Ilha do Príncipe foi descoberta há 550 anos pelos navegadores portugueses, João de Santarém e Pero Escobar - Defendo, porém, a hipótese de as ilhas, anteriormente, terem sido alcançadas por povos da costa africana
Jorge Trabulo
Marques - Jornalista, navegador solitário em pirogas e investigador - Embora não constem registos de ocupação humana nas ilhas de
São Tomé e Príncipe anteriores a 1470, defendo, no entanto, a possibilidade de as ilhas terem sido alcançadas, anteriormente, por
povos da costa africana, por meios primitivos, à semelhança do povoamento das
Ilhas do Pacifico , tendo-o demonstrado nas várias travessias que efetuei, em
pirogas, entre as ilhas e o continente
Ilha do
Príncipe – Descoberta à 550 anos - - Situa-se a cerca de 140 km a nordeste
de S. Tomé e a cerca de 250 e 225 km da
costa noroeste do Gabão, Outros países próximos são a Guiné Equatorial e os
Camarões.
Singela homenagem aos navegadores
portugueses e ao Pacifico Povo das maravilhosas Ilhas Verdes do Equador - Há 50
anos, 27 dias antes, fiz a ligação de canoa da Baía Ana de Chaves, ao Padrão
dos Descobrimentos - A Princesa do Golfo da Guiné, foi descoberta pelo
navegador Pero Escobar, dia 17 de Janeiro de 1471, no dia de Santo Antão, ou
seja, 27 dias depois de, em 21 de dezembro de 1470, João de Santarém, ter
descoberto no dia de São Tomé, a Ilha a que o nome do santo
Há 50,
associei-me às comemorações, fazendo a ligação de canoa da Baía Ana de Chaves,
até ao local onde se encontra erguido o Padrão dos Descobrimentos, um dia na
ida, outro no regresso –
Pouco tempo após ter desembarcado em S. Tomé, em 1963, a bordo do paquete
Uíge, fiquei logo com a impressão de que
as ilhas, eram possuidoras de um passado muito mais antigo daquele que vinha sendo descrito e preconizado - Naturalmente, sem com isto pretender deixar
de admirar a coragem dos bravos navegadores
portugueses, que, partindo, em frágeis caravelas de um pequeno pais, atravessaram
longos oceanos, deram a conhecer à civilização europeia, mares e terras
desconhecidas
Aos povos africanos, situados no litoral e a
sul de São Tomé, não teria sido difícil aproveitar a direção dos ventos e das
correntes.- Pormenores mais desenvolvidos desta minha teoria em https://canoasdomar.blogspot.com/2011/12/sao-tome-e-principe-ilhas-asben-e-sanam.htmlonde explano a possibilidade das canoas da costa africana, terem alcançado as Ilhas do Golfo da Guiné, através de meios primitivos, tal como sucedeu no povoamento das Ilhas do pacifico
Em Novembro
de 2014, 39 anos depois, voltei ao local, acompanhado pelos Jornalistas
santomenses, Adilson Castro e João Soares, para erguer as duas bandeiras: a de
STP e a Portuguesa, agora ambos países independentes e democráticos, falando a
mesma língua.
Alcancei
Anambô, na noite do dia 20 de Dezembro de 1970, Pernoitei lá, embrulhado em
ramos de palmeiras e sob o ataque constante de enormes caranguejos, que não me
deixaram pregar olho - A notícia, mereceu destaque no Jornal a Voz de S. Tomé –
Porém, o mesmo não mereceria, quando, um mês depois, parti da mesma baía, à
meia-noite, na minúscula piroga, disfarçado de pescador, fazia a travessia à
Ilha do Príncipe – Tendo sido preso e espancado pela PIDE-DGS
Era a minha
primeira travessia: mais tarde, faria a ligação de S. Tomé à Nigéria, em 13
dias, e, após a independência, a tentativa oceânica, que resultaria numa
odisseias de 38 dias, de Ano Bom a Bioko, antiga ilha de Fernando Pó
Uma coisa
são é o domínio colonial, outra as navegações marítimas – Há, pois que realçar
a coragem dos marinheiros lusitanos, que se fizeram ao mar apenas munidos de um
mero astrolábio - Não dispunham de sextante, nem de cronómetro ou sequer de
almanaque náutico que lhes possibilitasse algum rigor da navegação - Não iam
completamente às cegas, porém, embora dispondo de alguma informação, iam à
aventura! - Indubitavelmente, foram grandes navegadores aventureiros
Do alto das
velhas muralhas do Fortim de São Jerónimo, onde tantas vezes olhava a espuma
que ali ia rebentar nas rochas negras e contemplava o mar ao largo, sim, muitas
vezes ali me envolvi em prolongadas cogitações. E só via o mar... Só pensava,
obsessivamente, nas distâncias e nas entranhas do mar.!.. Olhava-o com pasmo e
respeito, mas queria sentir-me também parte dele! Ser mais um elemento do
mítico e misterioso oceano! Ir por ali a fora numa das ágeis pirogas.!
Desvendar segredos esquecidos no tempo!
Oh, e
quantas vezes ali mesmo, não experimentei as estreitíssimas cascas de noz,
navegando em frente ou embicando na areia da pequena praia ao lado, naqueles
meus habituais treinos, ao Domingo, vindo da Praia Lagarto (ao fundo da descida
a caminho do aeroporto), passando em frente da Baía Ana Chaves, Fortaleza de
São Sebastião, costa da marginal, Praia Pequena e ponta do Forte de São
Jerónimo -e, por vezes, ainda um pouco mais a sul, à Praia do Pantufo.
São Jerónimo
era geralmente a baliza de chegada e de retorno ... E, também, muitas vezes ao
fim da tarde e pela noite adentro, era o meu local preferido (até por ficar um
pouco isolado e retirado da cidade) para me familiarizar profundamente com o
mar.
Lembrava-me
das façanhas dos pescadores são-tomenses, dos seus antepassados que demandaram
as ilhas, dos barcos negreiros que ali aportaram e também dos nossos
marinheiros (antes desse vil mercado) que por aquelas águas navegaram;
imaginava quantos naufrágios e sofrimentos aqueles mares, já não teriam
causado.
Sabia dos
muitos perigos que me podiam esperar - não os desdenhava! - mas entregava-me ao
oceano de coração aberto, possuído de uma enorme paixão, em demanda dos grandes
espaços e de uma infinita liberdade, tal qual as aves migradoras! Olhava-o como
se fosse já meu familiar e meu amigo. Embora sabendo que a sua face, quando
acometida de irascível crueldade, havia sido palco de muitas tragédias, havia
engolido muitos barcos e tragado muitas vidas. Contudo, eu não ia ali apenas
movido pelo prazer da aventura: só por isso, não sei se compensaria... Mas
orientado por razões mais fortes
Havia algo,
no fundo de mim, impelido como que por um pendor sobrenatural inexplicável
que me fazia acreditar que, mesmo que apanhasse alguns sustos, tal como já
havia acontecido em anteriores viagens, lá haveria de sobreviver e de me
safar!.
O mar também
é generoso quando quer ... A sorte protege os audazes e acreditava que o mar
haveria de compreender os objetivos pelos quais que norteava o meu espírito e a
minha temeridade.
"O
contributo dos Portugueses para uma nova visão do Mundo e da Natureza é
essencialmente informativo e empírico (baseado nos sentidos). Como escreveu Pedro
Nunes: “os descobrimentos de costas, ilhas e terras firmes não se fizeram indo
a acertar…” Pois os nossos marinheiros: “…levavam cartas muito particularmente
rumadas e não já as que os antigos levavam"
NÃO CHEGUEI ATRAVESSAR O OCEANO ATLÂNTICO, TAL COMO ESPERAVA MAS CONTINUO ACREDITAR QUE SÃO POSSÍVEIS LONGAS TRAVESSIAS
MESMO ASSIM:
Comprovei que as canoas vão ao cabo do mundo: naveguei e fui arrastado por centenas de milhas: - Liguei as ilhas e estabeleci ligações de uma delas ao continente.
Sozinho e ao longo de sucessivos dias é extremamente arriscado e muito difícil navegar a bordo dessas frágeis embarcações - E, se eu não fiquei no mar, talvez o deva a um feliz acaso - mas não estou arrependido, pois safei-me por três vezes.
Os pescadores (nas Ilhas) aos quais se inculcou o fantasma de que só gente de feitiço é que o tornado leva a canoa ou que o "gandú" não engole "perna de gente" , poderão estar descansados:
Se a tempestade alguma vez os surpreender e os arrastar para fora do alcance ou do horizonte da sua querida Ilha, não se importem; deixem-se levar pelo seu ímpeto
Não cruzem os braços e se deem por vencidos: remem ou velejem, sempre que puderem ou então deixem que a canoa vogue à flor das ondas, que o mar não quer nada que lhe seja estranho e a algum ponto da costa, hão de ir parar
Basta que não percam a calma e se alimentem com a pesca: a carne do peixe mata a fome e o sangue, que não é salgado, a sede - E a água das chuvas, com um pouco de água do mar, é ainda melhor
A CANOA SÓ VAI AO FUNDO SE ESTIVER MUITO CHEIA DE PESCADO OU NÃO FOR DE ÓCÁ. O MAR BRINCA COM O SEU CASCO E O SEU CASCO DESLIZA E BRINCA COM O MAR.
A vida só tem sentido em prol da ciência, da arte ou da comunidade - vivida, sobretudo, sob o signo da espiritualidade. Se não for pautada por um ideal é um completo vazio. Vale sempre a pena correrem-se os riscos. Mesmo que a morte seja o maior preço a pagar."Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena."
Por minha parte, dei o meu contributo. Não procurei remar contra a história mas ir ao sabor dos ventos que a formaram, ao encontro da sua verdadeira raiz: e, pelos vistos, o que parecia estar esquecido nos bolorentos arquivos históricos, veio dar-me razão - através da demonstração das várias viagens que empreendi em pirogas primitivas.
"Enquanto os gregos avançavam na área da cartografia, os romanos estavam ainda num estágio anterior. Utilizando uma forma de representação primitiva, situavam Roma no centro do Mundo e davam maior importância ao registo de rotas" (..)Durante muitos séculos, os mapas foram um privilégio das elites – apenas reis, nobres, alto clero e grandes navegadores e armadores tinham acesso a esse tipo de informação. Só com a invenção da imprensa de Gutenberg, em meados do século XV, os mapas puderam ser mais amplamente utilizados. " In. Uma nova visão do Mundo - contributo português
Sou
português e não descuro os feitos marítimos dos meus antepassados. Mas também
não quero fazer como a avestruz e meter a cabeça debaixo da areia. Nem fazer
dos compêndios coloniais a bíblia sagrada.
Sem deixar
de admirar a coragem dos antigos navegadores, busco outras interpretações. Eu
próprio me desloquei de canoa, em Dezembro de 1970, desde a Baía Ana de Chaves
ao recanto de Anambó Local onde é suposto terem aportado pela primeira vez,
João de Santarém e Pero Escobar""
O PASSADO JÁ NÃO PODE SER ALTERADO, REPETIDO OU MODIFICADO: A LIGAÇÃO COM PORTUGAL É UMA REALIDADE HISTÓRICA, LINGUÍSTICA, AFECTIVA E CULTURAL -
Deve ser investigada e estudada sem preconceitos ou reservas de qualquer espécie para melhor compreensão da origem de um pouco e da própria identidade
Os tempos já não se compadecem, nem com obscurantismos nem com hipocrisias ou submissões mas devem ser de frontalidade e de esclarecimento. Só compreendendo as verdadeiras raízes históricas, se alicerça o momento presente e se parte com coragem e determinação para os desafios do futuro.
Pouco tempo após ter desembarcado em S. Tomé, em 1963, fiquei logo com a impressão de que as ilhas, eram possuidoras de uma história muito mais antiga, Aos povos africanos, situados no litoral e a sul de São Tomé, não teria sido difícil aproveitar a direção dos ventos e das correntes.
Quando Luís de Camões escreveu na estância XII do V Canto de "Os Lusíadas"
"Sempre, enfim, para o Austro a aguda proa, No grandíssimo golfão nos metemos, Deixando a Serra aspérrima Leoa, Co Cabo a quem das Palmas nome demos. O grande rio, onde batendo soa O mar nas praias notas, que ali temos, Ficou, coa Ilha ilustre, que tomou O nome dum que o lado a Deus tocou."
SÓ EM 1485, PORTUGAL ELABOROU A SUA PRIMEIRA CARTA NÁUTICA - Começaram por ser impresas em oficinas estrangeiras
"As duas cartas portuguesas mais antigas que se conhecem, datam do século XV: a de Módena (apresenta a representação da costa Africana até ao rio do Lago) e a de Pedro Reinel (c.1485, representa a costa africana até à foz do rio Congo). Trata-se de um portulano representando a Europa Ocidental e parte de África, que reflete as explorações efetuadas pelo navegador Diogo Cão em 1482-1484, ao longo da costa africana" In "Uma Nova visão do mundo - contributo português"
Quando a Escola de Sagres – foi fundada, já o Infante Dom Henrique havia recolhido abundante informação de uma grande parte da costa africana: -Convidou uma elite de sábios na arte de navegar, oriundos dos vários países mediterrânicos, quando fundou a Escola Náutica, em Sagres - Desde Árabes a Judeus, Genoveses, Catalães e Marroquinos, com conhecimentos na cosmografia, astronomia, Geografia, entre outras ciências
.
HÁ QUE DISTINGUIR A EPOPEIA MARÍTIMA DA COLONIZAÇÃO, QUE SUBJUGOU E TIRANIZOU OS POVOS.
Uma coisa é a verdade histórica (e foi essa que eu procurei através de várias travessias em pirogas e que ainda hoje questiono), outra, as omissões ou a que convinha ao Reino..
Todavia, quer os portugueses, nas frágeis caravelas, quer os primeiros povoadores, nas suas toscas pirogas, foram lobos do mar e heróis desbravadores à sua maneira.
Também as canoas africanas, à semelhança das grandes migrações no Pacífico, se fizeram ao mar alto: Fizeram extensas travessias no Golfo da Guiné, tal como os primitivos navegadores da Polinésia, considerados os "navegadores supremos da história": que, velejando em linha, cada uma à distancia da visão da canoa que lhe seguia atrás, até qualquer delas divisar uma ilha habitável, atravessaram vastas extensões daquele imenso oceano, colonizaram as mais remotas ilhas, algumas a milhares de milhas, umas das outras, não dispondo sequer de uma bússola ou de qualquer outro instrumento náutico
Quase assim procedi: munido de uma simples bússola, sem bóias, meios de comunicação com exterior, encaixado num frágil esquife, quase desprovido de tudo. Recuando, tanto quanto possível, às condições precárias em que foram sulcados os mares pelos antigos povos que ligaram a costa africana às ilhas do Golfo da Guiné
Estes meus olhos têm muito que contar - Viram muitas tempestades, noites medonhas, inarráveis!...Manhãs e tardes de ameaça e assombração!... Mas também se maravilharam com muito azul do céu e do mar...
..Viveram horas intensas...extraordinárias!.... Fantasmagóricas!... Dias e dias!... Noites e noites a fio!...Completamente exposto ao sol, à chuva, aos elementos, às intempéries... Só de uma vez foram 38 dias seguidos,entre Outubro e Novembro de 1975 - mais das vezes passados à deriva, por perda dos remos principais, que um violento tornado mos roubara - Sim, a minha canoa fora escavada num casco de árvore - era comprida mas só tinha 60 cm de altura por 1 metro de largura.
Vagueava como se estivesse permanentemente no interior de um caixão à espera de ser sepultado a qualquer o momento na profundeza das águas. A minha vida estava sempre suspensa - Depois que perdi a maior parte dos apetrechos e passaram a ser as correntes e os ventos a comandar os meu destino, havia esperança (sim, nunca a perdi) mas não podia ter certeza alguma - Não sabia onde estava nem a que ilha ou ponto da costa podia ir dar. Mas também não sabia, em absoluto, se lá chegava..
A única novidade nesta minha última canoa, era um pequeno rebordo e uma pequena ponte de contraplacado para a proteger das ondas.. Parte do qual vim a sacrificar para improvisar um remo.
Qualquer das duas canoas que utilizei - à exceção da usada na travessia de São Tomé ao Príncipe - exigiam, no mínimo, duas pessoas - Muitas das minhas dificuldades, que enfrentei, teriam sido superadas. Todavia, parti sozinho.
Na viagem dos 13 dias à Nigéria nem coberta levara... Na travessia de São Tomé ao Príncipe, a canoa era minúscula e ainda mais frágil de que a generalidade das canoas dos pescadores.. Não tive dinheiro para comprar uma melhor...O mastro um pau vulgar do mato e as velas, do mesmo pano que as tradicionais, com sacos de farinha das padarias.
O baú um vulgar caixote do lixo. Os instrumentos de navegação, apenas a bússola. Não levava boias. Não podia comunicar com ninguém... Enquanto não se furou, um simples colchão de praia...Depois passei aninhar-me conforme podia ...Mas raramente dormia uma noite inteira...O Golfo da Guiné Equatorial - então na época das chuvas - é turbulento, muito perigoso: ou há calmarias ou tempestades. Se tivesse alcançado o meio do Atlântico, dificilmente iria debater-me com tantas adversidades
Sacudido pelas vagas ou, quando deitado no fundo da canoa (mais das vezes encharcado numa salmoura até aos ossos) ouvindo o marulhar exasperante de cada impulso sobre o casco.... Não há palavras... é quase de se ficar louco com aquele baque-baque constante...A todos os momentos, a todos os instantes...Sempre que sentisse um estrondo maior, soerguia-me e ia logo apalpar se havia alguma racha...Mas foram os tubarões, que investiram, que lha fizeram um pouco acima da linha água - Vinguei-me, porém, da sua ferocidade, pescando alguns enquanto tive linhas e anzóis
.
Peixes estranhos (talvez vindos das profundidades, aproveitando-se da escuridão à superfície) vagueavam por baixo da canoa: não os via mas sentia-os quando se encostavam ou roçavam sob o bojo e nas trevas mais negras....
Baleias que se levantavam a alguns metros e que, só por um golpe de sorte, não a despedaçavam...Cardumes que chegaram arrastá-la por várias horas, como se fosse um mero despojo...Bebendo água das chuvas ou do mar, quando faltou a água potável e os alimentos... - À flor do mar e sempre com o abismo por baixo dos pés: enfraquecido e esgotado mas nunca desanimado e dado por vencido
CUSTAVA-ME A CRER QUE OS PESCADORES - TÃO EXÍMIOS NAS CANOAS - SENTISSEM ALGUM PAVOR EM PERDER A SUA ILHA DE VISTA
A cada pescador que eu perguntasse se já tinha ido à Ilha do Príncipe,a resposta era invariavelmente a mesma: "Quando vem tornado e leva canoa, só gente de feitiço é que vai lá parar. Vem gandú e come perna de gente" - Achava a justificação um bocado fatalista:
O colonialismo foi tremendamente castrador e repressor e contribui para criar muitos fantasmas nas populações nativas. Pelo visto, os pescadores, estavam em vias de perder a sua memória ancestral. Se eles eram arrastados, involuntariamente, com a sua canoa para as costas do Gabão, dos Camarões ou da Ilha do Príncipe, era sinal que as canoas resistiam e também lá podiam ir voluntariamente.
A GRANDE EPOPEIA AFRICANA NÃO PODE SER IGNORADA - - O continente africano é o berço da humanidade: foi daí que irradiou oHomo sapiens . Os seus homens e mulheres, povoaram lugares nunca dantes povoados; atravessaram continentes, criaram civilizações, culturas e formaram reinos - E, mesmo os que nunca dali partiram para a grande aventura da Diáspora, tinham os seus costumes, as suas tradições e as suas hierarquias - Eram livres à sua maneira.
O europeu veio mais tarde para retalhar os espaços geográficos à mercê das suas conveniências, corromper os próprios comerciantes de escravos (sim, porque a escravatura, é tão antiga como o homem) ficando eles com a fatia de leão: para dividiram territórios, humilharem, dominarem e escravizarem as populações a seu belo prazer, usurpando as suas riquezas
Este o meu primeiro desafio: pretendia contrariar esse fatalismo,que parecia instalar-se na sua mente e nos seus olhos. Mostrar-lhes que as suas canoas - mesmo que o tornado as arrastasse - sendo de madeira do ócá (quase tão leve como a cortiça), podiam ir dar a qualquer parte - Eu precisava de lhe fazer essa demonstração.
Quando comprei a primeira canoa (por 200$00)a um pescador na Praia do Lagarto, eu justifiquei-me dizendo que queria ir nela ao Príncipe: "Você não seja louco!" Você, morre no caminho!.... Se você vai fazer isso, eu digo capitania!"
Não tive outro remédio senão mudar de praia... Quando, mais tarde, se constou que fizera essa travessia, passei a ser encarado como feiticeiro - E a ser procurado, por um dos profissionais - Ele pedia-me que lhes ensinasse os meus segredos - mas que segredos?...
No pós 25 de Abril, fiz a travessia à Nigéria. Mesmo assim, foi à socapa. Porém, quando regressei a S. Tomé, para tentar a travessia transatlântica - para seguir pela rota dos escravos - felizmente que já o seus povos eram soberanos, e as ilhas independentes.
Na viagem à Nigéria, ainda pensei ir acompanhado,por não ter bem a certeza de que seria capaz de fazer tão extensa travessia. Como dormir?.. (o mínimo que fosse) E ao mesmo tempo assegurar a navegação e o equilíbrio da canoa, durante os vários dias que contava demorar; eram questões que então me preocupavam. Pois, a viagem ao Príncipe, fora apenas de três dias, muito complicada e pouco conclusiva. Precisava de fazer a ligação ao continente., de reforçar a minha teoria, com um teste mais arrojado
Ainda no mesmo ano de 1975, tentei a travessia oceânica de São Tomé ao Brasil. A canoa foi transportada num pesqueiro americano para ser largada um pouco a sul de Ano Bom, na zona de influência da grande corrente equatorial. O comandante do barco, no entanto, faltou ao prometido: tentou dissuadir-me a não fazer a viagem, a abandonar a canoa e a ficar a bordo.
Não podendo navegar para oeste, vi-me forçado a voltar a São Tomé para tentar a travessia noutra ocasião - Um violento tornado, logo na primeira noite, quando empreendia o regresso, (pois não tinha outro alternativa senão aproveitar os ventos e as correntes para Norte) far-me-ia perder quase tudo. Estava-se na época das chuvas e era a pior altura para se navegar sozinho no Golfo. Naquele ponto, estava a 180 Km a sudoeste de S.Tomé e a 350Km a oeste da costa africana
Acabaria por acostar, 38 dias depois, à ILHA BIOKO - EX-FERNÃO DE PÓ - a mais setentrional .
Mas só soube, quando fui ter a uma finca, que era a à ilha de Bioko, Bioko –ex-Fernão do Pó,
Tendo assim realizado a mais longa travessia entre as ilhas; da ilha mais meridional à mais setentrional do Golfo da Guiné - Apesar das extremas dificuldades, pude sobrevir e enfrentar as maiores adversidades, provando, desse modo, que as pirogas podem resistir às mais violentas tempestades ou situações de mar.
Mesmo assim, julgo que valeu a pena - Queria prosseguir a experiência de Alain Bombard- Mostrar aos náufragos que o maior inimigo não é o mar mas o desespero - E, afinal, acabei mesmo por lutar como o náufrago que não se rende.
Pretendia reforçar a minha teoria, sobre as capacidades das pirogas, e, mesmo sozinho, logrei por três vezes navegar grandes distâncias dentro delas, provando que também as mesmas podiam ter sido usadas pelos primeiros povoadores das ilhas.
Qual dinheiro, qual riqueza?!... - Qual vida tranquila, qual quotidiano ocioso e sem sobressaltos! quando se prossegue um ideal, um objectivo, um sonho! - Não é exibir a vaidade mas expor com fraqueza a verdade.
Antigos mapas já existiam mas estavam arrumados e esquecidos em velhos arquivos. Agora, vieram à luz do conhecimento e das novas tecnologias - Mercê de dedicados investigadores. Eu, porém, continuo a recuar no tempo, muito para lá da existência de qualquer mapa
(treinos)
A História de São Tomé e Príncipe -das descobertas, diz que as «ilhas de S. Tomé e Príncipe, foram descobertas, por João de Santarém e Pero Escobar, entre 1470-71, estavam desabitadas e que começaram a ser povoadas em 1493 por judeus, aventureiros, colonos portugueses e escravos
Álvaro Caminha, a quem o rei fizera doação da capitania de S. Tomé, trouxe para a ilha os filhos dos judeus castelhanos que não haviam deixado o reino no prazo fixado. Essas crianças, depois de batizadas, foram entregues aos donatários, a "fim de que, uma vez tonadas grandes, pudessem contratar casamento e povoar assim aqueles ilhas"» Gastão de Sousa Dias In África Portentosa
No tocante a Bioko (conhecida até à independência da Guiné Equatorial, por Fernão de Pó), refere-se que a ilha foi descoberta em 1472 pelo navegador Português Fernão do Pó, a que deu o nome de Flor Formosa, tendo mais tarde passado a ser conhecida pelo nome de seu descobridor. A Ilha de Ano Bom (Pagalu) foi descoberta no dia 1 de Janeiro de 1473 e, por isso, ficou conhecida por Ano Bom.
Estes territórios mantiveram-se Portugueses até 1778 altura em que Portugal os cedeu à Espanha os quais em 12 de Outubro de 1968 foram proclamados independentes da Espanha. A língua oficial destes territórios é o Espanhol GUINE EQUATORIAL...
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