Jorge Trabulo Marques
TERRA
LUXURIANTE E GENEROSA QUE PRODUZ TÃO BELOS FRUTOS E EM POUCO TEMPO - -
Estes belos pés de
ananases. da propriedade de Alberto da Graça do Espírito Santo Vasconcelos, que
as imagens documentam do próprio agricultor, editadas na sua página do
Facebook, fazem-me lembrar os excelentes exemplares de uma plantação de
ananases que o Engenheiro Salustino Graça do Espírito Santo, tinha próximo da então Vila da Trindade, que
tive o prazer de conhecer, tanto em sua vida, onde um dia um feliz acaso me
levara, como depois da sua morte, quando era encarregado da Agropecuária do
quartel (CTISTP), a cuja propriedade me desloquei, por várias vezes, com alguns
soldados, sim, para ali, na maravilhosa pequena Roça S. Vicente, que legara, como um dos mais exemplares modelos da pequena agricultura familiar santomense,
comprar alguns cestos de pés de ananases e algumas socas de bananeiras para as
plantações que estava a efetuar naquela área militar.
Uma das vezes,
encontrava-se presente, o Dr. Mário Soares (deportado para S. Tomé pelo regime Salazarista), ao lado do filho João Soares, que me
pareceram muito curiosos e deslumbrados por aquelas exemplares plantações.
Neste encontro, que ocorreu debaixo de um telheiro e junto à balança onde pesava ananases e abacaxis, apenas ali me deslocava com o propósito de levar estes suculentos frutos para a cantina dos oficiais, que também estava à minha responsabilidade
De recordar que. o nome
de Engº Agrónomo, Salustino da Graça do Espírito Santo Salustino da Graça do
Espírito Santo , é, pois, uma das figuras incontornáveis ao falar-se das
barbaridades infligidas, a milhares de santomenses nos criminosos atos do Massacre de Batepá em
3 Fevereiro de 1953, pelo então Governador Carlos Gorgulho
A recusa da população da Trindade em ir
receber Gorgulho no aeroporto aquando do seu regresso de Portugal em Outubro de
1951, onde então morava o Eng.º Salustino da Graça do
Espírito Santo, a quem Gorgulho imputava toda a rebeldia e a
irreverência da população local, culpabilizando-o da inventada conspiração comunista
dos negros contra os brancos, que culminaria com a tenebrosa repressão de
Fevereiro de 1953, apontado em todos os autos de “confissão” dos presos
como (…) chefe da revolução, seu instigador, seu preparador e futuro Rei da Ilha
Alberto da Graça Do Espírito Santo
Vasconcelos - Sr. Jorge Trabulo, sou parente muito próximo do falecido Engenheiro
Salustino Graça e se recorda quando ia a Roça S. Vicente para adquirir o
suculento fruto de ananás quem o recebia e vendia os produtos era o Sr. Armando
Vasconcelos, meu querido pai, já falecido há quatro anos.
Para lhe dizer embora aquando da morte de
Salustino Graça em 1965, eu tinha oito anos, com essa idade gostaria de ser
engenheiro como ele para que pudesse produzir ananases em quantidade e qualidade
iguais aqueles que eram produzidos naquela época.
Concluído os estudos liceais, até tive oportunidade de concretizar o meu sonho, fazer agronomia, mas tinha sido seleccionado para Cuba. Recusei , porque na altura não quis ir à Cuba , mas não estou arrependido, embora não tenha feito a minha formação preferida, formei-me em Língua e Cultura Portuguesa, na vertente Pedagógica na Faculdade de Letras de Lisboa e lecciono. Aos fins de semana e nas férias faço o que mais gosto, contribuindo na minha dieta alimentar e ganhando mais alguns tostões para ajudar com o magro salário que se usufrui nas Terras de Amador.
Concluído os estudos liceais, até tive oportunidade de concretizar o meu sonho, fazer agronomia, mas tinha sido seleccionado para Cuba. Recusei , porque na altura não quis ir à Cuba , mas não estou arrependido, embora não tenha feito a minha formação preferida, formei-me em Língua e Cultura Portuguesa, na vertente Pedagógica na Faculdade de Letras de Lisboa e lecciono. Aos fins de semana e nas férias faço o que mais gosto, contribuindo na minha dieta alimentar e ganhando mais alguns tostões para ajudar com o magro salário que se usufrui nas Terras de Amador.
Um abraço amigo Trabulo!
As suas palavras
comovem-me e deixam-me com os olhos banhados de lágrimas: por um lado pelas
memórias distantes a que me transportam; por outro por belo exemplo que me
transmitem: de ver que, apesar de não ter seguido a carreira de Eng.º Agrónomo,
se dedica com especial amor e devoção à agricultura,
que era realmente esse o empenho do saudoso Eng. Engenheiro
Salustino Graça do Espírito Santo, além do distinto patriota que tanto sofrera,
em prol do povo santomense, com as perseguições movidas da
polícia do regime.
Sim, Caro Amigo
Alberto, faz-me muito bem aproveitar os seus tempos livres nessas tarefas, até
porque, como reconhecerá, a terra é generosa e fértil e sabe retribuir, com os
mais saborosos frutos, a quem amanha e cultiva
O abraço
amigo
"Salustino Graça do Espírito Santo 1894-1965. - Nasceu no dia 9 de julho de 1892 na
freguesia da Trindade, ilha de São Tomé. Após concluir o ensino primário na sua
terra natal, viajou para a capital portuguesa onde fez os estudos secundários,
mais exatamente na Escola Académica de Lisboa. Posteriormente, finalizou (em
Março de 1922) o curso de Agronomia no Instituto Superior de Agronomia de
Lisboa, tendo regressado pouco tempo depois para junto dos seus patrícios. São
Tomé e Príncipe foi, a par com o desenvolvimento da raça negra, o principal objeto
da esperança de Salustino Graça, e fator da verdadeira guerra que protagonizou
até à hora da morte, ocorrida quando tinha setenta e três anos de idade. Este
engenheiro nativo foi, sem dúvida, símbolo da luta do seu povo, a quem
paulatinamente e com hábil mestria, determinação e coragem foi ensinando os
difíceis caminhos da liberdade, da justiça e do progresso.
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