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domingo, 7 de julho de 2024

São Tomé e Príncipe – Biodiversidade endémica ameaçada, junto ao Pico que eu escalei, em 1975, com dois santomenses – Caué - Com a desflorestação extensiva de plantações, que já estão a provocar alterações climáticas e até a escassez de água. Anunciados novos apoios de 25 milhões para conservação da natureza - Mas para encaixar aonde?...

                                                                  Jorge Trabulo Marques 

Conheço bem a Ribeira Peixe e toda aquela área: trabalhei ali como empregado de mato e, posteriormente, nas várias expedições ao Pico Cão Grande: as plantações de coqueiros e palmeiras de dendém, que existiam naqueles terrenos, não eram tão extensivas e intensivas e constituíam tão ´seria ameaça  ao solos e ao clima – Agora, as palmeiras, por tão juntas que estão, mal deixam passar a sombra ao solo, esgotando-lhe os minerais  e colam-se umas às outras – Além de tornarem o clima mais árido e menos pluvioso .

Árvores endémicas, que pintavam o sul do Caué, na antiga Roça Ribeira Peixe e Novo Brasil, que dão abrigo e alimento a aves também singulares, têm vindo a ser preenchidas com extensas plantações de palmares, espécies de hibridações de crescimento rápido mas que consomem muita água, além de erradicarem as endógenas, devastando o parque natural-obô - O epicentro de biodiversidade única, onde a preservação ecológica se encontra com a beleza natural


De nada poderão valer as ajudas monetárias se a desflorestação e as queimadas prosseguirem – Esse panorama persiste e agrava-se a cada dia que passa. Em queimadas, a noroeste e, em desmatação, selvagem a sul. 

O Greenpeace denuncia, que os industriais atacam as florestas africanas: “Ao transformar dezenas de milhares de hectares de floresta em plantações, esses investidores estão minando florestas que constituem imensos sumidouros de carbono e reservas de biodiversidade únicas no mundo”.

Depois de devastarem várias zonas florestais, de se apropriarem das terras mais férteis e privilegiadas, em vários países da região centro africana, com apoio do depredador ex-presidente Francês Sarkozy e outros altos representantes do colonialismo e liberalismo selvagem, voltaram os seus tentáculos para as pequenas Ilhas de S. Tomé e Príncipe - 

Ao aproximar-me do aeroporto de S. Tomé, quando ali desembarquei, em 20 de Outubro de 2014, a panorâmica que eu esperava se revelasse de um verde tenro, no litoral do Ilhéu das Cabras a Fernão Dias, mostrava-se-me de um verde seco e torrado, com alguns trechos a fazerem-me lembrar as manchas negras e ardidas de Angola – Diz-se que é por causa do carvão. Fazem-se derrubadas e queimadas, de qualquer jeito, sem a menor preocupação ambiental. 


Téla Nón
De volta e meia surgem as inevitáveis promessas mirabolantes : Em  23-02-2015, era esta a noticia do Téla Nón -  “Maior empresa do país promete 10 mil toneladas de óleo alimentar a partir de 2016” –“São Tomé e Príncipe deverá se transformar em 2016 num dos maiores produtores de Óleo de Palma na Região da África Central. Garantia da administração da empresa AGRIPALMA, que depois de lançar palmeiras em cerca de 1900 hectares de terra no sul da ilha de São Tomé, se prepara para construir a fábrica de produção de óleo alimentar. https://www.telanon.info/economia/2015/02/23/18724/maior-empresa-do-pais-promete-10-mil-toneladas-de-oleo-alimentar-a-partir-de-2016/

Sociedade civil denuncia crime ambiental na zona sul de São Tomé – Noticiava o Jornal Telanon, em  2013-06-04  referindo - "Ibis, uma das 3 espécies de aves em vias de extinção no país, tinha a floresta da zona sul da ilha de São Tomé como santuario para a sua sobrevivência. O avanço dos caterpilares está a destruir o seu habitat e a pôr fim a sua existência na fauna são-tomense. «O governo decidiu que seria mais proveitoso para o país, trocar toda a sua biodiversidade única no mundo por umas quantas toneladas de óleo…!», são os primeiros protestos de vozes isoladas, que começaram a ecoar no meio da imensa devastação.

Os caterpilares da Agripalma não param de avançar e as suas lagartas, já estão a deixar marcas nos terrenos nunca antes tocados por máquinas, o parque natural de São Tomé. Fotografias tiradas, via satélite e que o Téla Nón teve acesso(a esquerda), mostram a dimensão do desmatamento que ameaça o parque natural – ôbô. Em laranja são as areas desmatadas. Os pontinhos pretos são pontos GPS da investigação em curso sobre espécies de passaros na zona sul.  Em cor rosa estão identificadas as bacias hidrográficas e os limites do Parque Natural  – ôbô. 

Não podemos ficar impavidos e serenos a ver o nosso país a ser destruido e nada fazermos. “Quando não defendemos os nossos direitos perdemos a dignidade e a dignidade não se negoceia.”», palavras de alguns cidadãos que estão a movimentar-se para dar luta ao que consideram ser crime ambiental no sul de São Tomé.https://www.telanon.info/sociedade/2013/06/04/13409/sociedade-civil-denuncia-crime-ambiental-na-zona-sul-de-sao-tome/

FINACIAMENTOS DE DUVIDOSA EFICÁCIA  Mas os funcionários que os gerem têm de os despachar - Mais 25 milhões de euros para financiar atividades de conservação da natureza – Ou intensificar ainda mais as alterações climáticas?

São Tomé e Príncipe poderá beneficiar de 25 milhões de euros para financiar atividades de conservação da natureza através da Ong Bird Life Internacional, - Refere noticia da STP-Press -  https://www.stp-press.st/2024/07/05/sao-tome-e-principe-podera-beneficiar-de-25-milhoes-de-euros-para-financiar-actividades-de-conservacao-da-natureza/

- Financiamentos não têm faltado, mas, em termos práticos, não se têm vislumbrado resultados. 

De facto, há necessidade de aproveitar o solo destas ilhas, sendo certo, que, mais de 2/3 estão por cultivar. Mas de modo algum nos moldes intensivos, a que se tem assistido. Sem o o mínimo respeito pela biodiversidade, pese as afirmações em contrário

É verdade que, no período colonial, nalgumas áreas da Ribeira Peixe e Novo Brasil, houve prósperas plantações de alguns palmares - Trata-se de uma cultura que se dá bem com solos húmidos e aceita relativamente bem a salinidade dos ventos marítimos. 

Pessoalmente, ainda participei nalgumas dessas plantações, junto à Praia Grande, no tempo em que trabalhei como empregado de mato, nestas propriedades da Companhia agrícola Ultramarina - Mas não foram além de uma área restrita - Pois não se compare a cultura do coco ou do dendém com a do cacau, que requer árvores de sombra, preservando a floresta, com as plantações dos palmares, que exigem céu aberto e, sobretudo, áreas do litoral. 

Há tantos terrenos a noroeste, com ótimas condições para o cultivo de palmares, sem ser necessário desmatar o apetecível obó

Quando voltei a S. Tomé, 39 anos depois ( de 20 de Out. a 10 de Nov.) uma das minhas visitas obrigatórias era deslocar-me ao sul de S. Tomé, nomeadamente, Ribeira Peixe, Praia Grande e Caué, pois trabalhara ali, como empregado de mato, e, onde, ainda mais tarde, empreendera, com uma equipa de santomenses, a escalada do Pico Cão Grande.

De facto, confesso que fiquei profundamente chocado pela extensa desflorestação levada a cabo pelo Grupo Socfinco), que em S. Tomé se disfarça de Agripalma, seguindo os mesmos atropelos ambientais que vem cometendo nos vários países onde se tem instalado, desprezando os interesses das populações locais.

A mesma multinacional, que, em 2011, na Serra Leoa, se instalou associada a uma empresa fantoche local, sob a designação Socfin Companhia Agrícola Serra Leoa Ltd. (Socfin SL), num país setenta vezes maior que S. Tomé e Príncipe, selando um acordo de 100 milhões dólares para garantir 6.500 hectares de terras agrícolas para a borracha e plantações de dendezeiros. Mais uma vez o investimento é lavrado à revelia da população local, expropriando os seus melhores terrenos de cultivo, sob proteção de obscuros interesses – Com o Chefe maior e autoridades da Chefia.

FINACIAMENTOS DE DUVIDOSA EFICÁCIA  Mas os funcionários que os gerem têm de os despachar - 

São Tomé e Príncipe poderá beneficiar de 25 milhões de euros para financiar atividades de conservação da natureza através da Ong Bird Life Internacional, - Refere noticia da STP-Press -  https://www.stp-press.st/2024/07/05/sao-tome-e-principe-podera-beneficiar-de-25-milhoes-de-euros-para-financiar-actividades-de-conservacao-da-natureza/

- Financiamentos não têm faltado, mas, em termos práticos, não se têm vislumbrado resultados. 

NÃO SE PODE FICAR INDIFERENTE  ESTA DESFLORESTAÇÃO  DESMEDIDA - Justiça trava devastação da zona sul de S.Tomé -  Mas será que travou mesmo?

Já conhecia a desflorestação através de vídeos e de fotografias - Porém, longe de imaginar que a sua dimensão  fosse tão  extensiva - Pelo que me foi dado observar,  a área devastada, ao sul da ilha de S. Tomé,  pareceu-me duplicar ou mesmo triplicar os tais 4000 hectares que  foram concessionados  pelo Estado santomense a um grupo privado 

                              Troços de estradas onde a maré cheia invade o asfalto

Vi que existem graves ameaças ambientais, tanto à beira mar como no interior. 

Por exemplo, onde está o recife (ilha), que se situava frente à praia lagarto, que  há 40 anos ficava completamente descoberto? - Sim, no qual os pescadores iam buscar o isco  para a sua pescaria e os veraneantes  se estendiam ao sol. Não só não descobri os menores sinais desse recife espalmado, como, ainda bem pior: vi uma baía, quase  sem margem, com a maré cheia a invadir a estrada e, nalgumas áreas,  com mais cascalho de que areal.  

Bem diferente daquela que fora uma das mais aprazíveis praias – Ornada de coqueiros, por um extenso e suave areal, junto à qual surgiam inúmeros caranguejos verdes, vindos das tocas que esburacavam no mato para capturarem as suas presas.  Eram tantos a atravessarem a estrada, que havia quem se divertisse a esmagá-los com os pneus do carro, sobretudo à noite. Agora, o que se descobre é uma curta língua de cascalho, que entretanto o asfalto vai protegendo, comida pelo avanço do mar, alguns troncos de esguios coqueiros e de outras árvores, que ameaçam ser arrancados a todo o momento, devido às investidas das ondas na própria estrada, também já esta, de onde em onde, bastante comida e esventrada. 



Orlas costeiras comidas pelo mar, colocando em risco habitações, caminhos ou estradas. Então, na estrada das Neves, depois da Lagoa Azul, por mais paredões que ali se façam – e vimos que havia importantes obras em curso – não tarda, que o troço existente, acabe  por ficar submerso e de se tornar intransitável. E se torne necessário  romper as veredas e fazê-la noutras curvas de nível, mais alto. O pior é a insegurança para  as pequenas comunidades  piscatórias, que vivem as suas vidas, intimamente com o mar,  junto de encostas, tão abrutas, e ao mesmo tempo já tão ameaçadas pelo avanço das águas,  as quais, não tendo  outra alternativa onde se alojar, só restará a possibilidade de virem a  transformar-se em aves.  Pois, mas é gente que vive com um pé em terra e outro no mar – E, este, além de ser adverso, lá fora, nas fainas do seu dia, agora, ainda por cima, lhes ameaça o próprio lar, a humilde cubata de madeira.  Antevê-se, pois,  um futuro algo incerto e inseguro. 

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