Jorge Trabulo Marques - Jornalista e antigo navehador soliário em três travessias.
José Carlos de Araújo Leitão, atual Embaixador do Brasil Costa do Marfim, desde 2020, depois de
uma missão de quatro anos, em Cabo Verde e uma anterior em S. Tomé e Príncipe, onde me deu a honra e o prazer de me receber
no gabinete de da embaixada na capital das ilhas verdes do Equador
A imagem e o perfil de um Embaixador do Brasil, em STP, que deixou as melhores recordações, nestas maravilhosas Ilhas Figura de alto nível na diplomacia brasileira
"MENSAGEM DO POVO DA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE, PARA O POVO BRASILEIRO" - Que não chegou ao destino mas continua perfeitamente actualizada.
Mensagem redigiada antes da escalada final ao Cão Grande |
Nas ondas caprichosas e precipitadas do oceano, aos olhos vagabundos de solitários navegantes em noites errantes, impetuosas, trágicas e sombrias ou sob o pálido e longínquo brilho das estrelas, na densa ou desmaiada treva, em redor de quem voga, tudo assume a imagem tumultuosa e deformada do indecifrável, a intrínseca afetação do desconhecido e do imprevisível!... E, foram 38 as longas e eternas noites e mais o período do dia em que a luz ora se abria em esplendor ora se ofuscava sob um teto tumultuoso de cinza ou de chumbo: - Sim, os meus olhos erráticos e vagabundos, assistiram `aos mais inconcebíveis e imprevistos momentos de assombração ou deslumbramento.
E não eram apenas os meus olhos o testemunho dessa constante e horrível errância mas o que perpassava de dentro para fora ou de fora para dentro do meu coração..
Não vou aqui descrever o que vivi em duas linhas, senão recordar que, imponderáveis e vicissitudes, de ordem vária, me fizeram rumar a Norte e não navegar a Oeste, ao longo da grande corrente equatorial: este era realmente o rumo que pretendia tomar, ou seja, ligar continente a continente, mas tive que me fazer a Norte: largando da ilha meridional, à que fica quase coladinha à margem setentrional do Golfo da Guiné
A canoa "Yon Gato" foi carregada a bordo do pesqueiro Hornet, em meados de Outubro, de 1975, ao largo da Baía Ana de Chaves para ser largada na corrente equatorial - Porém, contrariamente ao prometido, ao fundear junto à Ilha de Ano Bom (Guiné Equatorial) com o pesqueiro envolvido por enorme agitação noturna, varrido de proa à popa, pelas já habituais tempestades da época das chuvas, que o assolaram nas anteriores noites, o comandante chama-me à câmara de comando para desistir do meu propósito e coloca-me num dilema: ou fico a trabalhar a bordo ou tenho que ser largado com a canoa. De resto, este era também o aviso e a vontade expressa da tripulação: "Jorge! Não vês, como está o mar?!... Vais morrer!!.. Fica connosco!.." Não tendo aceite a sua proposta, obriga-me assinar um termo de responsabilidade, antes de arrear a canoa ao mar
Face à impossibilidade de tomar a rota para oeste, tento o regresso a S. Tomé - Depois de um dia de navegação rumo a Norte, perfeitamente normal, à noite um violento tornado faz-me perder a maior parte dos apetrechos, incluindo o remo e os mantimentos.
DEPOIS DE 38 DIAS DE NAUFRÁGIO, NOS CORREDORES DA MORTE
Ao cabo de 38 penosos dias, ao sabor das vagas, num simples madeiro escavado,acabo por acostar à Ilha de Bioko (ex-Fernando Pó), onde sou tomado por espião e encarcerado numa cela da Cadeia Central para ser executado, já que este era o destino de quem ali era condenado: entrar vivo e sair cadáver.
Felizmente, é a mensagem, autenticada pelo MLSTP, que havia sido escrita para saudar o Povo Brasileiro - admitindo que pudesse fazer a travessia até ao Brasil - que me vai salvar a vida. Mesmo assim, dada a persistente desconfiança do então Presidente Macias, que nem depois de enviar o seu barbeiro pessoal (o santomense, Sr. Bandeira) se convencera, nem da veracidade da referida mensagem, nem dos meus argumentos, quem acaba por ordenar a minha soltura é o seu sobrinho, o então comandante das Policias e das Forças Armadas, o atual Presidente Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, a quem fico a dever a vida
Março 2016 |
Depois disso, deu-me a honra o prazer de participar na inauguração da minha exposição, Sobreviver no Mar dos Tornados", que apresentei no Centro Cultural Português, com a presença do Ministro da Educação, Cultura e Ciência, Olinto Daio, entre outras personalidades.-
27 de Julho 2015 |
Ministro da Cultura, Olito Daio |
Pelos jornalistas: Jorge Trabulo Marques e Adilson Castro - 40 anos depois da independência - José Freet Lau Chong – “O Resultado poderia ser melhor” - O então Ministro da Informação, Justiça e Trabalho, e comissário Político, confessa-se um pouco desiludido, com algum individualismo e egoísmo, dos novos tempos; diz que “as pessoas já não se interessam pelo bem-estar do próximo. Quanto ao passado, reconhece que se cometeram alguns erros, nomeadamente no plano do desenvolvimento económico, e aponta as razões: porque “não tínhamos experiência, dentro da governação, não tínhamos quadros competentes; - por exemplo no domínio da agricultura. Apesar tudo, houve progressos: primeiro, porque ficámos livres, porque podemos falar e resolver os nossos problemas. E, segundo, porque, no plano da educação e formação de quadros, também se fez muita coisa.
E não eram apenas os meus olhos o testemunho dessa constante e horrível errância mas o que perpassava de dentro para fora ou de fora para dentro do meu coração..
Não vou aqui descrever o que vivi em duas linhas, senão recordar que, imponderáveis e vicissitudes, de ordem vária, me fizeram rumar a Norte e não navegar a Oeste, ao longo da grande corrente equatorial: este era realmente o rumo que pretendia tomar, ou seja, ligar continente a continente, mas tive que me fazer a Norte: largando da ilha meridional, à que fica quase coladinha à margem setentrional do Golfo da Guiné
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