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sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Nuno Rebocho – o poeta português que abraçou Cabo Verde – Com novo livro de poesia - – “O Vale dos Sons”. Redigido na Cidade Velha, evocando os famigerados tempos da escravatura



Nuno Rebocho, o  poeta português, jornalista, que vive “desterrado” numa das cidade mais velhas do antigo reino português, Ribeira Grande de Santiago, considerada - em tempos que já lá vão - uma das mais importantes do antigo reino. Assessor de imprensa da câmara, escritor e poeta nas horas livres- Já nos referirmos a ele, em http://www.odisseiasnosmares.com/2014/08/cabo-verde-patrimonio-historico-da.html mas justifica que aqui lhe voltemos a dedicar mais este post



De novo nos caminhos da poesia – Depois do  "Canto Finissecular" – lançado, na Biblioteca Municipal de Odivelas, integrado na Bienal da Lusofonia, e dia 25 de maio,  passado, ei-lo, agora, prestes a brindar-nos,  com “A Papaia, o seu 28º livro – Baseado na  recolha  de alguns poemas  que integram o original, já escrito de “Rotxa Scribida” – “O Vale dos Sons”. Redigido na Cidade Velha, evoca a escravatura e refere uma caraterística do seu vale, que acontece nos dias mais diáfonos: o vale da ribeira de Maria Parda reflete sons.

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Com autorização do autor, reproduzimos o poema
O Vale dos Sons

Grudam-se os ecos à encosta e são os sons
das subterrâneas águas dos séculos: são as vozes
acorrentadas como as espadas de corsários
em algemas de açúcar. São lágrimas e chicotes
nos dorsos da memória. São almas degredadas
nas cavernas dos donatários e verdes mangas
esperando amadurecer como eu espero
que da terra adubada irrompam poemas
com armas de esperança e tão tremendos
como a candura buliçosa de uma criança.
…/…
No vale dos sona libertam-se as vozes que tudo falam:
já não são escravas – trazem a alforria
da aragem e o odor dos cajueiros
mas recordam sempre as dores acumuladas nos trapiches
e os sémenes da opressão nos ventres importados.
Acordam agonias de porões aferrolhados
e vómitos sobre os grilhões da viagem. Lembram.
Lembram e lembram como ferretes marcados
nos costados ou adagas revoltadas pela injustiça
no pelourinho calcário da vil cobiça.
…/…
É isto a mestiçagem: o triunfo da liberdade
cantado pelos galos da madrugada
com o amor fundindo as grades das masmorras.
É o enorme útero parindo a vitória da fraternidade
sobre o manto seco dos rios da história. É a ribeira
caudalosa desentulhando o vale da memória
como o futuro se revela na copa generosa.
A mestiçagem é isto – a cópula do tempo: a bandeira.





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