Tive a honra de o entrevistar em São Tomé, de testemunhar uma das suas decisões mais corajosas, de por isso mesmo lhe dar o meu apoio e de ser seu amigo - Parte para eternidade um homem inteligente, sensato e corajoso mas creio que a sua memória vai perdurar ainda por muito tempo na Terra.- Aos seus filhos e ao seu sobrinho Rui Veloso, um abraço de sentidas condolências - Jorge Trabulo Marques - Jornalista
Se há
um governante, do período colonial, que não pode ser esquecido, em S. Tomé e
Príncipe, ele é o General Pires Veloso, que, mais tarde, em Portugal, passaria
a ser conhecido por Vice-Rei do Norte – Igualmente pelas mesmas razões: por
ter evitado uma guerra civil, quer, quando ali foi colocado como Governador e
Alto Comissário, quer, após o seu regresso a Portugal, na qualidade de Comandante
da Região Militar do Norte, como um dos protagonistas do 25 de Novembro de
1975, que pôs fim ao Verão Quente e ao PREC. Morreu este domingo, aos 88 anos,
no Porto.
É
hoje o funeral, em Mesquitela, Celorico da beira, do General Pires Veloso, que
faleceu no Hospital Militar do Porto, na sequência de
um acidente vascular cerebral de que foi vítima há cerca de três semanas.
Após
o 25 de Abril de 1974, Pires Veloso foi nomeado governador de São Tomé e
Príncipe, passando, a 18 de dezembro do mesmo ano, a alto comissário, função
que manteve até à independência do território, a 12 de julho de 1975.António Elísio Capelo Pires Veloso
– Sem a sua intervenção, sensata, ponderada e inteligente, dificilmente teria deixado de haver um segundo banho de sangue naquela Ilha – Já o disse numa postagem, publicada aqui neste site, de que não retiro uma linha, da qual transcrevo alguns excertos.
– Sem a sua intervenção, sensata, ponderada e inteligente, dificilmente teria deixado de haver um segundo banho de sangue naquela Ilha – Já o disse numa postagem, publicada aqui neste site, de que não retiro uma linha, da qual transcrevo alguns excertos.
O GENERAL PIRES VELOSO (ENTÃO
TENENTE-CORONEL) AGIU BEM, AO OBRIGAR, RICARDO DURÃO (DA MESMA PATENTE E ATUAL GENERAL) A NÃO SAIR DO AEROPORTO E A VOLTAR NO MESMO AVIÃO A
PORTUGAL -
ATITUDE SENSATA E INTELIGENTE – – Talvez mais grave que o
massacre de 3 a 7 de Fevereiro de 1953 (muito antes da guerra colonial), levado
a cabo por milícias, fortemente armadas, dirigidas pelo próprio governador,
Carlos Gorgulho, constituídas por colonos, militares e alguns serviçais, que os roceiros e
governo, atiraram contra os naturais da Ilha. Só pelo facto de se recusarem ao
trabalho forçado nas obras públicas e nas grandes plantações do cacau e café.
Houve quem reagisse e, não tardou, que um caso isolado, fosse tomado por
"rebeldes" de uma "revolta comunista"
Mal
me apercebi da sua presença, e, vendo-o de camuflado, semblante sisudo,
pressenti imediatamente que não vinha para fazer coisa
boa. Não chegara a passar para o exterior do aeroporto:
estava sozinho, junto a uma porta fechada, do lado direito do edifício, voltada
a sul e nos limites ainda da área reservada.
Eu
costumava ali ter acesso para ir buscar o volume das revistas que a
redação me enviava semanalmente, de Luanda.. E, ao regressar, foi quando me
apercebi da sua presença - Estava nitidamente com olhar de caso: “Passa-se alguma coisa, Sr. Tenente-Coronel?! - Esboça
uma sorriso amarelo e diz: “Não, obrigado!..Não há problema nenhum!!... Vim cá só a
passear!.. E não estou autorizado, não sei porquê!.... Que eu saiba, a
Ilha ainda não é dos pretos."” – Vi logo que havia por ali tentativa de
golpaça e não insisti. Pires Veloso Governador de S.
Tomé e Príncipe, alertado para a sua presença, trocou-lhe as voltas.
Obrigando-o a regressar no mesmo avião. E lá foi de volta o
grandalhão oficial com uma verdadeira chapada sem dor, mas com muita humilhação
e muito bem dada!
No
seu livro de memórias ( “Vice-Rei do Norte - Memórias e Revelações) o agora
General Pires Veloso, faz uma breve referência, mas é omisso em apontar o nome
do oficial - Diz apenas o seguinte: “Sentindo que a minha atitude em recusar
receber um oficial superior, enviado especial do Presidente da República,
general Spínola – que fiz regressar no mesmo avião que havia trazido, sem o
ouvir – havia obtido a aprovação entre os meus adversários, sabia ter
conseguido com isso algum crédito.”
Sem
dúvida, um procedimento sensato e inteligente de Pires Veloso; de outro
modo, dificilmente apaziguaria as tensões existentes entre colonos e os
dirigentes da Associação Cívica. Porque, o mais certo, era que os colonos
(sentindo-se encorajados e comandados) passassem deliberadamente ao ataque,
podendo desencadear a contra-revolução, de imprevisíveis consequências.
O então
Tenente-Coronel Ricardo Durão (hoje general) – homem forte do
Comando Militar de S. Tomé e Príncipe não
esperava que, o brioso oficial Pires Veloso, lhe desse uma grande tapona.
Peão
de confiança de Spínola (não entrara na aventura contra-revolucionária
spinolista de11
de Março de 1975 , porque não calhou, tal como outros, que viram o
tapete sair-lhes dos pés .
O ex-comandante do Comando
Territorial Independente de São Tomé e Príncipe (CTISTP), conhecia bem o arquipélago, as
roças e os roceiros, com os quais convivera em altas jantaradas e
almoçaradas, nas sedes das administrações: pois era já um costume enraizado que
a elite económica, há muito, mantinha com a tropa. Mas, agora, de certeza que
não vinha com esse propósito – Os tempos eram de revolução. E os roceiros
opunham-se ostensivamente! Já tinham invadido o Palácio do Governo e dir-se-ia
que só faltava pegarem nas armas que possuíam nas arrecadações. O que não
dispunham era de quem os apoiasse ou de um comando operacional. Supõe-se que
deveria ser a missão que trazia na manga o velho amigo das altas comezanas e
das festanças.de fatiota branca. Só que nem sequer chegou a sair da gare do
aeroporto.. Saiu-lhe o tiro pela culatra - E ainda bem:
O bom senso de Pires Veloso, uma vez mais
esteve à altura das suas responsabilidades, evitando mais uma enorme
confusão - Ah, sim, não tenho a menor dúvida, teria havido muitas mortes em
São Tomé: de parte a parte, eu seria uma delas. - Fui tomado pelos
colonos como o bode expiatório de todos os problemas. E a única arma
que dispunha era a máquina de escrever, que ma escaqueiraram por
completo, - Tive de pedir uma emprestada a pessoa amiga. Sabe Deus
as adversidades por que então passei para poder continuar a enviar os meus trabalhos jornalísticos para a revista Semana Ilustrada, em Luanda.
“Sentindo
que a minha altitude em recusar receber um oficial superior, enviado
especial do Presidente da República, general Spínola – que fiz regressar no
mesmo avião que o havia trazido, sem o ouvir - havia obtido a aprovação
entre os meus adversários, sabia ter conseguido com isso algum
crédito"
"Aproveitando
esse crédito, organizei uma reunião, no Palácio do Governo, com dirigentes da
Associação Cívica para tratar do assunto das armas da Organização
Provincial dos Voluntários"
Tentei
convencê-los a serem eles próprios fazerem a entrega dessas armas
no Quartel-General, o que fizeram, nesse mesmo dia.
Poderá
imaginar a sensação de alívio e bem-estar quando, ao cair da tarde, o coronel
Cardoso do Amaral, me comunicou que tudo tinha corrido muito bem e que o
armamento havia sido recebido!
Foi
uma fase no processo da descolonização, decisiva e marcante, fundamentalmente
porque havia conseguido, além do controlo de grande quantidade de armas
dispersas pelo Território, ter as Forças Armadas disciplinadas, para além de um
entendimento com respeito e confiança mútos entre autoridades portuguesas,
dirigentes do MLSTP, Associação Cívica e população em geral”
(...)
nós tudo procurámos fazer para que a
passagem de S. Tomé e Príncipe, de colónia a pais independente, se fizesse com
suavidade, tolerância, compreensão, ora criando um mínimo de estruturas que
ajudassem ao funcionamento de uma nova Democracia, ora denunciando erros e, na
medida do possível, corrigindo-os do passado.
“Porém, esta minha atitude de tolerância”
– refere o agora General Pires Veloso - , “compreendendo o estado de uma
larguíssima maioria do povo (que não pensava noutra coisa
que não fosse a Independência
Imediata), fechando os olhos, por vezes, a pequenos incidentes provocatórios e
procurando o diálogo, não foi bem aceite por algumas centenas de brancos ainda
no Território.
Confusos, não tendo entendido bem quão
profunda havia sido a revolução de 25 de Abril, um dia invadiram o Palácio
querendo falar comigo.
Em tom de crítica, acusaram-me de actuar
como um verdadeiro Governador, ser mole demais, sem capacidade de decisão e
pedindo protecção para essa noite, pois tinham informações de que os pretos iam
massacrá-los.
Tranquilizei-os na medida do possível,
garantindo-lhes que eu, nessa noite, pessoalmente, iria patrulhar a cidade, o
que fiz, conduzindo um VW, por vezes acompanhado com o meu ajudante de campo.
Nas casas dos portugueses não apagaram as
luzes e, quando ouviam o motor do meu carro (era o único a circular), abriam a
janela. Eu dava-lhes a Boa-Noite e eles correspondiam.
Preservar
o nome e a presença de Portugal
Viveu-se
então a fase final do processo, em ambiente de boas relações entre autoridades
portuguesas e são-tomenses, num clima de tranquilidade e compreensão, que
culminou, a 12 de Julho, com uma festa de dignidade ímpar, com um respeito
total entre todos”.
O ex-comandante do Comando
Territorial Independente de São Tomé e Príncipe (CTISTP), conhecia bem o arquipélago, as roças
e os roceiros, com os quais convivera em
em opíparas comezanas, na Casa Grande, nas residências dos administradores. - Spínola, não queria a independência desta ex-colónia, alegando que as ilhas estavam desertas, quando foram descobertas pelos portugueses (estafado argumento para justificar o domínio sobre as populações autóctones), tendo-o enviado com a missão de se juntar aos roceiros e liderar um golpe contra-revolucionário.
em opíparas comezanas, na Casa Grande, nas residências dos administradores. - Spínola, não queria a independência desta ex-colónia, alegando que as ilhas estavam desertas, quando foram descobertas pelos portugueses (estafado argumento para justificar o domínio sobre as populações autóctones), tendo-o enviado com a missão de se juntar aos roceiros e liderar um golpe contra-revolucionário.
Mas não chegou sequer a transpor a alfândega do aeroporto. Teve
de aguardar, junto à aerogare, mas do lado voltado para a pista e fora das
vistas do público, até que fosse recambiado no mesmo avião. Humilhação bem feita e à
altura das circunstâncias.
Desta vez não vinha de farda branca, como era costume
pavonear-se pelas roças nos jipes dos patrões. E nas suas jantaradas.
Envergava o camuflado de operacional. Vinha pronto para liderar a
revolta.
Cumprimentei-o
e perguntei-lhe o que se passava - pois vi logo, pela sua cara e
traje, que havia ali sinais de golpada à vista.
Ele conhecia-me, sabia bem que eu não estava do
lado da sua barricada e foi parco de palavras. Que eu saiba, até hoje, o
caso nunca chegou a ser notícia.
E tão pouco a informação foi conhecida naquele momento pelos nacionalistas (mas
foram informados, ainda nesse dia) pois, se o vissem por lá, teria
havido, logo ali, uma grande confusão...E talvez tivesse sido ele a primeira vítima. A aerogare estava
cheia de gente, era dia de "São Avião!". Da maneira que
andavam os ânimos tensos, de certeza que não se safava de um valente aperto.
Simpático com a burguesia roceira, que o obsequiara, na sede
das administrações, na "Casa do Patrão" ao pomposo velho estilo colonial
- cínico com quem lhe conviesse, e, nos meios do exército, era tido como
um duro... Amedalhado por "altos feitos" pela sua manifesta
lealdade ao império colonial, via-se que era dos tais que não deixava os seus
créditos entregues por mãos alheias. Os roceiros, haviam-no obsequiado com
lautos banquetes e ele não lhes queria ser ingrato. O que não toleravam é que os
defensores do 25 de Abril, lhes falassem em independência e em liberdades
democráticas. Certamente
que eu teria sido um dos que fazia parte das suas listas, dos traidores e
indesejáveis brancos a abater. Já em Lisboa, não podia passar frente ao
Bar PIC NIC no Rossio. - Ponto de encontro dos colonos mais reacionários.
Um dia, uma dúzia deles, apanharam-me no Metro e voltaram agredir-me
traiçoeiramente, como se estivessem na selva em São Tomé. Tal como fizeram na então
chamada "Praça de Portugal", quando me dirigia a minha casa, por volta das oito da noite. Aguardavam-me emboscados
no interior de um carro estacionado. Não havia luz na cidade, e, mal me viram,
encadearam-me com os faróis e atiraram-se a mim como lobos. Tendo-me deixado, quase
morto e prostrado no asfalto.
Não me mataram, porque, entretanto, viram os faróis de outro carro e puseram-se
na alheta. Noutra ocasião, arrombaram-me a casa, escaqueiraram com todas as
minhas coisas e puseram-me uma forca pendurada à entrada da porta. Por
duas vezes, furaram-me à navalhada os pneus dos meu carro. Entre outras
patifarias.
SORTE PARA O POVO SANTOMENSE E PARA O PRÓPRIO LÍDER DO ABORTADO
GOLPE CONTRA-REVOLUCIONÁRIO
Se, Ricardo Durão (agora general) ou algum militar aceitasse
comandar os roceiros, como aconteceu no Batepá, teria sido uma
mortandade, talvez ainda maior!... Milhares de santomenses teriam sido baleados!... Até porque
muitos dos implicados naquele massacre, ainda por lá por lá se passeavam à
vontade...
Pessoalmente, também achei prudente não lançar o alerta, sobre a
presença de Ricardo Durão, uma vez que ia ser recambiado. Não havia
interesse em gerar mais tensões das que já existiam. Teve sorte.. E também o
povo de santomense, que se livrou de uma séria ameaça à sua integridade. Teria
havido muitos mártires!...E já bastava de sangue derramado por séculos de colonização.
Pirou-se, quase da mesma forma que o Zé Mulato, o capataz do sinistro
campo da morte de Fernão Dias, outro dos grandes assassinos no massacre do
Batepá, que, para não se expor a eventuais represálias, teve de embarcar
para a terra do seu pai (antigo colono, natural da região de Viseu), tendo
entrado no aeroporto pela porta do "cavalo" disfarçado com a sua fatiota azul de carpinteiro.
Quando alertei Pires Veloso, da presença do inesperado oficial, ele já lhe tinha dado instruções para regressar no mesmo voo. "Já sei que ele aí está: vai já no mesmo avião. Não se preocupe".
Quando alertei Pires Veloso, da presença do inesperado oficial, ele já lhe tinha dado instruções para regressar no mesmo voo. "Já sei que ele aí está: vai já no mesmo avião. Não se preocupe".
O movimento pró-independentista apreciou atitude do Governador, que até então não acreditava nas boas
intenções de Pires Veloso, pois via-o com desconfiança - Os santomenses olhavam
os militares portugueses, como tropa de domínio colonial. Porém, a partir daquela
altura, o Governador passou a ser visto como um dos seus e com outros
olhos. No seu livro “Vice-Rei do Norte - Memórias e Revelações, o agora
General Pires Veloso, faz uma breve referência, mas, como atrás referi, é omisso em apontar o nome
do oficial - E alude também à inesperada invasão dos colonos ao
Palácio do Governo -
PIRES VELOSO, O GOVERNADOR CERTO PARA LEVAR A CABO – E
PACIFICAMENTE - UM PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA, QUE COMEÇARA DA FORMA MAIS TENSA
E ATRIBULADA
Repito:
não fosse a serenidade, firmeza e sensatez de Pires Veloso, nem quero
imaginar o que poderia ter acontecido!
Não se constava que algum negro tivesse molestado fisicamente qualquer
branco! Mas, de facto, havia colonos que continuavam a agir como
se nada tivesse mudado. A palavra independência era algo impensável e que
lhes custava admitir.
Os roceiros
estavam fortemente armados e constituíam uma séria ameaça! Nas
propriedades agrícolas, havia muitas armas: as velhas Mauseres, que foram usadas pela infantaria
Nazi. Com as quais, os colonos, habitualmente se treinavam.
Também eu, aos
18 anos, fui obrigado a participar, nesses treinos, quando para ali fui
estagiar na Roça Uba-Budo, num campo de tiro ao alvo, situado junto à praia,
onde, aos Domingos de manhã, cada branco fazia para ali a fogachada que
quisesse.
.Pires Veloso, noutra das passagens do seu livro de memórias, “Vice-rei do Norte”, alude às reações do
Secretário-geral das ONU, Kut Waldheim e o dirigente da OUA, Salim,
Salim, junto do nosso embaixador na ONU, face às queixas apresentadas pelos
independentistas. No entanto, o antigo Governador e Alto-Comissário, considera
que a questão havia sido empolada. E que, mais tarde, foram as mesmas
personalidades a reconhecerem que não se justificavam as tais razões
invocadas com “ a falta de
liberdades democráticas”.
PIRES
VELOSO, USA O TERMO DE “A GUARDA PRETORIANA DOS DONOS DAS ROÇAS” –
NÃO ESTAVA ENGANADO
E não
exagera. Os colonos nas roças estavam armados e bem armados. Refere, ainda, em
“Memórias e Revelações”, que, “era notória a apetência dos
responsáveis da Associação Cívica por terem armas em seu poder, talvez para
dizerem ao mundo, como os da Guiné, Angola e Moçambique, que também eles haviam
alcançado a independência com luta armada” – Não creio que fosse este o
desejo dos ativistas da Associação Cívica Pró-MLSTP – O santomense é por
natureza pacifico. E, Pires Veloso, julgo que se apercebeu bem desse
facto. As suas ações nunca foram além de comícios e manifestações. Não vi que alguém ali
tivesse pegado numa arma ou levantasse sequer essa questão. Participei em
algumas das reuniões dos seus dirigentes e ninguém ali falou em pegar em
armas.
É um
facto que existiam por lá alguns elementos mais fundamentalistas, que Pires
Veloso cita no seu livro, e com posições, mais extremistas, com as quais eu
próprio discordei à sua frente, que achavam que o fim do colonialismo no
arquipélago, só poderia terminar "com a saída completa dos colonos”
– E, de facto, atendendo ao comportamento irredutível de muitos deles, sobretudo dos "cafusos", nas roças, em boa parte até
tinham fundamentas razões. Mas longe de desejarem pegar em armas. – Quem queria
pegar nas armas eram os empregados das roças, forçados pelos roceiros mais duros - E só não aconteceu a tragédia,
porque, à última hora, lhes faltou o comandante das operações
“
A SITUAÇÃO ERA PERIGOSÍSSIMA” DIZ PIRES VELOSO – Se era?!... ..As roças foram armadas pelo exército com máuseres; mas os roceiros fizeram entrar na Ilha metralhadoras clandestinas, que, certamente, ainda deverão estar por lá escondidas ou enterradas, não tendo chegado a ser devolvidas com as velhas máuseres.
Recordo que, ao sul da Ilha, na Praia Grande, em 1964, foi encontrada uma baleeira abandonada. Eu vi essa baleeira branca e a PIDE por lá a investigar o caso, tendo admitido a hipótese de ter havido um descarregamento de armas por parte dos soviéticos (mais uma vez os comunistas à baila) para fins subversivos - Mas a versão era outra.
Mais tarde ouvi bichanar ao feitor geral da Roça Ribeira Peixe, onde eu trabalhava, o seguinte desabafo para o chefe dos escritórios: “Agora já podemos dormir descansados!... Estamos na selva do inferno mas já temos metralhadoras para matar o preto que se atreva a fazer-nos o que fizeram em Angola!. Enganámos os PIDEs. O exército só nos quis dar as máuseres, que nem para matar pássaros já servem, mas agora já temos com que nos defendermos”.
Recordo que, ao sul da Ilha, na Praia Grande, em 1964, foi encontrada uma baleeira abandonada. Eu vi essa baleeira branca e a PIDE por lá a investigar o caso, tendo admitido a hipótese de ter havido um descarregamento de armas por parte dos soviéticos (mais uma vez os comunistas à baila) para fins subversivos - Mas a versão era outra.
Mais tarde ouvi bichanar ao feitor geral da Roça Ribeira Peixe, onde eu trabalhava, o seguinte desabafo para o chefe dos escritórios: “Agora já podemos dormir descansados!... Estamos na selva do inferno mas já temos metralhadoras para matar o preto que se atreva a fazer-nos o que fizeram em Angola!. Enganámos os PIDEs. O exército só nos quis dar as máuseres, que nem para matar pássaros já servem, mas agora já temos com que nos defendermos”.
Pires
Veloso, refere que “ a situação era perigosíssima” –
inteiramente de acordo: – há muito se sabia que as roceiros estavam armadas até
aos dentes. (...) Esclarece que “tratava-se de material distribuído à
chamada Organização Provincial dos Voluntários que, no fundo, constituía a
guarda pretoriana dos donos das roças”
“Em
determinado momento, para mim, a situação ficou altamente preocupante” – refere
o ex-governador,
“ quando, ocasionalmente, tive conhecimento de que, nalgumas roças, havia
arrecadações com material de guerra, melhor do que o exército dispunha. Apesar
dessas roças estarem já sob controlo dos “guerrilheiros”, estes ainda não
haviam mexido nesse material”
SE OS ATIVISTAS
PRÓ-INDEPENDÊNCIA, QUISESSEM PEGAR EM ARMAS, TÊ-LO-IAM FEITO, - Tiveram essa
oportunidade quando os roceiros abandonaram as roças – Mas não o fizeram porque
não era esse o seu objetivo.
Os roceiros
abandonaram as roças e alojaram-se no quartel militar e no Cinema Império
– Se os militantes da Associação Cívica, quisessem enveredar pela via
armada, não teriam devolvido essas armas, que foram lá buscar – E
fizeram-no, não porque quisessem fazer uso delas, mas para evitar que as mesmas
os matassem.
Esta a expressão ostentada, numa enorme cartaz, com que foram dadas as boas vindas ao então Tenente Coronel Pires Veloso - O
Primeiro e o último governador pós 25 de Abril - Este o aviso de que a vontade
do povo santomense era soberana e imparável, por mais obstáculos que
existissem.
Os ativistas – pró-independência - não enveredaram pela
luta armada mas causaram forte
contestação e instabilidade, não dando tréguas a qualquer ideia ou projeto que
não visasse a total libertação do povo oprimido do arquipélago. Promovendo uma
constante onda de agitação política e social. Não deram hipóteses a que os
movimentos federalistas ou neocoloniais, conquistassem adeptos e se
implantassem.
“Independência” era a palavra de ordem mais ouvida nos
comícios e manifestações de rua. E, nos cartazes, os slogans mobilizadores pautavam-se,
sobretudo, por um claro e único objetivo, expresso em linguagem popular : “Independência total, çà cu pôvô
mecê ” - Independência total
é tudo o que povo quer. Os jovens ativistas da Associação Cívica, foram a principal força interventiva e conciencializadora
durante o processo de descolonização –. Sem a sua coragem e o seu dinamismo,
porventura, ainda hoje as duas ilhas, eram colónias, tal como sucede a outros
territórios que estão nas mãos de 61 países.
INVADIRAM
O PALÁCIO, INSULTARAM O GOVERNADOR – E NO FINAL – QUANDO ME VIRAM ALI PRÓXIMO –
CORRERAM ATRÁS DE MIM PARA ME LINCHAREM
Uma
manhã, ao saírem do palácio, depois de insultarem, o Governador, Pires Veloso –
mal me viram sentado na esplanada do Restaurante Palmar, – onde pretendia
inteirar-se daquela estranha ocorrência -, imediatamente correram furiosos
atrás de mim! E eram umas largas centenas. Se me apanhassem, naquele
momento, estou convencido que me tinham esmagado e linchado. - Mesmo
assim ainda levei com uma pedra na cabeça. E o que me valeu foi ter subido por
umas escadas e me ter refugiado num telhado. À noite foi socorrido por um
santomense que me levou para sua casa, onde estive escondido quase duas
semanas.
Fugi
para uma escada, até que caísse a noite, para me escapar para qualquer sítio,
pois sabia que já tinham assaltado a minha casa e espatifado tudo. Era
demasiado arriscado ali voltar. Foi um rapaz negro (que me distribuía a
Semana Ilustrada) que, tendo-se apercebido da minha entrada naquela
escada (onde por acaso pude esconder-me sem que fosse visto pelos moradores)
que veio, mais tarde, em meu auxilio. Os colonos (muitos deles, em vez de
regressarem às suas casas), optaram por se aquartelar com a tropa portuguesa.
Nessa altura, as ruas à noite ficavam praticamente desertas e eu tive então
oportunidade de escapar dali. Tendo passado quase duas semanas na casa dos pais
desse generoso jovem, num autêntico esconderijo, algures no mato.
PIRES
VELOSO ALUDE AINDA, NO SEU LIVRO:
“VICE-REI DO NORTE – Memórias e Revelações” À INESPERADA INVASÃO DOS
COLONOS AO PALÁCIO DO GOVERNADOR
A manifestação podia ter acabado numa
tragédia: havia o desejo de pegar em armas e atacar os defensores da
Independência Total. Estes depressa galvanizaram as populações e o movimento do
pró era imparável. Só se matassem o povo inteiro. Houve quem estivesse quase a
perder as estribeiras. – Felizmente que, a Providência ou os caprichos dos
destino, quiçá mesmo a bênção do santo que deu nome à principal Ilha, enviaram a São Tomé e Príncipe,
um homem probo e bom, corajoso e sensato, de seu nome, António Elísio Capelo
Pires Veloso, nascido em Gouveia, a 10 de Agosto de 1926, e falecido no Porto, 17 de agosto de 2014, major-general do Exército português, conhecido como o
"vice-rei do Norte" pelo seu desempenho militar no Golpe de 25 de
Novembro de 1975 e pelo livro de memórias que escreveu em 2009.
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“É preciso explicar a importância do 25 de
Novembro, se não tivesse existido, o 25 de Abril teria desaparecido, (…) E não
se pode ensinar às crianças na História de Portugal, que o Eanes foi um herói.
Pois se ele não fez nada!”, afirmava então.- PÙBLICO Morreu Pires Veloso, o “vice-rei do Norte” - PÚBLICO
2 comentários :
Visitei recentemente STP e fiquei não só deslumbrado com a beleza do território mas também orgulhoso como com aquilo que vi e ouvi sobre a presença Portuguesa. Habituado a ouvir na comunicação social, nas novelas e opiniões como as deste blog sobre o papel opressor dos proprietários exploradores e dos coitadinhos dos escravos, fiquei admirado com a obra dos primeiros e com a opinião dos segundos. Começando pela obra dos primeiros; não vi uma roça (e vi muitas) que não tivesse hospital, maternidade escola, habitações, etc, para os seus trabalhadores, vi muitas fotografias da época onde se pode ver como estas estruturas funcionavam IMPECAVELMENTE com médicos e enfermeiros qualificados. Uma coisa que me chamou a atenção foi ver que normalmente estes edifícios eram em qualidade, dimensão e elegância superiores á casa dos próprios patrões. Isto é particularmente notável quando vemos que nessa época, em Portugal (continental) não havia nada no género. Posso afirmar com toda a certeza que os trabalhadores dessas roças viviam em condições infinitamente melhores à de qualquer trabalhador agrícola português resisdente no continente nessa época e infinitamente melhor ás condições dos actuais residentes dessas roças. Sei do que falo pois sou filho de lavradores do continente que nessa altura só tinham hospitais no Porto, Lisboa e pouco mais. Falei com muitos dos antigos trabalhadores dessas roças que não pouparam elogios aos patrões e ás condições de vida desses tempos. Das centenas de roças existentes nenhuma (mas mesmo nenhuma) mantem essas estruturas a funcionar. Todos estes edifícios estão em ruinas(sem tectos, janelas, portas)e todo o território está voltado para uma pobreza e abandono que total (salvo raras excepções como a dos novos proprietários sul africanos que constroem resortes de luxo mas sem qualquer preocupação com a população local). Vários ex trabalhadores dessas roças, alguns Cabo Verdianos afirmam que foram abandonados pelos portugueses pois não puderam regressar ás sua terras aquando da independencia de STP - não houve barcos que os levasse. Os proprietários foram obrigados a abandor as suas terras e a regressar apenas com uma mala de avião. Tudo isto me fez mudar de opinião e julgo que a história que nos contaram da descolonização está muito mal contada... Ao ler este Blog só posso lamentar o papel do Gen. Pires Veloso neste processo
Visitei recentemente STP e fiquei não só deslumbrado com a beleza do território mas também orgulhoso como com aquilo que vi e ouvi sobre a presença Portuguesa. Habituado a ouvir na comunicação social, nas novelas e opiniões como as deste blog sobre o papel opressor dos proprietários exploradores e dos coitadinhos dos escravos, fiquei admirado com a obra dos primeiros e com a opinião dos segundos. Começando pela obra dos primeiros; não vi uma roça (e vi muitas) que não tivesse hospital, maternidade escola, habitações, etc, para os seus trabalhadores, vi muitas fotografias da época onde se pode ver como estas estruturas funcionavam IMPECAVELMENTE com médicos e enfermeiros qualificados. Uma coisa que me chamou a atenção foi ver que normalmente estes edifícios eram em qualidade, dimensão e elegância superiores á casa dos próprios patrões. Isto é particularmente notável quando vemos que nessa época, em Portugal (continental) não havia nada no género. Posso afirmar com toda a certeza que os trabalhadores dessas roças viviam em condições infinitamente melhores à de qualquer trabalhador agrícola português resisdente no continente nessa época e infinitamente melhor ás condições dos actuais residentes dessas roças. Sei do que falo pois sou filho de lavradores do continente que nessa altura só tinham hospitais no Porto, Lisboa e pouco mais. Falei com muitos dos antigos trabalhadores dessas roças que não pouparam elogios aos patrões e ás condições de vida desses tempos. Das centenas de roças existentes nenhuma (mas mesmo nenhuma) mantem essas estruturas a funcionar. Todos estes edifícios estão em ruinas(sem tectos, janelas, portas)e todo o território está voltado para uma pobreza e abandono que total (salvo raras excepções como a dos novos proprietários sul africanos que constroem resortes de luxo mas sem qualquer preocupação com a população local). Vários ex trabalhadores dessas roças, alguns Cabo Verdianos afirmam que foram abandonados pelos portugueses pois não puderam regressar ás sua terras aquando da independencia de STP - não houve barcos que os levasse. Os proprietários foram obrigados a abandor as suas terras e a regressar apenas com uma mala de avião. Tudo isto me fez mudar de opinião e julgo que a história que nos contaram da descolonização está muito mal contada... Ao ler este Blog só posso lamentar o papel do Gen. Pires Veloso neste processo
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