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sábado, 24 de março de 2018

Encantamento Quantas vezes, ficava a olhar, a olhar A tua doce e angélica Figura, Esquecido, embebido num luar, Num enlevo perfeito e graça pura! - Teixeira de Pascoaes






Encantamento Quantas vezes, ficava a olhar, a olhar…” – Sozinho, introspetivo e tranquilo - É meia-noite para a madrugada de Sábado - Mais uma semana que vai terminar com a Primavera a começar - Sozinho, no silêncio do quarto de uma casa centenária, em granito, mas muito desconfortável, pois a noite, lá fora vai fria, embora sob céu límpido e descoberto, depois de um grande vendaval tendo apenas por companhia no teto, alguns morcegos dependurados e por baixo do sobrado algumas andorinhas pousadas que ali vão fazer os seus ninhos - Porém, não devendo nada a ninguém e estando bem com a minha consciência e com o mundo, sim, sinto-me na paz dos anjos, possuído de um sentimento quase tranquilamente sobrenatural




Encantamento
Quantas vezes, ficava a olhar, a olhar 
A tua doce e angélica Figura, 
Esquecido, embebido num luar, 
Num enlevo perfeito e graça pura! 

E á força de sorrir, de me encantar, 
Diante de ti, mimosa Criatura, 
Suavemente sentia-me apagar... 
E eu era sombra apenas e ternura. 

Que inocência! que aurora! que alegria! 
Tua figura de Anjo radiava! 
Sob os teus pés a terra florescia, 

E até meu próprio espirito cantava! 
Nessas horas divinas, quem diria 
A sorte que já Deus te destinava! 

Teixeira de Pascoaes, in 'Elegias' 


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