Jorge Trabulo Marques - Jornalista
“Perante notícias de alteração da Ordem Pública na
Metrópole, o Governador informa que o Governo Central está em pleno exercício
das suas funções. A população tem dado um magnífico exemplo de calma e
tranquilidade “ O repórter, este, é que jamais teria dias calmos com afrontas e
agressões de vária ordem por dar voz à liberdade de expressão
25 DE ABRIL
EM STP – Um dia igual aos outros. Mas acabaria por ser o grande ponto de partida para a antiga colónia portuguesa se libertar da mordaça colonial.
Escrevia eu na edição seguinte ao 25 de Abril, da revista angolana Semana Ilustrada: "Alvorada da
revolução do 25 de Abril, de 1974, não foi quase notada neste dia em S.
Tomé e Príncipe, senão para
quem acompanhava as emissões estrangeiras de rádio,
que não era, naturalmente, o grosso da população, mas quando raiou
foi como um rastilho que se ateasse a um foguete – Mesmo assim, houve quem
quisesse ofusca-la – E pouco faltou para que os roceiros provocassem um banho
de sangue e o Movimento das Forças Armadas ali fosse abortado – Ou
antes, um pouco retardado, já que a população, galvanizada pelas manifestações
populares, dificilmente o ia permitir
A partir daí,
o movimento libertador das Forças Armadas, rapidamente ali encontrou eco nas
duas ilhas – Os colonos receberam-no com apreensão e jamais se mentalizaram
para o alcance das transformações que rapidamente se iriam operar.
TOMEI CONHECIMENTO NA MANHÃ DAQUELE HISTÓRICO DIA
Mas eu soube da notícia ao raiar dessa alvorada. Era operador na rádio
local e correspondente da revista angolana, Semana Ilustrada. A estação
encerrava à meia-noite e abria (se a memória não me falha) às cinco e meia da
manhã.
Nesse dia, era o técnico escalado para abrir a estação e pôr o Hino
Nacional no ar, seguido de um programa de música variada – era mais uma
das bobines gravadas que recebíamos regularmente da extinta Emissora Nacional.
Poucos depois, chega o Raul Cardoso, que, na redação, passava ao papel as
noticias transmitidas, em onda curta, por aquela estação, para depois serem
lidas nos noticiários da "província". Pois não dispúnhamos de fax.
“Houve um golpe militar!!... Há uma
revolução em Lisboa!", Confessava-me, mal pôs os auscultadores à
escuta. Porém, as notícias dos acontecimentos em Lisboa, foram encaradas
com reservas e a sua divulgação, começou por ser bastante lacónica - Só, depois
do pôr-do-sol. já noite, às 19 horas, é que O Emissor Regional
difunde o seguinte comunicado da Repartição do Gabinete e distribuído pelo
C.I.T
Só às 19 horas daquele dia 25 de Abril, é que o
Governador envia um comunicado à rádio local, ao Emissor Regional de S. Tomé e Príncipe
da EN, dizendo que, “perante notícias de alteração da
Ordem Pública na Metrópole, o Governador informa que o Governo Central está em
pleno exercício das suas funções A população tem dado um magnífico exemplo de
calma e tranquilidade “
ESTE O MEU RELATO NA
EDIÇÃO SEGUIR AO 25 DE ABRIL DA REVISTA ANGOLANA SEMANA ILUSTRADA
S. Tomé-25.
O dia amanheceu sereno e calmo como outro qualquer. As pessoas dirigem-se para
os seus locais de trabalho habituais. Um sol resplandecente e equatorial banha
de luz e de vida a pequena cidade de S. Tomé. A vida parece continuar com a
mesma rotina dos demais dias da semana. Porém, para um número muito restrito de
cidadãos, começam a chegar os primeiros rumores de que algo de estranho se
passava na capital do País. Há interrogações. Expectativa geral. Tudo o que se
fala e se sabe, é escutado de estações de rádio estrangeiras. Por isso a dúvida
subsiste. As perguntas sobre o que há ou não, de verdade, sobre a situação em
Lisboa, começam a suceder-se a cada instante. E a não encontrar uma resposta
exacta, Tudo o que se fala é incerto e impreciso.
. Tomé-25. É quase meio-dia. O Governador da Província é já conhecedor das noticias que pela manhã começaram a ser radiofundidas por Emissões do exterior. Toma conhecimento do teor do comunicado emanado pela Repartição do Gabinete do Governo de Angola, transmitido pela Estação Oficial deste Estado. Que nada de concreto diz, pois é bastante lacónico.
S. Tomé-25. Estamos no começo da tarde. Chega-nos ao conhecimento que parte do efectivo militar aquartelado na cidade entra de prevenção. Notícias não confirmadas começam a partir de agora a circular com maior intensidade pela população que, com crescente expectativa, se interroga ansiosamente.
S. Tomé-25. São 19 horas. O Emissor Regional difunde o seguinte comunicado da Repartição do Gabinete e distribuído pelo C.I.T
"Perante notícias de alteração da Ordem Pública na Metrópole, o Governador informa que o Governo Central está em pleno exercício das suas funções. A população tem dado um magnífico exemplo de calma e tranquilidade que o Governo e as Forças Armadas da Província continuarão a assegurar."
Lampejos de um defunto moribundo. Pois escusado seria dizer que àquela hora ainda o Governo derrubado estaria no exercício pleno das suas funções. Um comunicado, portanto, que não veio trazer luz alguma sobre as dúvidas que já existiam. Maior confusão, porventura, estamos certos, foi o que veio provocar.
Pois se as estações estrangeiras já àquela hora estavam fartas de deitar cá fora a noticia do golpe militar aos quatro ventos. Um caso mais ou menos consumado, era a ideia que começava já a prevalecer em muita gente, tal a veracidade e o pormenor com que o desenrolar dos acontecimentos passavam a ser pelas mesmas relatados. Uma sensação de alívio notava-se nas pessoas, se bem que juntamente com alguma inquietação pela incerteza que, não obstante, ainda pairava. Oficialmente nada de concreto se sabia, apenas o conteúdo daquela comunicação que, àquela hora, e dada de maneira como foi redigida, terá sido bastante inoportuna.
S. Tomé-25. E a hora de fechar o Emissor Regional. Ouvem-se os últimos acordes do Hino mas até àquele momento a grande verdade, de que já muita gente não tinha dúvidas, não chega a ir para o éter pelas ondas hertzianas desta Voz Portuguesa no Equador. E isto porque a Emissora Nacional, de que faz parte, continua no seu mutismo em relação à sua emissão para o Ultramar. Continua com a sua normal programação, apenas com a diferença dos noticiários serem demasiado breves.
S. Tomé-25. E a hora de fechar o Emissor Regional. Ouvem-se os últimos acordes do Hino mas até àquele momento a grande verdade, de que já muita gente não tinha dúvidas, não chega a ir para o éter pelas ondas hertzianas desta Voz Portuguesa no Equador. E isto porque a Emissora Nacional, de que faz parte, continua no seu mutismo em relação à sua emissão para o Ultramar. Continua com a sua normal programação, apenas com a diferença dos noticiários serem demasiado breves.
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