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quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Natal dos Passos nas Verdes Ilhas afortunadas do Equador– Recordando os Presépios artísticos infantis, que eu conheci há mais de 50 anos, com poema de Alda Graça do Espírito Santo - Então colónia portuguesa – Independente há 45 - Sendo o segundo país mais pequeno e um dos mais pobres de África, dependente da ajuda externa mas com imensos recursos inexplorados


Jorge Trabulo Marques  Jornalista

 O presépio natalício, vulgarmente conhecido pelo “Passo”, é uma das referências culturais mais antigas da Ilha de São Tomé, criada desde o tempo colonial – Feitos com pauzinhos cortados de andala com o machim (das folhas de palmeiras) e vergas de canas de bambu, enfeitadas com algumas flores da floresta,  imitando pequenas ermidas ou a igreja da Sé, construídas junto às modestas cubatas à beira da estrada, sobretudo à medida que se deixava a cidade, a capital e se penetrava no interior da Ilha, alumiadas por tochas de óleo de palma em pedaços de mamão, iluminando  a Noite de Natal  - Que se prolongavam durante a quadra natalícia

Sim, os tais presépios genuínos do Povo que eu conheci nos anos 60 e 70 e cantados por Alda da Graça Espírito Santo, - Naquele seu lindo poema, "Natal na Ilha", a par   da celebração do dia “dá chinja” da  festa da família na Quarta-feira de cinzas. Os costumes, vão-se degradando, profanando e artificializando  - Sei que ainda há quem não queira deixar cair no esquecimento, essas graciosas manifestações artísticas ou deste ou daquele humilde casebre de madeira, porém, aqui lhe deixo algumas imagens que pude recuperar em artigos por mim publicados na revista Semana Ilustrada, de Luanda.


NATAL NA ILHA – ONDE SONHAR COMEÇA A SER PROIBIDO -Recordando o poema de Natal  - de Alda Graça Espírito Santo




NATAL NA ILHA

Ao cair da tarde, pelas estradas da Ilha
Cabaninhas de andala
Tecidas por dedinhos de garotos,
É a nota tocante do Natal.
Uma tocha de mamão
É o luzeiro no caminho
Alumiar o “passo”.

Mas o exotismo dos trópicos
Descendo pelo calendário dos festejos
Faz do “Dá chinja” a festa da família.
Quarta-feira de cinzas
É cara ao coração da nossa gente,
Onde se sente a ausência dos finados.
Na hora do “angu”,
Do clássico calulú de Peixe
Todos se juntam,
Nas roças, nas grutas, nos ermos mais perdidos,
Em redor da mãe velhinha,
Da avó da carapinha branqueada
Na tradição festiva do “Bocado”.
P’las mãos dessa velhinha solene
todos, todos, recebem p’la mesma colher
Numa união feliz e africana
A primeira colherada
Do menú familiar.
E só então, a refeição começa.
A toda a hora pelo dia  fora.
Vem chegando gente
Pró sagrado “Bocado”
Do avô extinto do ano que passou
E da filha arrancada à vida
em plena mocidade.

Cinzas…. Natal…
Exotismo dos trópicos?
- Uma pergunta e uma resposta que pairam nos ares

Alda Graça do Espírito Santo

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