( mais abaixo o o vídeo com as palavras de Nuno Abecassis, com imagens de namorados de Lisboa)
Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista, repórter fotográfico e investigador
Numa das entrevistas, que me concedeu, e que tenho a honra de aqui recordar, quando lhe perguntei, se, ao ter saído da Câmara, cuja presidência ocupara, em dois mandatos, se estaria disposto a dar a sua colaboração, ao seu sucessor, Jorge Sampaio, ele respondeu-me: “eu deixei a Presidência da Câmara de Lisboa mas não deixei Lisboa e parece-me que Lisboa não me deixou a mim”
Mas o destino tem
os seus caprichos, e Lisboa, acabou mesmo por deixá-lo partir – Com a saudade
de muita gente. Faleceu, aos 70 anos, em Lisboa, no dia 14 de Abril de 1999 – Não era novo mas ainda estava numa idade
para continuar a dar muito do seu esforço, do seu humanismo e generosidade, da
sua sensibilidade e inteligência, tanto na vida politica, como cívica e
cultural
Nasceu em Faro, no
dia 24 de Outubro de 1929 mas a família fixou-se em Lisboa, quando ele tinha 9
meses – Com essa idade, os olhos de uma
criança, tinham que forçosamente deixar-se iluminar e encantar pelo brilho do
Tejo e o céu azul que se abre e resplandece por todos os seus bairros. Dir-se-ia
que ele via a cidade alfacinha, como a canta o fado: a eterna“ menina e moça”, ou “ Lisboa cheira
bem, cheira a Lisboa”, entre tantas outras inspirações poéticas e musicais.
E a devoção que ele
cultivava por esta velhinha capital das
sete colinas, ficou amplamente demonstrada, na sua intensíssima e devotada
atividade, de uma década ( 1979-89), enquanto Presidente do maior município de
Portugal, desde os bairros históricos, à
cidade que se estendia na sua periferia, aos bairros das barracas, que ele
começou pelas erradicar – Acompanhei-o, numa dessas visitas, como repórter da Rádio
Comercial, e, ao entrarmos num desses miseráveis tugúrios, qual não é o espanto
e a surpresa que se estampava no rosto da escassa comitiva que o acompanhava:
uma criança ao colo da mãe, com as orelhas mordidas por uma ratazana.
Dificilmente posso
esquecer-me dessa imagem e da preocupação manifestada pelo então Presidente,
Engº Nuno Krus Abecassis
– Um homem de coração generoso, profundamente humano – Ele vivia intensamente os
problemas da cidade e das pessoas. O que ele fazia não era para botar figura
mas por paixão, pelo seu profundo sentido humanitário.
“Ele representou, acima de tudo, uma forma
humana, natural e amiga de fazer as coisas. Tratava por tu os colabores, os
amigos mas também tratava por tu as dificuldades e os muitos impossíveis de que
a vida tem”
Nuno queria que Lisboa
fosse um agente ativo de transformação; queria que estivesse situada no mundo,
num lugar que lhe era devido e no tempo certo” – Palavras de Miguel Anacoreta
Correia, Presidente da União das Cidades
Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA) numa cerimónia, em honra da sua memória, que decorreu no dia
26 de Outubro, na sede aquela instituição, lembrando e elogiando o seu fundador e ex-presidente da Câmara de Lisboa, Nuno Krus
Abecasis, que o classificou como um "grande visionário".
E, na verdade, entre outras
facetas, uma delas foi justamente essa: a de o homem, que, com vista ao futuro,
é ao mesmo tempo mentor de ideias e de
as materializar
“NÃO DEIXEI LISBOA E
PARECE QUE LISBOA, NÃO ME DEIXOU A MIM”
Clike e Ouça a entrevista
Na minha qualidade de jornalista, tive o prazer de acompanhar, em várias das suas iniciativas, o Eng. Nuno Krus Abecassis, e até, de, com ele poder conviver, algumas vezes, à noite, quer no Botequim da Natália Correia, no Largo da Graça, quer sentados junto ao balcão do Galeto, na Av. Da Republica, ali para os lados do Saldanha, quando deixava a Rádio Comercial - Era uma pessoa muito afável e comunicativa – Dado o convívio, que estabelecera com ele, também me chamava por tu – Era a sua forma humana, mais direta e carinhosa, mas não menos respeitosa, de ser dirigir aos seus colaboradores, aos trabalhares ou a quem o procurava. – E fazia-o de forma sentida e humana, recebendo, por esse facto, a troca do seu afecto e dedicação
“Uma das coisas que mais me comove é
passar na rua à noite, junto aos trabalhadores do lixo, eles param, saltam cá para fora e abraçam-se a
mim – Declarou-me, na entrevista que me concedeu por ocasião de um evento
promovido pela UCCLA., já depois de ter abandonado a Presidência Câmara
Municipal de Lisboa
Quando lhe perguntei, se, ao ter saído da
Câmara, que, Jorge Sampaio, viria a conquistar, estaria disposto a dar a sua
colaboração ao novo Presidente, ele respondeu-me: “eu
deixei a Presidência da Câmara de Lisboa mas não deixei Lisboa e parece que
Lisboa não me deixou a mim”
Referindo-se à fundação da UCCLA, de que
foi o seu fundador, disse –me que “foi uma ideia que estou muito grato a Deus
por ma ter mandado à cabeça A UCLA, a quem ninguém acreditava que fosse possível,
tornou-se uma organização com uma força espiritual e de cooperação, tão grande,
que ela tem estado a influenciar todo o desenvolvimento que se passa em todos os países de África"
Tal como é referido, “a União das Cidades Capitais
Luso-Afro-Américo-Asiáticas (UCCLA) foi fundada em Lisboa em 28 de Junho de
1985, pelo então Presidente da Câmara, Nuno Krus Abecassis, no Centro Cultural
das Descobertas. Nessa data, foi assinado o documento constitutivo pelos
Presidentes das autarquias de Lisboa (Nuno Abecasis), Bissau (Francisca
Pereira), Maputo Massavanhane), Praia (Cabo Verde) (Felix Gomes Monteiro), Rio
de Janeiro (Laura de Macedo), São Tomé (Gaspar Ramos) e Macau (Carlos Algéos
Ayres).[1]
Entraram depois as restantes cidades
capitais de expressão oficial portuguesa e outras cidades não capitais, como
Brasília (1986), Cacheu e Luanda (1989), Guimarães (1990), ilhas de Taipa e
Coloane (1991), Santo António do Príncipe (1993), Ilha de Moçambique (1994),
Salvador (1995), Belo Horizonte (1998), Belém (1999), Bolama, Huambo, Porto
Alegre e Mindelo (2000), Díli (2002), São Filipe e Oecusse (2004). Extraído de União das Cidades Capitais Luso-Afro-Américo-Asiáticas
Nuno Krus
Abecasis. Ex-autarca de Lisboa tinha ascendência judaica da parte do pai e
dinamarquesa da parte da mãe – Recordava o DN, em 9/04/2008
Referindo: "Quando se
comemoram 20 anos sobre o incêndio do Chiado, recordamos o engenheiro Nuno Krus
Abecasis, então presidente da Câmara Municipal de Lisboa, cujas decisões se
prolongaram para além do seu mandato, dando uma nova cara àquela parte
histórica da nossa capital.
Nuno Krus Abecasis
nasceu em Faro a 24 de Outubro de 1929, sendo dos mais novos de oito irmãos.
Aos nove meses veio para Lisboa, onde viria a crescer e formar-se em engenharia
civil pelo Instituto Superior Técnico. Iniciou a actividade política em 1974.
No ano seguinte aderiu ao CDS, partido de que foi destacado dirigente. Em 1978
exerceu as funções de secretário de Estado das Indústrias Extractivas. Em 1979
foi eleito por maioria absoluta 61º presidente da Câmara de Lisboa, cargo que
renovou nas eleições de 1985 e manteve até 1989. Os dez anos de comando nos destinos
da cidade coincidem com a entrada de Portugal na CEE e numa renovação
urbanística notável, construções de habitação social (iniciaram-se cerca de
três mil fogos), soluções de problemas de trânsito e posições políticas firmes
com consequências para a vida da cidade. Foi uma época de grandes projectos, de
construção de novos espaços comerciais, de demolição ou transformação de
edifícios e espaços públicos, de relançamento de manifestações culturais
urbanas" Excerto de Do mundo para Lisboa - Diário de Notícias
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