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quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Casa da Gruta, em Cascais, encheu para ouvir falar da escalada, há 40 anos, do Pico Cão Grande, em S. Tomé - Despertando a curiosidade de alguns dos mais conceituados praticantes do alpinismo – Falou-se também da posição geoestratégica das Ilhas do Equador e recordou-se a ponte aérea com o Biafra

Jorge Trabulo Marques - Jornalista, navegador solitário e líder da escalada do Pico Cão Grande, em S. Tomé 





Rogério Morais - Coordenador  e Presidente da A.Desnível
Palestra sobre os 40 anos da escalada do Pico Cão Grande –  Três horas de entusiástico convívio e fraternal diálogo, em que as ilhas de S. Tomé e Príncipe, embora bem longínquas, estiveram  continuamente no pensamento  de todos os presentes, não apenas do tema em questão mas sobre  outras abordagens -  Incluindo a sua posição estratégica no Golfo da Guiné e a ponte aérea - S. Tomé - Biafra - Mapas  dependurados, além de um desenho artístico de autoria de Emma Karkamper, como pano de fundo música típica desta maravilhosa ilha,  muitos slides  projetados numa das paredes, com imagens do
Cão Grande, desse monumental monumento da natureza verdadeiro ex-libris da sua geografia,  mas também outras fotos recordando a mais ousada escalada, há 40 anos, numa das mais difíceis agulhas da Terra,    este o  ambiente, observado e vivido, ao longo de quase três horas, na Casa da Gruta, em Cascais, que terminou depois da meia noite e meia hora, já do dia de hoje



´Tal o entusiasmo gerado  à volta da escalada do Pico Cão Grande, associado às maravilhas da paisagem de S. Tomé e Príncipe, que ficou a pairar o desejo de ali se deslocar uma equipa de alpinistas desta associação para concretizar a segunda escalada do Pico Cão Grande, depois de quatro tentativas goradas por outras equipas


 MENTIRAM A equipa liderada por Matteo  Rivadossi, que se deslocou ao Pico Grande e Pico Cão Pequeno, em 2001, e  veio declarar às televisões  (e continua a dizê-lo  ainda no seu site) ter escalado ambos os picos, é falso: apenas escalou o Cão Pequeno – Foi demonstrado documentalmente na minha palestra – Disso me ocuparei em próxima postagem




Em 12 de Outubro, de 1975, a minha equipa, conquistava, finalmente, o tão desejado cume do Pico Cão Grande, tentado por várias equipas estrangeiras, sem êxito - Dois anos sozinho, e, por fim, de, 73 a 75, com uma equipa de valorosos santomenses - Constantino Bragança, Cosme Pires dos Santos, e os guias, Sebastião e o Chio - conquistávamos a crista de um dos mais difíceis e espantosos  monólitos do planeta – Numa das mais arrojadas e épicas escaladas da história do alpinismo, num tempo em que a improvisação, o engenho, a coragem e a imaginação, substituíam as atuais tecnologias. 


linkes relacionados com a escalada do Cão Grande - 

Há momentos que podem significar o esforço de uma vida  - Nunca me aventurei atrás de distinções ou de medalhas - Mas ao menos que, como recompensa, não tivesse contado com a incompreensão: preso e espancado pela PIDE, com pesada coima da Capitania dos Portos, após a atribulada travessia de canoa  S. Tomé ao Príncipe - Dezassete dias detido na Nigéria, após os 13 dias de travessia desde a Ilha de S. Tomé: Preso na Guiné Equatorial - numa das pisões mais sinistras de África - após o longo calvário de 38 dias à deriva, desde Ano Bom. Finalmente alguém se lembrou de me dar um quadro, um lindíssimo desenho do Pico Cão Grande, de autoria Emma Harkämper – Oferecido por Catherine de Freitas, um dos membros da Associação Desnível. que eu aceitei como um prémio - e cujo significado torno extensivo aos meus companheiros santomenses.




Tal como atrás me referi, o tema da palestra foi mais abrangente -  Falou-se de aventuras e de outros temas - Que, de algum modo, se associaram  ao espírito que presidiu às  comemorações do 40.º aniversário da Independência de São Tomé e Príncipe, no passado dia 12 de Julho, a que tive o prazer de  assistir, quer  testemunhando o entusiasmo e alegria do Povo destas maravilhosas Ilhas, quer, uns dias depois, com a exposição fotográfica e documental,  Sobreviver no Mar dos Tornados", que apresentei no Centro Cultural Português, a que me deu a hora de presidir, entre outras entidades, o Sr.  Ministro da Educação, Cultura e Ciência, Olinto Daio, Inauguração  Inauguração https://canoasdomar.blogspot.com/2015/07/em-s-tome-e-hoje-no-centro-cultural.html

Mesmo em noite fria de Novembro, tal não desmotivou a curiosidade daqueles que já se habituaram a escalar algumas das mais altas montanhas da Terra, a enfrentar as condições climatéricas as mais adversas, a vencer as mais íngremes vertentes, a  fazer da escalada a sua grande paixão, a superarem os limites do impossível nas maiores alturas da Natureza   – Sim, foram sobretudo, estes, alguns dos veteranos do alpinismo português, nomeadamente da região de Lisboa – que não deixaram de comparecer  à iniciativa promovida  pela  Associação  de Desportos de Aventura Desnível, a afim de assistirem, na sua sede, Bairro de S. José, em Cascais, a uma palestra sobre os “Os 40 anos da Escalada do Pico Cão Grande.






O auditório-biblioteca da  Casa da Gruta, encheu completamente – Num  espaço que não foi concebido a pensar em grandes plateias: - aqui não há necessidade de colunas de som para a palavra ser atentamente ouvida - Sim, porque é, justamente, esse caráter, quase intimista, que, de algum modo, norteia  o espírito de uma associação, que, não tendo a expressão das grandes coletividades,  visa, essencialmente,  a mais estreita ligação, com os seus membros, habituados aos silêncios, à paz e à tranquilidade das grandes alturas, longe do rugido da turba, em progressões lentas mas persistentes, ascendendo, desafiando  as mais incríveis veredas,  desde as agrestes escarpas, aos picos mais aguçados ou montanhas coroadas de neve de faces, onde a vertigem se confunde com o sonho e o deslumbramento.

Rogério Paulo M. Morais - Presidente da Associação Desnível

Uma 
Festejou-se até um aniversário
oportunidade, muito interessante, coroada de entusiástico  convívio e partilha de experiências, que serviu, não apenas para recordar a memória das várias escaladas do Pico Cão (além de desmascarar  a via mambo italiana, em 2001, mas lá iremos noutro post), mas também, embora de forma mais sumária, falar das minhas aventuras marítimas, em frágeis pirogas, nos mares do Golfo da Guiné





Depois de se apreciar um saboroso moscatel, acompanhado de figos e amêndoas durienses  e até de inhame  assado de S. Tomé,  teve lugar a apresentação da palestra, com umas palavras amigas e introdutórias de  Rogério Paulo, o Presidente da Associação Desnível, que teve a amabilidade de me dirigir o honroso convite, assim como de  fazer o alinhamento das imagens que agora iam ser projetadas, e, ao mesmo tempo, ser o moderador da palestra


O  ponto de partida para esta minha viagem ao passado, começaria, naturalmente, por recuar  à  minha adolescência, assim como aos meus tempos de estudante na Escola de Santo Tirso, já que, em boa parte,  tanto a aldeia onde nasci, como os quatro anos passados nesta instituição,  acabariam por ter uma forte influência no meu espírito aventureiro.



Mas primeiro foram, naturalmente as  minhas  saudações e cumprimentos, não apenas a alguns amigos que não deixaram de me honrar com  a sua presença,  como a todos quantos ali se encontravam na sala, porque,   a bem dizer, em cada rosto que ali chegava, havia um sorriso amigo, uma expressão natural de elevado companheirismo, como se todos nos conhecêssemos há muito tempo e partilhássemos dos mesmos riscos e ousadias  de escalar rochas, tão verticais e tão íngremes.


E depois lá comecei por então ir ao passado das minhas mais antigas recordações. Recordando  os meus giros até à penedia dos Tambores, nos arredores da minha aldeia,  nos tempos da minha adolescência, em que andava por lá a trepar e  a saltitar de penedo em penedo, no planalto rochoso de um dos mais insólitos e vastos afloramentos graníticos, que se erguem e estendem num dos extremos da chamada meseta ibérica, na margem direita da ribeira Centeeira, afluente do Rio Côa,

Ainda hoje  continua a ser   o meu retiro predileto, o lugar eleito das minhas fugas da cidade para o campo,  para onde vou, sempre que posso, nos meus devaneios espirituais. Pois  é lá, ante a vasta linha daqueles horizontes, que eu sinto, bem presente,  a minha identidade, a suave harmonia das minhas raízes, o genuíno pulsar da minha origem, desde o seu lado mais ancestral, até ao mais próximo.  Porém, mais de que o  torrão que me viu nascer, o que ali revejo e descubro, a cada passo, é a visão de um  lugar sagrado, cenário iminentemente espiritual, que convida à contemplação e à purificação do corpo e da alma - A inolvidável perceção de quem sente e escuta um hino de serenidade e de louvor a Deus 


 Importância da posição geoestratégica das Ilhas Verdes do Equador

Para situar o debate, começou-se por abordar a posição geoestratégica de S. Tomé, que, no fundo, é a mesma da Ilha do Príncipe - Naturalmente, que é importante - Assim foi  reconhecida, sobretudo na década de 60, após o início da guerra colonial - Não tanto por que estas ilhas pudessem constituir perigosos focos de resistência armada, que não chegou a existir, dado o sentimento pacifista que caracteriza os povos destas ilhas, mas como ponto estratégico da navegação marítima, que, de resto, sempre foi, ao longo dos tempos, nomeadamente como entreposto de escravos -No entanto, é a partir do inicio da década 70, que o regime colonial se propõe instalar na ilha de S. Tomé, potentes emissores para a sua propaganda para o resto da África.


   Pós 25 de Abril, é o próprio General Spínola, que lidera uma cruzada, junto dos EUA para se opor à independência, com o argumento de que estas ilhas eram importantes à estratégia da NATO, no Atlântico Sul  - Por essa razão, a administração americana, envia a S. Tomé, seu cônsul em Luanda - Uma das pessoas, como quem procurou falar, foi justamente comigo, na altura correspondeste da Revista Semana Ilustrada.

Tal como referi, noutra postagem deste site, "O Cônsul dos EUA, em Luanda,  deslocou-se a S. Tomé, no período mais conturbado que antecedeu a independência do arquipélago. Eu era o delegado da revista angolana Semana Ilustrada e, entre as pessoas com quem falou, eu fui uma delas. O governo americano desconhecia o que ali se passava e, pressionado pelo General Spínola, que se opunha à independência daquela antiga colónia, deu instruções ao diplomata, acreditado em Angola, para se deslocar imediatamente com duas missões: recolher o máximo de informações possíveis do movimento pró-independentista.

2015 - banco onde nos sentámos 
Sr. Everett Ellis Briggs, precisava urgentemente de elaborar um relatório sobre a situação  política e económica de S. Tomé e Príncipe. Queria saber se as ilhas dispunham de recursos económicos para serem independentes.  E necessitava de enviar esse relatório  à sua Administração, antes do General Costa Gomes discursar na ONU e ser recebido,  com Mário Soares, na Casa Branca, pelo então Presidente Gerald Ford e  o  Secretário de Estado Henri Kissinger -Veio a S. Tomé propositadamente com esse propósito - Entre as várias pessoas que contactou, eu fui uma delas. Mais pormenores neste site em Segredos da descolonização  https://canoasdomar.blogspot.com/2020/09/segredos-da-descolonizacao-de-s-tome-e.html


 IMPORTÂNCIA GEOESTRATÉGICA NA ATUALIDADE



Acerca deste assunto, vejamos o que disse, em 30-5- 2012 o então primeiro-ministro, Patrice  Trovoada «Estamos no equador; no centro do Golfo da Guiné. A África Central está a duas horas, assim como todos os países desde Angola, a sul, até à Serra Leoa, a norte...junto a nós está um mercado com cerca de 300 milhões de consumidores, naquela que é a região mais rica da África subsaariana»,

A região onde está São Tomé e Príncipe é também um poço de riqueza, com «uma média de produção de cinco milhões de barris de petróleo por dia, na zona com a maior produção de cacau, com bauxite, manganésio, gás, fosfatos...», esclareceu o governante. Perto está também a Nigéria que, segundo Patrice, «será o terceiro país do mundo com o maior número de habitantes, a seguir à China e Índia». São Tomé quer maior aproximação a países próximos do ...


 SÃO TOMÉ E A PONTE AÉREA COM O BIAFRA

Outra questão introduzida na Palestra, embora de forma muito sumária, foi a da famosa ponte aérea S. Tomé-Biafra 

 "A Guerra Civil da Nigéria, também conhecida como Guerra Civil Nigeriana, Guerra Nigéria-Biafra ou ainda Guerra do Biafra que durou de de 6 de Junho de 1976 a 13 de Janeiro de 1970, foi um conflito político causado pela tentativa de separação das províncias ao Sudeste da Nigéria, como a República autoproclamada do Biafra. O governo federal nigeriano opôs-se e começou a Guerra do Biafra (1967-70)" InGuerra Civil da Nigéria

Do lado do Governo Federal da Nigéria – mantiveram-se fiéis os ingleses, que, no início dos anos 60 haviam reconhecido a independência à sua antiga colónia, a que  veio juntar-se  o apoio dos  Americanos (que fizeram o jogo duplo) e, por último,  os caças Mig da União Soviética -   intervenção esta crucial: os russos, sempre de olho no melhor furo, não quiseram ficar de fora, mesmo ao lado dos maiores inimigos.

 Por sua vez o governo rebelde do "Biafra foi reconhecido pelo Gabão, Haiti, Coya do Marfim, Tanzãnia e Zâmbia.Outras nações não deram reconhecimento oficial, mas providenciaram assistência ao Biafra: Istral, França, Portugal, Rod´seia e Àfrica do Sul.  O Biafra também recebeu ajuda de organizações não governamentais como a Joint Church Aid, a Holy Ghost Fathers of Ireland, a Caritas Internacional, a MarkPress e a U.S. Catholic Relief Service". In Biafra – Wikipédia

BOAS RECORDAÇÕES?!..: - CERTAMENTE PARA QUEM PARTICIPOU NA PONTE AÉREA E À MARGEM DA GUERRA E LUCROU!  - MAS DE MUITO MÁ MEMÓRIA PARA QUEM SOFREU DIRECTAMENTE  OS HORRORES DESSA GUERRA OU FOI SIMPLESMENTE USADO 

O legado da ajuda humanitária da ponte área de S. Tomé-Biafra, deixou recordações indeléveis para os seus intervenientes - Todos terão, com certeza, os  seus episódios para contar - sobretudo os pilotos dos aviões - Mas, no tocante aos reflexos nas população das ilhas, foi uma espécie de meteoro  que vira atravessar-se no firmamento, vira-o à sua frente, mas, conforme apareceu, assim desapareceu  - Nada de útil lhe trouxe, em nada a favoreceu. Pelo contrário, em certos aspectos, até terá deixado muito más recordações. 

Fomentou-se a prostituição e houve muito quem abusasse de jovens adolescentes (a troco de quase nada) e, mesmo as organizações humanitárias, nem sequer se dignaram distribuir uma simples lata de leite em pó, tigela de feijão ou de arroz: a um velho, a um mendigo ou a uma criança - E a mortalidade infantil era elevadíssima! - 

PREFERIAM DEIXAR ESTRAGAR OS ALIMENTOS A DISTRIBUIR UMAS MÍSERAS MIGALHAS AOS SANTOMENSES -  NO FIM DE CONTAS, NÃO SE RESOLVEU O PROBLEMA DA FOME NO BIAFRA NEM SE PRESTOU QUALQUER AJUDA PRÁTICA ÀS CRIANÇAS E À POPULAÇÃO DAS ILHAS

Havia crianças muito carentes, que bem precisavam de alguns desses alimentos! - Vi mães a chorar ao lado dos pequeninos caixões (ou simplesmente com o cadáver embrulhado num modesto cobertor) a derramarem-se em lágrimas de dor e sofrimento, porque, o estado de fraqueza e a falta de medicamentos do menino ou da sua menina, lhe havia tornando a vida mais frágil à desinteria, à tuberculose e à malária - Quem se importava?!... Alguns daqueles pastores ou padres, se interessou pelas crianças santomenses?!... Não proporcionavam imagens nas primeiras páginas da imprensa internacional - E também sabiam que não podiam arriscar romper a  cumplicidade mantida com o governo colonial.

 Aos adultos restava-lhe  o cheiro intenso desses produtos à mistura com os do cacau e do café, quando passavam à frente dos armazéns – E também os próprios miúdos, que não deixaram de parar, espreitar e “farejar”  o que havia ensacado ou  nas inúmeras caixas de cartão ou em paletes de madeira, no interior desses mesmos armazéns, ironicamente espalhados em vários pontos da cidade, pagando alugueres milionários aos roceiros  - onde costumavam armazenar o cacau e o café para embarque, e que agora, só a cedência de uma parte do espaço, lhes iria trazer lucros bem mais avultados de que as colheitas desses produtos tropicais.

Grandes felizardos! Porém, os  sacrificados carregadores negros, cujos modestos salários nem por isso haviam beneficiado um centavo, carregando às costas  pesados sacos e   acarretando pesadíssimas contendores,  para eles a vida continuava como dantes:  tudo lhes passava ou às costas ou pelas mãos, mas ao lado: muitos deles, esfomeados e com a barriga a dar horas, verem tanta comida, tantos alimentos e alguns já prontos a serem consumidos (o queijo enlatado, por exemplo)  e não lhe poderem tocar!!... Calculo!... Pior que o suplício do Tântalo

 
Aliás, o Governo colonial, que foi quem mais lucrou com as taxas aduaneiras, alguma vez ia admitir a existência de fome nas Ilhas?!... E a pretensa ajuda humanitária beneficiou talvez até muito pouco os próprios biafrenses – pois, se tal acontecesse, as crianças que  foram acolhidas em S. Tomé, não teriam chegado no ponto de desnutrição que atestavam as imagens - Mais pormenores neste site, em são tomé e a guerra do biafra: odisseia dos voos de ....E também (2) SÃO TOMÉ E A GUERRA DO BIAFRA:vespia “mata hari” OU A “MADAME DU CAPITAINE” - O ROCAMBOLESCO EPISÓDIO DUM PIDE

40 ANOS DA GUERRA DO BIAFRA, UM MONUMENTO INTERNACIONAL À AJUDA HUMANITÁRIA EM SÃO TOMÉ

16-11-2007 -Associação Caué quer levar a Património Mundial vestígios do acontecimento.  (...) No documento solicita-se expressamente ao Governo da República que tome em consideração o pedido dos signatários da campanha para que os restos das duas aeronaves sejam declaradas, do ponto de vista legal, "Monumento à Ajuda Humanitária", passando a formar parte do património nacional são-tomense, reconhecendo-se, assim, a necessidade da sua preservação para a memória histórica. Também se solicitou à Senhora Ministra que seja considerada seriamente a restauração e a consolidação dos aviões e do espaço que estão a ocupar, e a possibilidade de transformar um dos dois aparelhos, em centro de interpretação da história da ajuda humanitária e da mediação e resolução de conflitos, acção que poderia vir acompanhada da organização de conferências e exposições sobre a temática da ajuda internacional e a instalação em lugar visível de uma placa de homenagem aos homens e mulheres que participaram na ponte aérea. - Excerto de ]Download 40_anos_da_guerra_do_biafra.doc - Macua bl




 RETOMANDO AS ODISSEIAS DO PICO CÃO GRANDE


Cão Grande Pico Difícil – artigo publicado na Revista Semana Ilustrada – Nº 358 – de 1 a 8 de Maio – Portanto, tratou-se de uma escalda feita em Abril de 1974

De natureza vulcânica, o Cão Grande é , de facto uma rocha extremamente difícil. Eu tenho essa impressão desde há muito - perto de quatro anos, que é o tempo que tenho levado a tentar escalá-lo. Nunca a considerei foi impossível. Hoje, porém, a minha impressão, acerca desta pedra, é bem outra. Estou plenamente convencido, não obstante os progressos que tenho vindo a fazer com o meu companheiro, Pires dos Santos, que os metros finais que nos faltam constituem um autêntico suicídio, tais os obstáculos e dificuldades que temos pela frente. Por outro lado, ali chove quase todos os dias, tornando-se portanto muito difícil acertar com um dia de tempo bom – Sim, porque a chuva. de um  momento  para o outro, pode comprometer todos os nossos esforços. 

Ainda,  agora, da última vez que ali estivemos, se acaso não tivéssemos vindo pernoitar, a uns tantos metros abaixo do ponto onde chegamos no primeiro dia, teríamos, com toda a certeza,  lá ficado encurralados, por tempo indeterminado, até que parasse de chover  e a rocha secasse. 

Com  Olinto  Daio, Ministro da  Educação, Cultura e Ciência, 


A chuva, que tão agradavelmente ouvimos, cair lá   longe, na imensa floresta que nos rodeia, pode, pois, de um instante para o outro, transformar a nossa escalada, de naturais dificuldades, numa verdadeira luta com o perigo, bem visível a nossos pés.
Eric Shinpton, no  seu livro "A Conquista de Evereste, refere a dado passo , nas últimas  páginas,  depois de narrar a mais empolgante odisseia  sobre a maior montanha  da terra: 

“Ouvia-se, com frequência, a afirmação de· que, infelizmente e, após a conquista  do Everest, não restaria qualquer ponto da superfície da terra que o homem não tivesse pisado. Nenhum explorador concordou jamais com tal afirmação; para um montanhista, ela constitui um perfeito disparate”


Recebido Pelo Presidente Manuel  Pinto da Costa 


E mais adiante, acrescenta: " É preciso , também, não esquecermos que parte dos que foram vencidos” (referia-se aos picos gigantes} pertencem a o grupo daqueles que menos dificuldades oferecem. Muitos, de tantos que restam , exigirão muito mais trabalho e perícia". 

E ainda a este propósito, afirma: Enquanto os gigantes se contam por poucas dezenas, há milhares de outros. A grande maioria não tem nome, nem se lhe conhece  a altitude. Muitíssimos nem sequer vêm mencionados nos mapas. Alguns deles são bem mais difíceis do que qualquer dos gigantes; e, na verdade quanto a mim, muitos dos que vi, estão para além do alcance mesmo da mais moderna técnica  do montanhismo. 

A escalada do Monte Everest abrirá julgo eu, uma nova era de montanhismo no  Himaia. Assim como a primeira ascensão do Monte Branco inaugurou a "´época de ouro" do alpinismo, assim as gerações futuras considerarão a subida ao Pico Everest como o início da “idade de ouro” do do montanhismo do Himalaia, de muito maior duração no tempo. Não, não há de modo nenhum falta de novos objetivos  a serem atingidos por novas e inspiradas empresas  humanas! E os nossos sucessores, em muitas e em muitas gerações , hão-de encontrar uma enorme quantidade deles!”

Estamos plenamente certos que o Pico Cão é um deles. Uma verdadeira aventura, para qualquer amante da arte de escalar. 

Junto do Coronel Victor Monteiro,
Já me tem dito que o Cão Grande  é um pico impossível de escalar. Que até cá esteve  uma equipa estrangeira para o subir e nem sequer  o tentou. Também já me têm falado que, se a escalada a este morro, fosse empreendida por um profissional de montanhismo, já a tinha completado. Não, não vejo porquê. Verdadeiramente, profissionais não os hã. Há, sim, de facto, indivíduos que se dedicam com maior ou menor regularidade a este tipo de desporto, mas, creio, nunca fazendo vida dele. Por outro lado, não compreendo bem porque ~ que um sujeito desses, vindo lá dos Alpes ou de outros lugares onde o montanhismo encontra maior número de adeptos, havia de escalar mais facilmente o Cão Grande, só pelo facto de ser mais praticado, quando, afinal, em meu ver, isso só por si, não basta, porque outros factores contam talvez mais consideravelmente .

O clima  é um deles, e por isso não me parece que um alpinista, habituado a trepar montanhas geladas, com um equipamento, forçosamente diferente, possa vir a subir uma parede, onde, por vezes e em certas alturas do dia, o calor o sufocaria com mais facilidade um montanhista

Habituado aos rigores e à inclemência de um sol equatorial. Pois, escalar uma rocha, não é o mesmo que fazer um passeio. Gastam-se horas e horas, muitas vezes para se avançarem uns metros. E o astro-rei (no nosso caso)a incidir ali em cima com toda a intensidade. Para mim, portanto, a escalada a uma montanha gelada (onde o alpinismo está  mais generalizado) trata-se, consequentemente, além  de perícia e de umas certas qualidades que é preciso reunir, mais de uma prova de resistências às intempéries, , próprias  desses climas, que de outra coisa. Até porque, se  lá nesses pontos, existissem rochas com as características das do Cão Grande cobertas de neve ou de gelo, não vejo que houvesse grandes hipótesés de as subirem. Ou pelo menos com aquela  facilidade  que talvez alguns julguem. Lá, pois, é o frio, a neve ou o gelo a impedirem o acesso, aqui, não é o gelo, nem o frio ou a neve mas  as chuvas que caem copiosamente, e, quando não estas não sobrevêm, é a existência de um calor de morrer ou então de um vento de nos projetar no espaço. 

(…) A nossa maior dificuldade, não é a altura. Tão pouco a rocha ser ou não mais  perpendicular, mas a ausência de fendas em certas faces deste pico para a colocação  dos necessários  apoios que nos permitam prosseguir. E, numa rocha  vulcânica como  a do Cão Grande, a perfuração  é impraticável, a menos com auxílio de fortes berbequins elétricos (manuais, nem pensar, era toda a vida) o que, além de ser pouco desportivo,  é ainda demasiado embaraço, senão mesmo inacessível .

Então qual o processo já utilizado para fazermos os progressos que temos feito? Sim, de facto, que as tais passagens onde as fendas não existem ou pelo menos não se encontram  nos lugares mais convenientes, têm-nos  custado bastante sacrifícios e o recurso a inúmeros processos. Porém,  os quatro anos de tentativas sem conta, das maiores canseiras e de  insucessos sobre insucessos, felizmente para alguma coisa têm servido.  É que o aperfeiçoamento de uma técnica, o emprego de material mais apropriado (não o  melhor, claro), pois todo ele tem sido improvisado por nós e nem sequer com a possibilidade  de adquirirmos o que nos pareça mais útil), é coisa que leva o seu tempo. E a verdade é que, durante este tempo,   nós só tivemos oportunidade de irmos descobrindo o material que nos pareceu o mais adequado e aperfeiçoarmos a nossa técnica. Talvez muitos montanhistas,  estejam longe de supor, como podemos aprender muitas outras coisas quanto à arte de escalar, independentemente, claro, da riquíssima experiência  humana adquirida. E, já agora, a título de curiosidade, sobre o material que temos levado, podemos adiantar que, pequenas passagens houve, que nos ficaram bastante caras, não só em sacrifícios, como mesmo em dinheiro, quantia que, incluindo outras despesas e na sua totalidade, deve ir à vontadinha para além dos 30 contos.

Estas, pois, algumas das razões que, de volta e meia, me atiram para aquela rocha. Rocha esta que ainda não consegui  escalar totalmente, mas que, por esse motivo, de modo algum poderei aceitar como impossível 

Independentemente de qualquer material a que temos recorrido, os nossos pequenos êxitos, os pedaços de rocha sucessivamente conquistados, têm dependido, sobretudo,  mais no nosso querer, da nossa enorme força de vontade e  determinação, digamos assim, e  a um bocado  de sangue frio perante o precipício, que de outros factores que se possam imaginar. Predicados esses que é necessário possuir,  visto os obstáculos  serem de facto enormes e bem variados. 

Desde a rocha escalvada, escorregadia e perpendicular, a faixas a desmoronar em ou as saliências do sexto  grau, verdadeiras plataformas  ou abismos fora da vertical, as quais tem sido, como se depreende, o nosso principal quebra-cabeças. 

Da  última  vez que lá  fomos, foi precisamente uma passagem destas que não nos permitiu o acesso ao cume,  donde ficámos maís ou menos a cerca de vinte e poucos metros. 

E nada mais penoso é para um montanhista do que, depois  de subir uma rocha em quase toda a sua extensão (sobretudo com as características  como as do Cão Grande) vencer inúmeras dificuldades e obstáculos, sujeitar-se a constantes  riscos e, por fim, já muito pertinho da sua crista, por um imperativo de força maior, ser obrigado a regressar, quando pensava que afinal já nada lhe impediria, para de novo ter de lá voltar, pelos mesmos caminhos, conhecer  as mesmas dificuldades  e obstáculos, experimentar  a sensação dos mesmos riscos, e, depois de ter estado tão pertinho, do cume das suas ambições, dizíamos,  sofrer a amarga decepção de aguardar o prazer dessa efémera vitória ( sim, porque ao fim ao cabo de efémera  se trata) para outra oportunidade. 

A maioria dos desportos, quaisquer que sejam, implicam competição. No caso do alpinismo, os princípios são bem outros: numa escalada, da segurança de um depende a do companheiro ou· de todos os elementos que compõem a expedição. Porque a pratica do alpinismo é forçosamente perigoso e todo o cuidado que se põe  é pouco. Por isso, agora foi a rocha que não nos deixou passar, mas, noutras vezes, tem sido o mau tempo ou um de nós adoecer: - sabemos que, numa circunstância difícil - por mais perto que esteja o cume ambicionado - , é preferível voltar e continuar noutra ocasião, Foi o que fizemos da última vez. Para a próxima, creio que iremos mais bem apetrechados e talvez até com um pouco mais de coragem.

Entretanto, seguindo um ritual montanístico, para garantirmos a nossa presença num pedaço de rocha onde nunca ninguém  foi, temos levado connosco a bandeira nacional para a fincarmos no  ponto cimeiro deste pico. Como este objectivo tem estado demorado, já é a terceira bandeira  que levamos. Devido às intempéries,  foram-se desfazendo e tiveram sucessivamente de ser substituídas. Esperamos que à terceira seja de vez: a  ser desfraldada  no topo do Cão Grande.
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