Idalécio, de 22 anos, e,
José António, de 49, pescadores nas canoas da Praia Melão, em São Tomé, que andaram cinco dias perdidos no mar, viveram
um drama, que dificilmente vão esquecer para o resto da vida – É o que o leitor
poderá depreender do diálogo que lhe apresento num vídeo, registado, no principio
de Julho passado, no dia seguinte ao seu
regresso a São Tomé.
Os dias à deriva e, depois a longa ausência de notícias da família,
constituiu, para ambos, um tormentoso pesadelo – Sobretudo, ao Idalécio, que, apesar
de andar nas lides da pesca, desde os 12 anos, quase se ia dando por vencido e
perdendo a fala, não fosse o encorajamento do seu companheiro, José António,
mais velho e experiente nas agruras do mar.. Nem mesmo já depois dos abraços
que recebeu no seu humilde lar, do conforto dos familiares e amigos, na pequena
aldeia, parecia recomposto: continuava quase mudo e silencioso.
De resto,
foi neste estado de espírito, remetido a uma certa timidez e mutismo, pelo Idalécio, que decorreu o casual encontro com estes bravos homens do mar.
Na véspera, tinha-me apercebido do seu drama, através de uma reportagem transmitida pela Televisão de São Tomé, pelo que, tendo eu também conhecido a tormentosa situação de náufrago, desde logo fiquei com o desejo de falar com eles e conhecer a sua experiência – Porém, longe de imaginar que, tal oportunidade, ia surgir no dia seguinte. Ao deambular pela marginal, como primeiro passeio dessa manhã, após ter deixado a pensão onde me encontrava hospedado, sim - qual não a minha surpresa! – é justamente, perante esse maravilhoso cenário (sobretudo quando se está com os pés bem firmes em terra), que os vou encontrar – Iam para a sua praia, depois de terem sido recebidos na Capitania dos Portos, conjuntamente com o dono da canoa – que ali tinham ido para narrarem a sua odisseia e exporem as dificuldades com que agora se debatiam: sem os meios indispensáveis para continuarem a trabalhar; sem a canoa e o motor.
Na véspera, tinha-me apercebido do seu drama, através de uma reportagem transmitida pela Televisão de São Tomé, pelo que, tendo eu também conhecido a tormentosa situação de náufrago, desde logo fiquei com o desejo de falar com eles e conhecer a sua experiência – Porém, longe de imaginar que, tal oportunidade, ia surgir no dia seguinte. Ao deambular pela marginal, como primeiro passeio dessa manhã, após ter deixado a pensão onde me encontrava hospedado, sim - qual não a minha surpresa! – é justamente, perante esse maravilhoso cenário (sobretudo quando se está com os pés bem firmes em terra), que os vou encontrar – Iam para a sua praia, depois de terem sido recebidos na Capitania dos Portos, conjuntamente com o dono da canoa – que ali tinham ido para narrarem a sua odisseia e exporem as dificuldades com que agora se debatiam: sem os meios indispensáveis para continuarem a trabalhar; sem a canoa e o motor.
O momento
foi assinalado com o registo de várias imagens naquele deslumbrante recorte
marginal, situado frente à Pousada Miramar. Pena o vídeo, também ali não ter
sido gravado - Faltava-me o microfone, pelo que optei por registá-lo
no átrio da pensão e o contra-luz ofuscou-me um bocado as imagens. Como se aproximasse
a hora de almoço, o convívio continuou
depois num dos restaurantes do parque da cidade, na companhia do jornalista
Adilson Castro, que tivera a gentileza de fazer de operador do filme, bem como outros meus amigos do Jornal
Transparência, a quem tornara extensivo o mesmo convite.
NAUFRÁGIOS DE CANOAS –
FREQUENTES NOS MARES DE SÃO TOMÉ
Não há episódio mais dramático,
que o protagonizado por náufrago. É
tema, de ontem, de hoje e de sempre. Seja qual for o oceano, há em todas as
águas, em todos os mares, vidas tragadas pela violência das vagas ou que
sucumbem, vítimas da incerteza ou do desespero, do um atroz sofrimento da fome
e da sede.
Só quem passou por essa
terrível situação, sabe avaliar quão angustiosos são esses dias e noites de
abandono e incerteza – Especialmente a
bordo de uma frágil canoa – E, de facto, são muito frequentes os
desaparecimentos de pescadores nas canoas, nos mares em torno destas
maravilhosas Ilhas do Equador. De volta e meia, sucedem noticias destes dramas.
Por vezes, com desfecho feliz, porém, mais das vezes, é o pescador que parte ou
pescadores que partem da sua praia e nunca mais voltam.
Já me referi a esta
questão, em postagens anteriores deste meu blogue – Nomeadamente, a uma reportagem que cheguei a publicar,
antes do 25 de Abril, na Revista na
revista Semana Ilustrada, de Luanda, de que era correspondente, em São Tomé –
Porém, creio que pela primeira vez, já que estes dramas, geralmente passavam à
,margem das preocupações coloniais.
AINDA O SOL NÃO SE HAVIA
ERGUIDO DO FUNDO DO OCEANO…
Foi a um sábado, do dia
16 de Maio. Manhazinha, como habitualmente, entre os vários pescadores, que partiam
para mais uma faina de pesca, dois deles não voltavam nesse dia. São o jovem Idalécio
e o Zé António. Depois de puxada a canoa da praia até flutuar sobre as primeiras ondulações, lá vão eles mar fora!
Dirigem-se, com o motor fora de borda, ao Ilhéu Santana e por ali andam todo o dia. Entretanto, ao entardecer, surge uma calmaria e uma densa neblina, que lhes ofusca o horizonte, deixa-os desorientados e ao saber da corrente, que, pela noite adiante, os vai arrastando, ainda para mais longe.
Dirigem-se, com o motor fora de borda, ao Ilhéu Santana e por ali andam todo o dia. Entretanto, ao entardecer, surge uma calmaria e uma densa neblina, que lhes ofusca o horizonte, deixa-os desorientados e ao saber da corrente, que, pela noite adiante, os vai arrastando, ainda para mais longe.
Na manhã seguinte, com o
clarear do dia, dão-se conta, que, postos perante o imenso circulo do mar à sua
volta, para qualquer ponto para onde olhassem, não descobrem quaisquer sinais
do litoral ou das montanhas da ilha – Sem saber que rumo verdadeiramente tomar,
por lá andam, todo o domingo, desorientados, velejando de um lado para o outro.
. Com o cair da tarde, vem o crepúsculo,
que, nestas paragens, é rápido: pouco depois, imersos em sombras, envoltos pela escuridão da noite, mais
perdidos e desamparados, ainda se sentem
Na segunda-feira, o tempo
refresca, surge uma tempestade, que os atira para mais longe. Ao dia, sucede uma noite tormentosa e de grande ansiedade. As mesmas
condições atmosféricas, vão continuar terça-feira.
Com céu encoberto e muito vento, a que se juntam os estampidos do trovão, que vão deixá-los ainda mais aturdidos e desanimados.
Chove, torrencialmente, mas não se lembram de aproveitar a água das chuvas. E a garrafa da água potável, que dispunham, já se esgotou. Os efeitos da sede, no mar são terríveis! . É o maior tormento para o náufrago: muita água salgada em redor mas difícil de tragar - Relutantes em levarem sequer umas gotas aos lábios, para aliviarem a secura da boca, optam por mastigar as linhas da pesca, na esperança de que, a saliva criada, lhes possa minorar o sofrimento
A fome, não é o maior
problema, visto terem ainda consigo alguns peixes. Mas são as postas de um atum, pescado à linha,
que vão aproveitar: - Cortam-no aos
bocados e deixam-nos a secar ao sol.
Pena desconhecerem que o sangue do peixe não é salgado e que, comendo o peixe
cru e acabado de apanhar, além de lhes matar a fome, lhes poderia também aliviar
a sede.
Finalmente, à noite do 5º
dia, descobrem uma luz vermelha por entre a escuridão. . O Idalécio, vira-se
para o Zé António, e diz-lhe, espantado; “ Vê!!...Há uma luz lá em baixo!!...Era
o primeiro sinal luminoso de uma frota nigeriana
de traineiras de pesca.
E para lá navegaram na esperança de serem socorridos. Pedem água,
no que são atendidos. Porém, dificuldades linguistas, vão criar-lhes alguns embaraços:
tomados por pescadores, vão deixá-los de
novo entregues à sua sorte. . Até que, por fim, interrogados por um piloto de
uma das traineiras, que fala português,
este, compreendendo a situação, os manda
subir para o convés, ordenando ao mesmo tempo que o motor fora de borda fosse içado e a canoa
arrastada para terra. À chegada a ocorrência
é comunicada à Guarda Costeira da Nigéria, que, só um mês e
meio depois, concluirá as diligências do seu repatriamento a São Tomé.
CINCO DIAS À DERIVA - A ODISSEIA DE DOIS PESCADORES DA PRAIA GAMBOA QUE FORAM PARAR AO GABÃO
O drama ocorreu há 40 anos. Referíamos na reportagem que então efectuámos para a Semana Ilustrada, de Luanda, "apaixonados que somos pelas lides do mar (e também porque já estivemos em apuros mais ou menos idênticos), não resistimos à tentação de procurar localizar esses dois homens e com eles estabelecer diálogo"
O DIA DA PARTIDA
(...) "Foi no dia 12 de Junho do corrente ano, que Manuel Quaresma e Fernando Afonso - aquele com 32 e este com 40 anos - se fizeram na sua canoa ao mar. Largaram de manhã cedinho, como habitualmente. O sol, muito brilhante nesse dia, nascera-lhes lá fora, ao largo. Com eles, outros companheiros de faina, partiram em suas canoas. Iam pescar, para algumas milhas mas com a Ilha sempre à vista. A tê-la constantemente a seu lado, pois nenhum deles possui processos de orientação. Pescar era pois o objectivo de todos. E o de voltar, como não podia deixar de ser. Porém, para Manuel Quaresma e Fernando Afonso, tal não aconteceria. Um tornado surpreendeu-os, deixou-os desorientados e completamente à deriva. Eram mais ou menos duas da tarde quando isso aconteceu. O mar ficou de calema, segundo a linguagem sua, a ilha encoberta por densa neblina e o horizonte esfumou-se. A partir de então ficaram sem saber em que ponte se encontravam e para onde navegavam.
(...) Salvos cinco dias depois
Não foi tanto a fome que os martirizou mas a sede - "Para mitigar a sede, sobretudo a secura dos lábios e da boca, que a ardência de um sol forte, equatorial, impiedoso, os causticava, valeram-se de óleo de palma (imagine o leitor qual não terá sido a aflição dos pobres homens para chegar a este ponto!) e chuparem os próprios chumbos para criarem saliva na boca" (....) Eram decorridos já cinco dias e cinco noites, quando finalmente, viram contornos de terra" - Excerto de uma reportagem de quatro páginas
O drama ocorreu há 40 anos. Referíamos na reportagem que então efectuámos para a Semana Ilustrada, de Luanda, "apaixonados que somos pelas lides do mar (e também porque já estivemos em apuros mais ou menos idênticos), não resistimos à tentação de procurar localizar esses dois homens e com eles estabelecer diálogo"
O DIA DA PARTIDA
(...) "Foi no dia 12 de Junho do corrente ano, que Manuel Quaresma e Fernando Afonso - aquele com 32 e este com 40 anos - se fizeram na sua canoa ao mar. Largaram de manhã cedinho, como habitualmente. O sol, muito brilhante nesse dia, nascera-lhes lá fora, ao largo. Com eles, outros companheiros de faina, partiram em suas canoas. Iam pescar, para algumas milhas mas com a Ilha sempre à vista. A tê-la constantemente a seu lado, pois nenhum deles possui processos de orientação. Pescar era pois o objectivo de todos. E o de voltar, como não podia deixar de ser. Porém, para Manuel Quaresma e Fernando Afonso, tal não aconteceria. Um tornado surpreendeu-os, deixou-os desorientados e completamente à deriva. Eram mais ou menos duas da tarde quando isso aconteceu. O mar ficou de calema, segundo a linguagem sua, a ilha encoberta por densa neblina e o horizonte esfumou-se. A partir de então ficaram sem saber em que ponte se encontravam e para onde navegavam.
(...) Salvos cinco dias depois
Não foi tanto a fome que os martirizou mas a sede - "Para mitigar a sede, sobretudo a secura dos lábios e da boca, que a ardência de um sol forte, equatorial, impiedoso, os causticava, valeram-se de óleo de palma (imagine o leitor qual não terá sido a aflição dos pobres homens para chegar a este ponto!) e chuparem os próprios chumbos para criarem saliva na boca" (....) Eram decorridos já cinco dias e cinco noites, quando finalmente, viram contornos de terra" - Excerto de uma reportagem de quatro páginas
OUTRO EPISÓDIO – ESTE DE ONZE DIAS
Eis alguns traços da noticia, publicada pelo Télanon
Nigéria mais uma vez resgata perdidos no mar
18/08/2015 -Os dois pescadores que
perderam no mar de São Tomé já foram resgatados por uma tripulação nigeriana
Depois de dias a deriva, foram encontradas perto de Costa Nigeriana e passam
bem, depois de quase dois meses.
Severino dos Santos de 52 anos de idade e Anastácio de 40 anos,
ambos amigos e pai de família, saíram para pescar como era habitual. Por uma
infelicidade, segundo as vítimas, o motor parou de funcionar e eles foram
arrastados pela correnteza do mar.
"Partimos para pescar no dia 13 de julho. O mar estava um pouco agitado e
o nosso motor não suportou, escapou e caiu no mar. Então, dai ficamos deixados
a sorte, porque não havia mais solução. Como chegar a terra se já não tínhamos
motor? E esta tristeza deixou-nos no mar durante onze (11) dias" diz Severino em movimentos
inquietos.
(…) "A
forma que os nigerianos nos receberam e comportaram connosco foi uma coisa
fantástica. Nós não estávamos a espera disso. Foram tão sensíveis, trataram-nos
tão bem que não temos como descrever"
aponta Severino Pescadores que
se perderam em alto-mar encontram-se ..
Nenhum comentário :
Postar um comentário