Jorge Trabulo Marques - Jornalista, navegador solitário e líder da escalada do Pico Cão Grande, em S. Tomé
Rogério Morais - Coordenador e Presidente da A.Desnível |
Palestra sobre os 40 anos da escalada do Pico Cão Grande
– Três horas de
entusiástico convívio e fraternal diálogo, em que as ilhas de S. Tomé e Príncipe, embora bem longínquas, estiveram continuamente no pensamento de
todos os presentes, não apenas do tema em questão mas sobre outras
abordagens - Incluindo a sua posição estratégica no Golfo da Guiné e a ponte
aérea - S. Tomé - Biafra - Mapas dependurados, além de um desenho
artístico de autoria de Emma Karkamper, como pano de fundo música típica desta
maravilhosa ilha, muitos slides projetados numa das paredes, com
imagens do
Cão Grande, desse monumental monumento da natureza, verdadeiro ex-libris da sua geografia, mas também outras fotos recordando a mais ousada escalada, há 40 anos, numa das mais difíceis agulhas da Terra, este o ambiente, observado e vivido, ao longo de quase três horas, na Casa da Gruta, em Cascais, que terminou depois da meia noite e meia hora, já do dia de hoje
Cão Grande, desse monumental monumento da natureza, verdadeiro ex-libris da sua geografia, mas também outras fotos recordando a mais ousada escalada, há 40 anos, numa das mais difíceis agulhas da Terra, este o ambiente, observado e vivido, ao longo de quase três horas, na Casa da Gruta, em Cascais, que terminou depois da meia noite e meia hora, já do dia de hoje
´Tal
o entusiasmo gerado à volta da escalada do Pico Cão Grande, associado às
maravilhas da paisagem de S. Tomé e Príncipe, que ficou a pairar o desejo de
ali se deslocar uma equipa de alpinistas desta associação para concretizar a
segunda escalada do Pico Cão Grande, depois de quatro tentativas goradas por
outras equipas
MENTIRAM - A equipa liderada por Matteo Rivadossi, que se deslocou ao Pico Grande e Pico Cão Pequeno, em 2001, e veio declarar às televisões (e continua a dizê-lo ainda no seu site) ter escalado ambos os picos, é falso: apenas escalou o Cão Pequeno – Foi demonstrado documentalmente na minha palestra – Disso me ocuparei em próxima postagem
Em 12 de Outubro, de 1975, a minha equipa, conquistava,
finalmente, o tão desejado cume do Pico Cão Grande, tentado por várias equipas
estrangeiras, sem êxito - Dois anos sozinho, e, por fim, de, 73 a 75, com uma
equipa de valorosos santomenses - Constantino Bragança, Cosme Pires dos Santos,
e os guias, Sebastião e o Chio - conquistávamos a crista de um dos mais
difíceis e espantosos monólitos do
planeta – Numa das mais arrojadas e épicas escaladas da história do
alpinismo, num tempo em que a improvisação, o engenho, a coragem e a
imaginação, substituíam as atuais tecnologias.
linkes relacionados com a escalada do Cão Grande -
Escalada Vertical ao pico Cão Grande Cão https://canoasdomar.blogspot.com/2012/02/cao-grande-em-sao-tome-grande-escalada.html
- E também https://canoasdomar.blogspot.com/2020/08/pico-cao-grande-em-s-tome-epica.html
Desmontagem de uma encenação https://canoasdomar.blogspot.com/2016/01/escalada-do-pico-cao-grande-em-s-tome.html Acidente no Pico Cão Pequeno https://canoasdomar.blogspot.com/2016/03/sao-tome-acidente-na-escalada-do-pico.html - Rumo ao Sul https://canoasdomar.blogspot.com/2016/02/pico-cao-pequeno-rumo-ao-sul-e-latitude.html
Há momentos que podem
significar o esforço de uma vida - Nunca me aventurei atrás de distinções
ou de medalhas - Mas ao menos que, como recompensa, não tivesse contado com a
incompreensão: preso e espancado pela PIDE, com pesada coima da Capitania dos
Portos, após a atribulada travessia de canoa S. Tomé ao Príncipe -
Dezassete dias detido na Nigéria, após os 13 dias de travessia desde a Ilha de
S. Tomé: Preso na Guiné Equatorial - numa das pisões mais sinistras de África -
após o longo calvário de 38 dias à deriva, desde Ano Bom. Finalmente alguém se
lembrou de me dar um quadro, um
lindíssimo desenho do Pico Cão Grande, de autoria Emma Harkämper – Oferecido por
Catherine de Freitas, um dos membros da Associação Desnível. que eu aceitei
como um prémio - e cujo significado torno extensivo aos meus companheiros
santomenses.
Tal como atrás me referi, o tema da palestra foi mais abrangente - Falou-se de aventuras e de outros temas - Que, de algum modo, se associaram ao espírito que presidiu às comemorações do 40.º aniversário da Independência de São Tomé e Príncipe, no passado dia 12 de Julho, a que tive o prazer de assistir, quer testemunhando o entusiasmo e alegria do Povo destas maravilhosas Ilhas, quer, uns dias depois, com a exposição fotográfica e documental, Sobreviver no Mar dos Tornados", que apresentei no Centro Cultural Português, a que me deu a hora de presidir, entre outras entidades, o Sr. Ministro da Educação, Cultura e Ciência, Olinto Daio, Inauguração Inauguração https://canoasdomar.blogspot.com/2015/07/em-s-tome-e-hoje-no-centro-cultural.html
Mesmo em noite fria de Novembro, tal não
desmotivou a curiosidade daqueles que já se habituaram a escalar algumas das
mais altas montanhas da Terra, a enfrentar as condições climatéricas as mais adversas,
a vencer as mais íngremes vertentes, a fazer
da escalada a sua grande paixão, a superarem os limites do impossível nas
maiores alturas da Natureza – Sim, foram sobretudo, estes, alguns dos veteranos
do alpinismo português, nomeadamente da região de Lisboa – que não deixaram de
comparecer à iniciativa promovida pela Associação de Desportos de Aventura Desnível, a afim de
assistirem, na sua sede, Bairro de S. José, em Cascais, a uma palestra sobre os “Os
40 anos da Escalada do Pico Cão Grande.
O auditório-biblioteca da Casa da Gruta, encheu completamente – Num espaço que não foi concebido a pensar em grandes plateias: - aqui não há necessidade de colunas de som para a
palavra ser atentamente ouvida - Sim, porque é, justamente, esse caráter, quase intimista,
que, de algum modo, norteia o espírito
de uma associação, que, não tendo a expressão das grandes coletividades, visa, essencialmente, a mais estreita ligação, com os seus membros, habituados
aos silêncios, à paz e à tranquilidade das grandes alturas, longe do rugido da turba, em progressões
lentas mas persistentes, ascendendo, desafiando as mais incríveis veredas, desde as agrestes escarpas, aos picos mais
aguçados ou montanhas coroadas de neve de faces, onde a vertigem se confunde com
o sonho e o deslumbramento.
Rogério Paulo M. Morais - Presidente da Associação Desnível |
Uma
Festejou-se até um aniversário |
Depois de se apreciar um saboroso moscatel, acompanhado de figos e amêndoas durienses e até de inhame assado de S. Tomé, teve lugar a apresentação da palestra, com umas palavras amigas e introdutórias de Rogério Paulo, o Presidente da Associação Desnível, que teve a amabilidade de me dirigir o honroso convite, assim como de fazer o alinhamento das imagens que agora iam ser projetadas, e, ao mesmo tempo, ser o moderador da palestra
O ponto de partida para esta minha viagem ao passado, começaria, naturalmente, por recuar à minha adolescência, assim como aos meus tempos de estudante na Escola de Santo Tirso, já que, em boa parte, tanto a aldeia onde nasci, como os quatro anos passados nesta instituição, acabariam por ter uma forte influência no meu espírito aventureiro.
Mas primeiro foram, naturalmente as minhas saudações e cumprimentos, não apenas a alguns amigos que não deixaram de me honrar com a sua presença, como a todos quantos ali se encontravam na sala, porque, a bem dizer, em cada rosto que ali chegava, havia um sorriso amigo, uma expressão natural de elevado companheirismo, como se todos nos conhecêssemos há muito tempo e partilhássemos dos mesmos riscos e ousadias de escalar rochas, tão verticais e tão íngremes.
E depois lá comecei por então ir ao passado das minhas mais antigas recordações. Recordando os meus giros até à penedia dos Tambores, nos arredores da minha aldeia, nos tempos da minha adolescência, em que andava por lá a trepar e a saltitar de penedo em penedo, no planalto rochoso de um dos mais insólitos e vastos afloramentos graníticos, que se erguem e estendem num dos extremos da chamada meseta ibérica, na margem direita da ribeira Centeeira, afluente do Rio Côa,
Ainda hoje continua a ser o meu retiro
predileto, o lugar eleito das minhas fugas da cidade para o campo, para
onde vou, sempre que posso, nos meus devaneios espirituais. Pois é lá, ante a vasta linha
daqueles horizontes, que eu sinto, bem presente, a minha identidade, a
suave harmonia das minhas raízes, o genuíno pulsar da minha origem, desde o seu
lado mais ancestral, até ao mais próximo. Porém, mais de que o
torrão que me viu nascer, o que ali revejo e descubro, a cada passo, é a visão
de um lugar sagrado, cenário iminentemente espiritual, que convida à contemplação
e à purificação do corpo e da alma - A inolvidável perceção de quem sente e
escuta um hino de serenidade e de louvor a Deus
Importância da posição geoestratégica das Ilhas Verdes do Equador
Para situar o debate, começou-se por abordar a posição geoestratégica de S. Tomé, que, no fundo, é a mesma da Ilha do Príncipe - Naturalmente, que é importante - Assim foi reconhecida, sobretudo na década de 60, após o início da guerra colonial - Não tanto por que estas ilhas pudessem constituir perigosos focos de resistência armada, que não chegou a existir, dado o sentimento pacifista que caracteriza os povos destas ilhas, mas como ponto estratégico da navegação marítima, que, de resto, sempre foi, ao longo dos tempos, nomeadamente como entreposto de escravos -No entanto, é a partir do inicio da década 70, que o regime colonial se propõe instalar na ilha de S. Tomé, potentes emissores para a sua propaganda para o resto da África.
Pós 25 de Abril, é o próprio General Spínola, que lidera uma cruzada, junto dos EUA para se opor à independência, com o argumento de que estas ilhas eram importantes à estratégia da NATO, no Atlântico Sul - Por essa razão, a administração americana, envia a S. Tomé, seu cônsul em Luanda - Uma das pessoas, como quem procurou falar, foi justamente comigo, na altura correspondeste da Revista Semana Ilustrada.
Importância da posição geoestratégica das Ilhas Verdes do Equador
Para situar o debate, começou-se por abordar a posição geoestratégica de S. Tomé, que, no fundo, é a mesma da Ilha do Príncipe - Naturalmente, que é importante - Assim foi reconhecida, sobretudo na década de 60, após o início da guerra colonial - Não tanto por que estas ilhas pudessem constituir perigosos focos de resistência armada, que não chegou a existir, dado o sentimento pacifista que caracteriza os povos destas ilhas, mas como ponto estratégico da navegação marítima, que, de resto, sempre foi, ao longo dos tempos, nomeadamente como entreposto de escravos -No entanto, é a partir do inicio da década 70, que o regime colonial se propõe instalar na ilha de S. Tomé, potentes emissores para a sua propaganda para o resto da África.
Pós 25 de Abril, é o próprio General Spínola, que lidera uma cruzada, junto dos EUA para se opor à independência, com o argumento de que estas ilhas eram importantes à estratégia da NATO, no Atlântico Sul - Por essa razão, a administração americana, envia a S. Tomé, seu cônsul em Luanda - Uma das pessoas, como quem procurou falar, foi justamente comigo, na altura correspondeste da Revista Semana Ilustrada.
Tal como referi, noutra postagem deste site, "O Cônsul dos EUA, em Luanda, deslocou-se a S. Tomé, no período mais conturbado que antecedeu a independência do arquipélago. Eu era o delegado da revista angolana Semana Ilustrada e, entre as pessoas com quem falou, eu fui uma delas. O governo americano desconhecia o que ali se passava e, pressionado pelo General Spínola, que se opunha à independência daquela antiga colónia, deu instruções ao diplomata, acreditado em Angola, para se deslocar imediatamente com duas missões: recolher o máximo de informações possíveis do movimento pró-independentista.
2015 - banco onde nos sentámos |
IMPORTÂNCIA GEOESTRATÉGICA NA ATUALIDADE
Acerca deste assunto, vejamos o que disse, em 30-5- 2012 o então primeiro-ministro, Patrice Trovoada «Estamos no equador; no centro do Golfo da Guiné. A África Central está a duas horas, assim como todos os países desde Angola, a sul, até à Serra Leoa, a norte...junto a nós está um mercado com cerca de 300 milhões de consumidores, naquela que é a região mais rica da África subsaariana»,
A
região onde está São Tomé e Príncipe é também um poço de riqueza, com «uma
média de produção de cinco milhões de barris de petróleo por dia, na zona com a
maior produção de cacau, com bauxite, manganésio, gás, fosfatos...»,
esclareceu o governante. Perto está também a Nigéria que, segundo
Patrice, «será o terceiro país do mundo com o maior número de
habitantes, a seguir à China e Índia». São Tomé quer maior aproximação a países próximos do ...
SÃO TOMÉ E A PONTE AÉREA COM O BIAFRA
Outra questão introduzida na Palestra, embora de forma muito sumária, foi a da famosa ponte aérea S. Tomé-Biafra
"A Guerra Civil da Nigéria, também conhecida como Guerra Civil Nigeriana, Guerra Nigéria-Biafra ou ainda Guerra do Biafra que durou de de 6 de Junho de 1976 a 13 de Janeiro de 1970,
foi um conflito político causado pela tentativa de separação das
províncias ao Sudeste da Nigéria, como a República autoproclamada do Biafra. O governo federal nigeriano opôs-se e começou a Guerra do Biafra (1967-70)" InGuerra Civil da Nigéria
Do lado do Governo Federal da Nigéria – mantiveram-se fiéis os ingleses,
que, no início dos anos 60 haviam reconhecido a independência à sua
antiga colónia, a que veio juntar-se o apoio dos Americanos (que
fizeram o jogo duplo) e, por último, os caças Mig da União Soviética
- intervenção esta crucial: os russos, sempre de olho no melhor furo,
não quiseram ficar de fora, mesmo ao lado dos maiores inimigos.
Por sua vez o governo rebelde do "Biafra foi reconhecido pelo Gabão, Haiti, Coya do Marfim, Tanzãnia e Zâmbia.Outras nações não deram reconhecimento oficial, mas providenciaram assistência ao Biafra: Istral, França, Portugal, Rod´seia e Àfrica do Sul. O Biafra também recebeu ajuda de
organizações não governamentais como a Joint Church Aid, a Holy Ghost
Fathers of Ireland, a Caritas Internacional, a MarkPress e a U.S. Catholic Relief Service". In Biafra – Wikipédia
BOAS RECORDAÇÕES?!..: - CERTAMENTE PARA QUEM PARTICIPOU NA PONTE AÉREA E À MARGEM DA GUERRA E LUCROU! - MAS DE MUITO MÁ MEMÓRIA PARA QUEM SOFREU DIRECTAMENTE OS HORRORES DESSA GUERRA OU FOI SIMPLESMENTE USADO
O
legado da ajuda humanitária da ponte área de S. Tomé-Biafra, deixou
recordações indeléveis para os seus intervenientes - Todos terão, com
certeza, os seus episódios para contar - sobretudo os pilotos dos
aviões - Mas, no tocante aos reflexos nas população das ilhas, foi uma
espécie de meteoro que vira atravessar-se no firmamento, vira-o à
sua frente, mas, conforme apareceu, assim desapareceu - Nada de útil
lhe trouxe, em nada a favoreceu. Pelo contrário, em certos aspectos,
até terá deixado muito más recordações.
Fomentou-se a prostituição e houve muito quem abusasse de jovens adolescentes (a troco de quase nada) e, mesmo as organizações humanitárias, nem sequer se dignaram distribuir uma simples lata de leite em pó, tigela de feijão ou de arroz: a um velho, a um mendigo ou a uma criança - E a mortalidade infantil era elevadíssima! -
PREFERIAM DEIXAR ESTRAGAR OS ALIMENTOS A DISTRIBUIR UMAS MÍSERAS MIGALHAS AOS SANTOMENSES - NO FIM DE CONTAS, NÃO SE RESOLVEU O PROBLEMA DA FOME NO BIAFRA NEM SE PRESTOU QUALQUER AJUDA PRÁTICA ÀS CRIANÇAS E À POPULAÇÃO DAS ILHAS
Havia crianças muito carentes, que bem precisavam de alguns desses alimentos! - Vi mães a chorar ao lado dos pequeninos caixões (ou simplesmente com o cadáver embrulhado num modesto cobertor) a derramarem-se em lágrimas de dor e sofrimento, porque, o estado de fraqueza e a falta de medicamentos do menino ou da sua menina, lhe havia tornando a vida mais frágil à desinteria, à tuberculose e à malária - Quem se importava?!... Alguns daqueles pastores ou padres, se interessou pelas crianças santomenses?!... Não proporcionavam imagens nas primeiras páginas da imprensa internacional - E também sabiam que não podiam arriscar romper a cumplicidade mantida com o governo colonial.
Aos adultos restava-lhe o cheiro intenso desses produtos à mistura com os do cacau e do café, quando passavam à frente dos armazéns – E também os próprios miúdos, que não deixaram de parar, espreitar e “farejar” o que havia ensacado ou nas inúmeras caixas de cartão ou em paletes de madeira, no interior desses mesmos armazéns, ironicamente espalhados em vários pontos da cidade, pagando alugueres milionários aos roceiros - onde costumavam armazenar o cacau e o café para embarque, e que agora, só a cedência de uma parte do espaço, lhes iria trazer lucros bem mais avultados de que as colheitas desses produtos tropicais.
Grandes felizardos! Porém, os sacrificados carregadores negros, cujos modestos salários nem por isso haviam beneficiado um centavo, carregando às costas pesados sacos e acarretando pesadíssimas contendores, para eles a vida continuava como dantes: tudo lhes passava ou às costas ou pelas mãos, mas ao lado: muitos deles, esfomeados e com a barriga a dar horas, verem tanta comida, tantos alimentos e alguns já prontos a serem consumidos (o queijo enlatado, por exemplo) e não lhe poderem tocar!!... Calculo!... Pior que o suplício do Tântalo
Fomentou-se a prostituição e houve muito quem abusasse de jovens adolescentes (a troco de quase nada) e, mesmo as organizações humanitárias, nem sequer se dignaram distribuir uma simples lata de leite em pó, tigela de feijão ou de arroz: a um velho, a um mendigo ou a uma criança - E a mortalidade infantil era elevadíssima! -
PREFERIAM DEIXAR ESTRAGAR OS ALIMENTOS A DISTRIBUIR UMAS MÍSERAS MIGALHAS AOS SANTOMENSES - NO FIM DE CONTAS, NÃO SE RESOLVEU O PROBLEMA DA FOME NO BIAFRA NEM SE PRESTOU QUALQUER AJUDA PRÁTICA ÀS CRIANÇAS E À POPULAÇÃO DAS ILHAS
Havia crianças muito carentes, que bem precisavam de alguns desses alimentos! - Vi mães a chorar ao lado dos pequeninos caixões (ou simplesmente com o cadáver embrulhado num modesto cobertor) a derramarem-se em lágrimas de dor e sofrimento, porque, o estado de fraqueza e a falta de medicamentos do menino ou da sua menina, lhe havia tornando a vida mais frágil à desinteria, à tuberculose e à malária - Quem se importava?!... Alguns daqueles pastores ou padres, se interessou pelas crianças santomenses?!... Não proporcionavam imagens nas primeiras páginas da imprensa internacional - E também sabiam que não podiam arriscar romper a cumplicidade mantida com o governo colonial.
Aos adultos restava-lhe o cheiro intenso desses produtos à mistura com os do cacau e do café, quando passavam à frente dos armazéns – E também os próprios miúdos, que não deixaram de parar, espreitar e “farejar” o que havia ensacado ou nas inúmeras caixas de cartão ou em paletes de madeira, no interior desses mesmos armazéns, ironicamente espalhados em vários pontos da cidade, pagando alugueres milionários aos roceiros - onde costumavam armazenar o cacau e o café para embarque, e que agora, só a cedência de uma parte do espaço, lhes iria trazer lucros bem mais avultados de que as colheitas desses produtos tropicais.
Grandes felizardos! Porém, os sacrificados carregadores negros, cujos modestos salários nem por isso haviam beneficiado um centavo, carregando às costas pesados sacos e acarretando pesadíssimas contendores, para eles a vida continuava como dantes: tudo lhes passava ou às costas ou pelas mãos, mas ao lado: muitos deles, esfomeados e com a barriga a dar horas, verem tanta comida, tantos alimentos e alguns já prontos a serem consumidos (o queijo enlatado, por exemplo) e não lhe poderem tocar!!... Calculo!... Pior que o suplício do Tântalo
Aliás,
o Governo colonial, que foi quem mais lucrou com as taxas aduaneiras,
alguma vez ia admitir a existência de fome nas Ilhas?!... E a
pretensa ajuda humanitária beneficiou talvez até muito pouco os
próprios biafrenses – pois, se tal acontecesse, as crianças que foram
acolhidas em S. Tomé, não teriam chegado no ponto de desnutrição que
atestavam as imagens - Mais pormenores neste site, em são tomé e a guerra do biafra: odisseia dos voos de ....E também (2) SÃO TOMÉ E A GUERRA DO BIAFRA:vespia “mata hari” OU A “MADAME DU CAPITAINE” - O ROCAMBOLESCO EPISÓDIO DUM PIDE
40 ANOS DA GUERRA DO BIAFRA, UM MONUMENTO
INTERNACIONAL À AJUDA HUMANITÁRIA EM SÃO TOMÉ
16-11-2007 -Associação Caué quer levar a Património Mundial vestígios do
acontecimento. (...) No documento solicita-se expressamente ao Governo da
República que tome em consideração o pedido dos signatários da campanha para
que os restos das duas aeronaves sejam declaradas, do ponto de vista legal,
"Monumento à Ajuda Humanitária", passando a formar parte do
património nacional são-tomense, reconhecendo-se, assim, a necessidade da sua
preservação para a memória histórica. Também se solicitou à Senhora Ministra
que seja considerada seriamente a restauração e a consolidação dos aviões e do
espaço que estão a ocupar, e a possibilidade de transformar um dos dois
aparelhos, em centro de interpretação da história da ajuda humanitária e da
mediação e resolução de conflitos, acção que poderia vir acompanhada da
organização de conferências e exposições sobre a temática da ajuda
internacional e a instalação em lugar visível de uma placa de homenagem aos
homens e mulheres que participaram na ponte aérea. - Excerto de ]Download 40_anos_da_guerra_do_biafra.doc - Macua bl
RETOMANDO AS ODISSEIAS DO PICO CÃO GRANDE
Cão Grande Pico Difícil –
artigo publicado na Revista Semana Ilustrada – Nº 358 – de 1 a 8 de Maio –
Portanto, tratou-se de uma escalda feita em Abril de 1974
De natureza vulcânica, o
Cão Grande é , de facto uma rocha extremamente difícil. Eu tenho essa impressão
desde há muito - perto de quatro anos, que é o tempo que tenho levado a tentar
escalá-lo. Nunca a considerei foi impossível. Hoje, porém, a minha impressão,
acerca desta pedra, é bem outra. Estou plenamente convencido, não obstante os
progressos que tenho vindo a fazer com o meu companheiro, Pires dos Santos, que
os metros finais que nos faltam constituem um autêntico suicídio, tais os
obstáculos e dificuldades que temos pela frente. Por outro lado, ali chove
quase todos os dias, tornando-se portanto muito difícil acertar com um dia de
tempo bom – Sim, porque a chuva. de um
momento para o outro, pode
comprometer todos os nossos esforços.
Ainda, agora, da última vez que ali estivemos, se
acaso não tivéssemos vindo pernoitar, a uns tantos metros abaixo do ponto onde
chegamos no primeiro dia, teríamos, com toda a certeza, lá ficado encurralados, por tempo
indeterminado, até que parasse de chover
e a rocha secasse.
Com Olinto Daio, Ministro da Educação, Cultura e Ciência, |
A chuva, que tão agradavelmente ouvimos, cair lá longe, na imensa floresta que nos rodeia, pode, pois, de um instante para o outro, transformar a nossa escalada, de naturais dificuldades, numa verdadeira luta com o perigo, bem visível a nossos pés.
Eric Shinpton, no seu livro "A Conquista de Evereste,
refere a dado passo , nas últimas
páginas, depois de narrar a mais
empolgante odisseia sobre a maior
montanha da terra:
“Ouvia-se, com
frequência, a afirmação de· que, infelizmente e, após a conquista do Everest, não restaria qualquer ponto da
superfície da terra que o homem não tivesse pisado. Nenhum explorador concordou
jamais com tal afirmação; para um montanhista, ela constitui um perfeito
disparate”
Recebido Pelo Presidente Manuel Pinto da Costa |
E mais adiante, acrescenta: " É preciso , também, não esquecermos que parte dos que foram vencidos” (referia-se aos picos gigantes} pertencem a o grupo daqueles que menos dificuldades oferecem. Muitos, de tantos que restam , exigirão muito mais trabalho e perícia".
E ainda a este propósito,
afirma: Enquanto os gigantes se contam
por poucas dezenas, há milhares de outros. A grande maioria não tem nome, nem
se lhe conhece a altitude. Muitíssimos
nem sequer vêm mencionados nos mapas. Alguns deles são bem mais difíceis do que
qualquer dos gigantes; e, na verdade quanto a mim, muitos dos que vi, estão
para além do alcance mesmo da mais moderna técnica do montanhismo.
A
escalada do Monte Everest abrirá julgo eu, uma nova era de montanhismo no Himaia. Assim como a primeira ascensão do
Monte Branco inaugurou a "´época de ouro" do alpinismo, assim as
gerações futuras considerarão a subida ao Pico Everest como o início da “idade
de ouro” do do montanhismo do Himalaia, de muito maior duração no tempo. Não,
não há de modo nenhum falta de novos objetivos
a serem atingidos por novas e inspiradas empresas humanas! E os nossos sucessores, em muitas e
em muitas gerações , hão-de encontrar uma enorme quantidade deles!”
Estamos plenamente certos
que o Pico Cão é um deles. Uma verdadeira aventura, para qualquer amante da
arte de escalar.
Junto do Coronel Victor Monteiro, |
O clima é um deles, e por isso não me parece que um
alpinista, habituado a trepar montanhas geladas, com um equipamento, forçosamente
diferente, possa vir a subir uma parede, onde, por vezes e em certas alturas do
dia, o calor o sufocaria com mais facilidade um montanhista
Habituado aos rigores e à
inclemência de um sol equatorial. Pois, escalar uma rocha, não é o mesmo que
fazer um passeio. Gastam-se horas e horas, muitas vezes para se avançarem uns
metros. E o astro-rei (no nosso caso)a incidir ali em cima com toda a
intensidade. Para mim, portanto, a escalada a uma montanha gelada (onde o
alpinismo está mais generalizado) trata-se,
consequentemente, além de perícia e de
umas certas qualidades que é preciso reunir, mais de uma prova de resistências
às intempéries, , próprias desses
climas, que de outra coisa. Até porque, se
lá nesses pontos, existissem rochas com as características das do Cão
Grande cobertas de neve ou de gelo, não vejo que houvesse grandes hipótesés de
as subirem. Ou pelo menos com aquela
facilidade que talvez alguns
julguem. Lá, pois, é o frio, a neve ou o gelo a impedirem o acesso, aqui, não é
o gelo, nem o frio ou a neve mas as
chuvas que caem copiosamente, e, quando não estas não sobrevêm, é a existência
de um calor de morrer ou então de um vento de nos projetar no espaço.
(…) A nossa maior
dificuldade, não é a altura. Tão pouco a rocha ser ou não mais perpendicular, mas a ausência de fendas em
certas faces deste pico para a colocação
dos necessários apoios que nos
permitam prosseguir. E, numa rocha
vulcânica como a do Cão Grande, a
perfuração é impraticável, a menos com
auxílio de fortes berbequins elétricos (manuais, nem pensar, era toda a vida) o
que, além de ser pouco desportivo, é
ainda demasiado embaraço, senão mesmo inacessível .
Então qual o processo já
utilizado para fazermos os progressos que temos feito? Sim, de facto, que as
tais passagens onde as fendas não existem ou pelo menos não se encontram nos lugares mais convenientes, têm-nos custado bastante sacrifícios e o recurso a
inúmeros processos. Porém, os quatro
anos de tentativas sem conta, das maiores canseiras e de insucessos sobre insucessos, felizmente para
alguma coisa têm servido. É que o
aperfeiçoamento de uma técnica, o emprego de material mais apropriado (não
o melhor, claro), pois todo ele tem sido
improvisado por nós e nem sequer com a possibilidade de adquirirmos o que nos pareça mais útil), é
coisa que leva o seu tempo. E a verdade é que, durante este tempo, nós só tivemos oportunidade de irmos
descobrindo o material que nos pareceu o mais adequado e aperfeiçoarmos a nossa
técnica. Talvez muitos montanhistas, estejam
longe de supor, como podemos aprender muitas outras coisas quanto à arte de
escalar, independentemente, claro, da riquíssima experiência humana adquirida. E, já agora, a título de
curiosidade, sobre o material que temos levado, podemos adiantar que, pequenas
passagens houve, que nos ficaram bastante caras, não só em sacrifícios, como
mesmo em dinheiro, quantia que, incluindo outras despesas e na sua totalidade,
deve ir à vontadinha para além dos 30 contos.
Estas, pois, algumas das
razões que, de volta e meia, me atiram para aquela rocha. Rocha esta que ainda
não consegui escalar totalmente, mas
que, por esse motivo, de modo algum poderei aceitar como impossível
Independentemente de
qualquer material a que temos recorrido, os nossos pequenos êxitos, os pedaços
de rocha sucessivamente conquistados, têm dependido, sobretudo, mais no nosso querer, da nossa enorme força
de vontade e determinação, digamos
assim, e a um bocado de sangue frio perante o precipício, que de
outros factores que se possam imaginar. Predicados esses que é necessário
possuir, visto os obstáculos serem de facto enormes e bem variados.
Desde a rocha escalvada,
escorregadia e perpendicular, a faixas a desmoronar em ou as saliências do
sexto grau, verdadeiras plataformas ou abismos fora da vertical, as quais tem
sido, como se depreende, o nosso principal quebra-cabeças.
Da última
vez que lá fomos, foi
precisamente uma passagem destas que não nos permitiu o acesso ao cume, donde ficámos maís ou menos a cerca de vinte
e poucos metros.
E nada mais penoso é para
um montanhista do que, depois de subir
uma rocha em quase toda a sua extensão (sobretudo com as características como as do Cão Grande) vencer inúmeras
dificuldades e obstáculos, sujeitar-se a constantes riscos e, por fim, já muito pertinho da sua
crista, por um imperativo de força maior, ser obrigado a regressar, quando
pensava que afinal já nada lhe impediria, para de novo ter de lá voltar, pelos
mesmos caminhos, conhecer as mesmas
dificuldades e obstáculos, experimentar a sensação dos mesmos riscos, e, depois de
ter estado tão pertinho, do cume das suas ambições, dizíamos, sofrer a amarga decepção de aguardar o prazer
dessa efémera vitória ( sim, porque ao fim ao cabo de efémera se trata) para outra oportunidade.
A maioria dos desportos,
quaisquer que sejam, implicam competição. No caso do alpinismo, os princípios
são bem outros: numa escalada, da segurança de um depende a do companheiro ou·
de todos os elementos que compõem a expedição. Porque a pratica do alpinismo é
forçosamente perigoso e todo o cuidado que se põe é pouco. Por isso, agora foi a rocha que não
nos deixou passar, mas, noutras vezes, tem sido o mau tempo ou um de nós
adoecer: - sabemos que, numa circunstância difícil - por mais perto que esteja
o cume ambicionado - , é preferível voltar e continuar noutra ocasião, Foi o
que fizemos da última vez. Para a próxima, creio que iremos mais bem
apetrechados e talvez até com um pouco mais de coragem.
Entretanto, seguindo um
ritual montanístico, para garantirmos a nossa presença num pedaço de rocha onde
nunca ninguém foi, temos levado connosco
a bandeira nacional para a fincarmos no
ponto cimeiro deste pico. Como este objectivo tem estado demorado, já é
a terceira bandeira que levamos. Devido
às intempéries, foram-se desfazendo e
tiveram sucessivamente de ser substituídas. Esperamos que à terceira seja de
vez: a ser desfraldada no topo do Cão Grande.
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