A embarcação partiu em sua viagem inaugural de Southampton para Nova Iorque
em 10 de Abril de 1912, no caminho passando em Cherbourg-Octeville na França e
por Queenstown na Irlanda.
- Colidiu
com um icebergue às 23h40' em 14 de Abril 2012 e afundou na madrugada do dia
seguinte com mais de 1 500 pessoas a bordo. sendo
um dos maiores desastres marítimos em
tempos de paz de toda a história - https://pt.m.wikipedia.org/wiki/RMS_Titanic
Neste dia,
semeiam-se novos ódios, lançam-se bombas na Síria... Sabe-se donde se lançam e para onde se apontam mas ignora-se as vitimas... Esquecem-se outras centenas
de vidas inocentes - E assim vai o mundo cruel... Minado pelo egoísmo e ambição... Já não bastam as forças adversas da Natureza, ainda é preciso que a mão humana, faça mais destruição... EUA, Reino Unido e França bombardeiam a Síria
TAMBÉM EU FUI UM NÁUFRAGO
Náufragos do desespero!
das inumeráveis viagens inacabadas,
dos inarráveis rumos que foram traçados
e dramaticamente, riscados,
abruptamente destroçados,
afundados no torvelinho das águas!..
Tal como vós, também um dia parti de um porto,
de um indistinto porto tracei meu rumo,
perdi-me, voguei errabundo, fui náufrago!...
Vivi todas as sensações e emoções do mundo,
como só talvez as viva intensamente
quem se abra de corpo aberto
e coração fundido à pulsação
desse plangente limite,
viscoso, movediço, sorvente!
- Na tumultuosa e erma vastidão!
Naufraguei!...
Vi-me ignorado de toda a palavra,
Vi-me ignorado de toda a palavra,
irradiado do próprio sonho,
felizmente resisti e sobrevivi!
Náufragos, irmãos meus!
Afinal, irmãos de todos os homens,
de todos os seres e de todas as coisas!
Ricos ou pobres - O sufoco do mar não os distingue,
engole-os e traga-os a todos por igual.
Ricos ou pobres - O sufoco do mar não os distingue,
engole-os e traga-os a todos por igual.
Tal como vós, ó náufragos do Titanic!...
Fiz do meu pequeno barco,
não a mansão luxuosa
mas o mesmo lar no grande mar!...
mas o mesmo lar no grande mar!...
e, através das suas ondas,
rugidoras de presságios,
se não tive a vossa sorte,
quantas vezes naveguei e aspirei,
em cada espuma,
em cada noite cerrada,
em erma bruma,
um perfume salgado de morte!...
SINGELA HOMENAGEM -
RECORDANDO O TRÁGICO NAUFRÁGIO QUE TRAGOU NOS ABISMOS DO MAR MAIS DE 1500 PESSOAS
-
Post editado neste site, em 14 de Abril de 2012, por ocasião do centenário do afundamento do célebre navio -http://www.odisseiasnosmares.com/2012/04/naufragos-do-titanic-in-memory-of.html Depois, se puder, não deixe de ler algumas
notas do meu diário de bordo dos meus 38 longos dias perdido no mar a bordo de
uma piroga Dia
34º - Deitado no fundo da canoa...Não tenho comida... Sinto uma grande dureza
no estômago..............35ºDia
- Acordei com o barulho de uma enorme baleia aqui próximo da canoa..(...)A
canoa está cheia de água!...(..) Há uma fraqueza geral em mim...mas o espírito
permanece forte...A confiança é inabalável.
Longe vai a noite enlouquecida, centenária, impiedosa!
Longe vai o tumultuoso silêncio da desolada paisagem!
Longe vão as solitárias preces na escuridão do ar!
Longe vão os gritos, de assombro, das horas incertas!
Longe e desvanecidas as escuras e espumosas espáduas!
Longe vai o aflitivo olhar das vidas abandonadas e perdidas!
Sim, longe já vai o vagabundo balouçar da imortal tragédia!
Que atormentou e sepultou e lançou ao escuro fundo
o mais luxuoso navio do mundo - o lendário Titanic
- No seu percurso inaugural de Inglaterra à América.
A quatro dias de viagem, em águas geladas, mas calmas,
muito afastadas do Ártico, mas subitamente
transformadas
em aragens de afrontosas ameaças e de arrepio! - Semeadas
por flutuantes e perigosos icebergues, cujo brilho azulado
em latitudes do inóspito
e áspero Atlântico Norte.
onde, na desolada e pálida planície sonora de cinza
o noturno espaço se ofusca sob límpido, mas negro céu!
A Primavera tarda, o dia ainda cintila em névoa
fria
e, a noite, sob o longínquo olhar das suas
estrelas,
tem, da cor da fuligem, um sinistro e impiedoso véu!
Porém, eu, náufrago, sobrevivente
em atribulados mares de outras paragens,
por natural associação às longas horas
que por mim foram vividas, ainda diviso,
debaixo da treva e do assombro da ímpia
noite sideral, o imponente perfil do luxuoso navio
que, sulcando o mar em imprudente marcha veloz,
vai embater e raspar nas gélidas arestas de erguido
fantasma gelado à superfície das misteriosas águas,
sofre duro rombo a estibordo, e, desamparado,
perde-se para sempre e naufraga, engolido e partido!
ou flagelos inevitáveis?!.. - Oh, não, nada o salvará!...
Os caprichos do destino são incontornáveis!...
Porém, mais grave que os inesperados perigos e ameaças,
é quando, às adversidades obscuras e incontornáveis,
súbitas aparições de um flutuante , ínvio bloco marmóreo
de aparência sinistra, deslumbrante e fantasmagórica,
acresce a negligência, a leviandade e a insensata vaidade!..
.
Pelo telégrafo surgem avisos e alarmes vários
a que não se dá crédito. Aumenta-se até a velocidade
para se apressar e festejar a chegada -. Porém,
às 23h40, do dia 14 de Abril de 1912, com o navio a navegar
a 640 km dos Grandes Bancos da Terra Nova, "os vigias do mastro,
Frederick Fleet e Reginald Lee, avistaram um icebergue bem em frente do navio"
- Tarde de mais!... Quando o sino de bordo dá o alerta do alto toca três vezes a rebate,
embate inviável à vista!...Um rugidor e sinistro choque de ferros estala e ecoa nos ares!
Fende e repercute a fatídica desventura através da espectral vastidão azarada e vazia do mar!
Por isso, oh tenebroso e perturbador instante de sofrimento e pranto! - Esquece
do céu a consolação que não veio do turbado horizonte e das insensíveis águas!
Esquece a insana e chorosa dor! O lamento ensurdecido
de um tormentoso destino
que te atraiçoou ou maldisse! - Sim, esquece o desmaio de tudo isso e não o lamentes!
Pois haverá maior culpado que a mente humana
quando despreza e descura as hostis
e adversas forças da Natura?!..
Todavia, evoco o vosso sofrimento, ó lúgubre navio e lágrimas choradas!
Vivendo a incerteza e angústia, ainda não sarada, daqueles meus longos e penosos dias,cujo lastro tenho bem presente na alma ferida por longas e tormentosas noites de vigílias,
vejo-vos e ouço-vos, corações atormentados! Escuto os ais e os gritos aflitos,
as desolações que se afundam! - Nitidamente descortino,
no tropel confuso da tragédia humana que vos enlutou,
e, sob a capa da mais gélida e sideral atmosfera,
o imenso poço que vos submergiu e afundou!
Ouço os vossos soluços e claramente vos revejo e situo ó almas perdidas!
Através da luz sombria que ficou memorizada nos meus olhos,
das muitas imagens que a minha retina em desvairadas tempestades fixou,
ainda consigo descobrir, já engalfinhada por mãos de terríveis sacrilégios,
a majestosa e iluminada esfinge que vos transportava,
agora enxague e ferida por um dos enormes escolhos vítreos
que boiavam soltos, que tragicamente a romperam e traíram
e que não tardará a desvanecer-se...- Qual sopro de vela
que flutua acesa e depois se afunda e apaga.
- Oh imenso vale sacrossanto, sombrio e abandonado!
Oh firmamento nubloso e entristecido de inatingíveis estrelas e astros!
Oh chagas de um Cristo crucificado na cruz e atraiçoado pelos seus!
Oh madrasta e maldita sorte!... Miserável e ímpia morte!
Oh extrema desventura no vasto mar, sob esquecido teto dos céus!
É noite de Lua Nova! Noite mais propensa
ao ressurgimento dos indiscifráveis mistérios
que, a rompê-los ou a desvendá-los - Em redor
não há claridade alguma. Não se enxerga nada.
- O mar é a imensa planície escura mas tranquila.
A noite é gélida mas aparentemente pacífica e calma.
Os habituais ventos que sopram em noites frias e aziagas,
parece terem-se apaziguado ou feito algumas tréguas - Não uivam!
Não há nevoeiros compactos, coalhados de densa maresia, que se enfiam
pelas narinas, têm o sabor do sal, toldam ainda mais a vista e quase sufocam.
Quem espreitar pelas vigias, não descobrirá os brumosos novelos que lembram fantasmas,
as leitosas névoas ensanguentadas que ofuscam o sol poente ou antecedem as noites de agoiro,
o tumulto das tempestuosas marés em grave e contínuo vai e vém !... - Que envolvem e afogam!
O mar nem está feroz nem se encrespa nem cresce!... - E, por onde o imponente navio navega,
vão-se até abrindo, de onde de onde, grandes clareiras, noturnas janelas escancaradas ao infinito!
Pelas quais até desponta o brilho de ténues ou rutilantes estrelas!.Não há sinais de sinistros tetos
ou cerradas e funéreas abóbadas!...E o mar - qual manto adormecido pelo enturpecedor frio
da atmosfera que o cobre, até parece uma vasta imensidão sombria mas tranquila!...
- A bem dizer, nem está feroz nem se encrespa nem cresce!... - Mas o mar é isto mesmo!...
Com os seus humores e mistérios, que só ele desvenda ou revela!... Umas vezes, puro e terno!
Purificadoramente belo e eterno!...Outras, selvagem, indomável, primitivo, violento, terrível !
- E até destruidor dos horizontes mais longínquos e infinitos! - Sim, mas tudo isso faz parte
dos segredos, das ciladas ou dos sortilégios!... Esconjuras e temíveis perigos,
que se ocultam e que inesperadamente, quando menos se espera, poderão mostrar
todo o esplendor da sua cruel fantasmasgoria - que só o próprio mar conhece!
Pois, mas nesta noite, e a certas horas, até os telégrafos soltam notícias
de prudentes avisos mas que se negligenciam e ignoram...
As eternas constelações, aparentemente fixas,
fazem o seu giro no longínquo firmamento.
O sol ilumina outros cantos da Terra ...E o Planeta gira o
seu curso.
E, quem vai ainda acordado no interior do faustoso paquete,
nem questiona isso - Espera, que, no dia
seguinte,
a vida continue sob o brilho da grande luz cósmica..
- Esta volte a raiar do fundo das águas! - No seu perpétuo
ciclo...
Mesmo que as nuvens toldem os céus ou os nevoeiros não
se dissipem
Para já, ainda a noite é uma criança e atmosfera
mantém-se escura, não completamente toldada.
Aparentemente, sem mostras de qualquer ameaça.
Deixando entrever - a quem se afoite a ir ao convés
ou espreite pelas vigias - o brilho cintilante ou indistinto
de algumas estrelas.
Porém, não tardará, que, por tão longínquo ser o seu brilho,
venham a manter-se friamente alheias ou
indiferentes ao drama e ao infortúnio
do mais tenebroso caleidoscópio, que, a horas noturnas e malditas,
caladas e surdas,
vai desenrolar-se sob a frieza do mais inesperado e horrível
presságio - Em cenário
desolador e árido, que ondula rumorejante, quase silencioso,
mas escuro e gelado!
Eu, que sozinho voguei sob noites equatoriais povoadas de
assombro e trevas
e habituei meus olhos e meu instinto a ver
o que as sombras, as névoas,
os nevoeiros nocturnos ocultam ou encobrem, sim, ainda mesmo
agora
- à distância do espaço e do tempo - ,claramente ainda
diviso o pronúncio sinistro
das mais trágicas horas de luto!... Distingo o perfil
inconfundível
de esbelto e moderno navio - O seu vulto ainda
navegando
e sulcando a superfície denegrida das águas!
Sim, como que a antevendo o sinistro momento,
que vai anteceder o brutal choque com o Icebergue,
ao pavoroso afundamento que vai seguir-se por escassas
horas.
Entretanto, vendo o desespero dos que saltam para o mar,
que em vão procuram agarrar-se às bóias ou dos que
são descidos
precipitadamente para as escassas baleeiras que foram
arreadas.
Mesmo assim, choram, gritam, gesticulam e imploram protecção divina!
Sim,
vendo tão claramente o drama, que até me parece
que esta minha emocionada visão, é de quem lá esteve,
não fruto da minha imaginação! - Que eu sou também
um dos seus náufragos que mergulha no mar e
se salva!
Sim, neste momento em que as palavras
se soltam livre e espontaneamente da minha mente,
eu nem sei se não serei mesmo, mais do que o poeta
ou a figura encarnada de um feliz sobrevivente,
alguém que, tendo lá estado, sobrevivido ou morrido
afogado,
porém, passados tantos anos, em vez de ter ficado até uma velhice
senil,
tenha cedo partido para a eternidade e ressuscitado - Se calhar é
isso mesmo.
Mas, seja como for, ainda diviso, ainda revejo, todos os momentos
do prenúncio e do seu afundamento - O casco e as
linhas aprimoradas
que lentamente se afundam e suspiram, que lentamente soçobram
e asfixiam,
que lentamente mergulham, vergam e se revolvem na
líquida massa negra azulada,
movediça, ondulada e informe, coalhada de pedaços de gelo do
mesmo icebergue,
que depois de lhe deferir duro golpe fatal, ali mesmo o vai
sepultar!...
Com idêntica crueldade e gélido brilho ao que espelham
as mortuárias águas!...
O mesmo que é reflectido do sideral firmamento, no qual
as estrelas
continuam silenciosas mas rutilam.
Vejo-o e distingo-o, como se aquela noite de tragédia
se fixasse no éter para sempre, perpetuada na
atmosfera vítrea
da amortalhada imensidade! Espelhada no rosto dos
astros -
No calendário programado dos grandes naufrágios do mar
!
. Oh, sim, o sufoco cruel das águas! Quem o não
conhece?!..
Quem ainda não se engasgou até com um copo de água?.
Nem é preciso que seja no mar - Oh, sim!...
- Afrontosa crueldade marítima, cuja hora idêntica
ainda hoje perpassa nítida e claríssima pela minha mente!.
Tantas vezes a revi, a revivo, como que renascida
dos confins da memória e da minha adolescência.
Ainda eu era criança, já na escola primária, em minha casa
e na minha aldeia se falava do afundamento de um
grande navio
- O mar ficava muito longe e era então para mim um grande
mistério.
Por isso, quando alguém embarcava para África ou
Brasil,
todas
as noites se rezava, até haver notícias da chegada.
Talvez por essa razão, quando andei sozinho e perdido no
mar,
muitas vezes me passaram pela mente as aflições dos afogados do
Titanic!
Dentro de mim, lateja , pois, o humano sofrimento
das suas dolorosas angústias e lamentos, as lágrimas perdidas!
Pelo meu peito, perpassa ainda o peso das longas horas
incertas!
O calvário dos sofridos tormentos! - E, no meu estômago, sinto
ainda
como que o trago amargo do sal engolido no remoinho das
trevas!
Sinto-o ainda como que a subir-me pela garganta acima
e a vir-me à boca
um certo sabor vazio das vísceras, sentido naqueles dias
de sede e sem comida
Oh! Como eu alguma vez me poderei esquecer dos infindos
momentos,
vividos, quando, a horas altas da noite, por ter
adormecido,
rolei da canoa borda fora para o seio negro das águas
Caleidoscópio de memórias que me vai permitindo,
não só mergulhar no meu passado de náufrago,
transportar as minhas emocionantes
recordações marítimas
e ao mesmo tempo ir descobrindo na límpida transparência
de funéreo negrume alvacento e frio, onde o Titanic se vai afundando
todo o pavoroso carrossel dos contornos da
sua fantasmagórica e terrível tragédia!
Sim,
olhando e revendo a sua imagem, seu perfil tombado e já meio
mergulhado,
mesmo com o olhar de algum toldado por alguma penumbra, vejo que ainda soluça,
ainda range e balança, rasgado e ferido, mas já sufoca e
geme, o ineviável desenlace!
que desafiava afoitada e galhardamente o desconhecido
mas um trágico barco perdido que se perde e afunda!
Vai resvalando lentamente sobre manto revolto, em leito solto,
violáceo e enegrecido.
Já meio afogado e tragado! Resignado e sem qualquer réstia de
esperança!..
Devassado por enormes feridas abertas, imerso por ferozes
massas líquidas,
que o violam e sufocam - Aprisionado às garras do mar,
já não navega, está imobilizado, meio afundado e quase
perdido!...
O terrível calvário dos momentos
finais que se desenrolará solitário e sombrio
à superfície da vastidão de gélidas e roxeadas águas, que
estão prestes a engoli-lo,
cujo último capítulo não tardará amortalhá-lo e arrastá-lo
até ao fundo dos abismos!...
Recuemos a algumas horas atrás,
olhemos a euforia então vivida,
do mais luxuoso transatlântico do mundo
- imaginemos o ambiente
de confiança e de otimismo que
perpassava pelos camarotes e os salões,
antes de definitivamente se perder! - Quando,
ainda, a altiva quilha,
serenamente vai desafiando e sulcando o azul franjado e
profundo!...
Quando, ainda, vai cortando as sempre movediças águas!
Quando, avançando e singrando, as vai fazendo espumar!
Tanto junto à quilha da ré,
como à quilha da proa!
Lá vai navegando, sempre fugidio e
altivo! - Impulsionado
pelo movimento de possantes hélices da
popa a trabalhar em pleno,
enquanto, lá no alto do convés - quais
barbatanas dorsais de monstro marinho! -
os hirtos charutos das chaminés, fumegantes
e fumegando, vão expelindo aos ares,
atrás e aos lados, os negros
novelos de fumo, poluindo etéreas transparências!
Todo ele vai balanceado, todo ele vai
arfando, balanceando e navegando!
Superando até o ritmo do arfar do
mar - Porque ainda mais intrépido,
destemido e triunfante, que as espumosas ondas azuis no seu
eterno cavalgar!
Recordemos, por breves palavras, as
horas de alegria e desprendimento,
as horas passadas ao longo de luminoso
dia! - Que viagem mais maravilhosa!
- A dos passageiros, tripulantes e
do próprio comandante!... Que maior prazer não devia ser!...
- Rostos debruçados sobre as
amuradas, corpos preguiçando-se, tostando-se
ao débil sol primaveril, cabelos ao vento,
rostos sonhadores, contemplando
o azul das águas e dos céus!...Bares
repletos e salões de festa,
que fervilhavam de vida! ...Segredos
que se desfaziam e negócios milionários
que se imaginavam...Jogos de cumplicidades
que se trocavam,
paixões que se ateavam, lábios que
talvez pela primeira vez se unissem..
Oh! quantos sonhos?!.. - Mesmo
até nos que faziam do barco, apenas a única via
em busca de uma nova forma de vida ou do
el-dourado americano...
- Quantos sonhos e pensamentos
ou belos e enamorados sentimentos?!..
- Tudo isso se esfumou e perdeu no tropel
aflitivo de umas escassas
duas horas nocturnas e funestas ! -
Terrivelmente trágicas!...
Oh! mas deixando, ainda por ora, essas
horas de horror e de assombro!
- Vejamos ainda (embora perdido no tempo)
o perfil do mais intrépido e jovem navio!.
Navegando e aventurando-se em pleno mar
fora, sem receio de nada! - Como
se todos os perigos e escolhos, lhe
passassem ao lado - Navegando,
sob a quimera azul de um céu
límpido, infinito e clarinho!
No qual vogavam alvos novelos de etéreas
nuvens que o pôr do sol iria tingir de lilás,
de ouro e cor de rosa! - Oh!,
sim, que soberbas e fantásticas não eram as suas formas!...
Como ele, então, estoicamente
navegava! ... Como ele então singrava,
confiadamente o mar!...Como ele
desbravara o oceano e avançara
ao longo da manhã, ao
meio-dia e ao longo da tarde!
Como ele, galhardamente, seguia
majestoso, sóbrio e seguro!
Sulcando o imenso círculo ondulado
das vagas,
que mais pareciam ondulantes sulcos e
pregas de veludo
ou drapeados acordes e hinos de águas
do que a antevisão do cortejo
macabro e fúnebre
para onde, inexoravelmente, se encaminhava!...
Quem diria, pois, que aquele tão
luminoso Domingo de Abril,
vivido em constante ambiente de
confiança e de festa,
daria lugar à noite mais sinistra de todas
as noites!...
Quem?!... Mesmo já com o
horizonte imerso por difusas sombras,
contemplando o mesmo infinito arco
celeste, se atreveria a decifrar
ou a augurar, nos pergaminhos dos astros
um destino, tão contrário?!.
Oh! sim!...Quem diria?!... Que, a esse
risonho e alegre dia,
iria suceder um mar esconjurado de gélidos
e profundos sepulcros,
derramados em mil lamentos, em
torrentes de soluços agonizantes e lágrimas
Que arrojo e ousado avanço
para a época!.
Que pasmo e orgulho!... - A
operários, público anónimo,
passageiros, técnicos e seu proprietário!
Quem haveria de pensar que iria terminar
os escassos dias de vida,
numa morte tão cruel e tão trágica?!...
Tantos postais, tantas
gravuras!...Tantos filmes e pinturas,
antes e depois, lhe foram dedicados
e o imortalizaram!
Quem iria imaginar que aqueles
lenços brancos acenando à partida,
haveriam de ser os lenços da sua primeira
e última viagem - A sua despedida!..
Oh! que maior infâmia e ignomínia ver-se
tragado e consumido
no reino translúcido das claridades
espectrais, sem pompa e sem glória!
Oh! como tão belo era!... E, como
tão frágil, moribundo está agora!..
- Pois é... mas os mistérios do mar, além
de insondáveis
são insaciáveis de curiosidade
às fraquezas humanas
- E não param de as espreitar!..
O mar é um corpo mole mas cego, inteligente
e vivo
e com muitos humores - ora pleno de
cólera, ora pacífico.
Nunca acorda ou se despede da mesma
maneira - Por isso,
há que estar sempre atento às suas
pérfidas surpresas ou ciladas!
E hora e meia depois, a
água
passa do sexto para o sétimo compartimento
e não pára de alastrar.
À 1h25, a inclinação do convés é grave.
Ordens são dadas
para que os botes sejam arriados mais
cheios. Mas há quem hesite
e perca de vez a única oportunidade de
salvar a sua vida
Os pedidos dos SOS pelo telégrafo
são escutados - E vários os navios
respondem aos desesperados apelos - Navegam
demasiado longe...
Vão demorar a chegar...Aos foguetes lançados para o
alto da atmosfera
e, aos sinais luminosos que cruzam os negros ares,
não surge das imediações qualquer resposta.
- Perscruta-se o círculo do horizonte e
não se vislumbra
a luz de uma lanterna a espreitar a escuridão à
volta e do outro lado de lá.
Para qualquer ponto que se olhe, o mesmo silêncio e a
negra vastidão! - Algures,
porém, descobrem-se umas tímidas luzes que não saem do
mesmo sítio, quase disfarçadas
mas vão
permanecer misteriosamente em frio silêncio e de costas voltadas....
Os primeiros desceram quase vazios mas os últimos
vão cheios! - E agora há quem se agarre
desesperadamente
e não os largue!... Agarram-se às mãos da
filhinha ou do filho,
da chorosa mulher ou da amargurada
namorada por entre as mesmas lágrimas,
os mesmos soluços ofegantes e doridos prantos,
suspiros angustiosos e alucinantes!
Não suportam que os corações se apartem e
dilacerem para toda a vida!
Procuram salvar-se a todo o custo ou pelo menos a
morrerem juntos e abraçados!
E muitos são os que preferem que a morte os una na
eternidade que agora os separe.
Dir-se-á que não há vida que se agigante mas
escombros, pânico, o caos!
Mas há, todavia, gestos de solidariedade humana, de
gritante coragem e heroicidade!
E também os inevitáveis egoísmos - Os mais
inconformados e temerários
chegam a ser repelidos a tiro.- É a lei da
sobrevivência!...
É o testemunho dramático, descrito por quem se salva,
assiste impotente
e de olhos não menos chorosos à perda de entes
queridos
ou companheiros de viagem e vai perpetuar aos
vindouro,
o inolvidável drama da trágica afronta e narrativa
Oh! como é imensa e fatídica a
noite!...
É o mar! Oh Deus!.. É a noite e o mar!!...
- Ó desumanidade divina!.. Ó cruel desumanidade!
Oh! maior aflição de quem
sentindo-se definitivamente esquecido e perdido,
têm plena consciência do infortúnio que o espera!
têm plena consciência do infortúnio que o espera!
Daqueles que sabem que já ninguém lhes poderá valer ou
estender a mão!
Oh! drama horrendo e intraduzível ! - Que só o
náufrago protagoniza e bem conhece!
Perscrutam e olham incansáveis o circular
horizonte escuro e silencioso mas tudo fenece!
O tão falado e anunciado Titanic, já
não é mais um barco
mas o pálido escombro, o despojo
enorme de um terrível fantasma!
Interrompido, abruptamente, na sua marcha,
agora é o corpo bruto de ferro, amolgado e
ferido, que ainda flutua,
mas já não se desloca! - Inerte,
range e soçobra,
devassado por turbilhões de massas de água
escura
que o esventram, o inundam o afogam!
Está na iminência, a que,
milhar e meio de vidas,
ali sejam abandonadas, sorvidas e tragadas
no mesmo sorvedouro e torvelinho - Ali
deixem,
perpetuamente, o mesmo trágico destino
traçado!
- Resvale e se afunde a pique,
as mergulhe e arraste
para os abismos mais fundos da mais
gélida e funda sepultura!..
Oh destino atroz! Oh terrível
sorte!...
Ai daqueles pobres corações encimados
que, no alto do imponente convés meio tombado, vendo
que, no alto do imponente convés meio tombado, vendo
a morte tão próxima, e cientes de que não
lhes escapam, ainda gritam!...
Que efémero tempo lhes restará de
vida?!...
De que lhes valerá agora alimentar sentida crença ou religiosa fé?!..
De que lhes valerá agora alimentar sentida crença ou religiosa fé?!..
Implorar piedosas súplicas ou
sagrada misericórdia!...
Não lograram entrar para o salva-vidas!
Rostos aterrorizados! Olhos esbugalhados, irradios,
perdidos na escuridão!
Olhos pregados na aridez enregelada
do terrível mar, gritam! - Imploram, rezam!.. Suplicam divina proteção!
que um barco, uma tábua ou uma boia os venha salvar, os socorra, lhes valha!!...
do terrível mar, gritam! - Imploram, rezam!.. Suplicam divina proteção!
que um barco, uma tábua ou uma boia os venha salvar, os socorra, lhes valha!!...
- Em vão!... Vendo-se esquecidos, sentindo que
que já não têm salvação,
em aflitivo desespero, atiram-se e mergulham como suicidas!
Adia-se o último suspiro, a derradeira aflição
em aflitivo desespero, atiram-se e mergulham como suicidas!
Adia-se o último suspiro, a derradeira aflição
por mais alguns instantes ou momentos,
que, todavia, serão verdadeiras eternidades!
Sabem que o tempo se escoa e vão morrer!
Os coletes que envergam de nada lhes poderão valer!
Os coletes que envergam de nada lhes poderão valer!
De nada lhe servirão as súplicas, os seus gritos
e ais,
os destroços que boiam, a que desesperadamente se
agarram e abraçam
- Não o salvam! De nada adiantam!
É sobre-humano resistir e lutar à tona de
superfície tão funda e gélida,
sob atmosfera tão adversa, a condições tão extremas e
fatais!
À volta é o deserto e a mais fria e escura solidão!...
O navio - que à luz do dia parecia glorificar
os mares e os céus - agora naufraga e soçobra!...
os mares e os céus - agora naufraga e soçobra!...
É menos que um vulto,
a flutuante sombra amortalhada
que, em dois grandes pedaços disformes
e
indistintos, se verga e dobra!
"Às
2h18, as luzes do navio piscam pela última vez,
depois
apagam-se para sempre"
As
bombas, que continuamente bombeavam o fluxo das águas,
pouco
mais fizeram que a retardar o inevitável...
O
Capitão Smith e o engenheiro-chefe Thomas Andrews permanecem,
não abandonam seus postos - Procedimento heróico e nobre!...No
entanto,
que
uma vida mais jovem se salve em seu lugar - Enfia-se num bote
salva-vidas
destinado
a mulheres e crianças - Vai ser duramente criticado
em
vários jornais ingleses e noutros países do Mundo.
Mas
que importância terá isso para um covarde
que
nem sequer teve o elementar cuidado
de
mandar equipar o Titanic
com
as balsas indispensáveis?
.
Foi ele que pressionou o comandante do navio
para
que as caldeiras atingissem o rubro,
acelerasse
a velocidade e metesse prego a fundo.
Atmosfera
húmida, enregelada! - Gélida negridão!...
Sorvedouro! - Lugar ermo e de abandono!...Aquele que, há algumas horas atrás, era a grande novidade,
Sorvedouro! - Lugar ermo e de abandono!...Aquele que, há algumas horas atrás, era a grande novidade,
o
último grito da navegação,
agora
é um vulto enorme - Um gigantesco destroço,
que
se confunde com a palidez do mar e a pavorosa noite!
Inundam-se
totalmente os porões! - As luzes
que
feericamente o iluminavam,
também
já não brilham.
Apagaram-se
as fornalhas!
Ouvem-se
as últimas explosões das abrasivas caldeiras,
quando
as águas brutalmente as invadem, as arrefecem
à
mistura dos últimos gritos lancinantes e aflitivos!
Enquanto um
sopro estridente e agudo!
Um gorgulhar de alarme e de abismos!...
Um gorgulhar de alarme e de abismos!...
-
Estranhamente, tudo sorve engole e emudece,
desmorona, silencia, escurece e consome!
desmorona, silencia, escurece e consome!
Quase
num abrir e fechar de olhos,
vão para o fundo mil e tantas vidas!....
vão para o fundo mil e tantas vidas!....
Oh!
e como recordar o silêncio ensurdecedor dos passageiros da terceira classe
que
morreram asfixiados!..Que foram forçados
a
permanecer reunidos e trancados
num
grande salão na traseira do navio!... Para que o pânico não se
alastrasse
e
pusesse em causa a evacuação das mulheres e crianças da primeira e
segunda classe
-
Sabiam que os botes não chegavam para todos, decidiram-se prioridades
-
Oh,
sim, atitude compreensível... Mas os eternos sacrificados,
são
sempre os mesmos! - Os pobres!... Nos menos afortunados
não
moram os privilégios - Poucos se
salvaram!.... "Revoltaram-se,
e
alguns aventuraram-se pelos labirintos de corredores no interior do navio
para
tentar encontrar outra saída" - Libertaram-nos quando
faltavam
escassos dois
botes para abandonarem o navio - Cruel sina ou suplício!...
De
nada lhes serviria abrirem-lhes as portas, quando, lá fora,
apenas
os esperava o salto para o abismo...
Mais
deles, nem a tanto ousaram...
O
pânico instalou-se e venceu-os: morreram atropelados,
-
Quando a morte bate à porta, difícil é escolher como a receber...
Poupados
à visão terrífica e gelada
que
pairava em torno do barco que os transportava, no qual confiaram
os
seus sonhos e os seus destinos, sucumbiram à mesma tragédia,
que
atingiu largas centenas de vidas - Sim, a morte
não
distingue classes sociais nem os passageiros ricos dos pobres
Todos
os que não tiveram a sorte de entrar nos botes,
foram
tragados!
-
Com maior ou menor sopro de vida ou réstia de fôlego,
sofreram
e foram vítimas das mesmas horríveis aflições
-
Não houve quaisquer distinções
nas
horrendas agonias e lágrimas choradas...
A mítica
cidade de New York, jamais será seu porto de abrigo,
a
terra de promissão!...- Os náufragos que não foram arrastados,
envolvidos
pelo mesmo remoinho e turbilhão do fantasmal navio,
pouco
mais lhes restou de vida que expiar a sua afrontosa aflição!
Transidos
e aflitos, debateram-se e nadaram em vão!
Depressa
enregelaram: o coração e os pulmões, sufocaram,
não
resistiram, todos se perderam e se afogaram!
a
madrugada já ia avançada
mas
ainda era noite, porém, tarde demais!...
Lanternas
e holofotes varrem a área e deparam com um cenário macabro
-
Atónitos, os marinheiros, apontam os focos para descobrirem,
possíveis
sobreviventes, mas o que vêm é a morte espelhada!
A
morte isolada ou abraçada aos vários destroços.
O
mar está pejado de corpos que boiam
à
superfície da gélida toalha liquida, dispersos por todos os lados.
abraçados
ou isolados! - Horrível imagem!
Horrenda
e desoladora paisagem!
Alegres
casais que viajavam
que
a trágica morte apartou ou sepultou.
Crianças
que se salvaram mas que ficaram órfãs de um dos pais ou dos dois.
Finaram-se
maravilhosos sonhos, sufocados por horrenda asfixia! - Atroz agonia gelada!
corações
que sofreram e morreram na mais bela flor da idade!...
COORDENADAS EM BUSCA DA MEMÓRIA PERDIDA
Repousa
a 3.800 metros de profundidade - Sob as coordenadas
41º
43' 35" N, 49º 56' 54" W
Cem
anos depois do seu trágico naufrágio,
o
Titanic é hoje um monte de macabros destroços que repousam no fundo
mar!
-
A esverdeada silhueta num sepulcro aberto, rodeada de despojos humanos e
outros,
sob
o peso do mais escuro fundo dos abismos, quase irreconhecível,
esventrada,
corcomida e enferrujada!
- Mostras
arqueológicas de quem teve a coragem de iluminar
o
azul sinistro que a rodeia e de a filmar.
Mais
lembrando a carcaça de um simples brinquedo, meio enterrado
e
sepultado em areias finas, quase da cor do sal,
exposto
por detrás da vitrina de um enorme aquário,
partido
em dois bocados,
em
permanente degradação,
que
a simples miragem do imponente navio,
capaz
de enfrentar a maior distância ou vastidãoDESSACRALIZAÇÃO EM NOME DA CIÊNCIA?
Valerá
apenas recuperar-se (mesmo que de forma parcial) dos lodos e sedimentos,
o
esqueleto afundado e os despojos que ainda por lá se encontram enterrados e
dispersos,
para
se conhecerem melhor os contornos das causas da tragédia
ou
será demasiada morbidez humana a juntar a tantos outros sacrilégios
que,
em nome da ciência, se cometem, com absoluta indiferença
ao
repouso inalienável que é devido aos mortos?!...
Não
sei... Quem poderia responder,
já
não está cá para fazer ouvir a sua voz -
Eu
não fui um dos malogrados náufragos do Titanic, é bem verdade.
Contudo,
só talvez por milagre divino não sou hoje uma das incontáveis vidas
que
se perderam nos mares - Se lá ficasse e mais tarde pudesse responder,
diria
que não há sepultura maior e mais pura que a do mar! - Por isso,
deixem
em paz quem tanto sofreu e não escolheu ali morrer e eternamente morar.
QUE
ATÉ HOJE PERMANECE UM ENIGMA
-
TAMBÉM EU VI UMA QUASE ASSIM
-
E BEM PERTO DE MIM!...
Dizem que se avistaram luzes de um barco por perto
e
que o mesmo barco fez ouvidos de mercador
às
continuas mensagens de morse
que
heróicos marinheiros, não deixaram de enviar
enquanto
puderam -- "A identidade desse navio permanece até hoje um
mistério"
Supõem-se
que tenha sido o Californian, que, prudentemente,
teria
suspendido a navegação e parado as máquinas por causa do
gelo,
mas
cujo operador de serviço, "pouco antes de ir dormir às 23:00
horas,
tentou
avisar o Titanic de que havia gelo à frente", tendo obtido como
resposta
de
um tal indolente Phillips: "Cale a boca, cale a boca, estou
ocupado"
Vingança
a tão desplante negligência e impropério?!...
É
bem provável....No mar as heresias que se cometem,
costumam
ser bem caras e ter altos preços em vidas.
Mesmo
assim, a ser verdade, ó insensível cobardia e desamor!
Ó
maldita frieza e crueldade! Ó vil foco de luz
em
negrume-azul silencioso e sidério!
Na
viagem que fiz de São Tomé à Nigéria, ao 12ª dia,
eu
estava já muito próximo da costa africana - Era noite escura e
encontrava-me rodeado
por
vários poços de petróleo - Era uma confusão...Havia clarões por todo o lado.
Tendo
chegado a navegar por debaixo de uma plataforma sem ser visto
-
O que eu não conseguia era localizar onde é que ficava a costa.
Às
tantas, passa um barco de cabotagem perto de mim - Mal o vi
apontei
a lanterna para a vela para que me vissem melhor
e
não me abalroassem - De nada me valeu - Felizmente,
apenas
me afastou com as ondas da hélice da esteira.
Ia
um vulto de pessoas no convés e toda a gente a falar -
Eles
lá foram à sua vida e eu lá fui à minha até que adormeci...
Na
manhã seguinte, quando a canoa se aproximava perigosamente da praia,
tive
a felicidade de ser acordado por três pescadores,
que,
supondo-me perdido, pegaram nos seus remos
e
foram eles que se encarregaram do resto da navegação.
-
Lá me encaminharam a terra firme e a chão seguro,
onde
fui acolhido como um dos seus numa modesta cabana - De tal maneira
que
nem sequer cheguei a pousar os pés na extensa e dourada língua da areia
-
Fui recebido com lágrimas e abraços - Foi um fim feliz.
Mas
o drama dos passageiros do Titanic
foi
incomparavelmente diferente - Bem dramático e horrível!
Não há pior deceção para um náufrago que ver um barco
à
distância ou passar à sua frente e não parar nem abrandar
a
sua marcha - É pior que acenar um rebuçado a uma criança
e
depois jogá-lo fora - Se, naquele momento, vissem o seu rosto, ele espelharia
a
tristeza maior do Mundo!... Mais grave que o suplício de Tântalo.
Mais
desesperante de que, quando eu, naquelas tardes de calor, sem água
potável
ou
das chuvas para beber, me tive de valer de alguns goles de água salgada
.
de
canoa de São Tomé ao Brasil, a qual se saldaria por um naufrágio de 38 longos
dias.
-
Eram sete de manhã - O Sol nasce às 5.30 e o dia já ia levantado
Mas
brumoso e cinzento, com ameaças de chuva em vários pontos do horizonte.
Nisto,
vejo surgir, lá nos confins, na minha direcção,
um
enorme cargueiro que vai mesmo passar
a
escassa centena de metros à minha frente - qual fantasma!
Despi
minha capa e agitei-a! - E ele ali tão pertinho de mim, quase me
abalroava!..
Como
ninguém respondesse, peguei no apito
que
tinha pendurado ao pescoço e apitei várias vezes...
Várias
vezes levei o apito à boca e apitei..
Mas
o crivo do radar não me apanhava
e
apitar ou gritar naquele vasto mar era inútil...
A
minha voz perder-se-ia no bruar das águas...
Apagada
pelo cavar do sulco da proa e do barulho da hélice à popa.
ao
qual tive de arrancar alguns bocados da cobertura para improvisar
um
tosco remo - Era um tronco como outro qualquer,
quase
da grossura daqueles paus e troncos de palmeiras
que
se misturavam com os muitos detritos e destroços de toda a ordem,
quando
um cardume de atuns me arrastara durante longas horas a fio
de
uma linda tarde equatorial, que se prolongaram até alta noite...
E,
eu, que a principio até cheguei acreditar
-
estando o céu tão límpido e não havendo sinais de temporal -,
que
até fosse alguma força divina, que, no meio daquele borbulhar intenso
se
apiedasse de um pobre náufrago!...Me estivesse levando e arrastando
de
algures do mar para algures num ponto seguro em terra...
O
pior é que o inesperado cardume nunca tomava a mesma direção....
Porém,
às tantas, vendo que já não havia maneira
de
livrar-me do seu envolvimento,
ergui
a vela no tosco mastro e, com o remo improvisado,
(a
maioria dos apetrechos perdera-os com o tornado) praticamente
deixei
que o vento me arrastasse
para
onde ele me quisesse levar - E, como não tomei
a
mesma direção do cardume,
finalmente,
lá me consegui libertar.
Por
isso, ao náufrago, quando todo o mundo o ignora,
de
que lhe servirá gritar ou apitar?!..
Mais
das vezes só depende dele: senão desanimar,
poderá
assegurar a sua salvação: - O mar leva tudo para terra:
nem
sequer lá quer os cadáveres: ou os desfaz ou os arrasta.
Não
creio que o piloto daquele barco me visse - Foi há uns anos
mas
já então havia piloto automático e outros instrumentos
que
o dispensariam de olhar continuamente à sua volta.
Eu
é que não tinha mais de que uma modesta bússola - Não me dava a posição,
só
sabia os quadrantes e mais nada - Mais das vezes, até a dispensava
-
Bastava orientar-me pelo sol, pelas estrelas, pela direcção das correntes e
alisios...
No
entanto, eu vi perfeitamente aquele enorme navio a passar
a
uns escassos cem metros, ali mesmo à minha frente... Gigante, soberbo e
nítido!...
Vi
que continuou indiferentemente a sua rota e o seu caminho...
E,
se me viu, fez que não me viu e não se importou...
Não
seria caso inédito - Não se desviou e nem por um momento abrandou...
A
vida de um náufrago é como um destroço à deriva.
Tive
muitas vezes esse sentimento - Tantas vezes me senti um zé ninguém..
Mais
identificando com o mar e confundido com as vagas
e
até com a curiosidade dos peixes que constantemente me rodeavam
do
que propriamente com o mundo a que pertencia!
Com
a presença dos tubarões é que nunca me senti bem.
No entanto, a inesperada aparição daquele barco,
foi
para mim pior que um balde de água fria.
Deixou-me,
realmente, muito desanimado! ...
Nunca,
como naquela manhã brumosa e de cinza
me
senti tão sozinho, perdido e tão triste!
Depois
resignei-me...Pois mais me convenci
que
só podia depender de mim e da minha força de vontade...
Ah.
sim!..Eu era um mero pontinho no universo inteiro.
Os
meus sentimentos oscilavam entre o vazio e a plenitude.
o
apito era estridente mas de nada me valeria...O circular deserto era imenso!...
Mas
eu apitei!..Meus Deus!...Tantas vezes eu apitei!...
-
Sim, nunca como então, me senti tão esquecido e abandonado
Ainda
agora meus olhos, rasos de água
recordam,
com clara nitidez, as lágrimas de abandono que então chorei...
Oh!
mas quantas lágrimas não terão chorado aquelas infelizes
almas
que
se perderam e afogaram no sufoco
daquela
atormentada noite do desastre do Titanic?!...
De
que lhes serviriam também os seus gritos
e
os seus desesperados pedidos de socorro?!...
Nearer
My God to Thee"
- Também eu o cantei
Será mesmo verdade que a orquestra do imponente navio, só parou de tocar
-
Cremos em Vós ó Deus! -"Nearer My God to Thee" quando
as águas inundaram
todos
os comportamentos e as luzes do Titanic definitivamente se apagaram?!...
Pelo
menos o meu prof. de religião e moral, na Escola Agrícola, em Santo Tirso(1),
assim
nos contou e nos ensinou esse mítico e religioso hino,
que
foi justamente o que eu cantei, naquela noite em que acordei
debaixo
da minha piroga, ao deixar-me adormecer e rolar em negras águas...
Na
ousada viagem numa minúscula canoa da Ilha de São Tomé à do Príncipe
-
Foi a primeira das três e a mais temerária... Vendo que não conseguia colocá-la
a flutuar
sem
ser invadida pelas vagas, e, sentindo-me já exausto, escarranchei-me no
seu costado...
é
não irem ao fundo - Por isso, em vez de me resignar, pus-me a
cantar
aquele
religioso coro até recuperar as forças...
Oh,
mas quão longa e sofrida não foi também aquela noite!...
Oh!
pois não... quão longos os sofrimentos ou afrontosas e
pesadas
não
são as agonias de todos os infelizes que naufragam à superfície dos mares!...
Lisboa,
noite de 14 para 15 de Abril de 2012
Jorge
Trabulo Marques
.Titanic - Wikipedia, the free encyclopedia.********..Titanic.com the community site.******.Titanic - História do maior navio do mundo.****Naufragio Do Titanic Titanic Sinking*****RMS Titanic – Wikipédia, a enciclopédia livre
....(1)Escola Profissional Agrícola Conde S.Bento.....Morreu a última sobrevivente do naufrágio do Titanic - Gente - DN
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