Jorge Trabulo Marques - Jornalista, navegador solitário e líder da escalada do Pico Cão Grande, em S. Tomé
Rogério Morais - Coordenador e Presidente da A.Desnível |
Palestra sobre os 40 anos da escalada do Pico Cão Grande
– Três horas de
entusiástico convívio e fraternal diálogo, em que as ilhas de S. Tomé e Príncipe, embora bem longínquas, estiveram continuamente no pensamento de
todos os presentes, não apenas do tema em questão mas sobre outras
abordagens - Incluindo a sua posição estratégica no Golfo da Guiné e a ponte
aérea - S. Tomé - Biafra - Mapas dependurados, além de um desenho
artístico de autoria de Emma Karkamper, como pano de fundo música típica desta
maravilhosa ilha, muitos slides projetados numa das paredes, com
imagens do
Cão Grande, desse monumental monumento da natureza, verdadeiro ex-libris da sua geografia, mas também outras fotos recordando a mais ousada escalada, há 40 anos, numa das mais difíceis agulhas da Terra, este o ambiente, observado e vivido, ao longo de quase três horas, na Casa da Gruta, em Cascais, que terminou depois da meia noite e meia hora, já do dia de hoje
Cão Grande, desse monumental monumento da natureza, verdadeiro ex-libris da sua geografia, mas também outras fotos recordando a mais ousada escalada, há 40 anos, numa das mais difíceis agulhas da Terra, este o ambiente, observado e vivido, ao longo de quase três horas, na Casa da Gruta, em Cascais, que terminou depois da meia noite e meia hora, já do dia de hoje

linkes relacionados com a escalada do Cão Grande -
Escalada Vertical ao pico Cão Grande Cão https://canoasdomar.blogspot.com/2012/02/cao-grande-em-sao-tome-grande-escalada.html
- E também https://canoasdomar.blogspot.com/2020/08/pico-cao-grande-em-s-tome-epica.html
Desmontagem de uma encenação https://canoasdomar.blogspot.com/2016/01/escalada-do-pico-cao-grande-em-s-tome.html Acidente no Pico Cão Pequeno https://canoasdomar.blogspot.com/2016/03/sao-tome-acidente-na-escalada-do-pico.html - Rumo ao Sul https://canoasdomar.blogspot.com/2016/02/pico-cao-pequeno-rumo-ao-sul-e-latitude.html
Tal como atrás me referi, o tema da palestra foi mais abrangente - Falou-se de aventuras e de outros temas - Que, de algum modo, se associaram ao espírito que presidiu às comemorações do 40.º aniversário da Independência de São Tomé e Príncipe, no passado dia 12 de Julho, a que tive o prazer de assistir, quer testemunhando o entusiasmo e alegria do Povo destas maravilhosas Ilhas, quer, uns dias depois, com a exposição fotográfica e documental, Sobreviver no Mar dos Tornados", que apresentei no Centro Cultural Português, a que me deu a hora de presidir, entre outras entidades, o Sr. Ministro da Educação, Cultura e Ciência, Olinto Daio, Inauguração Inauguração https://canoasdomar.blogspot.com/2015/07/em-s-tome-e-hoje-no-centro-cultural.html


Rogério Paulo M. Morais - Presidente da Associação Desnível |
Uma
Festejou-se até um aniversário |
Depois de se apreciar um saboroso moscatel, acompanhado de figos e amêndoas durienses e até de inhame assado de S. Tomé, teve lugar a apresentação da palestra, com umas palavras amigas e introdutórias de Rogério Paulo, o Presidente da Associação Desnível, que teve a amabilidade de me dirigir o honroso convite, assim como de fazer o alinhamento das imagens que agora iam ser projetadas, e, ao mesmo tempo, ser o moderador da palestra


Mas primeiro foram, naturalmente as minhas saudações e cumprimentos, não apenas a alguns amigos que não deixaram de me honrar com a sua presença, como a todos quantos ali se encontravam na sala, porque, a bem dizer, em cada rosto que ali chegava, havia um sorriso amigo, uma expressão natural de elevado companheirismo, como se todos nos conhecêssemos há muito tempo e partilhássemos dos mesmos riscos e ousadias de escalar rochas, tão verticais e tão íngremes.

Importância da posição geoestratégica das Ilhas Verdes do Equador

Pós 25 de Abril, é o próprio General Spínola, que lidera uma cruzada, junto dos EUA para se opor à independência, com o argumento de que estas ilhas eram importantes à estratégia da NATO, no Atlântico Sul - Por essa razão, a administração americana, envia a S. Tomé, seu cônsul em Luanda - Uma das pessoas, como quem procurou falar, foi justamente comigo, na altura correspondeste da Revista Semana Ilustrada.
2015 - banco onde nos sentámos |
IMPORTÂNCIA GEOESTRATÉGICA NA ATUALIDADE

A
região onde está São Tomé e Príncipe é também um poço de riqueza, com «uma
média de produção de cinco milhões de barris de petróleo por dia, na zona com a
maior produção de cacau, com bauxite, manganésio, gás, fosfatos...»,
esclareceu o governante. Perto está também a Nigéria que, segundo
Patrice, «será o terceiro país do mundo com o maior número de
habitantes, a seguir à China e Índia». São Tomé quer maior aproximação a países próximos do ...
SÃO TOMÉ E A PONTE AÉREA COM O BIAFRA
Outra questão introduzida na Palestra, embora de forma muito sumária, foi a da famosa ponte aérea S. Tomé-Biafra
Do lado do Governo Federal da Nigéria – mantiveram-se fiéis os ingleses,
que, no início dos anos 60 haviam reconhecido a independência à sua
antiga colónia, a que veio juntar-se o apoio dos Americanos (que
fizeram o jogo duplo) e, por último, os caças Mig da União Soviética
- intervenção esta crucial: os russos, sempre de olho no melhor furo,
não quiseram ficar de fora, mesmo ao lado dos maiores inimigos.

BOAS RECORDAÇÕES?!..: - CERTAMENTE PARA QUEM PARTICIPOU NA PONTE AÉREA E À MARGEM DA GUERRA E LUCROU! - MAS DE MUITO MÁ MEMÓRIA PARA QUEM SOFREU DIRECTAMENTE OS HORRORES DESSA GUERRA OU FOI SIMPLESMENTE USADO
O
legado da ajuda humanitária da ponte área de S. Tomé-Biafra, deixou
recordações indeléveis para os seus intervenientes - Todos terão, com
certeza, os seus episódios para contar - sobretudo os pilotos dos
aviões - Mas, no tocante aos reflexos nas população das ilhas, foi uma
espécie de meteoro que vira atravessar-se no firmamento, vira-o à
sua frente, mas, conforme apareceu, assim desapareceu - Nada de útil
lhe trouxe, em nada a favoreceu. Pelo contrário, em certos aspectos,
até terá deixado muito más recordações.
Fomentou-se a prostituição e houve muito quem abusasse de jovens adolescentes
(a troco de quase nada) e, mesmo as organizações humanitárias, nem
sequer se dignaram distribuir uma simples lata de leite em pó, tigela de
feijão ou de arroz: a um velho, a um mendigo ou a uma criança - E a
mortalidade infantil era elevadíssima! -
PREFERIAM DEIXAR ESTRAGAR OS ALIMENTOS A DISTRIBUIR UMAS MÍSERAS MIGALHAS AOS SANTOMENSES - NO FIM DE CONTAS, NÃO SE RESOLVEU O PROBLEMA DA FOME NO BIAFRA NEM SE PRESTOU QUALQUER AJUDA PRÁTICA ÀS CRIANÇAS E À POPULAÇÃO DAS ILHAS
Havia crianças muito carentes, que bem precisavam de alguns desses alimentos! - Vi mães a chorar ao lado dos pequeninos caixões (ou simplesmente com o cadáver embrulhado num modesto cobertor) a derramarem-se em lágrimas de dor e sofrimento, porque, o estado de fraqueza e a falta de medicamentos do menino ou da sua menina, lhe havia tornando a vida mais frágil à desinteria, à tuberculose e à malária - Quem se importava?!... Alguns daqueles pastores ou padres, se interessou pelas crianças santomenses?!... Não proporcionavam imagens nas primeiras páginas da imprensa internacional - E também sabiam que não podiam arriscar romper a cumplicidade mantida com o governo colonial.
Aos adultos restava-lhe o cheiro intenso desses produtos à mistura com os do cacau e do café, quando passavam à frente dos armazéns – E também os próprios miúdos, que não deixaram de parar, espreitar e “farejar” o que havia ensacado ou nas inúmeras caixas de cartão ou em paletes de madeira, no interior desses mesmos armazéns, ironicamente espalhados em vários pontos da cidade, pagando alugueres milionários aos roceiros - onde costumavam armazenar o cacau e o café para embarque, e que agora, só a cedência de uma parte do espaço, lhes iria trazer lucros bem mais avultados de que as colheitas desses produtos tropicais.
Grandes felizardos! Porém, os sacrificados carregadores negros, cujos modestos salários nem por isso haviam beneficiado um centavo, carregando às costas pesados sacos e acarretando pesadíssimas contendores, para eles a vida continuava como dantes: tudo lhes passava ou às costas ou pelas mãos, mas ao lado: muitos deles, esfomeados e com a barriga a dar horas, verem tanta comida, tantos alimentos e alguns já prontos a serem consumidos (o queijo enlatado, por exemplo) e não lhe poderem tocar!!... Calculo!... Pior que o suplício do Tântalo

PREFERIAM DEIXAR ESTRAGAR OS ALIMENTOS A DISTRIBUIR UMAS MÍSERAS MIGALHAS AOS SANTOMENSES - NO FIM DE CONTAS, NÃO SE RESOLVEU O PROBLEMA DA FOME NO BIAFRA NEM SE PRESTOU QUALQUER AJUDA PRÁTICA ÀS CRIANÇAS E À POPULAÇÃO DAS ILHAS
Havia crianças muito carentes, que bem precisavam de alguns desses alimentos! - Vi mães a chorar ao lado dos pequeninos caixões (ou simplesmente com o cadáver embrulhado num modesto cobertor) a derramarem-se em lágrimas de dor e sofrimento, porque, o estado de fraqueza e a falta de medicamentos do menino ou da sua menina, lhe havia tornando a vida mais frágil à desinteria, à tuberculose e à malária - Quem se importava?!... Alguns daqueles pastores ou padres, se interessou pelas crianças santomenses?!... Não proporcionavam imagens nas primeiras páginas da imprensa internacional - E também sabiam que não podiam arriscar romper a cumplicidade mantida com o governo colonial.
Aos adultos restava-lhe o cheiro intenso desses produtos à mistura com os do cacau e do café, quando passavam à frente dos armazéns – E também os próprios miúdos, que não deixaram de parar, espreitar e “farejar” o que havia ensacado ou nas inúmeras caixas de cartão ou em paletes de madeira, no interior desses mesmos armazéns, ironicamente espalhados em vários pontos da cidade, pagando alugueres milionários aos roceiros - onde costumavam armazenar o cacau e o café para embarque, e que agora, só a cedência de uma parte do espaço, lhes iria trazer lucros bem mais avultados de que as colheitas desses produtos tropicais.
Grandes felizardos! Porém, os sacrificados carregadores negros, cujos modestos salários nem por isso haviam beneficiado um centavo, carregando às costas pesados sacos e acarretando pesadíssimas contendores, para eles a vida continuava como dantes: tudo lhes passava ou às costas ou pelas mãos, mas ao lado: muitos deles, esfomeados e com a barriga a dar horas, verem tanta comida, tantos alimentos e alguns já prontos a serem consumidos (o queijo enlatado, por exemplo) e não lhe poderem tocar!!... Calculo!... Pior que o suplício do Tântalo
Aliás,
o Governo colonial, que foi quem mais lucrou com as taxas aduaneiras,
alguma vez ia admitir a existência de fome nas Ilhas?!... E a
pretensa ajuda humanitária beneficiou talvez até muito pouco os
próprios biafrenses – pois, se tal acontecesse, as crianças que foram
acolhidas em S. Tomé, não teriam chegado no ponto de desnutrição que
atestavam as imagens - Mais pormenores neste site, em são tomé e a guerra do biafra: odisseia dos voos de ....E também (2) SÃO TOMÉ E A GUERRA DO BIAFRA:vespia “mata hari” OU A “MADAME DU CAPITAINE” - O ROCAMBOLESCO EPISÓDIO DUM PIDE
40 ANOS DA GUERRA DO BIAFRA, UM MONUMENTO
INTERNACIONAL À AJUDA HUMANITÁRIA EM SÃO TOMÉ
16-11-2007 -Associação Caué quer levar a Património Mundial vestígios do
acontecimento. (...) No documento solicita-se expressamente ao Governo da
República que tome em consideração o pedido dos signatários da campanha para
que os restos das duas aeronaves sejam declaradas, do ponto de vista legal,
"Monumento à Ajuda Humanitária", passando a formar parte do
património nacional são-tomense, reconhecendo-se, assim, a necessidade da sua
preservação para a memória histórica. Também se solicitou à Senhora Ministra
que seja considerada seriamente a restauração e a consolidação dos aviões e do
espaço que estão a ocupar, e a possibilidade de transformar um dos dois
aparelhos, em centro de interpretação da história da ajuda humanitária e da
mediação e resolução de conflitos, acção que poderia vir acompanhada da
organização de conferências e exposições sobre a temática da ajuda
internacional e a instalação em lugar visível de uma placa de homenagem aos
homens e mulheres que participaram na ponte aérea. - Excerto de ]Download 40_anos_da_guerra_do_biafra.doc - Macua bl
RETOMANDO AS ODISSEIAS DO PICO CÃO GRANDE
Cão Grande Pico Difícil –
artigo publicado na Revista Semana Ilustrada – Nº 358 – de 1 a 8 de Maio –
Portanto, tratou-se de uma escalda feita em Abril de 1974
Ainda, agora, da última vez que ali estivemos, se
acaso não tivéssemos vindo pernoitar, a uns tantos metros abaixo do ponto onde
chegamos no primeiro dia, teríamos, com toda a certeza, lá ficado encurralados, por tempo
indeterminado, até que parasse de chover
e a rocha secasse.
Com Olinto Daio, Ministro da Educação, Cultura e Ciência, |
A chuva, que tão agradavelmente ouvimos, cair lá longe, na imensa floresta que nos rodeia, pode, pois, de um instante para o outro, transformar a nossa escalada, de naturais dificuldades, numa verdadeira luta com o perigo, bem visível a nossos pés.
Eric Shinpton, no seu livro "A Conquista de Evereste,
refere a dado passo , nas últimas
páginas, depois de narrar a mais
empolgante odisseia sobre a maior
montanha da terra:
“Ouvia-se, com
frequência, a afirmação de· que, infelizmente e, após a conquista do Everest, não restaria qualquer ponto da
superfície da terra que o homem não tivesse pisado. Nenhum explorador concordou
jamais com tal afirmação; para um montanhista, ela constitui um perfeito
disparate”
Recebido Pelo Presidente Manuel Pinto da Costa |
E mais adiante, acrescenta: " É preciso , também, não esquecermos que parte dos que foram vencidos” (referia-se aos picos gigantes} pertencem a o grupo daqueles que menos dificuldades oferecem. Muitos, de tantos que restam , exigirão muito mais trabalho e perícia".
E ainda a este propósito,
afirma: Enquanto os gigantes se contam
por poucas dezenas, há milhares de outros. A grande maioria não tem nome, nem
se lhe conhece a altitude. Muitíssimos
nem sequer vêm mencionados nos mapas. Alguns deles são bem mais difíceis do que
qualquer dos gigantes; e, na verdade quanto a mim, muitos dos que vi, estão
para além do alcance mesmo da mais moderna técnica do montanhismo.
A
escalada do Monte Everest abrirá julgo eu, uma nova era de montanhismo no Himaia. Assim como a primeira ascensão do
Monte Branco inaugurou a "´época de ouro" do alpinismo, assim as
gerações futuras considerarão a subida ao Pico Everest como o início da “idade
de ouro” do do montanhismo do Himalaia, de muito maior duração no tempo. Não,
não há de modo nenhum falta de novos objetivos
a serem atingidos por novas e inspiradas empresas humanas! E os nossos sucessores, em muitas e
em muitas gerações , hão-de encontrar uma enorme quantidade deles!”
Estamos plenamente certos
que o Pico Cão é um deles. Uma verdadeira aventura, para qualquer amante da
arte de escalar.
Junto do Coronel Victor Monteiro, |
O clima é um deles, e por isso não me parece que um
alpinista, habituado a trepar montanhas geladas, com um equipamento, forçosamente
diferente, possa vir a subir uma parede, onde, por vezes e em certas alturas do
dia, o calor o sufocaria com mais facilidade um montanhista
(…) A nossa maior
dificuldade, não é a altura. Tão pouco a rocha ser ou não mais perpendicular, mas a ausência de fendas em
certas faces deste pico para a colocação
dos necessários apoios que nos
permitam prosseguir. E, numa rocha
vulcânica como a do Cão Grande, a
perfuração é impraticável, a menos com
auxílio de fortes berbequins elétricos (manuais, nem pensar, era toda a vida) o
que, além de ser pouco desportivo, é
ainda demasiado embaraço, senão mesmo inacessível .
Estas, pois, algumas das
razões que, de volta e meia, me atiram para aquela rocha. Rocha esta que ainda
não consegui escalar totalmente, mas
que, por esse motivo, de modo algum poderei aceitar como impossível
Desde a rocha escalvada,
escorregadia e perpendicular, a faixas a desmoronar em ou as saliências do
sexto grau, verdadeiras plataformas ou abismos fora da vertical, as quais tem
sido, como se depreende, o nosso principal quebra-cabeças.
Da última
vez que lá fomos, foi
precisamente uma passagem destas que não nos permitiu o acesso ao cume, donde ficámos maís ou menos a cerca de vinte
e poucos metros.
Entretanto, seguindo um
ritual montanístico, para garantirmos a nossa presença num pedaço de rocha onde
nunca ninguém foi, temos levado connosco
a bandeira nacional para a fincarmos no
ponto cimeiro deste pico. Como este objectivo tem estado demorado, já é
a terceira bandeira que levamos. Devido
às intempéries, foram-se desfazendo e
tiveram sucessivamente de ser substituídas. Esperamos que à terceira seja de
vez: a ser desfraldada no topo do Cão Grande.
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