e gostar das suas gentes.
Têm que se esforçar para se libertar das
sequelas herdadas do passado colonial, dos seus complexos recalcados. Não
envergar o “pronto á vestir” sem primeiro conhecer as medidas exactas do seu
corpo, é esta a palavra de ordem
Tendo, no entanto, constatado, para sua tristeza e desapontamento, que “os comentadores estavam mais preocupados em aproveitar a oportunidade para estourar o fel, do que pelo menos, para se esforçar por entender o propósito da mensagem. Alguns até se apressaram a classificar a reflexão como “uma tentativa para justificar o fracasso pós-independência”, quando na verdade, o principal objectivo, com a publicação da reflexão, era, e é, convidar os eleitores a acompanharem com precaução a evolução do mundo moderno, para melhor nos apercebermos das múltiplas armadilhas secretas nelas disseminadas pelas potências dominantes. Porque seria imperdoável esquecer que durante vários séculos fomos dançando, descalços, ao som dos ritmos impostos pelas potências dominantes.
E são, justamente algumas pesagens desses dois interessantíssimos artigos de opinião, que teve a gentileza de me enviar, que tenho a honra e o prazer de também divulgar no meu blogue canoasdomar.blogspot.com e no facebook
Ao ler no TÉLA NÓN a informação:PNUD FINANCIA ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS em STP,” lembrei-me da declaração feita pelo ilustre Secretário Geral da UCCLA e também publicado no TÉLA NÓN. Na referida declaração feita no dia 25 de Maio, dia de Africa, o Senhor Secretário Geral, a dado passo da sua intervenção e em alusão ao processo democrático em curso nesse continente, afirmou, cito: Há que, porém, fazer notar que as eleições democráticas em Africa estiveram longe de conduzirem à estabilização política dos países, como a realidade veio a evidenciar…Isto porque não se teve em atenção que a realidade diferenciada dos países não deveria, nem poderia, impor a transposição mecanicista da democracia, sem consideração pela especificidade concreta dos destinatários”.”Fim da citação.
Até aqui ,de acordo consigo
Sr. Secretário Geral .O Senhor deve ,no
entanto, ter-se esquecido que a referida transposição mecanicista não foi feita
com a preocupação de beneficiar aos destinatários. Ela não representa senão a
fase de execução de uma estratégia previamente concebida, elaborada e já em
vias de execução nos chamados países do terceiro mundo.Mas a mesma só começou a
ser implementada com alguma aceleração a partir dos anos noventa do século passado
nos países do “terceiro mundo” e, sobretudo, nos países africanos.
A sua implantação foi facilitada pelo regresso em força do mundo unipolar, resultante da desagregação da União Soviética e do consequente desmoronamento do bloco dos países socialistas da Europa.
Ao longo da História universal as potências dominantes impuseram aos territórios africanos conquistados TRÊS TIPOS DE CAMISAS DE
FORÇA:ESCRAVATURA, COLONIALISMO, e, depois da independência, a DEMOCRACIA. O objectivo principal foi, e continua a ser, assegurar, por um lado, o controlo da exploração das principais fontes de matérias primas e, por outro, mercados para os produtos manufacturados, vitais para a sua sobrevivência como potências dominantes
Recapitulando: as três Camisas de Força
são:
ESCRAVATURA, COLONIALISMO, DEMOCRACIA
.A primeira camisa de força imposta aos africanos foi a ESCRAVATURA. A abolição da escravatura resultou essencialmente, como é sabido, das mudanças históricas ocorridas nas potências dominantes, com a revolução industrial e o reforço do poderio das burguesias nacionais que, por razões económicas, não estavam interessadas na exploração do trabalho da mão-de-obra escrava.A nova força social então dominante, a BURGUESIA estava mais interessada na compra da força de trabalho de” homens livres”, desprovidos dos meios de produção e possuindo como único meio de sobrevivência, a sua força de trabalho. Entretanto nos territórios africanos, aos escravos libertos “mudaram-lhes a camisa” e passaram a trabalhar com o estatuto de CONTRATADOS, uma forma deslavada da escravatura. Em 1917, com a revolução bolchevista na Rússia, as potências dominantes do Ocidente sofreram um primeiro abalo. E com a derrota da Alemanha nazi e o surgimento do novo bloco de países socialistas, o mundo bipolarizou-se, favorecendo assim a criação de condições objectivas e subjectivas favoráveis á intensificação da luta de libertação nos territórios então colonizados.
As independências dos territórios colonizados, sobretudo em Africa, aceleradas a partir dos anos 60 do século passado, num mundo então bipolarizado e mergulhado numa luta hegemónica entre os dois blocos, constituíam sérios motivos de preocupação das potências dominantes do “primeiro mundo”. E perante a rápida evolução da luta de libertação nos territórios coloniais ,as potências dominantes, para melhor protegerem os seus interesses, entenderam que seria estrategicamente mais acertado negociar com os movimentos de libertação nacional , até então catalogados pelos mesmos de movimentos terroristas, e negociar sobretudo, defendiam os mesmos, com os Movimentos de Libertação mais representativos, com aqueles que tinham“mais povo”. Conquistada a independência, os novos países africanos, a maioria, com o acordo tácito das próprias potências coloniais, optaram por um regime de Partido único
O Poder colonial estava esperançado nos
efeitos desestabilizadores das “prendas “envenenadas que deixava como herança ao novo Poder, ás forças
nacionalistas.
Com efeito, durante a colonização, as potências coloniais manipularam e fomentaram artificialmente rivalidades tribais, com o objectivo de dividir para melhor reinar. Como consequência dessa operação , até a data ,na maioria dos países africanos, o sentimento de pertença tribal ainda prevalece sobre o nacional, o que vem dificultando sobremaneira ,na maioria desses países independentes, o indispensável entendimento entre as forças políticas nacionais ,de modo a estarem mais bem preparadas para enfrentar com sucesso a luta contra a pobreza, pelo desenvolvimento nacional.
A verdade é que, sob pressão da luta de libertação, não restava ás potências coloniais, no mundo bipolarizado ,outra alternativa .Receavam, no entanto, que os países outrora colonizados, sob a influencia do novo bloco socialistas, e ainda motivados pelas cargas do passado, pudessem por em perigo os seus interesses vitais nas antigas colónias. Havia que reagir rapidamente e de forma concertada. E foi o que aconteceu.
Com efeito, a TERCEIRA CAMISA DE FORÇA “pronto a vestir,” imposta aos países outrora colonizados, não resultou de uma qualquer evolução interna das sociedades nesses países.
A TERCEIRA CAMISA DE FORÇA é, sem dúvidas, um instrumento de estratégia das potências dominantes que aprenderam com a prática ,que os intermináveis golpes de Estado, tantas vezes incentivados e apoiados por elas, já não eram suficientes para manter no poder regimes favoráveis a manutenção dos interesses vitais da Metrópole.
A implantação da TERCEIRA CAMISA DE FORÇA”pronto a vestir” nos países do chamado terceiro mundo, sobretudo em Africa, tinha como principal objectivo amarrá-los ideologicamente. Essa operação ficou facilitada com a nova relação de forças surgida com o desmoronamento do bloco dos países socialistas da Europa ,por um lado e, por outro, pelo recrudescimento da luta interna pelo poder, entre os Partidos políticos.Com a implantação da DEMOCRACIA ,sobretudo em Africa, estava inaugurada outra forma de luta,”mais civilizada, “entre os diferentes grupos de interesses ,em substituição da luta tribal.
O que é verdade incontestável é que a democratização é um processo universal.Resta no entanto saber se, na maioria dos países do “terceiro mundo,” estariam criadas condições objectivas e subjectivas suficientes que lhes permitam vestir, sem percalços, a terceira camisa “pronto a vestir. A maioria dos países africanos, outrora colonizados, ainda não está nem estruturalmente, nem economicamente, nem politicamente devidamente preparada para envergar, livre de consequências adversas, a TERCEIRA CAMISA DE FORÇA “pronto á vestir”. .
Há, no entanto, que assinalar que o mundo unipolar reinstalado desde o fim dos anos oitenta do século passado, com a desagregação da União Soviética e o consequente desmoronamento do bloco dos países socialistas da Europa ,por um lado, assim como com a consolidação dos Estado Unidos de América como potência hegemónica, por outro, entrou em agonia, evoluindo aceleradamente para o seu fim. Paralelamente estamos perante o gradual surgimento e consolidação de uma nova ordem mundial, com o surgimento de um mundo multipolar.
A nova relação de forças daí resultante está criando condições mais apropriadas e favoráveis a implantação, sem imposições de terceiros, da DEMOCRACIA nos países africanos. Creio que, devidamente configurada e adaptada ás realidades objectivas e subjectivas prevalecentes em cada um dos países destinatários, a TERCEIRA CAMISA DE FORÇA, a DEMOCRACIA poderá vir a transformar-se num importante instrumento de mobilização nacional de toda a sociedade, garantindo desse modo, e no respeito pelas diferenças ,a indispensável participação organizada de todos os cidadãos nacionais no tão desejado processo de desenvolvimento nacional.
A Democracia poderá vir transformar-se num instrumento eficaz e indispensável para fazer crescer e desenvolver de forma sustentável a sociedade nos países outrora colonizados.
Talvez não seja demais relembrar, ao encerrar, que a DEMOCRACIA, na maioria esmagadora dos países europeus do Ocidente, não caiu de paraquedas Foi o resultado de um longo processo de evolução cheio de contradições, com guerras e revoluções. O caminho foi longo e ainda hoje com alguns espinhos. É evidente que, nas actuais do mundo moderno, os países outrora colonizados não terão nem que declarar guerras nem fazer revoluções para chegarem á DEMOCRACIA .Submetidos durante séculos a várias formas de opressão, os povos dos países do “terceiro mundo” saberão escolher com segurança o caminho da LIBERDADE.Só têm que proceder a múltiplas reformas de modo a estarem em devidas condições estruturais e políticas para poderem usufruir dos benefícios da DEMOCRACIA.
MANUEL PINTO DA .COSTA
para isso: A LUTA CONTINUA
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