Jorge Trabulo Marques - Jornalista
O 25 de Abril devolvera a liberdade ao Povo Português e a promessa da libertação dos povos sob o jugo colonial. A censura foi erradicada e a imprensa passou a publicar livremente os seus artigos, reportagens e a exprimir as opiniões. A minha experiência na Roça, fora suficiente dura e dececionante para tomar consciência de que o colonialismo, não servia nem os povos das ilhas nem sequer muitos dos pobres colonos, que para ali iam na esperança de uma vida melhor. Também fora enganado. Por isso, não vi outro caminho que não fosse o de apoiar o movimento libertador.
Hoje a data é praticamente ignorada: ouvem-se vozes nas antigas roças a afirmar que no “antigamente tínhamos escravatura mas havia comida, agora não temos escravatura mas não há comida - EM PORTUGAL VAI QUASE DAR AO MESMO - Com um ordenado mínimo de 580 euros, quem é que pode arrendar uma casa em Lisboa ou no Porto, por menos de 700 euros ou um quarto por 400? - E depois quanto lhe fica para se alimentar, transportes e se vestir condignamente?
As antigas instalações das roças estão irreconhecíveis e são escassos os modelos de desenvolvimento: - grande parte das plantações foi votada ao abandono. - Não se morre se fome, porque, a fertilidade dos solos, mesmo não sendo devidamente cuidados, têm sempre frutos para oferecer. Porém, não basta: o clima húmido e quente é bom para o turista se maravilhar com o verde luxuriante das florestas ou se refastelar nas praias por uns dias mas é propício ao aparecimento de doenças tropicais, para quem aqui vive, e, não havendo dinheiro para medicamentos e outras necessidades básicas, morre-se de morte lenta e penosa, que é justamente o que está acontecendo com o horrível sofrimento das mais dolorosas e estranhas doenças.
UM PEQUENO PAIS GOVERNADO POR UM PRIMEIRO-MINISTRO QUE PASSA A MAIOR PARTE DO TEMPO NO ESTRANGEIRO
UM PEQUENO PAIS GOVERNADO POR UM PRIMEIRO-MINISTRO QUE PASSA A MAIOR PARTE DO TEMPO NO ESTRANGEIRO
O panorama politico é deveras preocupante, sobretudo desde a formação de um governo maioritário, que, ao invés de promover o diálogo e a tolerância, tem enveredado por uma conduta de afronta e de violência para com a oposição, não hesitando mesmo em servir-se de tropa ruandesa para amedrontar e intimidar as populações.
Referem noticias, que, "o primeiro-ministro são-tomense, Patrice Trovoada está à caminho dos Estado Unidos América, numa missão de trabalho visando, essencialmente, a solicitação de apoio no âmbito de combate à criminalidade, há poucos dias de ter recebido em audiência o novo embaixador norte-americano para São-Tomé,- soube-se hoje de fonte governamental.
NÃO ME MATARAM PORQUE ME ESCAPEI NUMA CANOA PARA A NIGÉRIA - Largando à noite, discretamente, da Praia Melão, em quase 13 dias de terríveis tempestades e podres calmarias -
MAS ANTES DE PARTIR, CHEGUEI A ESTAR REFUGIADO NO MATO EM CASA DE AMIGO SANTOMENSE – DENTRO DO QUE ME FOI POSSÍVEL, FIZ O REGISTO DA CRONOLOGIA DOS ACONTECIMENTOS E TESTEMUNHEI HISTÓRIA - O que profundamente lamento é o comportamento do comerciante de origem portuguesa, Sr. Jorge Moisés Teixeira Coimbra, que, tendo ido buscar os milhares de negativos a casa da minha companheira, uma amável nativa santomenses (única pessoa que me viu partir rumo ao desconhecido, numa noite profundamente escura e com o horizonte rasgado por sinistros relâmpagos, tornado esse, que horas depois, me envolveria no seu fantasmagórico carrossel de alterosas vagas), sim, que, em posterior aventura, não teve a gentileza de até agora me entregar o meu espólio - 19/02/2008 atitude do empresário jorge moysés teixeira. coimbra
EVARISTO CARVALHO, MEU ANTIGO COLEGA NO TEMPO COLONIAL - DE MODESTO CHEFE DE SECRETARIA A PRESIDENTE DA REPÚBLICA 41 ANOS APÓS A INDEPENDÊNCIA -
Conheço o Evaristo, desde o tempo em que, ambos trabalhámos na Brigada de Fomento agro-pecuário:
ele como chefe de Secretaria, eu como Técnico Agrícola. Trata-se de uma
pessoa afável e pacifica mas que, neste caso, vai do impecável
pacifismo ao abúlico pacivismo - Ou seja, de cuidar dos seus netos, dos vinte e tal filhos que tem e sentar-se, comodamente, curtindo o resto da velhice, sem grandes preocupações; claro, numa cadeira mais confortável que a da pedra onde o fotografei.
Manuel Pinto da Costa,
formou-se em Economia da RDA, recebera do leste apoios e,
ideologicamente, ele era realmente (é, creio ainda) a grande figura
progressista mais carismática do MLTSP. – Dois minúsculos pontos quase indetetáveis no
Golfo da Guiné, sobre alinha do Equador, a 200 quilómetros da costa do Gabão, mas cedo começaram a despertar as atenções das duas
grandes potências – Muito antes dos estudos
sísmicos nos anos 90 revelarem potencias
reservas petrolíferas, das
quais, no entanto, não jorrou uma gota
de petróleo, dada a profundidade a que se encontram os elevados custos da sua exploração.
Tanto os governos dos EUA, como da ex-União Soviética, mal se começou ali a falar livremente de
independência, com o 25 de Abril, depressa ali mandaram os seus emissários:
pessoalmente, fui contatado, por um representante da KGB e o cônsul do EUA, em
Luanda, a que me refiro neste site
VOU
DE SEGUIDA REPRODUZIR ALGUNS EXCERTOS DO QUE JÁ DESCREVI
DESENVOLVIDAMENTE NOUTROS POSTS DESTE SITE - (correndo o risco de me
repetir) SOBRE A CRONOLOGIA DOS ACONTECIMENTOS DO PRIMEIRO DIA E SEGUINTES - APÓS O GOLPE DA REVOLUÇÃO DE 24 PARA 25 DE ABRIL
Alvorada da revolução do 25 de Abril, de 1974,
não foi praticamente notada neste dia em S. Tomé e Príncipe, senão para quem
acompanhava as emissões estrangeiras de rádio, que não era,
naturalmente, o grosso da população mas quando raiou foi como um
rastilho que se ateasse a um foguete – Mesmo assim, houve quem quisesse
ofusca-la – E pouco faltou para que os roceiros provocassem um banho de sangue
e Movimento das Forças Armadas ali
fosse abortado – Ou antes, um pouco retardado, já que a população, galvanizada
pelas manifestações populares, não o ia permitir
Mas eu soube da notícia ao raiar dessa alvorada. Era
operador na rádio local e correspondente da revista angolana, Semana Ilustrada.
A estação encerrava à meia-noite e abria (se a memória não me falha) às cinco e
meia da manhã.
Nesse dia, eu era o técnico escalado para abrir a
estação e pôr o Hino Nacional no ar, seguido de um programa de música
variada – era mais uma das bobines gravadas que recebíamos regularmente da
extinta Emissora Nacional. Poucos depois, chega o Raul Cardoso, que, na
redação, passava ao papel as noticias transmitidas, em onda curta, por aquela
estação, para depois serem lidas nos noticiários da "província". Pois
não dispúnhamos de fax.
Houve um golpe militar!!... Há uma
revolução em Lisboa!", Confessava-me, mal pôs os
auscultadores à escuta. Porém, as notícias dos acontecimentos em Lisboa,
foram encaradas com reservas e a sua divulgação, começou por ser bastante
lacónica - Só, depois do pôr-do-sol. já noite, às 19 horas, é que O Emissor
Regional difunde o seguinte comunicado da Repartição do Gabinete e distribuído
pelo C.I.T
"Perante
notícias de alteração da Ordem Pública na Metrópole, o Governador informa que o
Governo Central está em pleno exercício das suas funções. A população tem dado
um magnífico exemplo de calma e tranquilidade que o Governo e as Forças Armadas
da Província continuarão a assegurar."
Os roceiros estavam fortemente armados! Até com
metralhadoras, que haviam entrado clandestinamente, descarregadas
de uma baleeira, na Praia Grande, ao sul da Ilha. Conto referir-me a esta
questão em próxima postagem. Nas propriedades agrícolas, havia muitas
armas: as velhas Mauseres, que foram usadas pela infantaria
Nazi.Com que habitualmente se treinavam os colonos. Também eu, aos 18
anos, fui obrigado a participar, nesses treinos, quando lá trabalhei como
empregado de mato - A imagem ao lado, sou eu, à entrada da Praia Roça
Uba-Budo, e um pouco mais ao fundo, ficava o campo de tiro ao alvo, onde,
aos Domingos de manhã, cada branco fazia para ali a fogachada que
quisesse
Enquanto, na Rua António Maria Cardoso, capital do
Império Colonial, os PIDES se entrincheiravam, metralhando quem se lhe opusesse
ou eram presos e humilhados onde fossem localizados, em São Tomé, nada parecia
perturbá-los: mesmo depois de já não existirem dúvidas, quanto ao êxito do
Movimento dos Capitães de Abril, a PIDE teimou manter-se em atividade por
algumas semanas, fazendo de contas que a situação na colónia não se ia alterar:
porém, à cautela, houve o cuidado (com a conivência das secretas do CTI de
STP)levarem os arquivos para aquele quartel e limparem os cadastros.
Vi lá um Tenente, daqueles serviços, muito lesto à frente
do edifício a conduzir as operações da remoção e transporte do recheio, que
lhes interessava apagar. Fotografei a situação mas os negativos, infelizmente
(tal como algumas centenas) ficou-me um colono com eles. Depreendi
imediatamente que havia por ali marosca.
Não me enganei. Pois, logo que foi permitida a consulta
pública dos arquivos da
PIDE/DGS, na Torre do Tombo, me
inteirei de que o meu processo levara sumiço: só lá encontrei as
capas do dossier. Fora espancado e preso pela PIDE (na sequência da minha travessia
de canoa ao Príncipe) e tinha a certeza que deveria lá ter alguns registos.
Constatara que haviam limpado tudo. Restavam as capas e o nome. Creio que
fizeram o mesmo em todos os arquivos da PIDE/DGS naquelas Ilhas. Duvido
que tivessem deixado quaisquer folhas com os relatos dos seus abusos . E não
foram poucos.Era uma questão que gostaria de apurar..
Por seu turno, a velha raposa do inspector (Nogueira Branco), ao
dar-se conta de que o curso da revolução era irreversível, receando perder o
comboio da história, quis armar-se em democrata e foi um dos primeiros
subscritores do chamado Partido Democrático. - Um felizardo!... De regresso a Portugal,
foi-lhe retido o "bago" mensal. Mas um oficial superior (seu amigo
pessoal e conterrâneo), que havia ali comandado a
Companhia de Caçadores de São Tomé e Príncipe
, intercedeu e, a ovelha carneira de cabeleira branca, lá continuou a
receber a avultada mesada por "honrosos serviços prestados à pátria"
- Foi-me dito, recentemente, pelo próprio oficial.
Por sua vez, os agentes também não pareciam nada
preocupados. Na esplanada do Rialto, continuavam a refastelar-se com
cervejas, tendo-lhes ouvido dizer que "o novo governo vai precisar
de nós". Passeavam-se ao estilo dos mesmos figurões do costume.
Todavia, um artigo de minha autoria, na Semana Ilustrada,
desmoronar-lhes-ia quaisquer ilusões. “PIDES À SOLTA! QUEM OS RECOLHE?” Logo
que o escândalo veio a lume, foram enviados para a Quinta de Santo António.
Essa gente era perigosa; os seus dias, já pertenciam ao passado. Eles e a quase
generalidade dos colonos, continuavam a pensar, como se nada tivesse
acontecido. Recuavam-se a compreender a nova realidade!
A 25 de Abril de 1974, os acontecimentos do Massacre de Batepá, de Fevereiro de 1953, ainda estavam muito vivos na memória do Povo de São Tomé e Príncipe.
Ainda havia quem
tivesse feridas nas pernas por cicatrizar das pesadas grilhetas - Fora as que
sangravam no coração!....que dificilmente se apagam... Vi com os meus próprios
olhos essas feridas - Ainda em chagas vivas por sarar! ...
Provocadas por longo cativeiro, no campo de concentração de Fernão Dias,
acorrentados a bolas de ferro, tal como aos escravos nos barcos negreiros. Vi
também a fotografia da cadeira elétrica e outras macabras imagens
Ainda entrevistei algumas das vítimas - "Prenderam-me durante 45 dias. Houve a ideia de arranjar mão-de-obra gratuita. E daí surgiram as prisões, mais prisões sem quaisquer razões para isso. Procurava-se emprego e não se encontrava. No entanto, as rusgas sucediam-se e as pessoas que encontravam eram presas. É claro que houve um ou outro que reagiu sobre essas atitudes." Declarações de Bartolomeu Cravid
INDEPENDÊNCIA TOTAL, CÁ CU PÔVÔ MECÊ”
Cartaz
com que foram dadas as boas vindas ao então Tenente Coronel Pires Veloso - O
Primeiro e o último governador pós 25 de Abril - Este o aviso de que a vontade
do povo santomense era soberana e imparável, por mais obstáculos que
existissem.
Os ativistas – pró-independência - não enveredaram pela
luta armada mas causaram forte
contestação e instabilidade, não dando tréguas a qualquer ideia ou projeto que
não visasse a total libertação do povo oprimido do arquipélago. Promovendo uma
constante onda de agitação política e social. Não deram hipóteses a que os
movimentos federalistas ou neocoloniais, conquistassem adeptos e se
implantassem.
“Independência-Já” era a palavra de ordem mais ouvida nos
comícios e manifestações de rua. E, nos cartazes, os slogans mobilizadores pautavam-se,
sobretudo, por um claro e único objetivo, expresso em linguagem popular : “Independência total, çà cu pôvô
mecê ” - Independência total
é tudo o que povo quer. Os jovens ativistas da Associação Cívica, foram a principal força interventiva e conciencializadora
durante o processo de descolonização –. Sem a sua coragem e o seu dinamismo,
porventura, ainda hoje as duas ilhas, eram colónias, tal como sucede a outros
territórios que estão nas mãos de 61 países
.
.
UNS MESES DEPOIS, APÓS INVADIREM O PALÁCIO DO GOVERNO E DE INSULTAREM O GOVERNADOR – MAL
ME VIRAM NAS IMEDIAÇÕES, UMA AUTÊNTICA MULTIDÃO DE COLONOS BRANCOS,
LOUCOS E ENFURECIDOS, MUNIDOS DE MACHINS, DESATOU A CORRER ATRÁS DE MIM
- SE ME APANHASSEM, TERIA SIDO DEGOLADO E DESFEITO!... ESPALHARAM-SE
POR TODAS AS RUAS E O QUE ME VALEU FOI TER DESCOBERTO A ESCADA DE UMA
PORTA ABERTA E REFUGIAR-ME NO TELHADO DESSE PRÉDIO
MESMO ASSIM, QUANDO CORRIA À SUA FRENTE, AINDA LEVEI COM UMA PEDRA NA CABEÇA e outra nas costas - Depois de descarregarem toda a ira e ódio na minha modesta viatura, furando-lhe os quatro pneus à navalhada, arrombara-me a casa, partiram-me tudo: escaqueiraram-me a máquina de escrever, onde nem sequer ficou um simples copo inteiro para beber água - Não satisfeito com a malvadez, deixaram uma forca pendurada na porta, e, na parede ao lado, uma cruz desenhada e a inscrição: " a morte sanciona cada traidor".
MESMO ASSIM, QUANDO CORRIA À SUA FRENTE, AINDA LEVEI COM UMA PEDRA NA CABEÇA e outra nas costas - Depois de descarregarem toda a ira e ódio na minha modesta viatura, furando-lhe os quatro pneus à navalhada, arrombara-me a casa, partiram-me tudo: escaqueiraram-me a máquina de escrever, onde nem sequer ficou um simples copo inteiro para beber água - Não satisfeito com a malvadez, deixaram uma forca pendurada na porta, e, na parede ao lado, uma cruz desenhada e a inscrição: " a morte sanciona cada traidor".
Uma
manhã, ao saírem do palácio, depois de insultarem, o Governador, Pires Veloso –
mal me viram sentado na esplanada do Restaurante Palmar, – onde pretendia
inteirar-se daquela estranha ocorrência -, imediatamente correram furiosos
atrás de mim! E eram umas largas centenas. Se me apanhassem, naquele
momento, estou convencido que me tinham esmagado e linchado. -
TIVE QUE ME REFUGIAR, EM CASA DE UM
SANTOMENSE: dos pais do Constantino Bragança, que, tendo assistido à
perseguição, se deslocou à noite ao local para me colher no seu modesto
casebre, algures no mato: Sr. Jorge! Pode descer, que os brancos foram todos
para o quartel da Polícia Militar e do Cinema Império e venha para a minha casa
A minha casa ficou irreconhecível, num monte de destroços. Como não me apanharam lá no seu interior, deixaram-me à porta o laço da prometida forca de corda. Pelos vistos, em qualquer parte do mundo, os jornalistas são sempre as primeiras vítimas. É neles que descarregam todos as iras e ódios. Ainda hoje, ao escrever estas linhas, se me toldam os olhos, tal os maus momentos por que passei. Ao meu modesto carro, por duas vezes, lhe furaram os pneus à navalhada.- Não me importo de ser confrontado com os elementos da natureza mais hostil, mas ser atingido pelo ódio humano é mil vezes pior!...Não é medo é um sentimento de profunda tristeza e revolta
A minha casa ficou irreconhecível, num monte de destroços. Como não me apanharam lá no seu interior, deixaram-me à porta o laço da prometida forca de corda. Pelos vistos, em qualquer parte do mundo, os jornalistas são sempre as primeiras vítimas. É neles que descarregam todos as iras e ódios. Ainda hoje, ao escrever estas linhas, se me toldam os olhos, tal os maus momentos por que passei. Ao meu modesto carro, por duas vezes, lhe furaram os pneus à navalhada.- Não me importo de ser confrontado com os elementos da natureza mais hostil, mas ser atingido pelo ódio humano é mil vezes pior!...Não é medo é um sentimento de profunda tristeza e revolta
PIRES VELOSO ALUDE, NO SEU LIVRO: “VICE-REI DO NORTE – Memórias e Revelações” À INESPERADA INVASÃO DOS COLONOS AO PALÁCIO DO GOVERNADOR
A
manifestação podia ter acabado numa tragédia: havia o desejo de pegar em armas
e atacar os defensores da Independência Total. Estes depressa galvanizaram as
populações e o movimento do pró era imparável. Só se matassem o povo inteiro.
Houve quem estivesse quase a perder as estribeiras.
CRONOLOGIA DOS ACONTECIMENTOS - DA REVOLUÇÃO DE ABRIL EM S. TOMÉ-
Era
naquela altura - aliás, desde meados dos ano 70 - correspondente da
Revista Semana Ilustrada, de Luanda - Naturalmente, que, a repercussão
do 25 de Abril, nas Ilhas Verdes do Equador, nomeadamente, em S. Tomé,
onde residia, não podia passar despercebida ao jornalista - De resto,
com o fim da censura, não havia mãos a medir Muitos dos meus trabalhos,
não passavam no crivo dos censores, em Angola, pelo que, finalmente,
com a despertar da liberdade de expressão, havia que aproveitar os novos
ventos da história ,que, aliás, muitas contrariedade me haviam de
trazer, da parte dos colonos - Na edição da semana seguinte, fiz um
relato circunstancial dos principais acontecimentos na Ilha, que julgo
ter sido o único a nível da imprensa - Só que era-me difícil encontrar a
revista onde fiz essa publicação.
Em
Portugal, e mesmo quando agora estive em S. Tomé, não consegui
encontrar, em nenhum dos arquivos, aquela edição, no entanto, para
agradável surpresa minha, foi-me possível deparar com a transcrição no
livro "O NACIONALISMO POLÍTICO SÃO-TOMENSE - Por Carlos Espírito Santo,
- Sem
dúvida, um muito aprofundada e muito bem elaborada pesquisa e
análise, que, segundo ao autor, "tem como finalidade examinar
diferentes vectores que sustentaram o nacionalismo desenvolvido, pelos
são-tomenses, desde a queda da monarquia portuguesa (5 de Outubro de
1910) à data da independência de São Tomé e Príncipe (12 de Julho de
1975" -
A
referida cronologia está inserida no capítulo dedicado â "Associação
Cívica Pró-Movimento de Libertação de S. Tomé e Príncipe", ou seja, num
conjunto de factos, relacionados com a Revolução de Abril de 1974 - E começa assim:
A
25 de Abril de 1974 (quinta-feira), um grupo de oficiais portugueses
liderado pelo major Otelo Saraiva de Carvalho finalizou um pacifico
golpe de Estado depondo o regime fascista que vigorava há quarenta anos.
Tratou-se, sem dúvida, de um dos mais significativos feitos históricos
dos militares lusos, que dessa forma puseram termo ao Estado Novo,
marcado pela desigualdade económica, ausência de liberdade de reunião e
de expressão, proibição de formações políticas, repressão policial, etc.
Em
São Tomé e Príncipe, a queda da ditadura salazarista/ marcelista foi
vivida com grande satisfação pela população nativa e também pelos
democratas portugueses radicados nestas ilhas, logo que foram informados
deste transcendente facto histórico político. Era governador de São
Tomé e Príncipe o coronel João Cecílio Gonçalves 658, que regressara a
São Tomé no dia 23 de Abril de 1974659, após viagem de trabalho às
terras lusas 660.
João
Cecílio Gonçalves decidiu pedir demissão do cargo de governador das
ilhas de São Tomé e Príncipe, poucos dias depois da triunfante revolução
militar portuguesa:
«Foi
com a maior surpresa que a população de S. Tomé e Príncipe, tornou
conhecimento da imediata decisão do coronel João Cecílio Gonçalves, de
se demitir de Governador desta Província, tanto mais que a continuidade
da sua permanência já estava absolutamente assegurada pela Junta de
Salvação Nacional, uma breve cerimónia de transmissão de poderes, a que
apenas assistiram algumas entidades oficiais e pessoal do gabinete, jâ
que a decisão foi repentina e não previamente anunciada, o coronel João
Cecílio Gonçalves despediu-se com estas boas palavras à população, com
as quais, simultaneamente, procurou justificar a sua resolução:
3º ano após a independência |
Nestes
termos faço a entrega do Governo da Província ao sr. Intendente Pinto
de Souto, a quem desejo as maiores felicidades no seu desempenho.
Despeço-me de todos com saudade, agradeço as horas magníficas que passei
junto da população, que levo no coração, e desejo que o futuro traga as
maiores felicidades que merece."
Foram,
pois, nestes termos, breves e repletos de comoção, que o coronel
Cecília Gonçalves, que ao longo de mais de dois anos tanto se interessou
pelo progresso e bem estar destas duas Ilhas portuguesas do Golfo da
Guiné e das suas gentes, se despediu.»661
Foram,
pois, nestes termos, breves e repletos de comoção, que o coronel
Cecílio Gonçalves, que ao longo de mais de dois anos tanto se interessou
pelo progresso e bem estar destas duas Ilhas portuguesas do Golfo da
Guiné e das suas gentes, se despediu.»661
Anote-se:
tal demissão foi originada pelas divergências que ocorreram entre o
governador João Cecílio Gonçalves e o comandante militar Ricardo Durão
662, que foi convidado pelo general António Spínola a desempenhar outras
funções na capital portuguesa.
Os factos que tiveram lugar em São Tomé e Príncipe nos primeiros dias após o golpe militar dos capitães de Abril foram revelados pelo correspondente da Revista Semana Ilustrada, Jorge Trabulo Marques, jornalista português radicado há bastante tempo neste arquipélago:
Os factos que tiveram lugar em São Tomé e Príncipe nos primeiros dias após o golpe militar dos capitães de Abril foram revelados pelo correspondente da Revista Semana Ilustrada, Jorge Trabulo Marques, jornalista português radicado há bastante tempo neste arquipélago:
«S.
Tomé-25. O dia amanheceu sereno e calmo como outro qualquer. As pessoas
dirigem-se para os seus locais de trabalho habituais. Um sol
resplandecente e equatorial banha de luz e de vida a pequena cidade de
S. Tomé. A vida parece continuar com a mesma rotina dos demais dias da
semana. Porém, para um número muito restrito de cidadãos, começam a
chegar os primeiros rumores de que algo de estranho se passava na
capital do País. Há interrogações. Expectativa geral. Tudo o que se fala
e se sabe, é escutado de estações de rádio estrangeiras. Por isso a
dúvida subsiste. As perguntas sobre o que há ou não, de verdade, sobre a
situação em Lisboa, começam a suceder-se a cada instante. E a não
encontrar uma resposta exacta, Tudo o que se fala é incerto e impreciso.
S.
Tomé-25. É quase meio-dia. O Governador da Província é já conhecedor
das noticias que pela manhã começaram a ser radiofundidas por Emissões
do exterior. Terá, naturalmente, como qualquer outro habitante alertado
sobre as ocorrências, mantido as suas reservas e dúvidas. Toma
conhecimento do teor do comunicado emanado pela Repartição do Gabinete
do Governo de Angola, transmitido pela Estação Oficial deste Estado. Que
nada de correcto diz, pois é bastante lacónico.
S.
Tomé-25. Estamos no começo da tarde. Chega-nos ao conhecimento que
parte do efectivo militar aquartelado na cidade entra de prevenção.
Notícias não confirmadas começam a partir de agora a circular com maior
intensidade pela população que, com crescente expectativa, se interroga
ansiosamente.
S. Tomé-25. São 19 horas. O Emissor Regional difunde o seguinte comunicado da Repartição do Gabinete e distribuído pelo C.I.T
"Perante
notícias de alteração da Ordem Pública na Metrópole, o Governador
informa que o Governo Central está em pleno exercício das suas funções. A
população tem dado um magnífico exemplo de calma e tranquilidade que o
Governo e as Forças Armadas da Província continuarão a assegurar."
Lampejos
de um defunto moribundo. Pois escusado seria dizer que àquela hora
ainda o Governo derrubado estaria no exercício pleno das suas funções.
Um comunicado, portanto, que não veio trazer luz alguma sobre as dúvidas
que já existiam. Maior confusão, porventura, estamos certos, foi o que
veio provocar.
Pois se as estações estrangeiras já àquela hora estavam fartas de deitar cá fora a noticia do golpe militar aos quatro ventos. Um caso mais ou menos consumado, era a ideia que começava já a prevalecer em muita gente, tal a veracidade e o pormenor com que o desenrolar dos acontecimentos passavam a ser pelas mesmas relatados. Uma sensação de alívio notava-se nas pessoas, se bem que juntamente com alguma inquietação pela incerteza que, não obstante, ainda pairava. Oficialmente nada de concreto se sabia, apenas o conteúdo daquela comunicação que, àquela hora, e dada de maneira como foi redigida, terá sido bastante inoportuna. S. Tomé-25. E a hora de fechar o Emissor Regional. Ouvem-se os últimos acordes do Hino mas até àquele momento a grande verdade, de que já muita gente não tinha dúvidas, não chega a ir para o éter pelas ondas hertzianas desta Voz Portuguesa no Equador. E isto porque a Emissora Nacional, de que faz parte, continua no seu mutismo em relação à sua emissão para o Ultramar. Continua com a sua normal programação, apenas com a diferença dos noticiários serem demasiado breves.
S.
Tomé-26. É meia-hora da madrugada. Algum do pessoal do E. R. de S. Tomé
e Príncipe que se havia mantido em escuta depois de encerrada esta
estação, houve e regista, em fita magnética, as primeiras palavras do
grande general António Spínola. Fala como Presidente da Junta de
Salvação Nacional, que então se constituira após o Glorioso Movimento
das Forças Armadas, em tão boa hora levado a cabo, segundo as sua
próprias palavras, no seu memorável comunicado à Nação Portuguesa, de
que, a partir daí, assumira a enorme e pesada responsabilidade da
condução dos novos destinos.
S.
Tomé-26. São cinco e meia da manhã. O Emissor Regional, embora tivesse
já pleno conhecimento da situação e das palavras do Presidente da Junta
de Salvação Nacional, abre a sua emissão como habitualmente. O programa
musical continua a cumprir-se na íntegra. Não faz qualquer referência,
entretanto, sem autorização superior. Apenas uma ligeira alteração na
programação: Não transmite o noticiário das 6.30.
S.
Tomé-26. Aproxima-se as sete horas de um novo dia. De um dia que traria
de facto uma bela e risonha mensagem a toda a população destas ilhas.
Era a mensagem de um Portugal livre. De um Portugal para um futuro
melhor, cujo raiar havia começado já na madrugada da véspera do dia
anterior.
(....)
S. Tomé-26. São 10.30. O Emissor Regional de S. Tomé e Príncipe lê uma
comunicação das Forças Armadas da Província dando conhecimento do
telegrama por elas enviado à ]. S. N. e com o seguinte teor: "Tomado
conhecimento proclamação]. N. S., Forças Armadas de S. Tomé e Príncipe
garantem total apoio destes objectivos. Política Nacional anunciados.
Mais asseguram perfeita calma e tranquilidade população e controle
situação local". S. Tomé-26. 19.00. Uma comunicação do Governo da
Província anuncia que, segundo telegrama do Ministério do Ultramar, o
Governador de S. Tomé e Príncipe é reconduzido.
S.
Tomé-27. O Comandante Militar em exercício, tenente-coronel Ricardo
Durão, é chamado pela Junta de Salvação Nacional a desempenhar
importante cargo no Ministério da Defesa Nacional. Função essa que,
segundo posteriormente veio a público, não chegou a ocupar visto ter
sido mais tarde designado delegado da J.S.N. junto do Ministério das
Corporações.
S.
Tomé-29. Em cumprimento de um despacho da Repartição de Gabinete, o
pessoal da extinta D.G.S. é obrigado a abandonar o edifício onde se
situavam as instalações desta corporação, feito o espólio de todo o
material e recheio à mesma pertencente e entregue ao Comando Territorial
Independente de S. Tomé e Príncipe. Segundo o mesmo despacho, as ditas
instalações passavam a pertencer, o 1.0 andar à Guarda Fiscal, e o
rés-do-chão à Policia Judiciária.
S.
Tomé-29. Perante a surpresa geral, o governador de S. Tomé e Príncipe,
coronel Cecílio Gonçalves, anuncia que, embora reconduzido e tendo na
sequência dessa recondução garantido adesão aos princípios da Junta de
Salvação Nacional, não havendo assim quaisquer motivos de consciência,
mas que no interesse da Província achava melhor entregar a encarregatura
do Governo ao Intendente Administrativo, Pinto de Souto.
S.
Tomé-29. São cerca de 18.30. Verificam-se os primeiros passos, por
parte de um grupo de democratas na ilha, para a criação de uma
Associação Democrática. O mesmo grupo, em reunião havida naquela noite,
decide convidar todas as pessoas que partilhem dos sentimentos
democráticos e estejam de acordo com os objectivos preconizados pela J.
S. N. a fazer um "abaixo-assinado" a manifestar o seu inteiro e
incondicional apoio a esta Junta. S. Tomé-30. Por despacho do
Encarregado do Governo, é anunciada a dissolução em S. Tomé e Príncipe
das comissões de Freguesia, Concelhia e de Província, da A. N. P.
Cerca
das 16 h. da tarde regista-se o embarque do coronel Cecílio Gonçalves. A
sua partida foi sentida com bastante comoção por todas as pessoas que
se encontravam presentes no aeroporto. O caso da partida do Sr. coronel
Cecílio Gonçalves, segundo sublinha a folha dominical, "O Dia do Senhor"
deu a impressão geral de tratar-se de um dia de luto para a população. O
ex-Governador amava S. Tomé. Confessava com frequência que gostava das
gentes de S. Tomé ... e assim o demonstrou até ao fim. O coronel Cecflio
Gonçalves, segundo diz ainda a mesma folha, para além do mais, possuía o
dom da sensatez, raro em nossos dias, o equilíbrio e serenidade mental,
o apreço da justiça, a firmeza de um militar, a visão clara dos
problemas e a vontade de resolver com urgência os que fossem do
interesse comum; simplicidade e entrega ao trabalho no silêncio. A
educação, as comunicações, o operariado, o turismo, a indústria
mereceram-lhe atenção e carinho. S. Tomé fica a dever-lhe muito nestes
diversos sectores.
S.
Tomé-30. No noticiário da noite do Emissor Regional é tornado público
um despacho, ainda emanado pelo Governador cessante, que eleva para
novos limites mínimos os salários dos trabalhadores rurais, em regime
transitorial, enquanto não é devidamente revista nova legislação sobre o
problema. Os ditos aumentos de salários foram pois acolhidos com certo
agrado pela população rural, mas, dada a pequena margem acrescida com
que foram contemplados, cremos ainda estarem muito aquém da satisfação
"dos justos desejos da classe trabalhadora rural.
S.
Tomé-1 de Maio. À semelhança do que aconteceu pelo País fora, também o
Dia do trabalhador de S. Tomé foi vivido com manifestações do mais
veemente apoio ao novo regime português, no qual se depositam as
melhores esperanças para uma nova vida e um futuro mais próspero para
todos, designadamente para o trabalhador, até agora o menos favorecido e
regra geral o mais injustamente remunerado de todas as classes sociais.
O
Sindicato dos Empregados do Comércio, Indústria e Agricultura convidou
todos os seus associados e trabalhadores para uma manifestação cívica
frente ao Palácio do Governo, à qual, de facto, compareceram em peso
tendo, após a mesma, seguido em cortejo até às instalações da sede
social daquele organismo.
S.
Tomé, 2 de Maio. A Direcção do Sindicato dos Empregados do Comércio,
Indústria e Agricultura de S. Tomé e Príncipe, interpretando os direitos
de liberdade proclamados pela J.S.N. resolveu em reunião extraordinária
apresentar à Assembleia Geral o seu pedido colectivo de demissão,
proporcionando assim aos associados desse sindicato o direito à livre
escolha dos seus dirigentes.
S.
Tomé, 2 de Maio. - Os corpos Gerentes da Caixa de Previdência dos
Funcionários Públicos de S. Tomé e Príncipe, reunidos em sessão conjunta
aprovaram uma exposição ao Encarregado do Governo, pela
qual solicitavam a exoneração dos actuais Corpos Gerentes, visto que,
embora há longo tempo no exercido das suas funções, nelas não se têm
mantido por vontade própria durante todo esse lapso de tempo.
Na
mesma exposição, pediam simultaneamente, disposições adequadas onde se
determine a constituição de uma Assembleia Geral de todos os da Caixa
que eleja, sem quaisquer restrições, salvo o pleno uso dos seus direitos
de associados, uma Direcção e um Conselho Fiscal.
S.
Tomé, 3 de Maio. - É extinta a Comissão de Censura, nomeada por
despacho n.019-1966, de 4 de Abril de 1966, publicado no B.O. do mesmo
mês e ano.
S.
Tomé, 3 de Maio. - É criada nesta Província uma comissão "adhoc", para
controlo da Imprensa, Rádio, Televisão, Teatro e Cinema, de carácter
transitório até à publicação de novas leis que regulem estes meios de
comunicação sociais.
S.
Tomé, 5 de Maio. A rádio de S. Tomé vive momentos altos desde a sua
fundação, devido à intensa divulgação e abertura dada à informação que
passou a verificar-se a partir do dia 26 de Abril. Por outro lado, a
imprensa vive a sua hora mais morta de sempre. O jornal" A Voz de S.
Tomé", que era propriedade da extinta A.N.P. continua a ter a sua
publicação suspensa, Por seu turno, a folha dominical, "O Dia do
Senhor", que devia sair neste dia, não foi autorizada a sair pela
Comissão "ad-hoc", por inserir afirmações segundo declarou a própria
comissão controladora, de carácter ambíguo e pouco expirei to em relação
a referências elogiosas a instituições do regime anterior. Tal
suspensão acontece pela primeira vez na existência desta publicação
semanal»'
CONSIDERAÇÕES DE CARLOS ESPÍRITO SANTO
Feita a alusão ao meu relato, diz o seguinte, o autor de O NACIONALISMO POLÍTICO SÃO-TOMENSE:
"Talvez
seja pertinente referir que a primeira manifestação popular realizada
no país pelos nacionalistas santomenses depois da revolução de 25 de
Abril teve lugar no dia 1 de Maio de 1974 (quarta-feira). Os
organizadores deste evento político eram maioritariamente jovens
estudantes do Liceu Nacional, que viviam no Riboque e localidades
próximas, designadamente Angelo (Aito) Bonfim, Jorge Torres, Tomé
Soares, Edgar Neves, Aurélio Dias Lourenço, Adriano Cassandra "Yano",
Henrique Soares e Pascoal Dias Lourenço. A manifestação, cuja iniciativa
pertenceu a Carlos Espírito Santo, partiu da residência de Aito Bonfim,
situada na Fundação Popular (Água Porca), percorreu diversos lugares,
particularmente o Riboque, S. João da Vargem, Rua Padre Martinho Pinto
da Rocha, Praça Yon Gato, Sede do Sporting, Xácara e, por fim, Palácio
do Governo, onde ocorreu a concentração, tendo os nacionalistas exigido
do intendente Licíneo Manuel Pinto de Sousa (substituto do governador) a
independência de São Tomé e Príncipe='.
Dito
isto, convém sublinhar que encorajados pelos membros da PIDE que ainda
operavam livremente no arquipélago, determinados roceiros quiseram
perpetrar «forte» repressão contra os são-tomenses no dia 9 de Julho de
1974. Afirma Emílio Sardinha, a este respeito: «Foram os roceiros que
organizaram, felizmente sem efeito, para uma chacina em S.Tomé, no
passado dia 9! ... Por causa disso, só mais tarde viemos a saber os
perigos que corremos! ... Esperemos que tudo por aqui fique.»665 É
bastante provável que chacina
que os roceiros tentaram desencadear contra os nativos tenha
precipitado a vinda para São Tomé de uma representação da Junta de
Salvação Nacional, que ocorreu no dia 11 de Junho de 1974666•
Várias
medidas foram tomadas pelos novos representantes do poder.
Exemplificando, o edifício da PIDE/DGS foi ocupado e o inspector deste
serviço policial, Manuel Nogueira Branco, foi preso e colocado na Cadeia
Civil 667, por ordem dos membros da Junta de Salvação Nacional (segundo
revela o Dr. Emílio Sardinha) 668. Registe-se: a participação do
tenente-coronel Ricardo Durão, que desempenhava o cargo de comandante
militar, foi relevante no processo de desmantelamento das estruturas da
PIDE e prisão dos responsáveis desta polícia669.
Os
nativos da Trindade decidiram como protesto pelos desmandos exercidos
por Carlos de Sousa Gorgulho, quando foi governador de São Tomé e
Príncipe, destruir todas as placas que ostentavam o nome deste tirano,
em diversas ruas e largos dessa vila670. Mais, as populações de várias
localidades promoveram reuniões exigindo justiça pelas torturas morais,
físicas e psíquicas que lhes foram infligidas durante o regime
colonial-fascistas".
A
maior parte dos dirigentes do MLSTP estava radicada na Guiné Equatorial
quando se verificou o golpe de Estado efectuado pelas forças militares
portuguesas, a 25 de Abril de 19746n. Este facto obrigou Manuel Pinto da
Costa, Leonel Mário d' Alva, José Frete, Guadalupe de Ceita e António
Pires dos Santos (Ohnet) a instalarem-se no mês seguinte na cidade de
Libreville, que estava bem próxima de São Tomé e Príncipe, e onde dois
responsáveis dessa força política (Miguel Trovoada e Carlos Graça)
residiam há bastante tem P0673. O governo do Gabão concedeu excelentes
ajudas a todos estes políticos são-tomenses. Por exemplo, Manuel Pinto
da Costa foi nomeado conselheiro do ministro do Plano e Finanças.
Usufruía de Principesca remuneração e podia viajar quando bem
desejasses".
Foi
enviado pela direcção do MLSTP um telegrama tendo como destinatário o
Movimento das Forças Armadas (MFA), felicitando esta instituição pelo
feito histórico que realizara ao libertar Portugal do jugo ditatorial",
Através dos seus representantes na metrópole colonial (particularmente
Gastão Torres), o MLSTP procurou contactar com os membros do MFA e da
Junta de Salvação Nacional GSN), com os grupos políticos, sobretudo com o
Partido Comunista e com o Partido Socialista, e também com determinadas
organizações de massas, visando, fundamentalmente, conhecer as posições
dos novos dirigentes portugueses quanto à emancipação do povo de São
Tomé e Príncipe676.
Utilizando
contactos oficiosos directos, o MLSTP tentou igualmente perscrutar os
verdadeiros propósitos do Governo Provisório português sobre a
descolonização, uma vez que as declarações públicas dos diversos
representantes do poder no território português (designadamente o
Conselho de Estado, o Movimento das Forças Armadas, a Junta de Salvação
Nacional e o Governo Provisório) eram discordantes. Ora, uma primeira
troca de impressões realizou-se no mês de Maio de 1974, na capital
inglesa, durante as negociações entre Portugal e o PAIGC. Miguel
Trovoada e Carlos Graça representaram o MLSTP e do lado português estava
Mário Soares. As conversações prosseguiram em Setembro do mesmo ano em
Nova Iorque e nelas participaram Miguel Trovoada e Manuel Pinto da
Costa, e Mário Soares, acompanhado do representante permanente de
Portugal nas Nações Unidas?".
Apesar
de os objectivos fundamentais da revolução de Abril terem sido a
descolonização, a democratização e o desenvolvimento678, os expedientes
desencadeados pela direcção do MLSTP foram desconsiderados pelos membros
do governo português, que procuraram, servindo-se de diversos recursos,
que São Tomé e Príncipe permanecesse desprovido de soberaniaf", Mais, o
governo português sublinhava que para além do MLSTP existiam ou
poderiam eventualmente surgir outras forças políticas que deveriam
exprimir-se livremente. Assim sendo, era inadequado examinar com somente
uma única organização o destino político de São Tomé e Príncipe680. «É
dentro desse esquema que deve ser compreendido o aparecimento em S. Tomé
e Príncipe de grupelhos defendendo a ideia de uma autonomia interna que
lhes assegurasse a perenidade de uma união indissolúvel com a dita mãe
pátria»681. Foram criados dois grupos políticos: o Centro Democrático de
São Tomé e Príncipe e a Frente Popular Livre.
Uma
vez que a estratégia delineada pelo MLSTP visava negociar directamente
com os governantes portugueses a transferência pura e simples de
poderes=", isso implicava que Portugal reconhecesse tal organização como
único e legítimo representante do povo de São Tomé e Príncipe. Querendo
lograr este posicionamento, o Bureau Político do MLSTP decidiu criar a
Associação Cívica Pró- MLSTP, que foi, portanto, o braço legal do
Movimento no interior do país683• Constituída na ilha de São Tomé
(Riboque, terraço Ar e Vento), pelas 15 horas do dia 15 de Junho de
1974, sobretudo por funcionários públicos e jovens, alguns dos quais
regressados de Portugal onde prosseguiam estudos universitários, a
Cívicas", tal como era vulgarmente conhecida, valendo-se sobretudo do
discurso nacionalista, tratou logo de mobilizar inúmeros são-tomenses
que desejavam a independência nacional685, originando visível regozijo
nas populações
«A
associação cívica em organização, manteve-se permanentemente à
disposição de todos quantos pretendiam assistir às reuniões, jamais se
negando a fornecer esclarecimentos e a aceitar um debate franco e
construtivo. Jamais pretendeu arregimentar adeptos. ·
Esclarece
ter sempre afirmado que a sua linha de trabalho se situa na via da
Independência Total para as ilhas de 5. Tomé e Príncipe.
Uma vez assente o seu programa de politização decidiu-se dar carácter legal à organização em assembleia geral.
Uma
cópia da acta livremente aceite e subscrita em reunião posterior à
referida Assembleia Geral, foi presente aos delega· dos da Junta de
Salvação Nacional e transmitida pelo Emissor Regional de S. Tomé e
Prfncipe.»6S7
«A
associação cívica em organização, manteve-se permanentemente à
disposição de todos quantos pretendiam assistir às reuniões, jamais se
negando a fornecer esclarecimentos e a aceitar um debate franco e
construtivo. Jamais pretendeu arregimentar adeptos. ·
Esclarece
ter sempre afirmado que a sua linha de trabalho se situa na via da
Independência Total para as ilhas de 5. Tomé e Príncipe.
Uma vez assente o seu programa de politização decidiu-se dar carácter legal à organização em assembleia geral.
Uma
cópia da acta livremente aceite e subscrita em reunião posterior à
referida Assembleia Geral, foi presente aos delega· dos da Junta de
Salvação Nacional e transmitida pelo Emissor Regional de S. Tomé e
Prfncipe.»6S7
Todas
essas considerações foram extraídas do jornal Presença de S. Tomé e
Príncipe, órgão oficial da Associação Cívica, publicado no dia 23 de
Julho de 1974. O responsável desta edição foi Aida de Espírito Santo,
poeta - nacionalista são-tomense, e dirigente da r:ferida organização
política. Questões relacionadas com a evolução política de São Tomé e
Príncipe e os desempenhos da Cívica durante o processo de mobilização
popular, tendo como finalidade a independência nacional, foram
privilegiados nesse periódico."
É
um facto que a descolonização foi precipitada e atabalhoada, - E por
culpa de quem? Por culpa apenas do 25 de Abril? ... De modo algum - Do
salazarismo que nunca preparou uma elite genuinamente santomense e
sempre olhou estas ilhas com olhos de domínio e subjugação colonial
É
verdade que houve alguma leviandade - Porém, quando em toda a África
(à exceção das colónias portuguesas e da África do Sul) sovam hinos de
libertação e de independência, seria justo que Portugal persistisse na
mesma teimosia: "Salazar, praticando uma política de isolacionismo internacional sob o lema Orgulhosamente sós, levou Portugal a sofrer consequências extremamente negativas"
Tudo
isso podia ter sido evitado se Salazar ou Marcelo Caetano, tivessem
preparado uma elite negra, como fizeram os ingleses, mas optaram pelo
analfabetismo, pela guerra e repressão.
Com a revolução dos
cravos, caíam as algemas, renasciam novas esperanças; soavam outros ventos:
soprados pelo movimento libertador das Forças Armadas, que também rapidamente
ali encontrava eco nas duas ilhas – Os colonos receberam-no com apreensão e jamais
se mentalizaram para o alcance das transformações que rapidamente se iam operar. E, na população negra
– aquilo que inicialmente fora tomado com bastante desconfiança e
incredulidade, depressa a galvanizava e a levaria a pôr-se inteiramente ao lado
do programa e dos ideais independentistas, defendidos pelo (MLSTP)
Movimento para a Libertação de São Tomé e Príncipe , fundado em 1972 por
Manuel Pinto da Costa, cujo
secretário-geral e demais dirigentes, desde logo desenvolveram intensificada
acção mobilizadoraor, mas com muita humilhação
e muito bem dada!
PIRES
VELOSO, AGIU BEM, EM OBRIGAR O TENENTE-CORONEL RICARDO DURÃO A
VOLTAR NO MESMO AVIÃO – ATITUDE INTELIGENTE QUE EVITOU UM BANHO DE SANGUE – E
REFORÇOU A CONFIANÇA JUNTO DOS DIRIGENTES NACIONALISTAS
O então
Tenente-Coronel Ricardo Durão (hoje general) – homem forte do
Comando Militar de S. Tomé e Príncipe não
esperava que, o brioso oficial Pires Veloso, lhe desse uma grande tapona.
Adicionar legenda |
Peão
de confiança de Spínola (não entrara na aventura contra-revolucionária
spinolista de11
de Março de 1975 , porque não calhou, tal como outros, que viram o
tapete sair-lhes dos pés .
O ex-comandante do Comando
Territorial Independente de São Tomé e Príncipe (CTISTP), conhecia bem o arquipélago, as
roças e os roceiros, com os quais convivera em altas jantaradas e
almoçaradas, nas sedes das administrações: pois era já um costume enraizado que
a elite económica, há muito, mantinha com a tropa. Mas, agora, de certeza que
não vinha com esse propósito – Os tempos eram de revolução. E os roceiros
opunham-se ostensivamente! Já tinham invadido o Palácio do Governo e dir-se-ia
que só faltava pegarem nas armas que possuíam nas arrecadações. O que não
dispunham era de quem os apoiasse ou de um comando operacional. Supõe-se que
deveria ser a missão que trazia na manga o velho amigo das altas comezanas e
das festanças.de fatiota branca. Só que nem sequer chegou a sair da gare do
aeroporto.. Saiu-lhe o tiro pela culatra - E ainda bem:
O bom senso de Pires Veloso, uma vez mais
esteve à altura das suas responsabilidades, evitando mais uma enorme
confusão - Ah, sim, não tenho a menor dúvida, teria havido muitas mortes em
São Tomé: de parte a parte, eu seria uma delas. - Fui tomado pelos
colonos como o bode expiatório de todos os problemas. E a única arma
que dispunha era a máquina de escrever, que ma escaqueiraram por
completo, - Tive de pedir uma emprestada a pessoa amiga. Sabe Deus
as adversidades por que então passei..
“Sentindo
que a minha altitude em recusar receber um oficial superior, enviado
especial do Presidente da República, general Spínola – que fiz regressar no
mesmo avião que o havia trazido, sem o ouvir - havia obtido a aprovação
entre os meus adversários, sabia ter conseguido com isso algum
crédito"
"Aproveitando
esse crédito, organizei uma reunião, no Palácio do Governo, com dirigentes da
Associação Cívica para tratar do assunto das armas da Organização
Provincial dos Voluntários"
Tentei
convencê-los a serem eles próprios fazerem a entrega dessas armas
no Quartel-General, o que fizeram, nesse mesmo dia.
Poderá
imaginar a sensação de alívio e bem-estar quando, ao cair da tarde, o coronel
Cardoso do Amaral, me comunicou que tudo tinha corrido muito bem e que o
armamento havia sido recebido!
Foi
uma fase no processo da descolonização, decisiva e marcante, fundamentalmente
porque havia conseguido, além do controlo de grande quantidade de armas
dispersas pelo Território, ter as Forças Armadas disciplinadas, para além de um
entendimento com respeito e confiança mútos entre autoridades portuguesas,
dirigentes do MLSTP, Associação Cívica e população em geral”
(...)
nós tudo procurámos fazer para que a
passagem de S. Tomé e Príncipe, de colónia a pais independente, se fizesse com
suavidade, tolerância, compreensão, ora criando um mínimo de estruturas que
ajudassem ao funcionamento de uma nova Democracia, ora denunciando erros e, na
medida do possível, corrigindo-os do passado.
“Porém, esta minha atitude de tolerância”
– refere o agora General Pires Veloso - , “compreendendo o estado de uma
larguíssima maioria do povo (que não pensava noutra coisa
que não fosse a Independência
Imediata), fechando os olhos, por vezes, a pequenos incidentes provocatórios e
procurando o diálogo, não foi bem aceite por algumas centenas de brancos ainda
no Território.
Confusos, não tendo entendido bem quão
profunda havia sido a revolução de 25 de Abril, um dia invadiram o Palácio
querendo falar comigo.
Em tom de crítica, acusaram-me de actuar
como um verdadeiro Governador, ser mole demais, sem capacidade de decisão e
pedindo protecção para essa noite, pois tinham informações de que os pretos iam
massacrá-los.
Tranquilizei-os na medida do possível,
garantindo-lhes que eu, nessa noite, pessoalmente, iria patrulhar a cidade, o
que fiz, conduzindo um VW, por vezes acompanhado com o meu ajudante de campo.
Nas casas dos portugueses não apagaram as
luzes e, quando ouviam o motor do meu carro (era o único a circular), abriam a
janela. Eu dava-lhes a Boa-Noite e eles correspondiam.
Preservar
o nome e a presença de Portugal
Viveu-se
então a fase final do processo, em ambiente de boas relações entre autoridades
portuguesas e são-tomenses, num clima de tranquilidade e compreensão, que
culminou, a 12 de Julho, com uma festa de dignidade ímpar, com um respeito
total entre todos”.
O COLONIALISMO E O ESCLAVAGISMO, EXISTIRAM E AMORDAÇARAM OS POVOS
AFRICANOS AO LONGO DE SÉCULOS!
- NÃO ERAM PALAVRAS DESTITUÍDAS DE SENTIDO. PESSOALMENTE AINDA PUDE TESTEMUNHAR OS ASPECTOS MAIS FAMIGERADOS DESSA VIOLÊNCIA E DESCRIMINAÇÃO EM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE.
- NÃO ERAM PALAVRAS DESTITUÍDAS DE SENTIDO. PESSOALMENTE AINDA PUDE TESTEMUNHAR OS ASPECTOS MAIS FAMIGERADOS DESSA VIOLÊNCIA E DESCRIMINAÇÃO EM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE.
O
colonialismo e a escravatura há muito foram condenados pela história. Houve,
porém, regimes que não abdicaram dessa ignominiosa exploração humana. O regime
ditatorial Salazarista, ainda encarava os negros (nas grandes plantações de
café e do cacau, onde a mão-de-obra era quase a troco de nada e tolerava as
mais infames arbitrariedades) como massa bruta ou carga para canhão. Assisti a
muitas chibatadas. E não eram só os negros as vítimas. Na imagem ao lado, como
empregado de mato na roça Uba Budo, numa curta pausa para o almoço - Formava-se no terreiro da roça às 05.30.
Pegava-se às 06.00 e só se largava ao pôr do sol chovesse ou fizesse sol.
Também ali conheci a escravatura |
Quem diz o contrário é porque não viveu de perto com a dura realidade do colonialismo. E também a não sofreu no corpo e no espírito – porque não atingia apenas negros mas também os brancos mais indefesos, os empregados de mato nas roças e do comércio, modestos funcionários públicos, intelectuais e todos aqueles que de algum modo se lhes opusessem ou não pactuassem com o sistema.
As ditaduras fascistas e colonialistas, apoiavam-se (apoiam-se
ainda) numa propaganda retrógrada, opressora, disfarçada e hipócrita: - Não
esclarecem, reprimem, exploram e embrutecem. O progresso que ostentam serve
minorias privilegiadas e não as populações. Para muitos dos colonos das roças “o preto” tinha que ser mandado, sem ele “era um animal à solta” ou
de carga; não tinha “capacidade para ser
independente.” Era uma mentalidade brutalizante, demasiado arreigada. Nada
os fazia mudar. As manifestações populares (com que o povo exteriorizava o seu
“grito de “Independência Total”) eram tomadas como agressões. E, espante-se! – Muitos desses brancos, eram outras
tantas vítimas da exploração e dos abusos dos roceiros. Coitados, não
tinham culpa: era fruto do seu analfabetismo e também da mentalização
Salazarista que lhes havia sido incutida.
O ex-comandante do Comando
Territorial Independente de São Tomé e Príncipe (CTISTP), conhecia bem o arquipélago, as roças
e os roceiros, com os quais convivera em altas jantaradas e almoçaradas,
nas sedes das administrações. Spínola, não queria a independência desta ex-colónia,
alegando que as ilhas estavam desertas, quando foram descobertas pelos
portugueses (estafado argumento para justificar
o domínio sobre as populações autóctones),
tendo-o enviado com a missão de se juntar aos roceiros e liderar um golpe
contra-revolucionário.
Mas não chegou sequer a transpor a alfandega do aeroporto. Teve
de aguardar, junto à aerogare, mas do lado voltado para a pista e fora das
vistas do público, até que fosse recambiado no mesmo avião. Humilhação bem feita e à
altura das circunstâncias.
Desta vez não vinha de farda branca, como era costume
pavonear-se pelas roças nos jipes dos patrões. E nas suas jantaradas.
Envergava o camuflado de operacional. Vinha pronto para liderar a
revolta.
Cumprimentei-o
e perguntei-lhe o que se passava - pois vi logo, pela sua cara e
traje, que havia ali sinais de golpada à vista.
Ele conhecia-me, sabia bem que eu não estava do
lado da sua barricada e foi parco de palavras. Que eu saiba, até hoje, o
caso nunca chegou a ser notícia.
E tão pouco a informação foi conhecida naquele momento pelos nacionalistas (mas
foram informados, ainda nesse dia) pois, se o vissem por lá, teria
havido, logo ali, uma grande confusão...E talvez tivesse sido ele a primeira vítima. A aerogare estava
cheia de gente, era dia de "São Avião!". Da maneira que
andavam os ânimos tensos, de certeza que não se safava de um valente aperto.
Simpático com a burguesia roceira, que o obsequiara, na sede
das administrações, na "Casa Grande" ao pomposo velho estilo colonial
- cínico com quem lhe conviesse, e, nos meios do exército, era tido como
um duro... Amedalhado por "altos feitos" pela sua manifesta
lealdade ao império colonial, via-se que era dos tais que não deixava os seus
créditos entregues por mãos alheias. Os roceiros, haviam-no obsequiado com
lautos banquetes e ele não lhes queria ser ingrato. O que não toleravam é que os
defensores do 25 de Abril, lhes falassem em independência e em liberdades
democráticas. Certamente
que eu teria sido um dos que fazia parte das suas listas, dos traidores e
indesejáveis brancos a abater. Já em Lisboa, não podia passar frente ao
PIC NIC no Rossio. Era o ponto de encontro dos colonos.
Um dia, uma dúzia deles, apanharam-me no Metro e voltaram agredir-me
traiçoeiramente, como se estivessem na selva em São Tomé. Tal como fizeram na então
chamada "Praça de Portugal", quando me dirigia a minha casa, por volta das oito da noite. Aguardavam-me emboscados
no interior de um carro estacionado. Não havia luz na cidade, e, mal me viram,
encadearam-me com os faróis e atiraram-se a mim como lobos. Tendo-me deixado, quase
morto e prostrado no asfalto.
Não me mataram, porque, entretanto, viram os faróis de outro carro e puseram-se
na alheta. Noutra ocasião, arrombaram-me a casa, escaqueiraram com todas as
minhas coisas e puseram-me uma forca pendurada à entrada da porta. Por
duas vezes, furaram-me à navalhada os pneus dos meu carro. Entre outras
patifarias.
CLUBE
MILITAR NA CIDADE - POUSO HABITUAL DOS OFICIAIS, GOVERNADOR, ALTOS,
FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS, SEUS FAMILIARES E OS ROCEIROS
- Os únicos negros que lá se viam, eram os
criados. Debruçado sobre o mar e num palacete a condizer com os convivas, era
demasiado chiquérrimo para que a raia miúda ali entrasse... Bailes, banquetes e
comezanas - Numa das imagens (o do lacinho) é o velho patrão Fonseca (António
Joaquim da Fonseca) antigo
administrador-geral da Sociedade Agrícola Vale flor, com sede na Roça Rio do
Ouro: autoritário: solteiro contumaz, mas ávido de cabaços, pois, de quinze em
quinze dias, lá tinham que lhe levar uma donzela.
SORTE PARA O POVO SANTOMENSE E PARA O PRÓPRIO LÍDER DO ABORTADO
GOLPE CONTRA-REVOLUCIONÁRIO
Se, Ricardo Durão (agora general) ou algum militar aceitasse
comandar os roceiros, como aconteceu no Batepá, teria havido outra
mortandade!...
Ainda maior!... Milhares de são-tomenses teriam sido baleados!... Até porque
muitos dos implicados naquele massacre, ainda por lá por lá se passeavam à
vontade...
Pessoalmente, também achei prudente não lançar o alerta, sobre a
presença de Ricardo Durão, uma vez que ia ser recambiado. Não havia
interesse em gerar mais tensões das que já existiam. Teve sorte.. E também o
povo de são-tomense, que se livrou de uma séria ameaça à sua integridade. Teria
havido muitos mártires!...E já bastava de sangue derramado por séculos de colonização.
Pirou-se quase da mesma forma que o Zé Mulato, o capataz do sinistro
campo da morte de Fernão Dias, outro dos grandes assassinos no massacre do
Batepá, que, para não se expor a eventuais represálias, teve de embarcar
para a terra do seu pai (antigo colono, natural da região de Viseu), tendo
entrado no aeroporto pela porta do "cavalo" disfarçado. Quando alertei Pires Veloso, da presença
do inesperado oficial, ele já lhe tinha dado instruções para regressar no mesmo
voo. "Já sei que ele aí está: vai já no mesmo avião. Não se
preocupe".
O movimento pró-independentista apreciou atitude do Governador, que até então não acreditava nas boas
intenções de Pires Veloso, pois via-o com desconfiança - Os são-tomenses olhavam
os militares portugueses, como tropa de domínio colonial. Porém, a partir daquela
altura, o Governador passou a ser visto como um dos seus e com outros
olhos. No seu livro “Vice-Rei do Norte - Memórias e Revelações, o agora
General Pires Veloso, faz uma breve referência, mas é omisso em apontar o nome
do oficial - E alude também à inesperada invasão dos colonos ao
Palácio do Governo -
PIRES VELOSO, O GOVERNADOR CERTO PARA LEVAR A CABO – E
PACIFICAMENTE - UM PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA, QUE COMEÇARA DA FORMA MAIS TENSA
E ATRIBULADA
Repito:
não fosse a serenidade, firmeza e sensatez de Pires Veloso, nem quero
imaginar o que poderia ter acontecido!
Não se constava que algum negro tivesse molestado fisicamente qualquer
branco! Mas, de facto, havia colonos que continuavam a agir como
se nada tivesse mudado. A palavra independência era algo impensável e que
lhes custava admitir.
Os
roceiros estavam fortemente armados e constituíam uma séria ameaça! Nas
propriedades agrícolas, havia muitas armas: as velhas Mauseres,
que foram usadas pela infantaria Nazi.Com que, os colonos, habitualmente se
treinavam. Também eu, aos 18 anos, fui obrigado a participar, nesses
treinos - A imagem ao lado, sou eu, à entrada da Praia Roça Uba-Budo, e
um pouco mais ao fundo, ficava o campo de tiro ao alvo, onde, aos
Domingos de manhã, cada branco fazia para ali a fogachada que quisesse.
.Através
do seu livro de memórias, “Vice-rei do Norte”, alude às reações do
Secretário-geral das ONU, Kut Waldheim e o dirigente da OUA, Salim,
Salim, junto do nosso embaixador na ONU, face às queixas apresentadas pelos
independentistas. No entanto, o antigo Governador e Alto-Comissário, considera
que a questão havia sido empolada. E que, mais tarde, foram as mesmas
personalidades a reconhecerem que não se justificavam as tais razões
invocadas com “ a falta de
liberdades democráticas”.
PIRES
VELOSO, USA O TERMO DE “A GUARDA PRETORIANA DOS DONOS DAS ROÇAS” –
NÃO ESTAVA ENGANADO
E não
exagera. Os colonos nas roças estavam armados e bem armados. Refere, ainda, em
“Memórias e Revelações”, que, “era notória a apetência dos
responsáveis da Associação Cívica por terem armas em seu poder, talvez para
dizerem ao mundo, como os da Guiné, Angola e Moçambique, que também eles haviam
alcançado a independência com luta armada” – Não creio que fosse este o
desejo dos ativistas da Associação Cívica Pró-MLSTP – O são-tomense é por
natureza pacifico. E, Pires Veloso, julgo que se apercebeu bem desse
facto. As suas ações nunca foram além de comícios e manifestações. Não vi que alguém ali
tivesse pegado numa arma ou levantasse sequer essa questão. Participei em
algumas das reuniões dos seus dirigentes e ninguém ali falou em pegar em
armas.
É um
facto que existiam por lá alguns elementos mais fundamentalistas, que Pires
Veloso cita no seu livro, e com posições, mais extremistas, com as quais eu
próprio discordei à sua frente, que achavam que o fim do colonialismo no
arquipélago, só poderia terminar "com a saída completa dos colonos”
– E, de facto, atendendo ao comportamento irredutível destes, em boa parte até
tinham fundamentas razões. Mas longe de desejarem pegar em armas. – Quem queria
pegar nas armas eram os colonos - E só não aconteceu, uma tragédia,
porque, à última hora, lhes faltou o comandante dessas operações
“
A SITUAÇÃO ERA PERIGOSÍSSIMA” DIZ PIRES VELOSO – SE ERA?!...AS ROÇAS FORAM
ARMADAS PELO EXÉRCITO COM MÁUSERES , MAS O ROCEIROS FIZERAM ENTRAR NA ILHA
METRALHADORAS CLANDESTINAS - QUE CERTAMENTE AINDA ESTÃO POR LÁ ENTERRADAS E NÃO
FORAM DEVOLVIDAS COM AS MÁUSERES
Além
das velhas máuseres, alguns até possuíam metralhadoras. Ao sul da Ilha, na
Praia Grande, em 1964, foi encontrada uma baleeira abandonada. Eu vi essa baleeira branca e a
PIDE por lá a investigar o caso. Foi admitida a hipótese de ter
havido um descarregamento de armas por parte dos soviéticos (mais uma vez os
comunistas à baila) para fins subversivos. Mais tarde ouvi bichanar
ao feitor geral da Roça Ribeira Peixe, onde trabalhava, o seguinte desabafo
para o chefe dos escritórios: “Agora já podemos dormir
descansados!... Estamos na selva do inferno mas já temos
metralhadoras para matar o preto que se atreva a fazer-nos o que fizeram em
Angola!. Enganámos os PIDEs. O exército só nos quis dar as máuseres, que nem
para matar pássaros já servem, mas agora já temos com que nos
defendermos”.
Pires
Veloso, refere que “ a situação era perigosíssima” –
inteiramente de acordo: – há muito eu sabia que as roceiros estavam armadas até
aos dentes. (...) Esclarece que “tratava-se de material distribuído à
chamada Organização Provincial dos Voluntários que, no fundo, constituía a
guarda pretoriana dos donos das roças”
“Em
determinado momento, para mim, a situação ficou altamente preocupante” – refere
o ex-governador,
“ quando, ocasionalmente, tive conhecimento de que, nalgumas roças, havia
arrecadações com material de guerra, melhor do que o exército dispunha. Apesar
dessas roças estarem já sob controlo dos “guerrilheiros”, estes ainda não
haviam mexido nesse material”
SE OS
ACTIVISTAS PRÓ-INDEPENDÊNCIA, QUISESSEM PEGAR EM ARMAS, TÊ-LO-IAM FEITO –
QUANDO OS ROCEIROS ABANDONARAM AS ROÇAS - MAS NÃO O FIZERAM PORQUE ESSE
NÃO ERA O SEU OBJECTIVO
Os roceiros
abandonaram as roças e alojaram-se no quartel militar e no Cinema Império
– Se os militantes da Associação Cívica, quisessem enveredar pela via
armada, não teriam devolvido essas armas, que foram lá buscar – E
fizeram-no, não porque quisessem fazer uso delas, mas para evitar que as mesmas
os matassem.
«Os trabalhadores negros de angola enviados para São Tomé eram tratados como gado - cada um tinha ao pescoço um colar metálico com o nome do plantador de São Tomé a quem era destinado". A bordo dos navios negreiros, atulhados e fedorentos, "a comida era-lhes dada em grandes caldeirões, dando lugar a lutas em que metade se perdia; só os mais fortes se alimentavam. Os passageiros comentavam: "Que animais e que brutos são estes escravos." » Observações de Heli Chatelain, linguista e missionário protestante que viajou a bordo de um vapor português, juntamente com 200 angolanos recrutados no interior.
Nenhum dos países europeus, que se entregaram à
colonização, deixou de se servir da desumana mão-de-obra escrava e está
isento de culpas, porém, há historiadores que defendem que o protestantismo dos
Holandeses era mais prático que o catolicismo. "Não se importavam em levar consigo tantos
sacerdotes , o seu objetivo era o comércio e não a conversação dos bárbaros ao
cristianismo" - "Quem quer que se proponha descobrir novas terras e
novas tribos, precisa de ser paciente sofredor, não propenso a exaltar-se com
facilidade, antes desejoso de conciliação" - Esta era uma das normas imposta
aos marinheiros e colonizadores - É claro que de boas intenções, esteve sempre
o inferno cheio: - Palavras e atos, quem não conhece as diferenças?..
.Sim, mas se se tivéssemos seguido a conduta do
pacifismo, a das relações amigáveis e não a do domínio e da subjugação,
podíamos não ser uma potência colonial, mas éramos, seguramente, o império da
universalidade e da espiritualidade
- Infelizmente, os tempos eram de trevas, quer para o grosso da população
portuguesa, quer para os martirizados povos africanos, que
colonizámos.
"Os
portugueses mais inteligentes...atribuem francamente a presente ruinosa
situação da África Oriental Portuguesa, no fundamental ao comércio de escravos,
que afastou a população europeia da agricultura ou de qualquer outra fonte de
riqueza" - Livingston
Abandonavam-se os campos e alguma coisa
que se fazia era com trabalho escravo: "Um escravo mouro, encontrado
em Lisboa, de noite ou de dia, sem uma cadeia de ferros de 12 arreteis
será confiscado, devendo a metade do seu valor caber aos Hospital de
Todos os Santos. Os escravos são proibidos de jogar. O testemunho dos seus
acusadores faz sempre prova contra eles(...) Um escravo que fira o seu amo será
condenado à morte." Pedro Ramos de Almeida
António Vieira, ..... Fernando Pessoa......,Agostinho da Silva
e outros pensadores, acreditaram que ainda podíamos descobrir um outro
império... - Oxalá que sim - Então, agora, que não há meio de sairmos da
era da turbulência e do vazio. De uma crise marcada pelo egoísmo, pela
violência e ausência de valores - Venha ele!...
Pois vale mais tarde de que nunca...
MAS VEJA SÓ POR ONDE ANDÁMOS PERDIDOS...VEJA A MENTIRA QUE ANDÁMOS APREGOAR E A
DEFENDER - SIM, SERÁ ESTA A CULTURA DE QUE NOS DEVEMOS
ORGULHAR?... VEJA O FERRETE, QUE O COLONIALISMO ATRIBUÍA
AOS FILHOS DE SÃO TOMÉ - ESTE É APENAS UM DOS MUITOS MAUS EXEMPLOS - SÓ
PELO FACTO DE SE RECUSAREM A SER ANIMAIS DE CARGA
"...Que
o pobre "fôrro" tem falta de qualidade de trabalho, tudo o revela (...).Que ele
não conhece a gratidão, nem a sente para com os que o arrancaram da barbárie
primitiva e fizeram seu igual, especialmente quando usa gravata,
ficamo-lo sabendo agora."
"Eis porque há forros e forros... E se não
enxergarmos distingui-los e tratá-los conforme a distinção que assim fizermos,
corremos o risco de, endémica e periodicamente, assistirmos à repetição deste
«destoar» de S. Tomé"
"(...)alguém
vive em casas iguais às nossas, diz
aos nativos que o avô deles já aqui estava quando os portugueses chegaram,
o que toda a gente sabe ser falso pois as ilhas eram desertas"
(..)"Esse
alguém, é inimigo a enfrentar, sob pena de ter sido inútil o sangue dos
mortos!".
ANTIGAS ROÇAS DE CACAU E CAFÉ – AUTÊNTICOS FEUDOS (UM ESTADO DENTRO DE
OUTRO ESTADO), ONDE TODO O PODER SOBERANO ERA PERMITIDO – ATÉ A CHIBATADA! MAS A MELHOR HERANÇA QUE SOBEJOU FOI NACIONALIZADA
E DESTRUÍDA – A MAIORIA DAS ROÇAS ESTÃO HOJE IRRECONHECÍVEIS!
“Todos recordam que as roças eram exploradas
por colonos portugueses que conseguiam melhores proveitos à custa da
mão-de-obra barata dos nossos ancestrais contratados (que de facto eram
escravos, visto que não podiam regressar aos seus países de origem). Em segundo
lugar, a maioria das roças funcionava como um autêntico feudo (Estado dentro do
Estado), onde o patrão detinha todo o poder sobre as pessoas que nele viviam,
onde o poder e a justiça da Metrópole nem do Governador na Colónia não se
aplicavam. Nas roças foram cometidas talvez as maiores injustiças da era
colonial. Muita gente defende o Marco de Fernão Dias e por vezes esquece que o
nosso passado também está marcado em cada pedra das nossas roças. Por
outras palavras, cada roça é um monumento e devia ser preservado como tal.”
–17 jul. 2009 Tluquí Sun Deçu: Porquê que nós sempre persistimos nos mesmo
erros?
Palavras
que subscrevo inteiramente – pois conheci essa negra realidade. Mas também
poderia estar de acordo com a sua crítica aos erros que posteriormente se
cometeram após a independência E que são apontados no seguimento do mesmo
texto: “volvidos 34 de independência,
após repetidas tentativas de viabilização falhadas com várias empresas e a
famigerada distribuição de terras, os nossos dirigentes e a maioria dos
são-tomenses ainda não perceberam que o modelo das roças é um modelo falhado.
Nós temos de reinventar as roças e adaptá-las à nossa realidade actual.” E,
pelos vistos, era justamente o que deveria ter acontecido: “Não deu os resultados almejados, a reforma
agrária não foi acompanhada da necessária ruptura e substituição do
antigo modo de produção por outro mais moderno” – É o que se conclui noutro texto de autoria de Maria da
Graça do Espírito Santo Costa.
Tenho pena que
se tivessem cometido tais erros. Não me surpreendem: são erros de um jovem país
que parte em busca da sua identidade e da sua afirmação. O colonialismo
explorou a terra e o povo durante séculos e nunca se importou em preparar
quadros e apontar-lhe o rumo da sua auto-determinação. – A Revolução de Abril,
cometeu também muitos erros mas não tem propriamente culpa, pois não fez mais do
que pôr cobro a uma situação caduca e intolerável. Mas como fazer melhor,
quando a herança que se tem em mãos, é consequência do obscurantismo e da
opressão?!... Era de prever, que, um dia, à força do Salazarismo querer
tudo, nos ia deixar sem nada – Nos lançaria para uma enorme crise social e
económica e nos deixaria arruinados – Daí que tenham sido muitos os escolhos ,
desde que o nosso país e os povos que subjugavam, se abriram a novos rumos na
senda de uma saudável convivência, tolerância e espírito democrático. .
O 25 de Abril devolvera a liberdade ao Povo
Português e a promessa da libertação dos povos sob o jugo colonial. A censura
foi erradicada e a imprensa passou a publicar livremente os seus artigos,
reportagens e a exprimir as opiniões. A minha experiência na Roça, fora
suficiente dura e dececionante para me alertar e a tomar consciência de
que o colonialismo, não servia nem os povos das ilhas nem sequer muitos dos
pobres colonos, que para ali iam na esperança de uma vida melhor. Também
fora enganado. Por isso, não vi outro caminho que não fosse o de apoiar o
movimento libertador.
Graças
ao relato da minha primeira aventura marítima – a travessia de canoa de São
Tomé ao Príncipe – na Semana Ilustrada (a que já me referi em anteriores
postagens) lograra ser correspondente desta revista angolana, e,
posteriormente, vir a colaborar como operador na então única estação de rádio, das
ilhas. - O que aconteceria mas por um preço elevado, dado ter sido espancado
e preso pela PIDE e pago pesada coima à capitania.
O diretor
da referida publicação, apreciou a história, que foi editada em sucessivos
capítulos, e, tendo descoberto em mim alguns dotes para a escrita,
convidar-me-ia a colaborar. Dada a inexistência de outras publicações - à exceção
do quinzenário A VOZ DE SÃO TOMÉ (órgão oficioso do regime) - não me foi
difícil conquistar leitores. E também muitos problemas. Mesmo antes do 25 de
Abril. Com artigos censurados e algumas patifarias.
Só pelo facto de ter feito uma pequena crítica a um membro
do Governador Silva Sebastião, ao Director de Turismo, foi-me levantado
"um sumário inquérito" por um tal fascista Eng. Freire - O
bastante para o Diretor da Estação (sob pressão daquele alto quadro da E.N.,
que ali se encontrava em comissão de serviço, e era vizinho e amigo do
dito funcionário superior) enviar um telegrama à EN(conforme documenta a
imagem) para suspender a minha admissão nos quadros da empresa pública, tendo
continuado como mero colaborador - Vá lá que podia ser pior. Se não fosse a
revista gozar de implantação, tinham-me posto na rua.
De
facto, a palavra independência – pese os ventos sopraram desfavoráveis ao
colonialismo – era ainda uma blasfémia. E as reações não se fizeram esperar.
Não por parte da população negra (de quem tivera sempre o maior
apoio, carinho e compreensão) mas por ações agressivas de grupos de colonos,
que não aceitavam que se denunciassem certas arbitrariedades perpetradas pelo
regime derrubado, tal como não viam com bons olhos qualquer artigo em que
se desse voz ao movimento libertador da descolonização e
independência. Cedo comecei a compreender que a toda a sua ira era descarregada
sobre mim!
Custavam-lhe aceitar as mudanças que o espírito de Abril
desencadeara, quer no continente quer nas colónias. Não vou aqui relatar os
episódios das suas lamentáveis agressões, a que, aliás, resumidamente, já me
referi – a forca de corda que me penduraram à porta de casa ou recordar as
navalhadas, com que, por duas vezes, furaram todos aos pneus do meu
carro, e tantas outras patifarias. Pertencem ao passado e dariam muitas
histórias.
Muitos
portugueses (colonos) foram vítimas das prepotências e da exploração dos
roceiros – Pessoalmente, fui um dos muitos escravos nas roças - não eram
só os africanos; também eu trabalhei naquela roça grande!- Na Roça Rio do
Ouro, hoje conhecida por Roça Agostinho Neto Estive lá até que
fui mobilizado para a tropa, tendo ido tirar o curso de sargentos milicianos,
em Angola, seguido do curso dos comandos e regressado ao CTI de STP, onde
conclui o serviço militar.
Desempregado
e desiludo com a malvadez e as prepotências do administrador Roça Uba Budo, fui
lá pedir trabalho - Apanhei um velho autocarro, desde a cidade até
Guadalupe e apresentei-me lá manhã cedinho. Esperei que o administrador se dirigisse
aos escritórios, tendo-o abordado pessoalmente: "O que é que você faz aqui?"...
pergunta, mal me aproximo dele. "Estou
desempregado e venho pedir-lhe trabalho, Sr. Fonseca....Vim fazer um estágio na
Roça Uba Budo, depois fui mandado para a Ribeira Peixe. E não me dei lá
bem"... "Já sei quem é você... Já
sei o que se passou... O Pereira, já me falou de você.... Não sabia o que lhe
havia de fazer e mandou-o para a Ribeira Peixe!... Aqui tudo se sabe... Ele diz
que o queria mandar embora, porque fala muito com os pretos!... Que dá muita
confiança aos serviçais... Mas eu não me importo que fale com eles!... desde
que acabem as empreitadas!..."
.......................
"Então você é o técnico agrícola?!...Ele falou-me
disso.... Sabe... nós aqui somos todos técnicos!!.. O que precisamos é de
práticos!... Aqui, todo o branco, tem de começar por empregado de mato -
Imediatamente, chamou
o Chefe de escritórios, o Sr. Menezes e disse-lhe: "tome
nota do nome dele, entregue-lhe, já um machim e que vá já ter
com o feitor-geral para ir com uma "formatura" colher cacau no mato.
Ponha o capacete e não se demore!" - Sim, porque eu tinha-o na
mão, quando falei com ele. Nem podia ser de outro modo. Ele era o grande senhor.
Dizia-se que a roça tinha 150Km2 de área: era um estado dentro de outro estado.
E lá fui despachado em três tempos.
Apesar
de tudo, ainda não era dos piores: o
Pereira, da Roça Uba Budo (administrador-geral da Companhia Agrícola
Ultramarina) era ainda mais prepotente - e, sobretudo, racista. O Fonseca
(administrador-geral das três roças, Rio do Ouro, Bela Vista e Diogo Vaz) ainda
dormia com as negras (com as meninas!..) e era capaz de dar uma sonante
gargalhada, com outros roceiros, depois de um almoço bem regado. Quando se
passava dos carretos, nunca alteava a voz... Se alguém, vinha junto dele
queixar-se...Toca a andar... toca andar!.... Vai ter com com o Sr.
feitor-geral... Não dizia mais nada. Virava as costas e ninguém lhe
desobedecia. Com o Pereira, era impensável alguém vir reclamar à sua
frente... Era o diabo em pessoa. Gritava e era capaz de desatar à
bofetada a qualquer empregado de mato.
Não se lhe conhecia senão a
postura do típico "militarão roceiro", insensível, duro e
implacável. Era casado com uma branca (casos raros nos costumes da roça,
que impunham a samou), mas ele fora sempre um dos protegidos dos
proprietários, que viviam refasteladamente em Lisboa e só lá iam de avião, na
Gravana, quando o clima é mais ameno e fresco, fora dos grandes calores da
época das chuvas, dos nove meses quentes e húmidos, tendo-o autorizado a levar
a mulher. - Azedo e autoritário, via-se mesmo nele, na selvajaria grotesca das
suas palavras e na rudeza estampada no rosto, o ódio que ostentava contra
os escravizados trabalhadores, sendo, por isso, incapaz de dormir com
uma negra!-
Olhava os serviçais com desprezo, exigia que
fossem tratados "todos por tu e abaixo de cão!" - Não se
importando, absolutamente nada, que lhe fosse distribuído, de
ração, o peixe seco de Moçâmedes, azulado e podre, tal como o feijão,
bichoso e furado, que era retirado dos armazéns húmidos e fétreos:
argumentava ele: o que não mata, engorda!.. E não se contentava,
que o trabalhador completasse a empreitada: no termo da capinagem ou da
colheita dos sacos de cacau, exigia ainda que cada um apanhasse umas quantas
ratazanas e as apresentasse aos capatazes no terreiro. Dizia que o
veneno não chegava e era "preciso pôr cobro às maiores pragas dos
cacaueiros" . Porém, tal era a carência de proteínas, que havia
sempre quem levasse algumas para a senzala...
Além disso,
fechava os olhos aos brancos que ainda usavam a chibata e a palmatória, tal
como um tal Inspetor do Trabalho(que em vez de zelar pela defesa dos empregados
e serviçais, punha-se ao lado dos patrões) uma espécie de "girafa"
magricela (era de tal têmpera, que a comida nunca o engordava) mas era useiro e
costumeiro nas habituais galas de sábados, na "Casa Grande", fazendo
assim vista grossa a todos os desmandos e prepotências - procedendo-se, quase à
semelhança dos tempos do anterior administrador, um tal Amorim, que se
suicidou. Um facínora, que mobilizara, toda armada das três roças,
nos Massacres do Batepá - E do qual se contavam as histórias mais
bizarras e as arbitrariedades, mais incríveis.
Pois bem, eis o que me ordenou, esse tal Pereira
, administrador-geral da CAU (Roça Uba Budo, a sede, Ponta Figo e Ribeira
Peixe) quando fui apresentado na administração: ele, sentado por trás de uma
enorme secretária, eu jovem de 18 anos, para quem tudo era ainda uma descoberta,
mas também para quem cedo, tudo começava por ser uma grande desilusão, sim, eu
plantado no meio da sala, de pé e em sentido, tal como um soldado à
frente de um general, atento mas constrangido, pois nem sequer se dignara
estender-me a mão, enquanto ele passa imediatamente ao responso:
"é o Sr.
Jorge Marques?!...Pois então ouça o que lhe digo!... Julgo que o
sr. Agostinho, já lhe explicou a disciplina da roça. Aqui toda a gente trabalha
e cumpre as minhas ordens!...Ouça-me e não se esqueça o que eu lhe digo: O negro é
molengão e não se lhe pode dar confiança!...Nada de conversas!... Esses
mandriões não fazem nada se você não se impuser!... Não se lhe pode chamar por
você!... É tudo por tu e abaixo de cão!. Disciplina de ferro!!... Ouviu o que
lhe disse?!... Se não for assim, não se faz nada deles!! Não trabalham!!.... Por
agora, fica na sede da Roça, depois irá para uma dependência. Pode ir
embora!...Levem-no lá..."- Foram estes os termos que empregou,
quando o feitor-geral e um empregado do escritório, me encaminharam à sua
presença, no dia seguinte ao meu desembarque em São Tomé.
- Como não respeitei as suas instruções, uns
meses depois marchava para a Ribeira Peixe, ao sul da ilha e na zona mais
quente e húmida, mais insalubre e pluviosa, para um
"estágio" nos cacauzais abandonados, já encobertos por
capim e "capoeira", numa área que já não se distinguia da
floresta do obó, infestada pela temível cobra preta. Missão:
contar cacaueiros decrépitos, que um pobre trabalhador cabo-verdiano
(igualmente de castigo) ia marcando com cal - Não havia dia algum, que
não nos deparássemos com meia dúzia das tais perigosas serpentes. Eu ainda
andava de galochas, o pior é que ele andava descalço. Um dia vi morrer um
serviçal... Em menos de meia hora passou de negro a roxo!.. Tanto suor e
tanto sofrimento naquelas roças!... Cabo-Verdianos, Moçambicanos, Cabindas,
Angolas, uns mártires! - Também os Forros, os Tongas e os Angolares
- uma etnia da ilha, constituída essencialmente por pescadores - Só que, aos
nativos, quando os chateassem demasiado, viravam-lhes as costas e já não
apareciam...Foi por isso que houve o massacre do Batepá.
Claro que o Fonseca também tinha as suas paranoias: pois qual o
colono, que ascendia a administrador-geral da roça, que não fosse autoritário,
por tramar este e aquele branco e tratar os negros através da
dureza, da prepotência e da selvajaria verbal?!.. Um dia caiu-lhe um izaquente
no ombro, ordenou imediatamente o abate de todas essas árvores, cujas sementes
substituíam o feijão e eram fundamentais na alimentação dos povos das ilhas -
SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE PLANTAS E Povos.
Espero que, esse senhor Ricardo Durão, que conviveu à
grande e à francesa, com estes e outros gulosos e arrogantes colonialistas, mas sobretudo que teve o
desplante de ir da metrópole (Portugal) para se juntar aos golpistas,
sinta alguma vergonha em voltar aquelas maravilhosas ilhas. As gentes são
generosas e pacificas e sabem perdoar - Mas há atitudes que não podem ser
branqueadas. Não me admiraria, no entanto, que já o tivesse feito: pois, aqueles que mais se
opuseram ao processo da descolonização, nas ex-colónias, são os que agora
estão na mó de cima. Os mais bem vistos!... Não é com eles
que os novos ricos africanos, fazem os melhores negócios, dirigem a banca e
promovem as coligações políticas preferenciais?!...
Muitos dos dirigentes, em África, parece que já se
esqueceram da exploração e das brutais diabruras dos colonialistas: deixaram-se influenciar e
corromper pelas "maravilhas" do capitalismo global e
pouco ou nada se importam com o passado, estão-se marimbando para o povo(que se
debate com a miséria e carências de toda a ordem) e tornaram-se incomensuravelmente
ricos, eles e os seus. Em muitos casos, piores que o antigo colonizador. Por sua vez, a
maioria dos retornados, em Portugal, são racionários e continuam
agarrados a preconceitos Salazaristas e coloniais. Eles lá sabem quem
melhor os serve...E
os que não foram retornados, mas cobiçam as riquezas de África, também
não se perdem e até são recebidos de braços abertos...
a ligado a contabilidades e
militava num partido - Pelos vistos, devia estar na maior. E ela não ficava
atrás, pois arranjaram-lhe um bom tacho.
COLONIALISMO: O QUE PODERIA TER SIDO UMA OPORTUNIDADE INTERESSANTE DE
INTERCÂMBIO COMERCIAL E DE CULTURAS - ENTRE
CIVILIZAÇÕES -
RAPIDAMENTE SE TRANSFORMOU NA MAIS IGNÓBIL EXPLORAÇÃO HUMANA, EM PILHAGEM
E DOMÍNIO, EM DESBRAGADO COMÉRCIO E MÃO-DE-OBRA ESCRAVA - POR
EUROPEUS:
portugueses e espanhóis, seguido de ingleses, franceses e holandeses, entre
outros.
HÁ, PORÉM, QUE RECONHECER A CORAGEM DAQUELES QUE SE
AVENTURARAM AO MAR...
AADMIRÁVEL A GESTA ÉPICA DOS PRIMEIROS NAVEGADORES PORTUGUESES QUE SINGRARAM MARES QUE
DESCONHECIAM (se
bem que, em boa parte, mapeados, embora rudimentarmente ou com escassa informação) NAVEGANDO NAS CONDIÇÕES MAIS PRECÁRIAS E ADVERSAS - FEITOS
TÃO MARAVILHOSAMENTE CANTADOS NOS VERSOS DE CAMÕES. EM Os
Lusíadas -
HÁ PORÉM QUE DISTINGUIR A EPOPEIA MARÍTIMA DA COLONIZAÇÃO, QUE SUBJUGOU E TIRANIZOU OS
POVOS.
Uma coisa é a verdade histórica (e foi essa que eu procurei
através de várias travessias em pirogas e que ainda hoje questiono), outra, as omissões ou a
que convinha ao Reino.. Todavia, há que realçar a coragem dos marinheiros
lusitanos, que se fizeram ao mar apenas munidos de um mero astrolábio - Não dispunham de sextante, nem
de cronómetro ou sequer de almanaque náutico que lhes possibilitasse algum
rigor da navegação - Embora dispondo de alguma informação, iam à
aventura!..
Quantos naufrágios!... Quantos se perderam!... "Ó mar salgado, quanto do
teu sal /São lágrimas de Portugal!/Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
/Quantos filhos em vão rezaram! In
-Pessoa: MAR PORTUGUÊS
"O mar e o vento faziam tamanho estrondo, que quase nos não
ouvíamos, nem entendíamos uns aos outros" (...) E vendo-se todos
em tão grande perigo, ficaram assombrados, e fora de si, julgando ser esta a
derradeira hora de vida" - In História Trágico Marítima
- Sou português e não descuro os feitos marítimos dos meus
antepassados. Mas também não quero fazer como a avestruz. Nem fazer dos
compêndios coloniais, uma bíblia sagrada. Sem deixar de admirar a coragem dos antigos
navegadores, busco outras interpretações. Eu próprio me desloquei de
canoa, em Dezembro de 1970, desde a Baía Ana de Chaves ao recanto de Anambó local onde terão aportado
pela primeira vez, João de Santarém e Pero Escobar -
Curiosamente, (confrontando as imagens) vejo que o sítio está
agora mais bem conservado do que estava naquela altura,
onde passei uma noite horrível, com as costas sobre lascas e
gogos de todos os tamanhos e feitios (pois ali não existe praia de areia),
mesmo quase sobre a margem onde as ondas vinham bater, embrulhado pelas palmas
dos coqueiros mas constantemente a ser espicaçado e mordido por enormes
caranguejos do mar e da terra, que não me deram um minuto de descanso -
Não me deitei no mato, receando as cobras negras. E, ao alvorecer, perante
aquele vetusto e simbólico padrão, rodeado de palmas, tão belas, sonoras
e verdejantes, não me importei de homenagear os marinheiros de
quinhentos, com a bandeira portuguesa.
Não sei se com ambiente igual ao do antanho, talvez muito
próximo. Mas
muito diferente do que agora está - Julgo que foi transformado num local
turístico. Vêem-se castanheiros bravos, que não existiam, mais palmeiras de que
coqueiros e fizeram por lá um terreiro e instalações, que não havia. E talvez
melhores acessos. O padrão estava rodeado de erva e capim (em semi-abandono) e
era quase ao rés-vés da praia. Até parece que foi removido. Compare a imagem de então
com a actual,
em:**Padrão
dos Descobrimentos - Anambó,***e ainda em :Anambó
Não é seguro que aportassem, naquela pequena enseada, tal como
não é segura a data, quando ali desembarcaram. Pessoalmente, nunca acreditei
(desde que, em 1963, meus olhos viram tão formosa ilha) que
os portugueses tivessem sido os primeiros seres humanos a pisarem aquela
ilha - Desde logo fiquei com a convicção de que, de há muito, há
muitos séculos ou talvez milénios, as ilhas do Golfo da Guiné, já eram
conhecidas e haviam sido povoadas. por povos do litoral africano
Todavia, quer os portugueses, nas frágeis caravelas, quer os
primeiros povoadores, nas suas toscas pirogas, foram lobos do mar e heróis
desbravadores à sua maneira.
À semelhança das grandes migrações no Pacífico: considerados os
"navegadores supremos da história": velejando em linha,
cada uma à distancia da visão da canoa que lhe seguia atrás, até qualquer
delas divisar uma ilha habitável, atravessaram vastas extensões daquele imenso
oceano, colonizaram as mais remotas ilhas, algumas a milhares de milhas, umas
das outras, não dispondo sequer de uma bússola ou de qualquer outro instrumento
náutico
MAS, SE A EPOPEIA PORTUGUESA, É ADMIRÁVEL, PENSO QUE O MESMO
NÃO SE PODE DIZER DO COLONIALISMO DURO E CRU - PORQUE ELE AMORDAÇOU E
OPRIMIU OS POVOS INDEFESOS E PACÍFICOS. EXPLOROU-LHES
AS RIQUEZAS NATURAIS À CUSTA DE MÃO DE OBRA ESCRAVA - CLARO QUE NÃO FO A PLEBE
QUE ENRIQUECEU, MAS UNS QUANTOS PRIVILEGIADOS.
O 25 DE ABRIL É CONSEQUÊNCIA DO COLONIALISMO E DE UMA DITADURA INCAPAZ DE PÔR
TERMO A UMA GUERRA CRUEL E DE DAR UM RUMO DIGNO A PORTUGAL E ÀS COLÓNIAS
Portugal perdeu a sua oportunidade histórica. Nem sequer soube dar às
colónias a auto-determinação e independência, quando o poderia ter feito - Foi
o primeiro a instalar-se em África e o último a sair... Mas devia ter sido o
primeiro a dar o exemplo.. Quando, em todo continente africano, se erguiam
as bandeiras nacionalistas da independência, o Salazarismo e Marcelismo,
insistiam na guerra... Um guerra injusta e cruel!.. Depois, tudo se
precipitou.. -
Deixando atrás um trágico balanço de milhares de vitimas para ambas as
parte.
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