Jorge Trabulo Marques - Jornalista - AFINAL, QUEM MATOU AMILCAR CABRAL?
Culpou-se o exército português e a PIDE, não é que vontade não falasse ao regime colonial, e, pelos vistos, até chegou a desencadear operações nesse sentido, mas, afinal, os maiores inimigos do fundador do PAIGC, estavam no interior das suas próprias fileiras.
Diz o autor de "A verdadeira morte de Amílcar Cabral" de Tomás Medeiros,
falecido em 10 de Setembro de 2019.
Declarou-me numa breve entrevista, na Casa Internacional de Tomé e Príncipe, numa sessão integrada nos 40
anos das independências da ex-colónias portuguesas -
MAIS LENDAS DE QUE CERTEZAS – MAS, PARA TOMAZ MEDEIROS, O ASSASSINO TEM UM NOME O autor de " A verdadeira morte de
MAIS LENDAS DE QUE CERTEZAS – MAS, PARA TOMAZ MEDEIROS, O ASSASSINO TEM UM NOME O autor de " A verdadeira morte de
E, de facto, se dúvidas existiam acerca da origem do assassinato de Amílcar Cabral, na altura em que o atentado se deu, tais interrogações vieram a dissipar-se completamente. Bastaria atentar na série de mortes fratricidas ocorridas no seio da classe política guineense – Tal como já alguém referiu, por altura dos 40 anos sobre a morte de Amílcar Cabral, “O pai da Guiné-Bissau não assistiria ao seu nascimento como Nação e desde então os seus ideais têm sido muitas vezes traídos, numa multiplicidade de mortes póstumas “ A segunda morte de Amílcar Cabral ocorreu com o golpe de Estado em que Nino Vieira depôs o então presidente Luís Cabral (meio-irmão de Amílcar) e pôs fim ao grande projecto de fazer da Guiné-Bissau e de Cabo Verde um único país capaz de resistir às pressões dos vizinhos Senegal e Guiné-Conacri. Seria a primeira de muitas mortes póstumas.
MAIS LENDAS DE QUE CERTEZAS – MAS, PARA TOMÁS MEDEIROS, O ASSASSINO TEM UM NOME
“Há muita lenda acerca da morte de Amílcar Cabral: Amílcar não foi morto por ser bandido ou por ser traficante de droga: Amílcar Cabral foi morto por ser um homem politico por certas etnias que lutavam contra Amílcar Cabral – Diz Tomaz Medeiro, em declarações à nossa reportagem, no final da cerimónia, quando o quisemos inquerir a respeito do seu último livro "A verdadeira morte de Amílcar Cabral - Mudar de Vida – – Livro editado em Lisboa, em 2012, no auditório da Fundação Pro Dignitat, depois reeditado em Março de 2014 . A citada obra não aponta nomes, deixando apenas pistas ou caminhos, mais abertos à reflexão de que um libelo acusatório. Afirmando então: "não vale a pena procurar assassinos, mas sim estudar a filosofia política de Amílcar Cabral, que punha em causa os interesses das potências ocidentais, os verdadeiros mentores da morte de Cabral" assassinado em Conacri dia 20 Janeiro de 1973, a escassos 6 meses da proclamação da independência da Guiné-Bissau.
Entretanto, reeditado em 2014, uma análise à obra refere, que, “no centro deste trabalho está a contradição de uma política que se quer revolucionária sem assentar no proletariado”, frisando que “na Guiné, mais ainda do que em Angola ou Moçambique, era inevitável a marca de classe pequeno-burguesa no movimento. As fábricas existentes no país contavam-se pelos dedos e quase não havia trabalho assalariado no campo. A exploração colonial não tinha o rosto das grandes plantações de café ou de algodão, e sim o da manipulação dos preços da mancarra (amendoim). E esse rosto tinha contornos menos nítidos e mais difíceis de identificar “A verdadeira morte de Amílcar Cabral - Mudar de Vida –
Entretanto, reeditado em 2014, uma análise à obra refere, que, “no centro deste trabalho está a contradição de uma política que se quer revolucionária sem assentar no proletariado”, frisando que “na Guiné, mais ainda do que em Angola ou Moçambique, era inevitável a marca de classe pequeno-burguesa no movimento. As fábricas existentes no país contavam-se pelos dedos e quase não havia trabalho assalariado no campo. A exploração colonial não tinha o rosto das grandes plantações de café ou de algodão, e sim o da manipulação dos preços da mancarra (amendoim). E esse rosto tinha contornos menos nítidos e mais difíceis de identificar “A verdadeira morte de Amílcar Cabral - Mudar de Vida –
QUEM COM FERROS MATA, COM FERROS MORRE - TOMÁS MEDEIROS ACUSA NINO VIERA DE TER SIDO O MANDANTE DO ASSASSINIO DE AMILCAR CABRAL
Nino Vieira |
Amilcar Cabral |
Tomás Medeiros, o poeta santomense, antigo médico e general do MPLA, no período da guerrilha, acusa Nino Vieira pelo assassínio da morte de Amílcar Cabral
De seu nome, António Alves Tomaz Ribeiro, filho de José Tomaz Alves de Medeiros e de Polónia Tomaz de Almeida, nasceu em S. Tomé no dia 5 de Novembro, de 1931. Terminada a instrução primária, aos 13 anos, e, tal como a generalidade dos santomenses, como os seus pais, não tinham possibilidades económicas, começou a trabalhar numa barbearia, como vendedor de jornais e vendedor de carvão, depois numa loja comercial.
Porém, nada disso lhe interessava, a sua vocação era outra: destinos ousados o aguardavam. Então os seus pais mandaram-no para Nova Lisboa, Huambo, onde fez o primeiro ciclo liceal, após o que, três anos mais tarde, parte para a capital do Império para concluir os dois anos que lhe faltavam e inscreve-se na Faculdade de Medicina -
De nada lhe valeu: como estava ligado à atividade politica, foi denunciado pela PIDE e por uma organização da extrema direita, como sendo um dos estudantes comunistas mais perigosos em Portugal, o que lhe valeu um mandato de captura – Para não ser preso, fugiu para Moscovo, onde cursa medicina, trabalha como locutor na Rádio de Moscovo, é Secretário-geral dos Estudantes Africanos na Europa, Secretário-Geral dos Estudantes Africanos na União Soviética, colaborador da Academia das Ciências e investigador numa biblioteca.
Porém, nada disso lhe interessava, a sua vocação era outra: destinos ousados o aguardavam. Então os seus pais mandaram-no para Nova Lisboa, Huambo, onde fez o primeiro ciclo liceal, após o que, três anos mais tarde, parte para a capital do Império para concluir os dois anos que lhe faltavam e inscreve-se na Faculdade de Medicina -
De nada lhe valeu: como estava ligado à atividade politica, foi denunciado pela PIDE e por uma organização da extrema direita, como sendo um dos estudantes comunistas mais perigosos em Portugal, o que lhe valeu um mandato de captura – Para não ser preso, fugiu para Moscovo, onde cursa medicina, trabalha como locutor na Rádio de Moscovo, é Secretário-geral dos Estudantes Africanos na Europa, Secretário-Geral dos Estudantes Africanos na União Soviética, colaborador da Academia das Ciências e investigador numa biblioteca.
Três anos depois parte para Crimeia onde conclui o curso de medicina . Não sendo obrigatório o exercício da profissão para os estrangeiros, paralelamente faz a cadeira de latim e vários cursos de formação política: o Curso de Academia política, o de História do Partido, de Marxismo Leninismo e o Curso de Medicina Militar - Volta ao continente africano, a Brazzaville, onde o MPLA tinha a sua sede. Dali parte para Cabinda onde é médico militar e dos refugiados, professor de instrução revolucionária, tendo chegado à patente de General – Oportunidade de alto combatente que lhe deu a possibilidade de privar com todos os líderes históricos dos movimentos de libertação: desde Agostinho Neto, Amilcar Cabral, Ângelo Cabral, Francisco Tenreiro, Fernando de Sousa, Marcelino dos Santos, Eduardo Mondlane - Reconhece que a sua relação, com S. Tomé e Príncipe, era muito estreita, porque, naquela altura, os elementos envolvidos na guerrilha, não tinham possibilidade de viajar, tendo ido lá apenas duas vezes mas em viagens muito curtas.
Na breve entrevista que me concedeu na Casa Internacional de S. Tomé e Príncipe, acerca do debate-homenagem ao papel de Cuba nas independências e consolidação de África, ele conta-nos alguns dos passos da odisseia da sua vida, intensa, de grande generosidade, dedicação e risco – Sim, de forma muito sumária, já que a sua vida, daria muitos livros – Além dos que ele já escreveu, desde a poesia, ao romance e aos textos de intervenção
"Ir a São Tomé!... Sentir o cheiro da terra, sem poder palpá-la, sem poder vê-la!... É muito triste!... Preferia morrer!..."
"Eu sou um combatente” Era assim como então se classificava Tomás Medeiros, autor de várias obras contra o colonialismo, de poesia e prosa em prospetos, autor do romance “O Pseudo-socialismo em Angola e uma novela, dedicada ao mesmo tema a S. Tomé e Príncipe. A sua última obra, foi publicada em 1012, com o título A Verdadeira Morte de Amílcar Cabral
A impossibilidade de contemplar a luz do dia, é um drama terrível para qualquer ser humano – sobretudo para quem a perdeu na curva na vida - Mas especialmente para um poeta, e também o era, desde que cegou por completo, o antigo combatente que andou pelas densas florestas do Norte de Angola – Sim, era o drama de Tomás Medeiros, nascido em S. Tomé, em 05-11- 1931 que, além de um extraordinário escritor e poeta, era também uma das mais importantes figuras histórias, na luta de Libertação de Angola
ELE FOI GENERAL EM CABINDA - PRIVOU COM COM OS LÍDERES HISTÓRICOS DE TODOS OS MOVIMENTOS DE LIBERTAÇÃO
Tomás Medeiros, que a PIDE chegara a classificar como o estudante comunista mais perigoso, quando desempenhou a coordenação de estudantes africanos, uma corrente anticolonial à frente da Casa de Estudantes do Império, tendo sido obrigado a exilar-se nem Moscovo, pôde, desde esses recuados tempos, privar com as mais importantes figuras históricas dos movimentos de libertação, entre as quais as duas figuras mais emblemáticas da Guiné e de Angola, Agostinho Neto e Amílcar Cabral – Com este, nomeadamente, em diversas conferências internacionais – Oportunidade aproveitada para um diálogo, amistoso e aprofundado, entres dois grandes marxistas convictos. Medeiros, porque vinha com sólidas formação de vários cursos de marxismo na Cremeira, e, Cabral, porque era a linha que pretendia impor para uma verdadeira libertação da Guiné e Cabo Verde, sob o jugo colonial.
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