Jorge Trabulo Marques
Perdido numa piroga -À deriva noite e dia!
Lado a lado com o abismo marítimo da morte!
Em noite de cinza escuríssima!
Mesmo assim, sereníssimo! Lutando e nunca desesperando
ou perdendo a fé e a confiança!- Embora esperando
a todo o instante, estar mais próximo
de ser engolido pelo manto da morte
de que ser salvo por mão salvadora
ou mão corajosa, oportuna e amiga!
Longe da Terra, das suas vistas e de toda a gente! -
De todo entregue às minhas preces e ao meu silêncio!
Oh infinita noite escura! Que toldas meus olhos cansados
Sozinho, Isolado e aprisionado do Mundo!
Vogando à superfície deste ondulante manto sem fundo!
Mas, também. verdadeiramente livre de espírito e de pensamento!
Não tenho de cumprir horários ou dar satisfações a mais ninguém!
Vou sendo levado ao sabor do vento! Dele inteiramente dependo!
Sem rumo e sem destino! - Flutuando e cambaleando,
como ave marinha solitária que esvoaça, furtivamente
de vez em quando, riscando a solidão destes espaços!
A tempestade roubou-me o remo, deixou-me à deriva
Ás vezes navego com o remo improvisado
mas quando o mar fica encrespado,
lá volto eu novamente a ser arrastado!
Vogando para os mais diversos quadrantes!
Vogando em constante frágil tronco escavado!
Neste esquife pronto a voltar-me e a sepultar-me!
De todo encaixado neste madeiro de árvore de ocá!
Em pulsões latejantes nesta balouçante e alada casca!
Que vagueia ao sabor das correntes e dos ventos!
Que me aprisiona movimentos e mos faz subjugar!
Arrastado pelos seus caprichos, sem me poder agarrar a nada!
Umas vezes ameaçador e terrível! Sulcado de grossas vagas!
Ou em tumultuosa e escuríssima noite! Fantasmagórico mar!
Outras vezes mais humorado! Em tranquila calmaria presenteado!
Quando brisas leves mais parecem aquietar-me de que sufocar-me!
Mas, óh Deus infinito, poderoso e misterioso! Meu santo guardião!
Agora, quão densa e escura me é oferecida por esta noturna visão!
Para onde quer que me volte. só vejo água escura!
Só descubro formas de sombras! Negra escuridão!
Vogando à superfície deste líquido manto escuríssimo
Encoberto por uma imensa abóbada infinita!
semeada de grãos de fogo dispersos,
toldada por muralhas de trevas!
Que ao invés de me tranquilizarem,
mais assolam, me oprimem o coração!
Oh Infinita Noite! O Deus misericordioso e omnipresente!
Tende piedade de todos quantos, nestas horas graves e incertas
Se lembram de Vos pedir auxilio e proteção!!
Seja em cântico ou palavras vertidas de lágrimas e oração!
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