A crioulização no Golfo da Guiné: entre
línguas, genes e história | Seminários Uma excelente oportunidade para linguistas
mas especialmente para estudiosos da cultura ancestral das Ilhas do Golfo da
Guiné e seus habitantes:
O evento, de entrada livre, decorrerá no
dia 21 de Março de 2018, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, na
Sala 5.2, às 18:00.
O contacto entre povoadores portugueses
e africanos na ilha de São Tomé, a partir de finais do século XV, deu início a
um processo de crioulização que originou o aparecimento de quatro grupos
crioulos com identidades e línguas distintas. Adotando uma abordagem interdisciplinar,
esta comunicação tem por objetivo discutir a origem e o contributo das
populações e línguas africanas no povoamento das ilhas do Golfo da Guiné (São
Tomé, Príncipe e Ano Bom)
Tjerk Hagemeijer, é professor e investigador na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, no Departamento de Linguística Geral e Românica - Doutorado em Letras (Linguística Geral), Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com a classificação de Aprovado com Distinção e Louvor (por unanimidade) – Do seu currículo fazem parte numerosos trabalhos - Mas detalhes em ]curriculum vitae
Trata-se, com efeito, de um investigador dedicado aos vários crioulos do Golfo da Guiné – Com Nélia Alexandre é coautor de um estudo bastante aprofundado, publicado na Internet, subordinado ao título “ Os crioulos da Alta Guiné e do Golfo da Guiné: uma comparação sintáctica”, do qual - seguidamente - tomamos a liberdade de transcrever um excerto, dada a sua importância para melhor compreensão do dicionário santome-putugêji
Os crioulos de base lexical portuguesa da Alta Guiné (CAG) e do Golfo da Guiné (CGG) constituem duas famílias linguísticas independentes cuja formação remonta aos séculos XV e XVI, num contexto de escravatura, tendo resultado do contacto entre o Português (arcaico e regional) e diferentes línguas africanas de diversas famílias do Níger-Congo. Os CAG incluem o Kabuverdianu (CCV), o Kriyol (CGB) e o crioulo de Casamansa1; os CGG abrangem o Santome (ST), o Angolar (ANG), o Principense (PR) e o Fa d’Ambô (FA). Não obstante os progressos alcançados na crioulística ao longo das últimas décadas, continua aceso o debate sobre a formação destas línguas e sobre a sua afiliação genética e tipológica. Em particular, diversos autores têm proposto que os crioulos formam uma classe de línguas tipologicamente distinta de outras línguas. A mais antiga hipótese de que os crioulos constituiriam uma classe genética (ou uma família linguística) devido a um conjunto aparente de semelhanças traduz-se na chamada monogénese, uma teoria que advogava que todos os crioulos teriam na sua origem um único pidgin Português (Sabir ou West-African Pidgin Portuguese), que foi relexificado por outras línguas. Esta hipótese foi entretanto refutada, mas dela reteve-se, até hoje, a ideia bastante difundida de que os crioulos descendem de pidgins diversos que, no curso do tempo, se transformaram em línguas naturais (nativização), através de um processo de aquisição de L2 com restrições de acesso à Língua-Alvo (o Português, nos contextos em questão). O facto de se ter abandonado a monogénese não significa que não exista uma relação genética entre subconjuntos de crioulos, de que os CAG e os CGG são exemplos, mas também os crioulos de base lexical francesa das Caraíbas ou os crioulos de base lexical portuguesa na Índia – Excerto Os crioulos da Alta Guiné e do Golfo da Guiné.p
CURIOSA PROPOSTA POR UM MUSICÓLOGO SANTOMENSE
"Embora sendo uma peça de origem europeia, o Tchiloli é hoje património cultural são-tomense. Pois, após ter sido introduzido em S.Tomé, passou a ser praticado por são-tomenses e com algumas alterações conforme a percepção do mesmo povo. Temos na obra influências europeias e africanas, que fizeram com que tivéssemos o Tchiloli que hoje temos. O Tchiloli constitui um dos testemunhos da história de S. Tomé e ao mesmo tempo, traço da presença e dominação europeia no nosso país. - See more Património de S. Tomé.: Tchiloli
"Anualmente no dia 15 de Agosto, a ilha do Príncipe é invadida por milhares de visitantes que para ali se dirigem a fim de assistir a festa de São Lourenço e o Auto de Floripes. Atracção cultural que preenche o cartaz turístico da ilha do Príncipe, é um teatro de rua cujo argumento retrata o conflito entre cristãos e mouros. Auto de Floripes -
HÁ QUE PRESERVAR E VALORIZAR O PATRIMÓNIO CULTURAL
O fado é português e já foi classificado como Património Imaterial da Humanidade. Amália Rodrigues, com a sua voz inconfundível, deu-lhe a projeção internacional que merecia. A morna é única e tipicamente cabo-verdiana – E teve na interpretação de Bana, falecido recentemente, em Lisboa, a grande figura que mais projetou pelos quatros cantos do mundo a doce melodia das Ilhas de Cabo Verde.
O Governo deste país, ao mesmo tempo que prestava homenagem a um dos seus mais admirados filhos, fez aprovar uma resolução da morna como Património Histórico e Cultural Nacional – Um passo importante para a sua candidatura à UNESCO a Património da Humanidade. Ora, aí está também o momento do Governo de S.. Tomé, valorizar e promover, a nível mundial, duas das suas mais singulares expressões artísticas de cariz etnográfico, histórico e teatral.
DEBATE BASTANTE HUMORADO E ACALORADO
Se alguém quer ver dois ou mais são-tomenses a dialogarem, gracejando, fazendo humor, divertirem-se, é ouvi-los falar no seu crioulo, mais conhecido por forro, fôlô, lungwa santome – Claro, que este hábito é mais usual com as pessoas mais velhas: as novas gerações, vão-se acostumando ao português, havendo mesmo muitos jovens que, além de não o falarem, dificilmente já o entendem, ou, pelo menos, com o mesmo à-vontade e fluência dos seus pais – Porém, o lançamento de um valioso dicionário, vai certamente contribuir para dar novo fôlego à segunda língua mais falada em toda a ilha de São Tomé, exceto na ponta sul.
SÃO OS MAIS VELHOS QUE FALAM FLUENTEMENTE O SANTOME MAS HÁ GENTE NOVA E SIMPÁTICA QUE DÁ CARTAS E NÃO LHES FICA ATRÁS
Depois da apresentação da obra em várias instituições, em Portugal, no Brasil e em S. Tomé (Lançamento do Dicionário Livre Santome-Português/Livlu-nglandji santome-putugêji em São Tomé e Príncipe ) essa honra coube também à ACOSP - Associação da Comunidade de S.Tomé e Príncipe em Portugal,
S. Tomé e Príncipe ainda continua a ser um país com enormes carências. As roças já não são o que eram mas há fábricas de cacau – um dos mais apreciados do mundo e antes não existiam. E há sobretudo menos mortalidade infantil e uma notável conquista sobre o analfabetismo. Ora, ao promover-se a sua língua crioula, é indubitavelmente um valioso ato cultural.
VEJA AS SEMELHANÇAS ORAIS DO Fá d'Ambô com o Santome
O DEBATE CONTOU COM A PRESENÇA DO PROF.FRANCISCO ZAMORA SEGORBE, DE ANO BOM, SURPREENDEU A ASSISTÊNCIA PELA SEMELHANÇA DO SANTOME COM O FALAR DE ANO BOM
“Fá d'Ambô, Fla d'Ambu, annabonense, annobonés ou annobonense (em lingua portuguesa) chamado falar de Ano Bom e língua anobonenseou anobonesa) é um crioulo Portugu~es falado na Ilha de Ano Bom, Guiné Equatorial, estima-se que existam até 9 mil falantes deste dialeto.
Segundo estudiosos, o crioulo de Ano Bom, é baseado em 82%, do forrro, enquanto que uns 10% de seu léxico se baseia no castelhano. É falado por descendentes de mestiços entre africanos, portugueses e espanhóis; devido à similaridade entre o português e o castelhano não se sabe que origem têm certas palavras. Fá d'Ambô – Wikipédia, a enciclopédia livre
Livlu-Nglandji é como se chama o primeiro dicionário do crioulo
A primeira referência histórica ao santome data de 1627, altura em que o Padre Alonso de Sandoval, a partir de Cartagena, (Colômbia), menciona a existência de da lengua de San Thomé. Já o século XVIII, mais precisamente em 1766, Gaspar Pinheiro da Câmara também faz alusão a esta língua ao escrever que he de saber que a gente natural destas ilhas tem língua sua e completa, com pronúncia labeal, mas de que não consta haver inscrição alguma (...) (apud Espírito Santo 1998:59, nota 1). a língua escrita só apareceria pela primeira vez na segunda metade do século XIX, quando autores como Francisco Stockeler e António Lobo de Almada Negreiros, bem como os pioneiros dos estudos crioulos , Hugo Schuchardt e Adolpho Coelho, nos dão a conhecer os primeiros fragmentos da língua” - excerto
Nenhum comentário :
Postar um comentário