Momentos felizes e de euforia que não iriam repetir-se no rosto dos portugueses, ali radicados ou nascidos, que não
esperavam por um 25 de Abril, mas a que a população aderiu com sentimento de alegria e libertação -
Claro,
dir-se-á hoje que tudo foi muito precipitado, é verdade, com prejuízos para
ambas as partes e que podiam ter sido evitados se o regime colonial - antes do
25 de Abril- tivesse compreendido os ventos da História e preparasse uma elite
africana - Além de não o ter feito, perseguiu aqueles que pretendiam novos
rumos. Promovendo uma guerra inútil com milhares de vítimas.
Era na altura, operador de rádio, no Emissor Regional de São Tomé e Príncipe – Nesse dia, fui destacado para fazer a cobertura, na esplanada da Pensão Henriques, com a comunidade portuguesa, oriunda das Beiras - o Núcleo Beirão: desempenhava a dupla função de operador e de repórter.
Já lá vão uns pares de anos, porém, recuando no tempo, até me parece que foi ontem! Tão vivas ainda estão as memórias. Sim, desse dia mas não das afrontosas represálias, dos tormentos e brutais agressões por parte de alguns colonos, que se opunham à descolonização, das más recordações que o Novo Ano, me havia de trazer por denunciar o que era proibido dizer antes do 25 de Abril - Nomeadamente, os macabros episódios do Batepá. Mas, ainda antes de ter publicado esses artigos, logo a 8 de Janeiro, sou afastado, através de um telegrama enviado para a Emissora Nacional, de ser admitido nos quadros da rádio, devido a uma pequena critica a um organismo público, acerca do turismo - Para já não falar da chantagem do Presidente do Instituto de Trabalho e Acção Social (pós 25 de Abril) que ameaçara demitir-se do cargo se eu não fosse expulso de S. Tomé.
Sim, completaram-se à meia noite de 31
de Dezembro de 2015, a bonita soma de 41
anos, sobre a última festa da passagem
do ano, na era colonial – Era bem mais novo e bem mais sonhador - Dias para dar largas às alegrias e se esquecerem as agruras da vida. Tem sido assim, no dobrar do calendário, quando um ano acaba outro começa: é o renovar das esperanças. A vida tem que se alimentada de ilusões, senão tornava-se insuportável.
Em S. Tomé, a passagem do ano, a bem dizer, até era o grande acontecimento dos 12 meses - Não havia outra data mais desejada - Não havia televisão de canal aberto - salvo a telescola, que, segundo me recordo, era em circuito fechado, pelo que a rádio era a grande rainha da informação, a estar sempre nos maiores acontecimentos - Fechava os olhos a muita coisa, pois assim lhe impunham as leis da censura, mas nas festas de cortar a fita, no futebol ou nos espetáculos musicais, nunca faltava. - E, obviamente, que, sendo assim, não podia deixar de fazer a cobertura à passagem do ano 73-74.
Eu nesse dia fiz de operador de som e de locutor. A vida foi-me muito dificil nos primeiros anos nas roças, como empregado de mato, mas agora, embora em regime precário, tinha outro estatuto - Nas famigeradas roças, nunca me adaptei: o administrador da Roça Uba-Budo exigia que os empregados tratassem os trabalhadores todos por tu e de forma prepotente a autoritária - Não aceitei; mandou-me de castigo para a roça Ribeira Peixe, a contar cacaueiro velhos numa zona abandonada, com capim que me cobria e infestado de serpentes: - eu não fiquei lá, mas um dos trabalhadores que em acompanhava, esse infeliz, cabo-verdiano, teve morte imediata aos meus pés.
Não vou aqui recordar esse calvário; à frente direi mais alguma coisa mas agora do que estou a falar é daquela já distante passagem de ano. A cobertura, pela rádio, naquele dia, era assegurada diretamente dos salões de várias coletividades: da Casa do Benfica, do Sporting, do Clube Militar e de Santana - Com festas abrilhantadas pelos mais populares grupos musicais da Ilha, com a sua música típica, convidativa à dança, a puxar ao sentimento e ao “flogá. O grosso da população, à exceção da pequena elite santomense, estava à margem destas festas ou então optava pelos "fundões" mais modestos.
Em S. Tomé, a passagem do ano, a bem dizer, até era o grande acontecimento dos 12 meses - Não havia outra data mais desejada - Não havia televisão de canal aberto - salvo a telescola, que, segundo me recordo, era em circuito fechado, pelo que a rádio era a grande rainha da informação, a estar sempre nos maiores acontecimentos - Fechava os olhos a muita coisa, pois assim lhe impunham as leis da censura, mas nas festas de cortar a fita, no futebol ou nos espetáculos musicais, nunca faltava. - E, obviamente, que, sendo assim, não podia deixar de fazer a cobertura à passagem do ano 73-74.
Eu nesse dia fiz de operador de som e de locutor. A vida foi-me muito dificil nos primeiros anos nas roças, como empregado de mato, mas agora, embora em regime precário, tinha outro estatuto - Nas famigeradas roças, nunca me adaptei: o administrador da Roça Uba-Budo exigia que os empregados tratassem os trabalhadores todos por tu e de forma prepotente a autoritária - Não aceitei; mandou-me de castigo para a roça Ribeira Peixe, a contar cacaueiro velhos numa zona abandonada, com capim que me cobria e infestado de serpentes: - eu não fiquei lá, mas um dos trabalhadores que em acompanhava, esse infeliz, cabo-verdiano, teve morte imediata aos meus pés.
Não vou aqui recordar esse calvário; à frente direi mais alguma coisa mas agora do que estou a falar é daquela já distante passagem de ano. A cobertura, pela rádio, naquele dia, era assegurada diretamente dos salões de várias coletividades: da Casa do Benfica, do Sporting, do Clube Militar e de Santana - Com festas abrilhantadas pelos mais populares grupos musicais da Ilha, com a sua música típica, convidativa à dança, a puxar ao sentimento e ao “flogá. O grosso da população, à exceção da pequena elite santomense, estava à margem destas festas ou então optava pelos "fundões" mais modestos.
OS SANTOMENSES
DIVERTIAM-SE NAS PRAIAS AO NASCER DO SOL
O Povo Santomense
tinha também outras formas de se divertir – Por
exemplo, o costume de, ao nascer do sol,
muita gente acorrer às praias, penso que ainda hoje o faz – Nomeadamente, no Pantufo e na praia de S. Pedro, na Baía Ana de
Chaves - Muitos aproveitavam para ir dar
o seu mergulho e dar largas à sua folia. Fiz a reportagem de algumas dessas festas para a
revista Semana Ilustrada. Aliás, em
Portugal, há também quem faça o mesmo: não enjeite testar a sua saúde na água gelada
do Inverno – Uma das Praias, já famosa, pelos banhos do fim do ano, é a de Carcavelos, no estuário do Tejo. Mas, em S, Tomé e Principie, como as ilhas se situam no
Equador, as águas estão sempre quentes, os banhos, em qualquer altura do ano,
são sempre um regalo, um agradável convite a devassar a água cristalina das
ondas.
VÍDEO SONORIZADO
COM OS SONS E VOZES DA REPORTAGEM DA
COBERTURA DA RÁDIO – FIM DO ANO 1973/74
O vídeo, editado no
You Tub, é ilustrado com algumas
fotos das muitas reportagens, sim, das centenas que publiquei na revista Semana
Ilustrada, de Luanda – A qualidade, não é a melhor mas julgo que, para as
gerações dos cabelos de prata, que nasceram em S. Tomé, ou que lá viveram, idos
de Portugal, é capaz de ter o seu
interesse, quanto mais não seja, como memória ou documento histórico. Mas até creio que, como motivo de curiosidade, é mais abrangente.
JORNALISTA E
OPERADOR DE RÁDIO – NESSE DIA TAMBÉM FIZ REPORTAGEM RADIOFÓNICA – MAS NEM ASSIM LOGREI SER ADMITIDO NO QUADRO:
Oito
dias depois, fui banido da admissão, por ter levantado a questão da problemática do turismo, na
revista Semana Ilustrada -
Um telegrama, enviado para a Emissora Nacional, pelo Intendente do Emissor Regional de São Tomé e Príncipe, Sr. Carlos Dias, pressionado pelo Diretor dos Serviços Técnicos, inviabilizara a minha admissão no quadro:
Instaurou-me um processo disciplinar, devido a um artigo publicado naquela revista – Por ter falado na problemática do Turismo, em S. Tomé – O Diretor deste serviços, não gostou e lá tive que levar com a ripada:
Este, como era amigo do Eng. Américo Freire - um fascista que havia sido enviado pela Emissora Nacional, para reestruturar os serviços técnicos do Emissor Regional, instalar uns potentes emissores de Onda Média, para fazer de S. Tomé, um centro de propaganda colonial para a região dos países do Golfo da Guiné e África Central - , obrigou o Intendente Carlos Dias, a enviar um telegrama para Lisboa, a anular a minha admissão, que havia sido proposto por ele mesmo à EN. – Ainda teve a lata de me chamar o seu gabinete e de me confessar: “você disse mal do meu grande amigo, vai-se lixar!... E não o ponho no olho da rua, porque precisamos de você!”
VIRTUDE DE SUMÁRIO INQUÉRITO SOBRE PROCEDIMENTO OPERADOR
JORGE LUIS MARQUES. REFERIDO NSI 1929 12 CORRENTE FECAEEE PELO VEXA NÃO
CONSIDERAR AQUELE OPERADOR PARA INCLUSAO ARTIGO
19/0
CUMPRIMENTOS
CARLOS DIAS ER STP"
PRESIDENTE
DO INSTITUTO DE TRABALHO, PRESSIONOU O GOVERNADOR A EXPULSAR-ME DE S. TOMÉ - COLOCOU O LUGAR A DISPOSIÇÃO: OU EU ERA EXPULSO OU
ELE SE DEMITIA MAS A REVOLUÇÃO DE ABRIL ESTAVA NA RUA E TROCOU-LHE AS VOLTAS
Naquele
mesmo ano, quatro meses depois, surgia o 25 de Abril: passei a poder escrever o
que antes me estava vedado, porém, só Deus
sabe as represálias de que fui alvo: desde pressões para ser expulso de S.
Tomé, a bárbaras agressões:
A revolução apanhou de surpresa, a generalidade dos colonos. A liberdade de expressão, ainda não era bem aceite: a mentalidade colonial, reinante, não ia mudar de um dia para o outro. Por isso, caso não viesse a contar com a compreensão e o apoio do então Alto-Comissário, Pires Veloso, estou certo que tinha sido demitido da rádio e expulso para Portugal, tal como foram alguns revolucionários do MLSTP.
A revolução apanhou de surpresa, a generalidade dos colonos. A liberdade de expressão, ainda não era bem aceite: a mentalidade colonial, reinante, não ia mudar de um dia para o outro. Por isso, caso não viesse a contar com a compreensão e o apoio do então Alto-Comissário, Pires Veloso, estou certo que tinha sido demitido da rádio e expulso para Portugal, tal como foram alguns revolucionários do MLSTP.
A
primeira grande pressão partiu do Presidente do Instituto de Trabalho, Previdência
e Acção Social, que, em vez de defender os
trabalhadores, esteve sempre ao lado dos grandes roceiros e dos patrões mais abusadores
–
Chamavam-lhe o cavalo branco, pela sua cabeleira grisalha e postura autoritária.
Era uma figura mal vista, sinistra, que passava os fins-de-semana nos banquetes dos roceiros . Quando tive oportunidade de criticar a sua atuação, colocou imediatamente o lugar à disposição: ou eu era expulso ou ele se demitia
Chamavam-lhe o cavalo branco, pela sua cabeleira grisalha e postura autoritária.
Era uma figura mal vista, sinistra, que passava os fins-de-semana nos banquetes dos roceiros . Quando tive oportunidade de criticar a sua atuação, colocou imediatamente o lugar à disposição: ou eu era expulso ou ele se demitia
Dei-me conta de tal atitude através do Emissor
Regional.de S. Tomé e Príncipe, que difundiu um oficio emanado da Repartição
de Gabinete, dizendo que “uma noticia
publicada em Semana Ilustrada, na edição Nª 362, levou o Presidente do
Instituto de Trabalho, Previdência e Acção Social, a pôr à disposição do
Governo o seu lugar naquele organismo público, o que não foi aceite, segundo o
mesmo comunicado, por continuar a merecer a confiança do Governo".
Os jornalistas são sempre as primeiras
vítimas, os bodes-expiatórios da ira popular, das guerras e conflitos - Em S.
Tomé, só não me lixaram, talvez por milagre - Mas não foi da população nativa
que partiram as agressões e ameaças. Aliás, foi no seio desta que eu fui
protegido.
A minha sorte
foi que, nessa altura, o governador Cecílio Gonçalves (aliás,
uma excelente pessoa) já quase não mandava, visto não se adaptar ao desenrolar
dos acontecimentos, tanto em S. Tomé, pelas manifestações da população, que
exigia a independência, como em Lisboa, acabando por abandonar
a colónia - E, quem o veio a substituir, não quis embarcar nas pressões
pró-coloniais dos roceiros e de Spínola, optando por criar condições para que o
processo da descolonização, decorresse, pacificamente sem derrame de
sangue. Tal como escrevi neste site https://canoasdomar.blogspot.com/2014/08/general-pires-veloso-e-hoje-sepultado.html
“NÓS E O PRESIDENTE DO
INSTITUTO DE TRABALHO
“Da Repartição de Gabinete
do Governo de São Tomé e Príncipe, recebemos o seguinte oficio:
Incumbe-se Sua Excelência
o Encarregado do Governo de solicitar, nos termos do art, 414, do E.F.U., a transcrição seguinte comunicado
na Revista da mui digna direcção de V. Exa, como mesmo destaque e na mesma página
em que a noticia foi publicada;
Sob o título: “Nós e o
Presidente do Instituto de trabalho” , e assinado por Jorge Trabulo Marques, publica
o número 366 da revista “SEMANA ILUSTRADA”, um artigo me que se produzem várias
afirmações que põem em causa a actuação do actual Presidente do Instituto do Trabalho
e Acção Social desta província”
NÃO CEDI ÀS AFRONTOSAS AMEAÇAS E CHANTAGEM
Apesar das prepotentes ameaças,
nunca me deixei atemorizar – E voltei à carga: Eis a
passagem da minha resposta: (…) "Pelo que
nos parece, o Presidente do Instituto de Trabalho, Previdência e Acção Social,
não se tem conformado com verdades que lhe apontamos ( e verdades quem gosta
que lhas digam?) facto que até o levou a colocar o seu lugar a disposição do
Governo(atitude esta que nos deixa um bocado confusos} vamos pois dar-lhe
conhecimento de mais qualquer coisa. Até para defesa do seu prestígio
pessoal, que mais não seja.
Não sei se V. Exa
já tinha dado conta que não goza de muitas simpatias em S. Tomé. (no Príncipe, não sei o que lá vai). E parece-me que afinal não só das
classes trabalhadores com até de certas entidades patronais, para as quais, V. Exa,
não vem tomando idêntico critério que usa para com outras.
Por· outro lado, o
seu pessoal, os funcionários que estão sob as suas ordens, igualmente, grande
número deles não gostam de V.Exa. Nem confiam em V. Exa. Disseram-nos que tem sido
muito injusto para com eles. Que não se tem interessado nem utilizado o mesmo
critério para todos no que respeita a promoções, e, consequentemente,
compensação dos seus serviços. Se V.Exa. não sabia disso então fica
desde já sabendo. Mas é muito natural que, quando o senhor ler estas linhas,
parte dos seus subordinados, já se tenha manifestado e feito compreender
perante a sua pessoa: pois já nos disseram que iam marcar uma reunião com
V.Exa.
No que respeita à
calasse dos trabalhadores, vários têm sido os trabalhadores que se
nos têm vindo a lamentar da sua pessoa. Não pretendemos apontar ninguém, até
porque não é essa nossa função. Ainda, há dias, por exemplo, um
trabalhador de uma roça veio ter connosco dizendo que tinha sido despedido sem
justa causa da propriedade onde trabalhava. Ainda por cima lhe passaram
uma guia (cuja fotocópia temos connosco ) para efeitos. de apresentação às
entidades oficiais, em que se referia que o dito trabalhador se
havia despedido, mas tinha sido precisamente o contrário, segundo ele próprio
nos declarou.” – Excerto
Foto publicada na Revista Semana Ilustrada |
-Vindas de indivíduos que ainda hoje se gabam no Facebook das sórdidas patifarias, que me fizeramvre e Pacífico .
https://www.facebook.com/elvido.ricardodeviveiros?fref=ts.....https://www.facebook.com/manuel.sebastiao.75?fref=ts
DEPOIS DO 25 DE ABRIL, A TROPA FEZ A LIMPEZA DO CONTEÚDO DOS PROCESSOS INSTAURADOS PELA PIDE - E SE NÃO FOSSE A SEMANA ILUSTRADA, ATÉ PARECIAM QUE ESTAVAM A GOZAR UMAS FÉRIAS
Atualmente, mesmo que se queira fazer uma investigação, em relação à atuação da PIDE; em S. Tomé, penso que não é possível: tanto pelos condicionalismos da lei, como pelo facto dos arquivos terem sido todos limpos. Assisti ao transporte dos armários.dos arquivos
Como fui preso, quis saber o que constava da minha fixa, só lá descobri as capas do processo: - A tropa, subordinada ao Comando Territorial Independente, foi lesta em defender a PIDE -
Se não fosse uma manchete da minha revista, os agentes da PIDE continuavam a passear.se por lá, como se nada tivesse mudado - Pena não terem chegado algumas edições a Portugal, após o 25 de Abril.
Aliás, numa certa manhã, um dos PIDES,, sentado com outros PIDES, ao lado da minha mesa, na esplanada do Rialto, afirmava, de expressão risonha, alto e em bom para que toda a gente o ouvisse: "eles vão precisar também de nós!" - E toca de entornar cervejas para as gargantas - Curiosamente, lembro-me que nessa mesa, até estava o tal Duarte, mais bebericando e rindo do que falando - Mas, como toda a gente os conhecia, muitos colonos conviviam com eles.
Só depois de um artigo de minha autoria, alertando para a provocação da sua ostentação pública, é que então foram mandados para a Quinta de Santo António, a mesma que havia albergado as crianças do Biafra. Essa minha consulta, na Torre do Tombo, ainda ocorreu em boa altura, ou seja, antes de algumas forças políticas, aprovarem leis restritivas.
COLONOS APÓS INVADIREM O PALÁCIO DO GOVERNO E INSULTAREM O GOVERNADOR – MAL
ME VIRAM NAS IMEDIAÇÕES, UMA AUTÊNTICA MULTIDÃO DESATOU A CORRER ATRÁS DE MIM
.. SE ME APANHASSEM, TERIA SIDO DEGOLADO E DESFEITO!... - Em toda a parte os jornalistas são sempre as primeiras vitimas da ira popular, da intolerância e do ódio - Em todos as guerras e conflitos - Mas não só.
Um total de 110 jornalistas foram mortos em todo o mundo em 2015, informou a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) nesta terça-feira (29), destacando que a maioria foi vitimada por causa de seu trabalho em países supostamente pacíficos.Mais de 100 jornalistas foram mortos em 2015,....Os países onde mais morreram jornalistas em 2015 -.....Dois jornalistas mortos a tiro em direto nos EUA.................Brasil registra o maior número de jornalistas assassinados ....
.. SE ME APANHASSEM, TERIA SIDO DEGOLADO E DESFEITO!... - Em toda a parte os jornalistas são sempre as primeiras vitimas da ira popular, da intolerância e do ódio - Em todos as guerras e conflitos - Mas não só.
Um total de 110 jornalistas foram mortos em todo o mundo em 2015, informou a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) nesta terça-feira (29), destacando que a maioria foi vitimada por causa de seu trabalho em países supostamente pacíficos.Mais de 100 jornalistas foram mortos em 2015,....Os países onde mais morreram jornalistas em 2015 -.....Dois jornalistas mortos a tiro em direto nos EUA.................Brasil registra o maior número de jornalistas assassinados ....
..
Naturalmente que
não posso culpabilizar a generalidade dos colonos portugueses pelas
suas atitudes intempestivas: - os brancos foram apanhados de surpresa pelo
desenrolar dos acontecimentos e andavam muito nervosos, receando pelo seu
futuro. Ninguém os molestou fisicamente - E a única vida que se
perdeu, até foi a de um santomense, com uma bala da tropa: o acidente ocorreu
a 6 de Setembro: Rodrigues Pinta de 59 anos, estivador, conhecido por
Giovani, foi morto "por uma bala perdida" durante uma manifestação
acalorada no Bairro do Riboque -
Nesse mesmo dia, .Paulo Ferreira, um soldado de 23 anos da Companhia de Caçadores de S. Tomé e Príncipe, morreu num brutal acidente de viação, quando a sua unidade regressava da roça de Santa Catarina.
Os jornalistas são sempre as primeiras
vítimas. os bodes-expiatórios da ira popular, das guerras e conflitos - Em S.
Tomé, só não me lincharam, talvez por milagre - Mas não foi da população nativa
que partiram as agressões e ameaças. Aliás, foi no seio desta que eu fui
protegido
Por duas vezes todos os pneus à navalhada |
39 anos depois |
Nesse mesmo dia, .Paulo Ferreira, um soldado de 23 anos da Companhia de Caçadores de S. Tomé e Príncipe, morreu num brutal acidente de viação, quando a sua unidade regressava da roça de Santa Catarina.
As constantes
manifestações populares, reclamando a independência, causavam-lhes alguma
instabilidade. Ora, nestas coisas, como geralmente acontece, nos conflitos, os
jornalistas são sempre as maiores vítimas, o bode expiatório da situação
- Enquanto em Angola, havia uma guerrilha declarada, que ceifava já milhares de
vidas de parte a parte, em S. Tomé, a luta era diferente - O povo é por natureza
pacífico. Em São Tomé e Príncipe, não existia criminalidade, senão
esporadicamente e mais do foro passional - Apesar da população ter sido tão sacrificada ao longo dos séculos,
à exceção das revoltas do "angolares" (etnia, dedicada especialmente
à pesca), os maiores problemas, com que a colonização portuguesa nas
ilhas, se teve de bater, foi com os corsários franceses e holandeses.
Por conseguinte, quando o Povo Santomense, teve oportunidade
de sair à rua e se manifestar, exigindo abertamente a independência,
fê-lo calorosamente, mas sem atos de violência - No entanto, para os colonos,
tais manifestações eram entendidas, como uma ameaça à sua continuidade nas
Ilhas. De certo modo, é verdade - as roças, principal fonte da exploração
colonial, nunca serviram o povo santomense mas os donos dessas grandes
propriedades, que viviam refasteladamente em Lisboa: os chamados turistas da
Gravana, que só ali iam a dar umas passeatas e a banquetear-se em lautas jantaradas
- Salvo o administrador, o chefe de escritórios e o feitor-geral, em cada
roça, o resto, tanto empregados brancos, como trabalhadores, não passavam de
escravos: pessoalmente, passei por esse dura experiência.
ESPALHARAM-SE
POR TODAS AS RUAS - O QUE ME VALEU FOI TER DESCOBERTO A ESCADA DE UMA
PORTA ABERTA E REFUGIAR-ME NO TELHADO DESSE PRÉDIO
MESMO ASSIM,
QUANDO CORRIA À SUA FRENTE, AINDA LEVEI COM UMA PEDRA NA CABEÇA e outra nas
costas - Depois de descarregarem toda a ira e ódio na minha modesta viatura,
furando-lhe os quatro pneus à navalhada, arrombara-me a casa, partiram-me tudo:
escaqueiraram-me a máquina de escrever, onde nem sequer ficou um simples copo
inteiro para beber água - Não satisfeitos com a malvadez, deixaram uma forca
pendurada na porta, e, na parede ao lado, uma cruz desenhada e a
inscrição: " a morte sanciona cada traidor".
TIVE QUE ME
REFUGIAR, EM CASA DE UM SANTOMENSE: dos pais do Constantino Bragança, que,
tendo assistido à perseguição, se deslocou à noite ao local para me colher no
seu modesto casebre, algures no mato: Sr. Jorge! Pode descer, que os brancos
foram todos para o quartel da Polícia Militar e do Cinema Império e venha para
a minha casa"
A minha casa ficou irreconhecível, num monte de destroços. Como não me apanharam
lá no seu interior, deixaram-me à porta o laço da prometida forca de corda. Pelos
vistos, em qualquer parte do mundo, os jornalistas são sempre as primeiras
vítimas. É neles que descarregam todos as iras e ódios. Ainda hoje, ao escrever
estas linhas, se me toldam os olhos, tal os maus momentos por que passei.
Ao meu modesto carro, por duas vezes, lhe furaram os pneus à navalhada.- Não me
importo de ser confrontado com os elementos da natureza mais hostil, mas
ser atingido pelo ódio humano é mil vezes pior!...Não é medo é um
sentimento de profunda tristeza e revolta.
VÍDEO DE HUMOR, ROSTOS, PAISAGENS E MÚSICA DE SÃO TOMÉ – “Turista Americano” entrevistado pelo “Emissor Anfíbio do Pantufo” – Memórias do ERSTP de há 42 anos –
Programa de Humor com desfile de rostos e panoramas
maravilhosos de S. Tomé, e , por fim, com a audição de um antigo
trecho de música típica santomense . Acompanhe-nos na entrevista, que eu
próprio fiz a John da Purificação Semith”, o “Turista Americano”
que descobriu S. Tomé, em 1973 para visitar a ilha e escalar o Pico Cão
Grande - Uma rábula de humor, transmitida num programa radiofónico, do
extinto Emissor Regional de S. Tomé e Príncipe, que aqui lhe
recordamos, com várias imagens da Ilha, que eu registei 39 e 40
anos depois de ter partido numa canoa para tentar a travessia de S. Tomé
ao Brasil
Fora
admitido a operador de Rádio, a nível de
um regime precário, salvo erro, em 1971 – Lograra entrar para a rádio, no seguimento dos
meus artigos publicados na Semana Ilustrada, de Luanda – Deu-se a feliz coincidência,
de, após a minha travessia de canoa de S. Tomé ao Príncipe, em Fevereiro de
1970, se encontrar o chefe de redação daquela revista, em S. Tomé, que, ao
tomar conhecimento da minha aventura, me convidou a fazer o relato na referida
publicação, que acabou por ser ali editado
em quatro edições, situação que iria dar novo rumo à minha vida em S. Tomé
Dois meses antes, ou seja, na véspera do início
das comemorações da descoberta da Ilha pelos navegadores portugueses, havia
realizado a ligação de canoa, da cidade até à praia de Anambô, onde se encontra
o padrão dos descobrimentos, sim, porque, embora o regime colonial, já me
houvesse dececionado bastante, com os abusos e as prepotências nas roças, eu continuava
a admirar a coragem dos homens das frágeis caravelas, que haviam sulcado os
vários oceanos. Em sua homenagem (mas também como um teste para outras
aventuras mais arrojadas, e com outros propósitos) decidira empreender a tão arriscada
ligação, indo ali desfraldar a bandeira portuguesa, ao lado daquele monumento
histórico.
O facto mereceu relevo na imprensa local, o mesmo não sucedeu, quando, um mês depois parti de canoa, clandestinamente, largando à meia-noite, da Baía Ana de Chaves, disfarçado de pescador. No regresso, ao desembarcar do avião, fui espancado pela PIDE e encarcerado, por ter sido tomado como desertor. A Voz de S. Tomé, limitou-se a umas escassas linhas, a citar o correspondente da EN, que havia dado a noticia para Portugal
O facto mereceu relevo na imprensa local, o mesmo não sucedeu, quando, um mês depois parti de canoa, clandestinamente, largando à meia-noite, da Baía Ana de Chaves, disfarçado de pescador. No regresso, ao desembarcar do avião, fui espancado pela PIDE e encarcerado, por ter sido tomado como desertor. A Voz de S. Tomé, limitou-se a umas escassas linhas, a citar o correspondente da EN, que havia dado a noticia para Portugal
Contudo,
mesmo assim, o bastante para o chefe de redação, da Semana Ilustrada, Sr.
Mourão de Campos, se aperceber que a minha aventura era merecedora de outro
destaque.
As reportagens tiveram um grande impacto e, mercê dos meus dotes literários, fui então convidado a continuar a colaborar, ao mesmo tempo que trabalhava como Técnico Agrícola, na Brigada de Fomento-Agro-Pecuário, na tentativa de ali concluir o meu estágio de Agente Rural, já que fora este o motivo que, antes da tropa, aos 18 anos, me levara a embarcar para S. Tomé, o que não conseguira nas roças, onde não me adaptei
As reportagens tiveram um grande impacto e, mercê dos meus dotes literários, fui então convidado a continuar a colaborar, ao mesmo tempo que trabalhava como Técnico Agrícola, na Brigada de Fomento-Agro-Pecuário, na tentativa de ali concluir o meu estágio de Agente Rural, já que fora este o motivo que, antes da tropa, aos 18 anos, me levara a embarcar para S. Tomé, o que não conseguira nas roças, onde não me adaptei
Mais tarde, deixei aquele organismo e pude
então entrar como operador de rádio, naquela estação e desenvolver, com mais
tempo e oportunidades, a função jornalística .
Alguns dos meus artigos, não chegaram a ser publicados, foram-me devolvidos com o risco da censura – Mesmo assim, apesar dessas limitações repressivas, pude publicar ainda muita coisa – Com o 25 de Abril, as liberdades de expressão foram instauradas, e, obviamente, os meus artigos passaram a incomodar as mentalidades que não aceitavam a descolonização e novos ventos da história. Fui vitima de feroz perseguição por alguns colonos, de traiçoeiras e cobardes agressões, ao ponto de ter que me sair da ilha, numa canoa, com destino à Nigéria: eu já andava há algum temo com o desejo de fazer essa viagem para comprovar que as canoas poderiam fazer longas travessias, entre a continente e as ilhas e terem sido os primeiros povoadores, pelo que, em vez de procurar sair de barco ou de avião, aproveitei para o fazer de canoa. Uns meses depois, no mesmo ano, voltei a São Tomé, já país independente, para empreender um teste, ainda muito mais ousado: a travessia de S. Tomé ao Brasil. Não vou agora aqui descrever os pormenores, desses longos e atribulados 38 dias, pois, já os relatei neste site, e tal me levaria longe.
Alguns dos meus artigos, não chegaram a ser publicados, foram-me devolvidos com o risco da censura – Mesmo assim, apesar dessas limitações repressivas, pude publicar ainda muita coisa – Com o 25 de Abril, as liberdades de expressão foram instauradas, e, obviamente, os meus artigos passaram a incomodar as mentalidades que não aceitavam a descolonização e novos ventos da história. Fui vitima de feroz perseguição por alguns colonos, de traiçoeiras e cobardes agressões, ao ponto de ter que me sair da ilha, numa canoa, com destino à Nigéria: eu já andava há algum temo com o desejo de fazer essa viagem para comprovar que as canoas poderiam fazer longas travessias, entre a continente e as ilhas e terem sido os primeiros povoadores, pelo que, em vez de procurar sair de barco ou de avião, aproveitei para o fazer de canoa. Uns meses depois, no mesmo ano, voltei a São Tomé, já país independente, para empreender um teste, ainda muito mais ousado: a travessia de S. Tomé ao Brasil. Não vou agora aqui descrever os pormenores, desses longos e atribulados 38 dias, pois, já os relatei neste site, e tal me levaria longe.
SEMANA ILUSTRADA – O ÓRGÃO DA IMPRENSA ESCRITA - DO EXTERIOR – QUE MAIS PÁGINAS DEDICOU A S.
TOMÉ E PRÍNCIPE, ANTES E DEPOIS DO 25 DE ABRIL
A Semana Ilustrada, era muito apreciada e popular, nas Ilhas
Verdes do Equador, tanto pelos santomenses, que a chegaram até a homenagear,
como pela comunidade portuguesa – Esta só nos deixou de apoiar, quando passamos
a publicar artigos das manifestações pró-independência e dos massacres do Batpá
Adicionar legenda |
De recordar, que, quando
a TAP resolve suspender as suas três carreiras e passa a operar apenas um voo,
foi a manchete deste semanário, que obrigou, aquela empresa pública, a repor os
mesmos voo. Nas Ilhas, o único banco era
o Banco Nacional Ultramarino – E foi um artigo, igualmente de minha autoria, com as declarações de vários comerciantes e industriais, que levaram
a que fosse autorizada a abertura de um Banco Comercial. E tantas outras
coisas: a elogiar, quando achávamos que o devíamos fazer, e, quanto a criticas, aquelas que a censura nos
deixava passar – O que nem sempre sucedia, pois vários foram os artigos que me
foram devolvidos pela redação com o bisturi da censura.
Obviamente, que, com a libertação do regime ditatorial, o que é
que se esperava?... Que continuássemos a ter que medir bem as palavras? – Por nossa
parte, não hesitamos: entendemos que o caminho era o da democracia e da
libertação do domínio colonial – É um facto que, muitos erros se cometeram, num
pais que ensaiava os primeiros passos do seu próprio caminho, e, então, em Portugal, não
se cometem ainda grandes erros, hoje? – Por nosso lado, não nos estamos arrependidos dos que
escrevemos.
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